"Era uma vez um país, pela beira-mar prolongado, que deparou um dia pela manhã com uma Revolução. Uma daquelas a sério, com flores nas espingardas, crianças sem escola e milhares de mirones nas ruas a assistir em directo aos confrontos. Ficou conhecida pela "Revolução dos Bravos" e mudou Portugal para sempre. Foi numa manhã de Dezembro e ofereceu a Portugal a primavera que o país vive desde então.
O povo nunca esqueceu os seus destemidos soldados dos ídos de 70, que com sacrifício das próprias vidas e em clima altamente adverso - diz-se, ainda hoje, que alguns chegaram mesmo a deixar crescer a barba, tal era o frio que assolava então o país - lutaram com afinco e destreza pelo mundo que havia de vir.
Rezam as más línguas que um dos mentores da revolta foi até incompreendido, anos depois, por querer revolucionar mais ainda.
Olhando o Portugal de Novembro de 2007, dir-se-ía que muito se deitou a perder. Portugal anda triste, numa tristeza indigna das conquistas da Revolução de Dezembro.
Chateia-se o Presidente do Sporting, chateia-se uma deputada do PCP, chateiam-se comentadores habituais dos nossos media, chateia-se o Presidente da CML, há um clima de chateação que tudo invade.
Num programa de televisão, Rui Zink (um cidadão auto-mobilizado) constata que durante a gloriosa campanha da selecção nacional na fase final do Euro 2004 o número de acidentes nas estradas portuguesas se reduziu drasticamente. Lembrando que o facto não teria comprovação científica, sempre nos foi sendo dito que quando o português anda mais descontraído ou mais feliz, a sinistralidade rodoviária diminui por cá.
Ou seja, confirma-se: Portugal anda muito, muito triste, a julgar pelo que se assiste nas estradas nacionais.
Que se passa com este país, pouco antes de entrar em 2008?
Porquê tanta tristeza?"
(Identificação espacio-temporal de recém-iniciada obra escrita. Cumpre-me, no entanto, chamar a atenção para o facto de se tratar de um Romance Histórico, naturalmente).