O erro de Sócrates (I)


Ficámos a saber, há dias, a opinião de Sócrates sobre si próprio: o seu principal erro em quatro anos foi, imagine-se, a falta de investimento em cultura. Desculpem lá qualquer coisinha, mas perante esta resposta, vale a pena insistir na pergunta. Qual foi mesmo o principal erro de Sócrates?
Podíamos aqui falar em desemprego ou na falta de reformas estruturais. Tudo isso é verdade e marcou os últimos quatro anos. Mas o pior problema foi o Primeiro-Ministro não ter conseguido perceber esta crise económica.
Ao início, no verão passado, Sócrates tentou negar a crise. Mais tarde dizia que a crise era menos grave em Portugal do que lá fora. Quando ela rebentou em força, com as empresas a fechar e o desemprego a subir em flecha, Sócrates fugiu em frente. Começou a anunciar pacotes de medidas (por vezes repetidos) e linhas de crédito todos os dias. Claro que as medidas são importantes, mas o efeito é limitado porque chegam a um número reduzido de empresas (não mais de 10% segundo as estimativas). Ora a maioria das empresas, sobretudo PME, padece sobretudo de problemas de liquidez/tesouraria, que têm levado milhares a fechar as portas. Sócrates não percebeu isto. Passou-lhe ao lado o essencial desta crise. Nada fez para aliviar a pressão fiscal sobre as empresas. Manteve, por exemplo, o PEC e as regras de cobrança do IVA, não aceitando as propostas da oposição. Por exemplo, das 20 medidas para as PME propostas pelo PSD, quase nada foi aproveitado. Tragicamente, o Governo quase ignorou as PME, que constituem mais de 99% do nosso tecido económico e quase 80% dos postos de trabalho.

[continua]
publicado por Paulo Marcelo às 12:00 | comentar | partilhar