Segunda-feira, 31.03.08

Concursos e eleições: estranhas coincidências

O concurso para o quinto canal de televisão em sinal aberto será lançado em deste ano Outubro, seis meses depois da apresentação de candidaturas à Televisão Digital Terrestre (TDT), noticia o jornal SOL. Poucas coisas nesta vida são inocentes. Muito menos os calendários para um concurso deste calibre, pensados pelo nada-ingénuo-ministro-da-informação Santos Silva. Basta somar alguns meses, e os atrasos habituais deste tipo de processos no nosso país, para perceber que a decisão "política" deste concurso (uma decisão como esta nunca é apenas técnica) vai coincidir com o calendário politico-eleitoral de 2009. Recordo que o Outono de 2009 será especialmente quente, com a realização de eleições legislativas e autárquicas. Esta estranha "coincidência" é grave e pode condicionar a liberdade de informação dos principais grupos de comunicação interessados naqueles concursos.

Nota final: Para que não restem dúvidas, o poderoso grupo económico que está por detrás do Cachimbo de Magritte (que nos paga, além dos ordenados milionários, o saco azul, a conta da Internet e os jantares no Gambrinus) vem esclarecer que não vai concorrer à TDT, muito menos ao 5.º canal de televisão. Mantemos a nossa isenção. Ninguém nos calará.
publicado por Paulo Marcelo às 16:21 | comentar | ver comentários (4) | partilhar

Contudo...

...apesar do descalabro, parece que se terá de esperar até ao início de 2009 para se clarificar a situação interna.
publicado por Joana Alarcão às 15:07 | comentar | partilhar

«Com um Governo do PSD...» (III)

A brilhante proposta de Luís Filipe Menezes sobre a eventual harmonização fiscal entre Portugal e Espanha não pára de me surpreender. Como se faz referência nos comentários ao post de ontem e como Vital Moreira também lembra, o IRS e o IRC em Espanha são mais elevados do que em Portugal. Juro que gostaria de saber como é que Menezes pretende convencer os espanhóis a baixá-los. Ou será que Menezes se prepara para defender o aumento do IRS e do IRC em Portugal?
publicado por Joana Alarcão às 14:58 | comentar | ver comentários (3) | partilhar

Não. Não é barriga de cerveja.

Thomas Beatie tem uma história que, até certo ponto, não é original: Thomas nasceu com sexo feminino e não gostou.
Vai daí fez o que vários outros, em igualmente complicadas circunstâncias, também fizeram: "mudou" de sexo. Um necessário implante, algumas aconselháveis remoções e, a toques de testosterona, lá há de ter trilhado os caminhos da sua transformação: voz mais grave, formas físicas masculinas e espuma de barbear no seu wc.
Até aqui, tudo a caminho.
Acontece, porém, que (segundo a imprensa) Thomas Beatie está grávido.
Através de um processo de inseminação, o referido senhor conseguiu realizar um presumível sonho seu: ter um filho.
Mas há-de ter conseguido mais.
É previsível que a parte mais recente da sua história seja narrada com recurso exaustivo a termos como "preconceito" e "discriminação fundada em motivos religiosos". É conhecida a fórmula, não entrarei por aqui.
Entro, sim, por uma certeza de que não se livrará: com a realização do seu presumível sonho, Thomas Beatie deita por terra os efeitos de anos e anos de transformação. Doravante, Beatie dificilmente conseguirá destacar a condição de transexual em detrimento do estatuto de mulher mascarada.
Se tudo lhe correr regularmente, em Julho de 2008 Thomas Beatie será mãe. E se dúvidas restarem acerca do seu género, elas acabarão aqui.
publicado por Joana Alarcão às 00:17 | comentar | ver comentários (1) | partilhar
Domingo, 30.03.08

«Com um Governo do PSD...» (II)

A ler:
1. «Menezes imparável no disparate», por Pedro Braz Teixeira (Abelhudo, 30.3.3008).
2. «António Borges e o PSD», por Luís Menezes Leitão (Lei e Ordem, 30.3.2008).
3. «Não se percebe», por João Espinho (Praça da República, 30.3.2008).
publicado por Joana Alarcão às 16:26 | comentar | ver comentários (2) | partilhar

«Com um Governo do PSD...»

