Ciência e jornalismo em causa própria

"Os homossexuais, em geral, não são 'neuróticos e ansiosos'. Pelo contrário, são 'afectuosos, tranquilos, confiantes e firmes nas decisões', características que fazem deles melhores pais do que muitos heterossexuais, mais 'neuróticos, ansiosos e inseguros'." Eis como o DN resume as conclusões da tese sobre homoparentalidade de uma psicóloga chamada Vanessa Ramalho. Seria necessário consultar a tese para se saber exactamente do que se trata, nomeadamente em que medida é uma tese verdadeiramente científica e não um embuste. O mesmo seria necessário fazer para se saber em que medida é que as conclusões do DN são verdadeiras e não uma construção jornalística falaciosa. De qualquer modo, o parágrafo que nos é dado a ler é surpreendente. Dizer-se que os homossexuais são melhores pais do que muitos heterossexuais pouco ou nada significa se a afirmação não for acompanhada pela quantificação de “muitos”; o que seria exigível saber é se os homossexuais são melhores pais do que os heterossexuais. Esta é a informação que a peça jornalística pretende colocar na cabeça das pessoas mas que está longe de o mostrar com verdade; pelo contrário, o “muitos” é revelador das insuficiências da tese. Por outro lado, dizer-se que os homossexuais são melhores pais do que muitos heterossexuais também pouco ou nada significa se a afirmação não for acompanhada por uma reflexão profunda sobre o que significa ser “pai/mãe”, pois só assim se poderá concluir sobre o que é ser “melhor” ou “pior” pai/mãe. Esta reflexão fica por fazer. O mais próximo que se encontra aparece mais abaixo na peça: “Ana (nome fictício) é lésbica e foi mãe de gémeos através de uma inseminação artificial no estrangeiro. E acredita que a homossexualidade pode ser uma vantagem. Considera que ‘um pai/ mãe homossexual que seja assumido é, à partida, um indivíduo mais flexível, de mentalidade mais aberta ao mundo e ao que possa fugir do padrão instituído pela sociedade’”. Isto é: um pai/mãe é “melhor” se for “flexível”, de “mentalidade aberta ao mundo” e que “fuja ao padrão instituído pela sociedade”. No limite, o pressuposto é o seguinte: um pai/mãe que seja apologista da homossexualidade é "melhor" do que um pai/mãe que não o seja.

Este género de teses e de notícias jornalísticas não serve nem a verdade científica nem a verdade jornalística; pelo contrário, por detrás da capa da ciência, há apenas uma estratégia ideológica de imposição na opinião pública de um tipo de pensamento particular que serve os seus proponentes mas está longe de servir a sociedade.
publicado por Nuno Lobo às 18:29 | comentar | partilhar