Kavafis, num poema célebre, descreve Roma "à espera dos bárbaros". Os senadores aguardam no Senado e não fazem leis, o Imperador senta-se no trono para receber os inimigos, os cidadãos ansiosos juntam-se no forum, toda a cidade pára porque "vêm aí os bárbaros".
Mas o dia passa e os bárbaros nunca aparecem.
À noite, alguns viandantes chegados da fronteira dizem que os bárbaros afinal não vêm porque já não existem. E os romanos voltam a suas casas, desiludidos, murmurando que os bárbaros "sempre eram uma solução".
Ontem, Paulo Rangel, o líder parlamentar escolhido por Manuela Ferreira Leite, acusou os socialistas de "dirigismo" e de quererem "comandar a economia por impulso superior do Governo".
E agora?
Que farão os que criticam o PSD por ser uma variante do Bloco Central? E os que vêem o socialismo em todo o lado? E aqueles, de vistas ainda mais largas, que atribuem à direita a exacta dimensão do próprio umbigo?
De que falarão os liberais com azia pós-directas? E os que têm falta de assunto?
A Manuela-Leviathan sempre era uma solução.