Segunda-feira, 30.06.08

Branding

Já depois da famosa readmissão do FC Porto à Liga dos Campeões, tenho visto em vários canais de televisão internacionais diversas entrevistas e conferências de imprensa com o Presidente da UEFA que se podem resumir assim:

Jornalista A: ... FC Porto?
Michel Platini: Os corruptos, a corrupção, os batoteiros...


Jornalista B: ... FC Porto?
Michel Platini: Os corruptos, a corrupção, os batoteiros...


Jornalista C: ... FC Porto?
Michel Platini: Os corruptos, a corrupção, os batoteiros...


Pelo que tenho entretanto lido em diversa imprensa internacional, e independentemente das decisões passadas e futuras da UEFA sobre o caso, a mensagem de Platini sobre o FCP passou. E de que forma.
publicado por Manuel Pinheiro às 14:58 | comentar | ver comentários (2) | partilhar

A minha teoria da conspiração é maior que a tua

Em Portimão, alguém disparou meia dúzia de tiros contra um edifício onde o Primeiro-Ministro estivera minutos antes.
Aguardo que os sherlocks para quem o 11 de Setembro foi uma maquinação de Bush e dos judeus (Diana Andringa e Mário Soares, remember?) venham explicar-nos que o "atentado" a Sócrates não passa de um balão de oxigénio que dá jeito ao Governo.
publicado por Pedro Picoito às 11:15 | comentar | ver comentários (3) | partilhar
Domingo, 29.06.08

Uns e outros

Tenho lido aqui e ali que a adesão dos jovens portugueses aos movimentos de massas marxistas das décadas de 1960 e 1970 foi determinada pelo regime de Salazar e Caetano, como se não houvesse outra forma de resistência possível! Contudo, havia. As vidas e obras de autores como Eric Voegelin, Raymond Aron e Eugène Ionesco -- ora perseguidos, ora ostracizados, tanto à direita como à esquerda -- testemunham com invulgar transparência que havia no século XX um caminho de liberdade e sabedoria a percorrer por quem quisesse mesmo resistir aos movimentos ideológicos de massas.
publicado por Nuno Lobo às 20:05 | comentar | ver comentários (3) | partilhar

Beirut - A Sunday Smile

publicado por Manuel Pinheiro às 14:45 | comentar | ver comentários (2) | partilhar

Sucesso


Vale a pena relermos a já famosa citação:

Na verdade, a Directora Regional de Educação do Norte acabou por revelar o princípio que regula, a ideia que enforma a política de educação do seu Ministério em particular e do Governo. (Chega a ser divertido ver como estas pessoas, na volúpia do seu poderzinho, não resistem a “fazer” doutrina e exteriorizam, assim, para a ilustração dos indígenas, o seu “pensamento”, sem dúvida conscientes da sua elevada missão. Daí o tom de injunção moral, sentencioso, insuportavelmente “catequético”: a criatura atreve-se a perorar sobre “o que louva o trabalho do professor” etc )

O que importa é o “sucesso” (palavra mágica de virtudes ocultas), o sacro “sucesso”. “Os alunos têm direito a ter sucesso.” Não. Os alunos não têm direito ao “sucesso”. Os alunos têm, sim, direito a que lhes sejam garantidas as condições para poderem obter “sucesso”. Ou melhor, alcançar o “sucesso”. Os alunos devem ser postos perante a possibilidade do seu “sucesso”. A possibilidade tem de lhes estar garantida. Os esforços para isso nunca serão de mais. Mas não é o “sucesso” que é garantido. O “sucesso” é mais um mérito do que um direito.

O “pensamento” do Governo (revelado pelas tocantes injunções da DREN) é um insulto aos alunos e aos professores. Insulta os alunos, porque parte claramente do princípio que um aluno é uma entidade meramente passiva a quem é oferecido o “sucesso”. Não vale a pena exigir esforço, porque nunca o conseguiriam: não tem mal, aqui tens o teu "sucesso", toma-o, tens direito a ele. Insulta os professores, porque os ridiculariza, dando-lhes o sinal (e em forma de argumento ad baculum!) de que têm de baixar o grau de exigência e devem limitar-se a ser fornecedores de “sucesso”. Devem dar em bandeja ao aluno o terminus ad quem de todo um percurso sem verificarem se ele adquiriu as competências para caminhar até lá. Quer dizer, o “sucesso” não se discute. É um direito. Não sejamos ingénuos: aquelas frasezinhas da DREN condicionam não só o escrutínio dos correctores como o próprio sentido da tarefa do professor em geral. E têm um efeito verdadeiramente criminoso nos alunos. Criminoso.

