Quinta-feira, 30.11.06

Antikythera

Notícias sensacionais. No último número da Nature é dado destaque à reconstrução do mecanismo -- ou maquineta, geringonça, como lhe queiram chamar -- Antikythera (O μηχανισμός των Αντικυθήρων) .

O Antikythera é um mecanismo fascinante e misterioso, uma surpreendente peça de maquinaria de ca. séc II. a. C., recuperada do fundo do mar em 1902. A partir dos anos cinquenta, sobretudo devido aos esforços do historiador Derek de Solla Price, começou a ser estudado em pormenor, e os resultados aparecem finalmente ao público. Diz quem o viu recentemente numa exposição: «It looks like something from another world — nothing like the classical statues and vases that fill the rest of the echoing hall. [...] But it is the details that take my breath away. Beneath the powdery deposits, tiny cramped writing is visible along with a spiral scale; there are traces of gear-wheels edged with jagged teeth. Next to the fragments an X-ray shows some of the object's internal workings. It looks just like the inside of a wristwatch. [...] These fragments contain at least 30 interlocking gear-wheels, along with copious astronomical inscriptions. Before its sojourn on the sea bed, it computed and displayed the movement of the Sun, the Moon and possibly the planets around Earth, and predicted the dates of future eclipses. It's one of the most stunning artefacts we have from classical antiquity.»

Mas isto ainda é dizer pouco. Acima de tudo o que interessa perceber é que «No earlier geared mechanism of any sort has ever been found. Nothing close to its technological sophistication appears again for well over a millennium, when astronomical clocks appear in medieval Europe. It stands as a strange exception, stripped of context, of ancestry, of descendants.» Ou seja, o Antikythera é a pontinha minúscula do iceberg da nossa ignorância histórica; a sua complexidade recorda-nos que sabemos muito pouco, mas muito pouco mesmo, sobre o que era a vida na Antiguidade.

... nas vésperas de um Benfica-Sporting duvido que alguém ligue a isto...
publicado por Joana Alarcão às 17:27 | comentar | ver comentários (4) | partilhar

Da série "Posta Restante"



E como hoje é a última Quinta-feira do mês, aí está mais um número da Atlântico.
Recomendo vivamente o artigo do Rui Ramos sobre Sá Carneiro e o 25 de Novembro, que dá o mote à capa, os argumentos sobre o aborto de Matilde Sousa Franco e Rodrigo Adão da Fonseca, pelo "não", e Vasco Rato e Rita Barata Silvério, pelo "sim", e o artigo sobre a nova geopolítica da droga do Filipe Nunes Vicente, um dos melhores bloggers portugueses.
E mais, muito mais.
publicado por Pedro Picoito às 17:02 | comentar | partilhar

Um video-post sobre a OTA

publicado por Manuel Pinheiro às 13:19 | comentar | ver comentários (2) | partilhar

A comédia de erros

Do you not see, ant that you are, that you are only crawling along the great wheel of fate? Chance, fate, Divinity is everything.”
Johann Gottfried Herder, 1774.

No artigo “Portugal à chuva”, publicado no Domingo passado, Vasco Pulido Valente referiu-se pela enésima vez ao “atraso e à miséria” portuguesa e aos “iludidos” pela possibilidade de reformismo —uma impressionante colecção de ingénuos, que ascendem ao poder político e tentam sem sucesso emendar a pátria. O flagelo acentuou-se após 1974:
Desde o princípio que a história da democracia portuguesa, que estranhamente se imagina "europeia", tem sido uma comédia de erros, que o passado impõe.
Pulido Valente escreve sobre Portugal com um desespero romântico, no sentido filosófico do termo. Para Herder, a nação era o único veículo susceptível de proporcionar ao indivíduo a plena realização do seu telos humano. As nações nasciam, floresciam, definhavam e morriam. As nações tinham uma “voz” (a cultura nacional) e uma qualidade transcendental, que tornava a metáfora orgânica real no sentido político. Ao contrário de Herder ou de Fichte, Pulido Valente não perfilha uma concepção orgânica da comunidade política, mas refere-se frequentemente a Portugal em termos semelhantes. Porém, Herder era optimista, Pulido Valente é de um fatalismo historicista: o Zeitgeist lusitano deprime e oprime os portugueses e a “voz” da pátria é um murmúrio lúgubre que condena de antemão ao fracasso todos os esforços de reforma política. Aliás, a condição do corpo político nacional reduz a aspiração reformista ao exercício desesperado de insuflar vida num moribundo. Na comédia de erros, os governantes desempenham o papel de idiotas; sempre os primeiros a “acreditar” e os últimos a compreender.

