Discutir África não é fácil

Os problemas são tantos e tão complexos que fico sempre com amargo de boca ao falar do continente esquecido. O Luís Naves tem razão em algumas das coisas que escreve neste post. Eu prefiro centrar-me no futuro, não esquecendo obviamente as razões históricas do atraso africano. No entanto, e como o Luís refere, os últimos anos do período colonial até foram benéficos para África em alguns aspectos, e poderiam ter sido encarados como o inicio de uma nova era para o continente. Angola, por exemplo, e apesar da guerra, viu o seu PIB crescer à média de 7 por cento entre 1960 e 1974. Já sabemos que a seguir às independências, a situação económica voltou a andar para trás, desperdiçando-se o que até então tinha sido feito.

Mas olhemos para o futuro. Aquilo que o Luís Naves chama neo-colonialismo é precisamente aquilo que pode ajudar África: o aumento das trocas comerciais com os países desenvolvidos. Quem poderá comprar os recursos e os bens africanos senão os países ricos? É evidente que uma empresa quando vai comprar os produtos africanos tenta obter o melhor preço. São essas as regras do mercado e não há volta dar. O que é preciso é que o comércio livre aumente, que as nossas barreiras alfandegárias diminuam e que os apoios aos agricultores europeus e americanos desapareçam. Aqui talvez resida um dos vértices do problema africano: a excessiva protecção comercial que existe nos países desenvolvidos. Ao contrário do que defendem as correntes altermundistas, África precisa de comprar e vender produtos aos ocidentais. Mas se falamos na justiça destas trocas, aqui entra decisivamente o poder das instituições africanas. Sem estabilidade das instituições, os africanos estão condenados a verem os seus recursos favorecer uma camada restrita da população. E a corrupção a alastrar-se. Centro-me apenas no caso Angolano. Nos últimos anos Portugal viu um enorme fluxo de empresários deslocarem-se para o país. Conheço alguns que o fizeram. E o que se deparam quando lá chegam? Elevado grau de corrupção onde o pagamento de luvas é necessário para conseguir “fazer coisas”. Desde o simples polícia de rua até ao burocrata da Administração estatal. E imagino como funcionará a outros níveis mais elevados. De quem será a culpa? Do corrupto ou corruptor? Talvez dos dois, mas se Angola fosse um país mais “limpo” e “credível”, certamente quem sairia a ganhar era o povo angolano. Repito, há bons exemplos e são nesses que reside a esperança africana. Bem sei que é difícil que vinguem, e que retrocessos podem acontecer, como o exemplo que o Luís dá com a Costa do Marfim. Mas se não tentarmos promover estes bons exemplos o que resta? Nada.

A responsabilidade dos povos africanos e das suas próprias lideranças é para mim o ponto central desta questão. Continuando a olhar para trás, vitimizando-se e responsabilizando terceiros não adianta. Não resolve. Se as elites são inexistentes, e que o são na maioria dos casos, promova-se a Educação. Por exemplo, em Portugal todas as universidades têm grupos de estudantes dos PALOPs. Na Universidade do Minho recordo-me bem desta comunidade bastante numerosa. Com a educação dos povos africanos e a constituição de elites, será certamente mais fácil criar infra-estruturas democráticas que possam combater a corrupção, a desigualdade e a miséria. Fácil não é, nem digo que vá acontecer. Mas por algum lado se deve começar.

publicado por Nuno Gouveia às 16:40 | comentar | partilhar