"The Church itself is in some measure responsible for this." diz, a certa altura, o artigo. Muito mais do que “em certa medida”. Totalmente. Uma instituição que no século XXI se arvora superioridade moral em tudo quanto tem a ver com comportamentos sexuais, mesmo com os mais íntimos e legítimos direitos reprodutivos entre um homem e uma mulher casados, deve estar preparada para ser julgada, sim, julgada, nos termos mais intolerantes e rígidos. A cronologia de um determinado caso – na carta de resposta ao NY Times - é relativamente irrelevante para a forma como a Igreja Católica se tem comportado e deve ser julgada. Faz parte do “spin”. Assim como o artigo. É um detalhe, num caso em que não se aplica o aforismo “the devil is in the details”... The “devil” is in the arrogance. A Igreja tem feito “too little, too late”. Depois da triste história do Cardeal Law, arcebispo de Boston, que só se demitiu – ou foi demitido, resta saber pois recusou-se repetidamente a fazê-lo – perante a vergonha pública de provas irrefutáveis do seu procedimento perante casos de pedofilia, o que lhe acontece? Vai para Roma, é posto à frente de uma basílica e aparece a conduzir uma cerimónia fúnebre de João Paulo II, com toda a pompa e circunstância. Ou o Cardeal Ratzinger não conhecia pormenores das cerimónias fúnebres? O que quer isto dizer? É isto arrependimento? É isto penitência? É assim que se age publicamente?
O Cachimbo de Magritte é um blogue de comentário político. Ocasionalmente, trata também de coisas sérias. Sabe que a realidade nem sempre é o que parece. Não tem uma ideologia e desconfia de ideologias. Prefere Burke à burqa e Aron aos arianos. Acredita que Portugal é uma teimosia viável e o 11 de Setembro uma vasta conspiração para Mário Soares aparecer na RTP. Não quer o poder, mas já está por tudo. Fuma-se devagar e, ao contrário do que diz o Estado, não provoca impotência.