Ora bem. Antes que as almas sensíveis peçam a minha cabeça numa bandeja, deixem-me dizer que já fui insultado por uns gajos do PNR. Sim, eu próprio, este vosso criado conservador. Eu e o camarada Paulo Marcelo, talqualsíssimamente como Louçã, Soares, Odete e outros distintos combatentes pela liberdade. A coisa nem é muito exaltante, não porque também envolva o camarada Marcelo, mas porque tem umas cenas parvas pelo meio.
Foi assim.
Como todos se lembram, na campanha do referendo do aborto a Plataforma Não Obrigada organizou uma caminhada que reuniu cerca de dez mil pessoas (duas mil segundo alguns jornalistas, mas isso é matéria para a
Fernanda Câncio). Eu e o camarada Marcelo participámos na marcha, que arrancou da Alfredo da Costa. Qual não é o nosso pasmo quando vemos sair de uma carrinha alguns skinheads e outros sem heads, carregados de cartazes e folhetos, que se põem a distribuir propaganda do PNR mesmo à nossa frente...
Não era preciso ser muito esperto para adivinhar o efeito que a coisa teria. Dirigimo-nos à rapaziada, curiosa miscelânea de sangue azul e white trash, esperando, por milagre, que alguém compreendesse uma frase sem as palavras "morte" ou "pretos", e tentámos convencê-los a não se misturarem connosco. Em desespero de causa, cheguei a alegar que, no fundo, éramos como eles: também não queríamos misturas.
Tudo em vão.
A certa altura, perdi a paciência e soltei um sonoro "filhos da puta", julgando estar a insultar alguém (só depois vim a saber que é uma expressão corrente nos ajuntamentos de direita, por exemplo nos Conselhos Nacionais do CDS).
Um deles chamou-nos "democratas de merda", igualmente convicto da violência do seu verbo.
Retirei-me, cheio de dignidade, convencido de que o meu insulto era maior.
O camarada Marcelo, com a ajuda dos organizadores, lá conseguiu entretanto convencê-los a ficarem no fim da marcha, o que teve os resultados mediáticos que se sabem.
Agora, que anda tudo em polvorosa por causa de um inocente cartaz no Marquês do Pombal, veio-me à memória esta historieta. Mas que injustiça! Se eles só querem salvar a Pátria...
Confiado nos prévios contactos descritos, aproveito, pois, para sugerir aos criativos do PNR alguns slogans para futuros cartazes. Inspirei-me na hermenêutica do Pacman citada no post anterior. Espero que não levem a mal.
Em vez de bater nos imigrantes, o que já está muito visto, porque não proclamar "Portugal é para todos, mas só se quiserem ser brancos"?
Melhor ainda. Que tal "Estrangeiros fora da selecção - por um Portugal sem Eusébios"?
Ou então "Também somos democratas, mas sem a mariquice das eleições livres"?
Aproveitem o marketing, rapazes. Até o Salazar já vai à televisão...