Se esta fosse uma descrição aceitável da actividade política em Portugal, o país era de facto uma tragicomédia. Sucede que, com algumas excepções e independentemente de regime ou constituição, os governantes dos últimos dois séculos dedicaram-se a outra tarefa, que não deve ser confundida com reformismo: a construção, ampliação e manutenção de um aparelho de Estado. Não de um estado weberiano dotado de uma burocracia hierárquica e racional, mas de um estado corporativo, autoritário e centralizado. E na tarefa de construção de um poder político abrangente, os governantes portugueses não fracassaram. Pelo contrário: foram demasiadamente bem sucedidos.

Em Portugal a sociedade fornece os meios, as finalidades são decididas preferencialmente por mecanismos políticos e sindicais (as ordens profissionais são sindicatos de interesses). Considerando o carácter do Estado português, o reformismo é necessariamente devolutivo. Ora com a excepção do programa de reprivatizações iniciado por Cavaco Silva (e mesmo assim excessivamente faseadas no tempo e corporativamente negociadas), poucas foram as medidas políticas orientadas pelo princípio fundamental de devolução aos portugueses da responsabilidade sobre a condução das suas vidas. Note-se: aos portugueses, não a novas entidades fictícias, como as regiões administrativas, cujo objectivo é repartir o poder dentro do Estado, para manter e até ampliar o controlo político sobre a sociedade. Agora, com a “gaiola de ferro” do Estado português ferrugenta e a ameaçar ruína, o problema de engenharia que consome a energia política consiste em encontrar uma forma de sustentar ainda um pouco mais a rede de privilégios públicos e corporativos. Não se trata portanto de reformar, mas precisamente do oposto: como evitar o reformismo.

Aparentemente, a persistência desta orientação política deveria proporcionar o aparecimento de alternativas ao consenso socialista e corporativo. Para que uma alternativa reformista seja bem sucedida, terá de emergir do interior das forças partidárias existentes. Sem o lastro de sedimentação institucional, os novos partidos são encarados pelo eleitorado como aventuras bizarras e remetidos para uma condição de marginalidade representativa. Mas basta ver um telejornal qualquer para perceber o triste destino que provavelmente espera um projecto reformista que se apresente a votos.

O problema começa e acaba no apetite ilimitado dos beneficiários que controlam politicamente o regime e que sabem perfeitamente que a trajectória actual não é sustentável, mas que nunca abdicarão dos seus privilégios: são as Pompadours do socialismo corporativista. À luz da coligação de interesses faccionais que domina o aparelho de Estado, compreende-se melhor a inexistência de reformismo político e a comédia de erros revela a sua verdadeira natureza: os esforços políticos de "racionalização" não são reformismo, são os “sacrifícios” necessários para prolongar a "festa" do socialismo corporativo. Alguns subgrupos de beneficiários do regime visados pelas medidas de “racionalização” protestam sem vergonha nem decência, indiferentes à ruína do aparelho estatal e ao fardo fiscal suportado por toda a sociedade, que se prolongará muito para lá do fim deste regime. Portugal já está politicamente “à chuva”, mas nada que se compare com o dilúvio que inevitavelmente se seguirá ao final do festim. Se calhar, também sou um fatalista.
publicado por Joana Alarcão às 06:39 | comentar | ver comentários (4) | partilhar

Governo descobriu mais 39 000 privilegiados


O nosso aplicado ministro das Finanças afirmou no parlamento, certamente com a satisfação orgulhosa do dever cumprido, que as alterações fiscais previstas no Orçamento de Estado para 2007 "afectam [i. e. prejudicam] apenas [sic] 39 000 pessoas com deficiências".
O Governo, como um perdigueiro justiçoso, acaba sempre por descobrir, a bem da Nação, súcias de privilegiados, onde nós, criaturas medianas, nunca suspeitaríamos. Estes 39 000 malandros, para além do desplante de serem deficientes, ainda têm o atrevimento de gozarem de rendimentos entre os 900 e os 1000 Euros!...
Felizmente que o Governo vela e não deixa os privilegiados em paz.
publicado por Carlos Botelho às 03:57 | comentar | ver comentários (4) | partilhar

Da série "O Som e a Fúria"


(Quando se levantou a Estátua Equestre ao senhor rei D. José I, ano de 1776)

Erige, Ulisseia, embora, ao rei dedica,
Essa sublime estátua , ele a merece;
Que quem tanto te ilustra e te enobrece,
Mais que te aceita, o culto justifica.

