E, contudo, ele move-se

Aqueles que se irritaram demasiado depressa com Cavaco-o-amiguinho-de-Sócrates tiveram (parte) da merecida resposta na mensagem de Ano Novo do Presidente. Mais cedo do que eu esperava, Cavaco veio "exigir" - foi a expressão, e repetida - "resultados" e "progressos claros" ao Governo. (Ah, que bem que isto soa: Cavaco exige resultados ao Governo. Muito melhor do que Soares exige resultados... Muitíssimo melhor do que Alegre exige ao Governo... Alguém imagina Alegre ou Soares a exigir alguma coisa?)
E não se limitou a exigir em geral, mas deu nomes às exigências: economia, educação e justiça.
Porquê estas três áreas? Porque elas revelam muito claramente a maior preocupação de Cavaco-Presidente, a que melhor o define como um político de centro-direita (reformista, sim, mas de direita): a estabilidade governativa. Não foi o que ele tantas vezes anunciou em campanha que iria defender em Belém?
A economia é um cuidado quase automático de Cavaco, não só porque se vê como o tutor da década de ouro do desenvolvimento português, mas também porque sabe que a crise económica trará inevitavelmente a desordem às ruas - e todos sabemos o horror que isso lhe causa. Quanto à educação e à justiça, é aqui que se têm verificado alguns dos maiores choques entre o Governo e os grupos sociais. Apontando estes sectores a dedo, Cavaco está a dizer, não que a conflitualidade social é má em si própria (olha quem!), mas que Sócrates não pode prolongar indefinidamente o braço de ferro com duas corporações tão emblemáticas. Pelo menos, sem que se vejam os tais "resultados"...
Alvíssaras, senhores: o velho Cavaco está de volta. E os conservadores, liberais e liberais-conservadores que continuam a suspirar por dons sebastiões em Belém, na Lapa e no Caldas, que se preparem para o reeleger.
Vão ver que, à segunda, o sapo custa menos.
publicado por Pedro Picoito às 16:00 | comentar | partilhar