O tempo dos rapsodos

Aprovado em Conselho de Ministros: um professor único que, no 2º ciclo do Ensino Básico (5º e 6º Anos de Escolaridade) deverá leccionar várias "áreas" ou disciplinas. Um só docente ensinará Português, História e Geografia de Portugal, Matemática, Estudo do Meio (Ciências da Natureza), Expressões. Lindo.
Uma nova casta de docentes: o professor generalista [sic]. Qualquer coisa como um "professor enciclopédico", dividido por vários tomos e com muitas, muitas entradas que decerto abarcarão regiões surpreendentemente remotas do Saber. Já se adivinham as chusmas de Aristóteles e Leibnizes jorrando dos "politécnicos", "escolas superiores de educação" e "faculdades". Pois.
Salta aos olhos que esta coisa só pode levar a uma superficialização do ensino. Um professor "generalista" será, desgraçadamente, uma espécie de rapsodo. Imagina-se que alguma vez um docente destes estará igualmente (e suficientemente) à vontade em todas as matérias que vai leccionar (sendo elas tão díspares)? Será um professor de tudo (ou de muita coisa), o que redundará num professor de nada (ou de quase nada).
(Como não podia deixar de ser, os "responsáveis" arremessaram logo com uns provincianos argumentos de autoridade, remetendo para "a europa" ou "os outros países".)
Não são "os meninos" (expressão habitual de Maria de Lurdes Rodrigues) do 2º ciclo merecedores de docentes especificamente preparados?... Por terem onze, doze anos, são menos exigentes "cientificamente" e podemos nós, assim, darmo-nos ao luxo de degradar o seu ensino?...
publicado por Carlos Botelho às 01:27 | comentar | partilhar