Tu nesse bronze aos séculos publica
Quanto deves à mão que te engrandece;
Que em parte os benefícios agradece
A nobre confissão que os certifica.

Deu-te ele um novo ser, e um tal aumento,
Que na tua grandeza estupefacto
Se pasma ao ver-te o peregrino atento.

Mostra-lhe, então, que o teu maior ornato
É guardar nesse augusto monumento
Do teu segundo Ulisses o retrato.

Paulino Cabral de Vasconcelos (Abade de Jazente), Poesias, I (1786)
publicado por Pedro Picoito às 03:46 | comentar | ver comentários (2) | partilhar

Resposta ao post anterior

Claro que sim, Pedro!...

(E os vilões poderão ser homófobos sinistros...)
publicado por Carlos Botelho às 03:22 | comentar | ver comentários (1) | partilhar

Ó qu´isto chegou...



Diz quem foi ver (coisa feia, a inveja...) que o novo 007 é uma verdadeira revolução: Bond tem dores, suja-se, apaixona-se, não vai a todas porque se apaixona, quer deixar o MI6 porque se apaixona, quer casar porque se apaixona e, supremo aggiornamento, é enganado pela rapariga.
Em suma, o último dinossáurio falocrático tornou-se politicamente correcto.
Querem apostar que no próximo filme será gay?
publicado por Pedro Picoito às 02:17 | comentar | ver comentários (2) | partilhar

Da série "Cachimbos de Lá"


Salvador Dalí, Retrato do Meu Pai (1920)
publicado por Pedro Picoito às 00:57 | comentar | partilhar
Quarta-feira, 29.11.06

Um chuto no Carmona

Finalmente, ao fim de vários anos e alguns meses na Câmara de Lisboa, Carmona apresentou a primeira ideia para a cidade: salas de chuto! Carmona reuniu personalidades de prestígio e conseguiu, num tempo recorde, executar um plano que vai revolucionar a cidade e será seguramente um marco para o futuro. Esta medida terá impactos ao nível do Turismo, do Investimento Estrangeiro e da Reabilitação Urbanística. Para a medida ter o alcance pretendido Carmona deve levar o primeiro chuto.
publicado por Filipe Anacoreta Correia às 13:03 | comentar | ver comentários (5) | partilhar

Só para Pagãos


É para verem. Neste país não se brinca com coisas sérias. Por cá os relativismos, os niilismos e os subjectivismos têm os dias contados. Isto é gente católica a sério. E mesmo os que não perfilham uma fé religiosa, ainda assim pautam a sua visão da realidade por normas e medidas objectivas. Venham lá os protestantes do norte da Europa, os ateus de França e aqueles agnósticos de Inglaterra com as suas modas, que a gente explica-lhes como é que é.
«O Natal é quando um homem quiser»? Era só o que faltava. Tal como se publicitou neste fim-de-semana, o Natal inaugurou-se a 25 de Novembro, na Praça do Comércio, às 20h30.
Mas, então, o que é o Natal? O inferno das compras, comer até rebentar, o borralho a crepitar, a festa da família, as crianças a abrirem prendas e o papá, ridículo, mascarado de Pai natal. Não será que nesta pluralidade de significados conflituantes se atesta a vitória do subjectivista? Nada disso. Essas modernices por cá não pegam. Na capital deste grande país erigimos um monumento, “que se pode já considerar o centro do Natal lisboeta” (segundo o site do Millennium bcp).
E o que é o centro do Natal? Uma árvore que atingirá 75 metros, o equivalente a 25 andares, onde cintilam 2,35 milhões de lâmpadas. E não é apenas uma árvore que se possa caracterizar (subjectivamente) como pitoresca, elegante, deslumbrante, esplêndida e brilhante. Ela é a maior. A maior da Europa. E assim fazemos ver a esses progressistas europeus, a essa canalha pagã, relativista, ateia e agnóstica que aqui o espírito natalício está bem vivo.
«Mas papá, a catequista disse que o Natal era quando o Jesus nasceu lá para os lados de Belém.» «Sim filho, mas ficas a saber que tudo começou com a estrela a vir aqui da Praça do Comércio». Ainda por cima, temos as beatices a estragar o espectáculo. Era só o que faltava. Já estou como o Afonso Costa do outro dia. Temos é que correr com esta padralhada daqui para fora. A educação dos nossos filhos não pode ficar a cargo dessa gente sem espírito natalício.
publicado por Joana Alarcão às 10:08 | comentar | ver comentários (10) | partilhar