«Com um Governo do PSD haverá em quatro anos uma harmonização fiscal entre Portugal e a Espanha. O que for o valor de um imposto de um lado da fronteira terá que ser o valor do imposto do outro lado da fronteira. Isto não é irrealista. Pressupõe trabalho e pressupõe uma estratégia», declarou Luís Filipe Menezes (Antena 1, 30.3.2008).
.
Estas linhas davam para escrever um tratado. Em primeiro lugar sobre a peculiar noção de harmonização fiscal de Menezes que, no mínimo, é minimalista e se deve circunscrever ao IVA, IRC e IRS. Se tanto.
Em segundo, registe-se que Menezes defende a vinculação de Portugal a Espanha em matéria fiscal já que, o contrário, seguramente nunca irá acontecer. Alguém está a ver Espanha descer o IVA em resposta a Portugal?
Em terceiro, registe-se também a obsessão com os indicadores económicos espanhóis -- parcialmente compreensível e que já expressou noutras ocasiões -- numa altura em que o crescimento económico espanhol entra em dificuldades. Queremos crescer tanto como Espanha quando Espanha começa a crescer menos?
Por último, o mais importante, para além de razões estritamente políticas, alguém me explica a racionalidade de colar a nossa política fiscal à espanhola? O que se ganha compensa o que se perde? Onde estão os estudos preliminares? Como pensa Menezes recuperar os larguíssimos milhões de euros perdidos em receita fiscal?
Algo me diz que para além de ser «irrealista» -- crítica que Menezes advinha -- a proposta é irresponsável. Mas eu, refira-se, não percebo nada de economia e muito menos de matérias fiscais.
publicado por Joana Alarcão às 15:55 | comentar | ver comentários (6) | partilhar

Ainda o Kosovo

Por regra não tenho grandes diferenças de opinião em relação a Luís Amado. O actual ministro dos Negócios Estrangeiros tem uma visão da política externa portuguesa que subscrevo na maioria das situações. Isto dito, a tese de que Portugal pode ter um «papel facilitador» entre a Sérvia e o Kosovo -- a não ser que Amado esteja na posse de informação que me escapa -- não tem muito sentido (Público, 30.3.2008: 9). A não ser que estejamos a falar de um papel de «facilitador» numa abordagem minimalista e formalista: Portugal seria facilitador de um encontro entre as partes e nada mais do que isso. O «papel facilitador [de resultados]» é outra conversa.
publicado por Joana Alarcão às 15:35 | comentar | partilhar

«Face humana»

Foto: Carlos Lopes (Público).
José Sócrates andou a «disfarçar estados de alma», mas não resistiu à confissão pública retrospectiva do seu brilharete, não se desse o caso de alguém não ter reparado. Como não poderia deixar de ser, claro, o desabafo ocorreu na altura própria. Afinal, nem para o desabafo há espaço para o improviso...
publicado por Joana Alarcão às 00:51 | comentar | ver comentários (1) | partilhar

A propósito...

Foto: Mike Hutchings (Reuters, 27.3.2008).
Why parties and elections in authoritarian regimes? Barbara Geddes apresenta uma eventual resposta.
publicado por Joana Alarcão às 00:35 | comentar | partilhar
Sábado, 29.03.08

Amy Winehouse - "You Know I'm No Good". Live In London

O Cachimbo e os seus leitores gostam de Amy Winehouse?

publicado por Fernando Martins às 22:28 | comentar | ver comentários (4) | partilhar

