Hoje, na Europa, é quase consensual qualificar os mandatos de Bush como puros fracassos. Todos concordam que o homem se arrasta por estes últimos meses, qual fantasma que cedeu a intervenção no mundo dos vivos aos políticos que estão no Capitólio ou aos que disputam o seu lugar na campanha eleitoral. Por outro lado, para a maioria dos europeus, Bush não é só um falhado, mas um protótipo do político maligno e sinistro: sedento de sangue, ao serviço das grandes empresas, em particular petrolíferas, testa-de-ferro dos ricos na exploração dos pobres, hipócrita, burro, enfim, aquilo que se sabe e vê.
Mas, quando se olha para a sua viagem por África, é impossível não quebrar este retrato formado por vários anos de debate político amargo, em particular em torno do Iraque. Bush foi a África, não à África onde jorra petróleo, não à África dos preciosos recursos naturais que o resto do mundo cobiça. Bush esteve na África que os nossos bem-pensantes dizem ser irrelevante para os poderosos do mundo, a África que aparentemente não tem nada para oferecer ao mundo, a não ser tragédias, carências, mas também esperança. Foi recebido como um herói, como um salvador, como um amigo. Histeria das massas? Não. Foi uma reacção de gratidão. Numa operação quase sem precedentes, Bush investiu somas colossais de dinheiro na luta contra a SIDA em África (desde a prevenção até aos tratamentos), na luta contra a malária, em fundos de estabilização com contrapartidas de boas práticas.
Nos últimos anos, a decisão de Bush salvou centenas de milhares de pessoas e deu a alguns países como a Libéria e o Ruanda a possibilidade de começarem de novo. No continente que se dizia não interessar aos protagonistas mundiais dos jogos de poder. Não acreditam em mim? Espreitem o artigo de Bob Geldof, o cantor falhado que se converteu num porta-voz das desgraças africanas, no último número da TIME. É uma definição antiquíssima de justiça que é justo dar a cada um o que lhe é devido.
É você e o Mugabe. O Bokassa também o foi, meu amigo: e o Giscard foi lá prestar vassalagem e tudo. Quanto ao Idi Amin, o filme estragou tudo. Mas o que põe mais "afro-optimista convicto" é Zé Eduardo dos Santos (e a filha, também): grande humanista africano (tal como Bush, seu amigo e protector), homem de principios, sério, politicamente muito próximo dos grandes democratas ocidentais (Bush acima de todos), enfim, gosto! Tem transformado um dos países mais pobres do mundo, sem quaisquer recursos conhecidos, numa economia saudável, no progresso e bem-estar dos seus cidadãos, no desenvolvimento social conhecido, enfim, Prémio Nobel também para ele. É por isso que sou, e serei sempre,um "afro-optimista convicto", na peugada de "Bush, o Humanista", ou "Bokassa, o francesista", ou "Mugabe,o bardamerdista". Viva a África sub-bushiana! Viva o general França Van Dunen! Viva o Zé Kalanga!
O Cachimbo de Magritte é um blogue de comentário político. Ocasionalmente, trata também de coisas sérias. Sabe que a realidade nem sempre é o que parece. Não tem uma ideologia e desconfia de ideologias. Prefere Burke à burqa e Aron aos arianos. Acredita que Portugal é uma teimosia viável e o 11 de Setembro uma vasta conspiração para Mário Soares aparecer na RTP. Não quer o poder, mas já está por tudo. Fuma-se devagar e, ao contrário do que diz o Estado, não provoca impotência.