Da série "O Som e a Fúria"

Canta, ó deusa, a cólera de Aquiles
que tantas dores trouxe aos Aqueus
e tantas almas de heróis lançou no Hades,
ficando os seus corpos para cães e aves
enquanto se cumpria a vontade de Zeus
Homero, Ilíada, canto I (trad. de Frederico Lourenço, 2005)
publicado por Pedro Picoito às 02:23 | comentar | partilhar
Terça-feira, 28.11.06

Ansiedades...

Comentando a recente investida de três pesos-pesados do ateísmo militante (Daniel Dennett, Breaking the Spell; Sam Harris, Letter to a Christian Nation; Richard Dawkins, The God Delusion), Richard Schweder (NYT/IHT) fala da actual “anxiety of the atheists”, e do evidente nervosismo que se sente nas hostes ateias. É difícil não lhe dar razão, especialmente neste dia em que Bento XVI chegou à Turquia, e em que, como tantas outras vezes na história, o mundo inteiro está suspenso das palavras e dos gestos de um Papa.

publicado por Joana Alarcão às 20:11 | comentar | ver comentários (11) | partilhar

O Papa na Turquia



Bento XVI inicia hoje uma histórica visita à Turquia. Embora não seja a primeira deslocação papal a um país islâmico, as circunstâncias tornam-na especial. A última Time sugeria que o Islão será para o pontificado de Ratzinger aquilo que o comunismo foi para o de Wojtyla: a maior preocupação da Igreja. Ora, não há hoje país mais propício a um diálogo entre a Bíblia e o Corão do que a Turquia, historicamente uma ponte entre a Europa e o Oriente, aliada da nação germânica e do império austro-húngaro na I Guerra Mundial, ocidentalizada à força por Ataturk, Estado laico com 70 milhões de muçulmanos mas comunidades cristãs de longa tradição, actual membro da NATO e candidata à União Europeia, origem do maior número de imigrantes não-europeus na Alemanha de Ratzinger. Um amigo dizia-me, há dias, que o périplo turco de Bento XVI terá um efeito semelhante no mundo de Maomé ao da primeira viagem de João Paulo II à Polónia no então Bloco de Leste. Uma expectativa demasiado alta, sem dúvida, mas o modo como a Turquia acolher o Papa marcará certamente o tom de eventuais idas posteriores a outros países de maioria islâmica.
A este propósito, convém lembrar que Ratzinger não contará com a boa vontade dos seus compatriotas bávaros e muito menos com o entusiasmo dos polacos por Wojtyla. Crítico da entrada da Turquia na União Europeia, não foi convidado pelo Governo, mas pelo patriarca ortodoxo de Constantinopla. A conjuntura internacional não é a melhor. A “crise dos cartoons” alimentou uma miniguerra de civilizações e a Turquia foi um dos países onde os católicos foram atacados (houve mesmo um padre italiano que foi morto por um extremista). Para agravar as coisas, a França aprovou recentemente uma lei que proíbe negar o genocídio arménio, um tema tabu para Ancara, e as negociações de adesão à União foram suspensas devido à velha recusa turca em reconhecer a soberania de Chipre. E há ainda, obviamente, as ondas de choque do célebre discurso de Ratisbona. As manifestações de hostilidade contra o Papa, algumas com milhares de pessoas, têm-se multiplicado entre os turcos nos últimos dias.
Contudo, Bento XVI mostrou já que não tem medo de criticar o Islão por aquilo que considera a maior ameaça que esta fé conquistadora lança ao Ocidente: a intolerância. Disse-o pela boca de um imperador bizantino do século XIV, mas disse-o. Não se espere dele grandes considerações sobre a questão arménia ou a Europa. Mas é provável que, em Esmirna ou em Éfeso, onde o Cristianismo tem um peso histórico, recorde o respeito pela liberdade religiosa e pelos direitos das minorias do antigo Império otomano. Aqui para nós que ninguém nos ouve, acho que é só para isso que lá vai.
publicado por Pedro Picoito às 16:50 | comentar | ver comentários (9) | partilhar