A mentira verdadeira

Pacheco Pereira assina na edição de hoje do Público a segunda parte da sua interpretação pessoal sobre a ocupação militar do Iraque em 2003. Neste segundo texto, a ‘mentira’ é o elemento central. Diz Pacheco Pereira que não houve mentira (sempre cuidadosamente rodeada de aspas) “porque Bush e Blair estavam convencidos de que as armas de destruição maciça existiam no Iraque”. Como, aliás, também estavam a generalidade dos serviços de intelligence ocidentais, mesmo daqueles que se opunham politicamente à ocupação; como estavam a generalidade dos responsáveis por instituições internacionais com envolvimento na matéria; como estavam até as chefias militares iraquianas. Onde a administração norte-americana e os seus aliados erraram, diz Pacheco Pereira, “foi em deixar centrar a sua argumentação nas armas, o que resultou das pressões de Colin Powell e do Departamento de Estado para obter uma resolução das Nações Unidas, e que levou à apresentação de "provas" que vieram a revelar-se inconsistentes ou falsas”.

Não foi um erro: foi a consequência de uma mentira sobre a natureza da guerra e dos objectivos políticos a alcançar através dela. Mas para que se perceba que espécie de mentira e quais as consequências políticas é preciso descer ao níveis profundos do ground zero da estratégia, tarefa quase impossível pela extraordinária quantidade de entulho propagandístico na qual defensores e opositores a enterraram ao longo dos últimos cinco anos. Evidentemente, este não é o suporte adequado para um texto com esse objectivo, pelo que me vou limitar a duas observações.

Primeiro, a convicção generalizada de que o regime iraquiano dispunha de arsenais químicos, biológicos e de um programa activo de desenvolvimento de armamento nuclear exclui a tese conspiratória da mentira. Afirmar o contrário não é ‘só’ inconsistente com a evidência factual disponível e com os melhores trabalhos de investigação histórica e jornalística entretanto produzidos. É também inconsistente com a lógica mais elementar: nenhum governo advoga nas mais altas instâncias internacionais sobre a necessidade urgente de uma invasão militar cuja legalidade é duvidosa mesmo para alguns dos seus defensores, sabendo de antemão que o argumento em que funda a reivindicação de legitimidade política (e moral) é falso. Nenhuma liderança militar racional prepara uma operação da dimensão da Operation Iraqi Freedom condicionando o plano a uma contingência (ataques químicos ou biológicos do inimigo) que lhe causa desvantagens tácticas, psicológicas e financeiras, sabendo que o inimigo não dispõe de tal armamento. Nenhum governante no seu juízo perfeito gasta mais de mil milhões de dólares –o valor actualizado estimado do custo total de busca de WMD’s no Iraque após 2003– procurando o que sabe que não existe. Não é surpreendente que isto não desencoraje muitos dos opositores à ocupação do Iraque: a histeria irracional (‘eles’ mentem!) é impermeável à argumentação lógica.

Segundo, houve de facto uma mentira. Uma mentira que excede os limites difusos do imperativo da ‘razão de Estado’, que Pacheco Pereira invoca quando diz que “todos os governos democráticos a praticam”. Uma mentira cujas consequências políticas são graves e permanecem como condicionante na disputa política das presidenciais americanas. A administração norte-americana eleita em 2000 nunca foi uma entidade monolítica comandada por neoconservadores, nem a resposta política aos ataques de 11 de Setembro foi ‘neoconservadora’. A facção neoconservadora (Wolfowitz, Perle, Woolsey) só tomou o controlo político das operações em 2002, assumindo a preparação de um plano de invasão militar do Iraque, um plano que foi sempre justificado como uma guerra preemptiva e prudente (Richard Perle disse muito claramente: “the casus belli is that we know Saddam Hussein possesses chemical and biological weapons” e relatórios britânicos de intelligence chegaram a sugerir que os arsenais iraquianos poderiam ser mobilizados “em 45 minutos”) seguida de um processo de ‘democratização’, onde o papel das forças militares era pouco claro, mas presumia-se que se resumiria a uma presença limitada e dissuasora de instabilidade.

