Inovação energética e (des)industrialização

 

O Governo alemão está numa verdadeira encruzilhada.

A mudança de política energética pode vir a custar aos contribuintes alemães 15.000 M€ só em indemnizações às empresas produtoras (por acto ilegal de expropriação). O plano de transição energética (Energiewende) está a ser o verdadeiro calcanhar de Aquiles da senhora Merkel dentro de portas. São recorrentes as notícias menos favoráveis sobre a política energética alemã: as indemnizações; a demissão do ministro; as várias empresas que ameaçam fechar ou deslocalizar-se. Por exemplo, a empresa de produção de alumínio Voerdal (3ª maior da Alemanha) que emprega 400 trabalhadores queixa-se que os seus custos com a energia subiram mais de 40% decorrente das mudanças políticas, se o governo da Renânia do Norte-Vestefália não a resgatar vai fechar portas.

O Governo alemão também sabe que a conversão do sector eléctrico para a um sector assente em produção renovável vai necessitar de muitas centrais a gás e para que estas sejam construídas: o mercado grossista de electricidade não chega. O mercado não oferece remuneração suficiente, são necessários outros incentivos, algo semelhante a pagamentos por “serviços de garantia de potência”. Foi isto que concluiu um estudo recente que o próprio Governo encomendou à Universidade de Colónia. Portanto, nada de novo, apenas limitaram-se a obter a credenciação científica da solução – aliás, as empresas alemãs já tinham feito saber que não estavam disponíveis para construir as necessárias centrais a gás, para trabalharem menos de 20% das horas do ano, sem a devida compensação. Outros estudos encomendados pelo próprio Governo também não ajudaram, a McKinsey estima que em resultado do novo modelo energético os consumidores alemães vão pagar em 2020 mais 60% pela energia que consomem, passando dos actuais 13.500 M€/ano para 21.500 M€/ano (não inclui a indústria).

Ao contrário do que possa parecer, este não é apenas um assunto de política interna, este tema deve preocupar os demais países europeus, um factor de agravamento significativo nos custos da energia pode tornar a Alemanha bastante sensível à crise económica actual e fazer piorar ainda mais a situação no resto da Europa.

Quer o Governo alemão corrigir esta trajectória? Ainda tem espaço de manobra? Cada vez menos.

publicado por Victor Tavares Morais às 10:00 | partilhar