"Reparei que os quadros que têm nesta sala de reuniões são representações do quotidiano lisboeta" disse eu ao administrador da Vivo, um brazuca. Ele encolheu-se e não conseguiu disfarçar o incómodo: a Vivo também era da Portugal Telecom.
Em Maio de 2009 tive o privilégio de trabalhar num projecto da Samsung Mobile na América Latina. A Samsung é o 2º maior fabricante de telemóveis do mundo e baseia o seu sucesso em relações previlegiadas com os operadores. Mas naquela região havia problemas de vendas, o que me levou a reunir com vários operadores em diferentes países e a ganhar uma perspectiva privilegiada sobre a Vivo, a Telefónica e a PT.
A situação na América Latina é invulgar: duas empresas controlam 70% do mercado de telefonia móvel em todo o continente - A Telefónica e a Claro (do Mexicano Carlos Slim). A guerra pelo controlo de cada país é total e em todas as plataformas (móvel, fixo, voz, dados, tv etc.), em particular nos maiores mercados, Brasil e México. Neste cenário, empresas como a PT (ou a italiana TIM) surgem para estes duopolistas como empecilhos sem escala e sem futuro na América Latina. Estamos fora de jogo.
Em reuniões e conversas informais com malta do sector confirmei o que todos já sabem: A Telefónica há muito tempo que manifesta o seu incómodo em não ter o domínio total sobre a Vivo porque 1. gostam de mandar em tudo o que tocam, 2. precisam de juntar a operação da Vivo à sua operação de rede fixa (a Telesp), 3. sabem bem o potencial que o Brazil tem: actualmente 180 milhões de clientes, e de acordo com a Anatel (a ANACOM lá do sítio) podem chegar até aos 300 milhões. Era, por isso, uma questão de tempo.
A outra coisa que constatei e não deve ser desprezada, é a profunda, muito profunda preferência dos gestores brasileiros em serem mandados por espanhóis (no quadro daquela obsessão que eles têm com a Europa do glamour) em vez de Portugueses (que serão sempre, sempre considerados europeus de segunda). É por isso que tenho a certeza que daqui uns dias os quadros de Lisboa vão ser substituídos por cenas de uma tourada em Sevilha ou imagens da Castellana. Para grande alegria de todos.