Toda a conduta justificável à luz da razão de Estado, incluindo a mentira, terá de ser demonstrada como protectora do interesse nacional. Ora a guerra do Iraque veio a revelar-se preventiva e imprudente, ao comprometer recursos militares e financeiros numa guerra a prazo indefinido, sem que tal tivesse sido claramente explicitado, debatido e validado politicamente. Mais grave ainda: a presidência norte-americana agiu sempre como se não fosse esse o caso quando sabia perfeitamente que os objectivos políticos que tinha estabelecido exigiam um envolvimento militar a prazo indefinido. Quando George W. Bush declarou, em Maio de 2003, a bordo de um porta-aviões americano o fim das principais operações de combate, fê-lo em frente a um estandarte com a inscrição “Mission Accomplished”. Bush sabia que não se tratava de "missão cumprida": a missão era outra —e comprida. É esta a essência da mentira politicamente relevante. O número de baixas até então não chegava à centena e meia; hoje já se ultrapassaram os 4000 mortos. Este preço de sangue e de dinheiro pago pela coligação ocidental no Iraque não foi previsto e viola gravemente o princípio da prudência que deve presidir à condução dos assuntos de Estado, sobretudo porque havia alternativas à ocupação militar do Iraque. Daí que seja impossível tratar a falta de honestidade política como justificável à luz da razão de Estado. John McCain, cuja grandeza política é incomparavelmente superior à do actual presidente, está sob pressão por ter sido simplesmente honesto e responsável, admitindo que a presença militar americana no Iraque –e não a guerra, como falsamente reclamam os Democratas– se poderá prolongar por várias décadas. É ainda o preço da mentira política de Bush.

Nota final: no artigo “Rumsfeldiana”, cujo título é uma derivação de um notório ‘filme de conspiração’ (Syriana) mencionei a importância de se compreender a ‘mentira verdadeira’. Rumsfeld foi um dos rostos políticos da guerra do Iraque, não foi de modo algum o único nem sequer o principal responsável. Mereceu o ‘destaque’ do título por essa visibilidade e pela sequência de erros clamorosos que ainda hoje são sentidos. A título de exemplo, quando se iniciaram os saques de Bagdad, em vez de perceber a importância crucial de assegurar a segurança civil para a confiança no Leviathan americano, Rumsfeld disse simplesmente: “stuff happens!”. Ao secretário de Defesa norte-americano exige-se mais do que a passividade introspectiva de uma personagem de David Mamet. Ironicamente, o saque do Museu Nacional de Bagdad é ainda hoje uma das principais fontes de receita dos insurgentes iraquianos: stuff does happen. Richard Perle garantia: we know. Não sabia e também não foram os known unknowns de Rumsfeld que se revelaram trágicos: foi, como disse Mark Twain, what you think you know and it isn’t so.
publicado por Joana Alarcão às 15:53 | comentar | ver comentários (3) | partilhar

«Algo muito anormal»

«A declaração unilateral de independência [do Kosovo] é algo muito anormal, não está previsto no direito internacional. (...) Perante uma situação anormal e sem esquecer que temos 300 (...) soldados no Kosovo, nós devemos ser cuidadosos, principalmente quando se reconhece que não existem soluções óptimas», afirmou Aníbal Cavaco Silva (28.3.2008).
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Depois da precipitação inicial de José Sócrates que chegou a anunciar que Portugal tomaria posição sobre o processo de independência do Kosovo «muito brevemente», nesta fase está amplamente consolidada a tese de que não há nenhuma razão que justifique um reconhecimento imediato da independência unilateral do Kosovo, antes pelo contrário.
.
Não questiono a prudência, pelo contrário. Compreendo e aceito igualmente que haja alguma reserva e parcimónia nas declarações. Isto dito, não viria mal ao mundo se houvesse um pouco mais de transparência. Luís Amado remeteu para o «momento oportuno». Isto dito, quais são os critérios que o determinam?
publicado por Joana Alarcão às 01:59 | comentar | ver comentários (3) | partilhar

Vale a pena recordar...