Provocação ao pessoal deste Blog, à Blogosfera e ao Povo em geral

Malta: A economia "paralela" em Portugal está em estimada em 20% do PIB. É uma brutalidade. São várias centenas de milhões de contos que não "existem" nas contas públicas. Afinal não somos assim tão pobres. Toma lá Bruxelas. Toma lá Eurostat. Onde é gerado esse dinheiro? Em actividades perfeitamente lícitas (explicações de matemática aos vossos filhos, tascas onde vêm o Glorioso vencer por essa Europa fora, empregadas domésticas etc.), e outras menos bonitas (droga, contrabando, prostituição etc.). Melhor ou pior, lá que ele existe, existe.
E aqui começa a provocação, muito politicamente incorrecta e liberal:

1. Vamos assumir (todos juntos vá lá) que uma parte substancial desse dinheiro fica "cá" e não foge para "fora" (ok, algum há-de ir para as máfias e companhia) e é gasto na nossa economia, através da aquisição de produtos e serviços que estão em Portugal, em mercados mais ou menos concorrenciais e que fazem uma utilização mais ou menos eficiente de recursos;

2. Agora vamos assumir que se pelo menos as actividades lícitas que geram esse dinheiro cairem nas malhas do Sr. Paulo Macedo, duas coisas acontecem desde logo: uma parte do dinheiro desaparece - porque há menos incentivo para gerá-lo (40% ou 50% de carga fiscal é muito pouco estimulante); e a outra é que os milhões que o Sr. Macedo saca vão quase, quase todos para pagar dívidas ou para financiar a máquina do Estado (nada concorrencial e pouco eficiente).

3. Ou seja: se o dinheiro circular debaixo da mesa, é bem utilizado (a parte que fica cá) e faz bem à nossa economia. Se o dinheiro entrar nas contas públicas, uma parte desaparece e a outra é mal utilizada.

4. Assim, não entrando agora em considerações morais tipo "a César o que é de César" e sabendo que vamos ter impostos pesados durante muito tempo (passivo do metro do Porto: 260 milhões de contos, é só um exemplo), o fim da economia paralela não prejudica gravemente a criação de riqueza em Portugal?

5. É preciso ter lata, eu sei.
publicado por Francisco Van Zeller às 16:49 | comentar | ver comentários (15) | partilhar

Os vendidos do socialismo I

Era vê-los há uns meses: contra o liberalismo, marchar, marchar! Homens de convicções lutavam contra a vida para além do défice. Agora a sua vida é outra, porque, como diria o Sampaio, «a vida está difícil para todos». Ferro Rodrigues na OCDE. Cravinho tem o filho no Governo. Mega Ferreira no CCB. Ana Gomes no Parlamento Europeu. Augusto Santos Silva é ministro. Caso para dizer: o silêncio é de ouro!
publicado por Filipe Anacoreta Correia às 00:59 | comentar | ver comentários (9) | partilhar
Segunda-feira, 27.11.06

A última baixa pombalina

A entrevista de Maria José Nogueira Pinto ao "Diga Lá Excelência", que ontem vi na RTP2 e hoje no Público, não me esclareceu sobre seu o imbróglio de faca e alguidar com o PSD lisboeta, mas deixou-me uma certeza: Zezinha é mais uma vítima do Marquês de Pombal.
Vejamos.
O que é que a levou à ruptura com Carmona Rodrigues (ou vice-versa)? Querer alguém de confiança a dirigir a Sociedade de Reabilitação Urbana da Baixa, uma exigência compreensível tendo em conta que o projecto, pelo qual deu a cara, é hoje o maior desafio urbanístico de Lisboa. Quando lemos que o já célebre plano por si apadrinhado prevê abrir um túnel no Príncipe Real para desanuviar o trânsito na Praça do Comércio, percebemos a dimensão da coisa.
Acontece que a Baixa, tal como existe, é irreabilitável. E é-o porque foi pensada como um sistema sem espaço(s) para mudar e fechado ao exterior, uma estrutura em que todos os elementos são rigidamente interdependentes. Não se consegue mexer num deles sem tocar nos outros. Em suma, um "projecto totalitário", nas palavras fortes do arquitecto José Manuel Fernandes. Pombal transformou um labirinto vivo e onde as pessoas fervilhavam aos milhares em ruelas, travessas e pracetas, numa utopia rectilínea sem lugar para uma esplanada de café. A não ser, claro, nas duas grandes praças que encerram, a sul e a norte, a teia pombalina: a Praça do Comércio, que reservou para cenário do poder absoluto, e o Rossio, que abandonou ao povo. Entre ambas, só há rectas paralelas e perpendiculares sem passeios nem recantos. Um deserto feito para nómadas. Nem as igrejas, velhos pólos de sociabilidade, têm adros dignos desse nome.
É esta utopia onde não se pode viver que Maria José Nogueira Pinto quer reabilitar. Mas as utopias não se reabilitam - pela simples razão de que se crêem perfeitas. O Marquês encarcerou Lisboa na sua rede iluminada, talvez (Deus nos livre...) até novo terramoto, e ela, como tantos lisboetas, não conseguiu escapar-lhe.
publicado por Pedro Picoito às 15:38 | comentar | ver comentários (10) | partilhar

