Parece que Vital Moreira foi, há pouco, "insultado" e "agredido" na manifestação da CGTP, em Lisboa.
Terão, pelo menos, sido brandidas umas garrafas de água e o candidato ele, europeu foi avistado com a camisa molhada. Não se sabe ainda se foi "agredido" com água no estado líquido ou no estado sólido - seja como for, um (alegado) tabefe é um tabefe e, partindo do princípio que o candidato não terá começado por insultar os manifestantes, essas expressões motoras de indignação não são admissíveis se aplicadas nos corpos de candidatos a eleições. Em democracia, as contas ajustam-se de outra maneira. That goes without saying.
É claro que Vital Moreira se aproveitou logo da coisa e parece que já veio acusar o PCP e o "radicalismo" sindical, etc. Não sei se, entretanto, não terá já começado a acusar também o arcebispo de Braga (ontem avistado num encontro, certamente conspirativo e anti-"socrático", com Jerónimo de Sousa).
Esta é uma daquelas coisas que seriam classificadas pelo Senhor de Talleyrand como, mais do que uma injustiça, um erro. Ora, o PCP, como se sabe, não brinca em serviço, é um partido disciplinado e não cometeria erros desses. E Lisboa não é a Marinha Grande... Acontece que, por um lado, há certas agremiações, com... grande sentido de pertença, digamos assim, que tendem a não olhar com simpatia para os cristãos-novos e, por outro, há também pessoas já desesperadas - e, como se sabe, essas pessoas costumam ter mau feitio...
Contudo, a causa principal destas cenas lamentáveis encontra-se noutras paragens. Mais a Sul. A personagem anda hoje pelo Alentejo, parece-me. Imagino que com a sua tribunazinha-apêndice e microfones.
Temos aqui um resultado (entre outros factores, obviamente) do tipo de discurso do primeiro-ministro Sócrates, do tom da sua linguagem política. As suas momices insolentes para os deputados da oposição, as suas arengas arrogantes e malcriadas para com a mínima veleidade opositora, venha ela de um partido ou de uma classe profissional, o desprezo impaciente que ele tem exibido estes quatro anos. E depois, como vem nos livros, o homem faz-se rodear de uma galeria de criaturas que procuram imitar o criador: o ministro da Agricultura, o da Saúde, a da Educação, Santos Silva, alguns secretários de estado inacreditáveis, certos deputados do PS e toda uma miríade de tiranetes serviçais que vão pululando por aí e por ali e vão tornando ainda mais rarefeita a nossa já frágil atmosfera democrática. O próprio Vital Moreira tem praticado, no seu blog e em artigos, esse tom agressivo e mesmo insultuoso para com partidos, grupos, movimentos (por exemplo, sindicais...) que, com maior ou menor razão, têm feito frente a opções políticas do governo.
Já escrevi por aqui várias vezes que a saturante e insuportável linguagem política do primeiro-ministro acaba por ter consequências concretas, efeitos na realidade. Essa linguagem, com a difusão que tem, com o seu conteúdo acintoso, patologicamente conflituosa, vai degradando o ambiente político e os seus agentes não ficam incólumes. Essa linguagem vai contaminando a prática política, as relações de força sociais, os conflitos, que se querem consequentes, mas saudáveis. E o tempo presente só multiplica esses efeitos.
Ainda só vamos em Maio... Esperemos que o nosso "determinado" e "corajoso" primeiro-ministro tenha, como ele gosta de dizer aos outros, tento na língua.
[Será que algum dos "agressores" de hoje terá assistido às risotas do primeiro-ministro quando Santana Lopes, Jerónimo de Sousa e Paulo Rangel mencionavam o desemprego nos debates do parlamento? E terá visto o sorriso vagamente indiferente e trocista de Vital Moreira quando discutia o desemprego com Rangel, na Sic, no dia 24 de Abril?...]