...estas declarações de Fernando Pinto Monteiro proferidas em Fevereiro de 2007. A partir delas percebe-se em parte o que tem sido a forma de estar na PGR a partir dessa altura.
publicado por Joana Alarcão às 00:58 | comentar | partilhar
Sexta-feira, 28.03.08

Empresários eucaliptos

As notícias que tardam, tardam e tardam, como as pilhas no famoso anúncio da Duracell. Não há maneira de os nossos empresários de grande sucesso serem notícia na comunicação social não só pelos avultados dividendos que recebem e pelo crescimento exponencial das suas fortunas pessoais ou dos seus grupos empresariais, mas também pelo retorno que dão à sociedade, a título pessoal ou por intermédio de fundações criadas para o efeito.
As boas práticas, neste domínio, tardam em chegar a Portugal. No médio e longo-prazo, perdemos todos com isso, infelizmente. Há aqui algo de muito pouco sustentável na forma como os nossos empresários de grande sucesso se relacionam com a sociedade. Percebe-se facilmente que se não se inverter este caminho algo vai correr mal.
publicado por Joana Alarcão às 15:02 | comentar | partilhar

Nuno Pombo...

... nos Incontinentes Verbais. Um post cuja leitura se recomenda!
publicado por Joana Alarcão às 01:10 | comentar | ver comentários (1) | partilhar
Quinta-feira, 27.03.08

Viagens na minha terra

O que aconteceu às presidências abertas de Pedro Santana Lopes? Tal como as reuniões do grupo parlamentar do PSD, também se vão tornar «progressivamente mais reservadas»? Tão reservadas que o melhor, mesmo, é abandonar a ideia?
publicado por Joana Alarcão às 22:51 | comentar | ver comentários (1) | partilhar

Ditosa a pátria que tais filhos tem

O que mais me surpreende na última telenovela nacional, também conhecida por "caso do telemóvel" ou "violência nas escolas", é a capacidade de multiplicação do disparate.
A direita, que aplaudiu quando Sócrates convidou a opinião pública a linchar os professores e passou os últimos anos a execrar os privilégios e o corporativismo dos madraços, descobre agora que é preciso restaurar "a autoridade" no sistema de ensino.
Como?
Oh, é simples: com um par de bofetadas na aluna.
Não ocorre a estes denodados paladinos da ordem que a solução é impossível porque o "caso" não é isolado. E não lhes ocorre porque provavelmente não põem os pés numa sala do secundário há muito tempo. Mas isso são pormenores: a direita tem sempre um inesgotável arsenal de bofetadas para dar.
A esquerda também tem culpas no cartório.
Depois de passar três décadas a explicar aos filhos dos outros que os professores são uns gajos porreiros, apenas com o inconveniente de serem um bocadinho mais velhos, que as aulas não servem para aprender matemática e ortografia, mas para formar cidadãos, e que a escola deve ser democrática, como se o ensino alguma vez fosse uma relação entre iguais, de repente descobriu que alguém levou isto tudo a sério.
Ditosa a pátria que tais filhos tem, lá dizia o... o... como é que o homem se chamava?
publicado por Pedro Picoito às 21:50 | comentar | ver comentários (11) | partilhar

Don't Stop

Fonte: Marktest (3/2008).
Notícias frescas. O PSD está no bom caminho. O precipício é já ali a seguir. Os sociais-democratas só precisam de continuar tal como estão e seguir sempre em frente.
publicado por Joana Alarcão às 19:21 | comentar | ver comentários (1) | partilhar