Da série "Os Outros"

Embora o Manel Pinheiro já o tenha posto nos nossos links, ainda não tínhamos dado os parabéns ao 31 da Armada, um novo blogue que vale a pena visitar.
Eu sei que somos suspeitos porque contamos por lá muitos amigos, mas desta vez confiem em nós.
publicado por Pedro Picoito às 12:03 | comentar | ver comentários (1) | partilhar
Domingo, 26.11.06

AUTORIDADE E LIBERDADE SÃO UMA E A MESMA COISA


AUTORIDADE E LIBERDADE SÃO UMA E A MESMA COISA

Autoridade é do que é autor.
Só a autoridade confere autoridade.
A autoridade não é uma quantidade.
Todo o homem é teatro de uma inexpugnável autoridade.
Aquele que julga ser possível autorizar ou desautorizar a autoridade de outrem não sabe no que se mete.
Liberdade.
A liberdade conhece-se pelo seu fulgor.
Quatro homens livres não são mais liberdade do que um só. Mas são mais reverbero no mesmo fulgor.
Trocar a liberdade em liberdades é a moda corrente do libertino.
Pode prender-se um homem e pô-lo a pão e água. Pode tirar-se-lhe o pão e não se lhe dar a água. Pode-se pô-lo a morrer, pendurado no ar, ou à dentada com cães. Mas é impossível tirar-lhe seja que parte for da liberdade que ele é.
Ser-se livre é possuir-se a capacidade de lutar contra o que nos oprime. Quanto mais perseguido mais perigoso. Quanto mais livre mais capaz.
Do cadáver dum homem que morre livre pode sair acentuado mau cheiro - nunca sairá um escravo.
Autoridade e liberdade são uma e a mesma coisa.

(De uma folha volante distribuída na rua, em Lisboa, Maio de 1958)

MÁRIO CESARINY
publicado por Carlos Botelho às 17:00 | comentar | ver comentários (10) | partilhar

A América e o Mundo


“Uma atenção à opinião das outras nações é importante para qualquer governo por duas razões: a primeira é que, independentemente dos méritos de qualquer plano ou medida particulares, é desejável, sob vários aspectos, que ele se apresente às outras nações como o resultado de uma política sensata e honrosa; a segunda é que, em casos duvidosos, em particular naqueles em que as assembleias nacionais possam ser pervertidas por alguma paixão forte ou por algum interesse momentâneo, a opinião suposta ou conhecida do mundo imparcial pode ser o melhor guia que pode ser seguido.”


Mesmo para quem apoiou a invasão do Iraque, não custa admitir que esta recomendação do principal arquitecto da Constituição americana foi algo negligenciada pelos condutores da política externa dos EUA nos últimos anos. E agora que tanta gente aguarda o triunfo completo dos Democratas, espera-se também uma mudança de atitude política e diplomática que reflicta mais fielmente as intenções de Madison.
De certo modo, os EUA não têm alternativa. É a consequência necessária da sua vocação civilizacional proclamada desde os tempos da Fundação, e da própria lógica democrática. Resta saber o que é o “mundo imparcial” e quem são os seus porta-vozes.
publicado por Miguel Morgado às 16:48 | comentar | ver comentários (7) | partilhar

Cachimbos

O Cachimbo de Magritte é um blogue de comentário político. Ocasionalmente, trata também de coisas sérias. Sabe que a realidade nem sempre é o que parece. Não tem uma ideologia e desconfia de ideologias. Prefere Burke à burqa e Aron aos arianos. Acredita que Portugal é uma teimosia viável e o 11 de Setembro uma vasta conspiração para Mário Soares aparecer na RTP. Não quer o poder, mas já está por tudo. Fuma-se devagar e, ao contrário do que diz o Estado, não provoca impotência.

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