Bella história


Por todo o lado se vê e discute o filme "Bella", do realizador estreante mexicano Alejandro Monteverde, verdadeira pedrada no charco do gosto dominante do actual cinema ocidental. Em Portugal a discussão tem sido pouca e o filme (ainda) não chegou. Possíveis razões? Podem enumerar-se várias, mas há uma que é quase certa: o filme é politicamente incorrecto e francamente incómodo. Não tem violência nem sexo, não “arma” em intelectual, não usa efeitos especiais, não se baseia no pressuposto de que a vida é uma treta e o melhor a fazer é gozar o mais que se possa, não propõe o bem-estar como o deus dos felizes, nem sequer usa as emoções fortes ou o sentimentalismo peganhento para colar o espectador ao ecrã. Uma “pastilha”, portanto?... Parece que não. Que o digam os milhões de espectadores que têm visto e revisto o filme e dito maravilhas sobre ele, e que o confirmem os muitos prémios que já recebeu, entre eles o do importante Festival Internacional de Toronto.
Baseado numa história verdadeira, o filme centra-se num dia da vida de duas pessoas (José, um ex-jogador de futebol americano, e Nina, uma empregada de restaurante) que casualmente se encontram. José viu a sua carreira evaporar-se por uma série de circunstâncias que o impediram de assinar um contrato milionário; Nina está grávida e sózinha. Mas a partir do encontro que fazem e das decisões que ele implica, as suas vidas mudarão radicalmente.
O filme comete a imprudência de contar uma história em que o “verdadeiro amor vai para além do romance”, ou seja, implica sacrifício e coragem, embora devolvendo à vida o seu gosto intenso. Que um filme seja eficaz em “convencer” os espectadores de que a vida é, realmente, bela, não é fácil nem comum; mas que o faça ao mesmo tempo que valoriza a vida de uma criança por nascer, é, no mínimo, arrojado… É, pois, natural que este tenha sido o pomo da discórdia que, à margem do sucesso de audiências, tem alimentado alguma crítica e feito brandir argumentos a favor da vida ou a favor do aborto.
É, porém, de toda a justiça esclarecer que não se trata de uma obra feita para defender uma qualquer ideia, mas sim para falar da vida de pessoas normais que arriscam gestos de bondade, colhendo deles todo o seu potencial de esperança e de confiança na realidade. Realizado e produzido por gente jovem e amiga – Monteverde, Eduardo Verastégui (o protagonista) e Sean Wolfington criaram a Produtora Metanóia e são apelidados de “The Three amigos” – o filme contou com um orçamento relativamente modesto e arriscou contar uma história simples e bela. A sua proposta vai mais longe do que à primeira vista pode parecer e resume-se na provocação a que o espectador responda à pergunta: “What do you live for?”.
publicado por Joana Alarcão às 17:15 | comentar | ver comentários (3) | partilhar

Da série "Posta Restante"

"É agora hábito falar do ensino opondo o estatal ao privado. A respeito de disciplina, a diferença é esta: numa escola privada há alguém que é suposto tratar da questão, e não simplesmente passá-la burocraticamente para a direcção regional e o ministério. Porque é que as escolas estatais não hão-de dispor da mesma autonomia e responsabilidade? E se cada escola do Estado fosse uma instituição com identidade e vontade próprias, em vez de célula anónima e passiva de um "sistema de ensino" definido e comandado a partir de uma rua de Lisboa? E se cada escola tivesse o seu próprio estatuto do aluno? E se cada escola pudesse escolher os seus alunos e cada aluno escolher a sua escola? Em vez de encarar as dificuldades do ensino estatal como um "grande problema", que ninguém sabe resolver a não ser reescrevendo o primeiro livro da Bíblia, porque não dividi-lo em muitos pequenos problemas locais, confiando em que seriam resolvidos da maneira possível pelas pessoas concretas a quem esses problemas dizem directamente respeito?"
Rui Ramos, "Quando é que a velha cai?", in Público, 26/3/08
publicado por Pedro Picoito às 12:50 | comentar | ver comentários (1) | partilhar

Cachimbos

O Cachimbo de Magritte é um blogue de comentário político. Ocasionalmente, trata também de coisas sérias. Sabe que a realidade nem sempre é o que parece. Não tem uma ideologia e desconfia de ideologias. Prefere Burke à burqa e Aron aos arianos. Acredita que Portugal é uma teimosia viável e o 11 de Setembro uma vasta conspiração para Mário Soares aparecer na RTP. Não quer o poder, mas já está por tudo. Fuma-se devagar e, ao contrário do que diz o Estado, não provoca impotência.

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