Pede-se que o “sucesso” tenha correspondência numa efectiva apropriação de conhecimentos? Não. Exige-se que o “sucesso” seja carimbado nos alunos. Ao invés de todo o sentido, preconiza-se que não tem de haver (não deve haver!) uma qualidade efectiva que corresponda ao carimbo do “sucesso”. O que está por detrás deste “sucesso”? O vazio.
Não se trata de alcançar ou obter melhores resultados. Trata-se de mostrar melhores resultados. Se necessário, fabricam-se. Falsificam-se. Para uma coisa tão séria como o Ensino, esta gente procura uma solução meramente “retórica”.

E valem todos os truques: os critérios da “avaliação” dos professores (esse princípio absurdo – de cada vez que a “direita” o aplaude, está a fomentar o mesmo “facilitismo” contra o qual se esganiça tão alvoroçada, coitada); atira-se mais meia hora para cima de cada exame; baixa-se o seu grau de dificuldade até níveis que chegam a ser ridículos (como denunciaram várias vozes com autoridade – “pessimistas de serviço” e “ignorantes”, segundo a ministra e sua gente); amolecem-se os critérios de correcção até ficarem pueris. E como estas trapaças não são ainda suficientes, avisa-se os correctores de que não estão ali verdadeiramente para corrigir, verificar, aferir, mas sim para fazer momices estatísticas – participar na farsa.

Não se trata já de conformar, violentando-a, a realidade à “ideologia”. Trata-se antes de algo mais perverso, mais doentio. Esta gente trata de substituir a realidade pela “ideologia”.

“Os alunos têm direito a ter sucesso”. E, no entanto, àqueles que são realmente direitos dos alunos, direitos silenciosos, direitos cuja satisfação não se presta a anúncios de fanfarra e trombeta, a esses, o Governo mostra indiferença (quando não os atropela) e mente sem vergonha. É o caso desta história edificante do “Ensino Especial”.

O que aquela gente pensa, mas não se atreve a dizer, de cada vez que os mais conscienciosos se indignam com as trapaças dos exames, é isto:
“O quê? Estão doidos? Queriam fazer exames a sério aos nossos alunos, não?”

Para eles, os alunos portugueses não são merecedores de um Ensino a sério. Não valem a pena. Por isso, faz-se uma coisa a fingir. Brinca-se à Escola. O brinquedo somos nós todos.
publicado por Carlos Botelho às 01:10 | comentar | ver comentários (22) | partilhar

O "Futebol" que Temos



Michel Platini, que não é nem ingénuo nem um D. Quixote, não quer o Futebol Clube do Porto na Liga dos Campeões de 2008-2009 por se ter provado, sem qualquer dúvida, que o actual campeão da Liga Portuguesa viciou, e tentou viciar, resultados desportivos. Mas na frente interna isto pouco importa. Tanto na Federação Portuguesa de Futebol, como na Liga de Futebol Profissional, não há, nem nunca houve, purismos e puritanismos.
publicado por Fernando Martins às 00:10 | comentar | ver comentários (4) | partilhar
Sábado, 28.06.08

"... kiss my ass."

Ao que parece Bill Clinton só sairá em apoio de Obama depois deste "lhe beijar o rabo". No entanto, e a avaliar por umas palavrinhas proferidas pelo mesmo Obama no "comício" com Hillary Clinton em Unity ("I know how much we need both Bill and Hillary Clinton as a party. They have done so much great work. We need them badly."), é óbvio que o homem da "esperança" não só já está a beijar há muito os rabos do casal Clinton, como irá a beijar o que for preciso para contar com o apoio do ex. presidente e da ex. primeira dama e sua rival nas primárias. Ainda assim não será por isso que Obama deixará de ser o homem dos "princípios" e da certeza na luta contra o "sistema" lá da terrinha.
Foto daqui.
publicado por Fernando Martins às 23:38 | comentar | ver comentários (1) | partilhar
Sexta-feira, 27.06.08

A purga

Hoje, em debate parlamentar, a respeito da saga dos Exames Nacionais, Paulo Portas citou um documento da Directora Regional da Educação do Norte (aquela de sinistra memória):

"Os alunos têm direito a ter sucesso. Talvez fosse útil excluir dos correctores aqueles professores que têm repetidamente classificações distantes da média. O que louva o trabalho do professor é o sucesso dos alunos."

Sim, leram bem.
publicado por Carlos Botelho às 15:53 | comentar | ver comentários (14) | partilhar

Alvo: Trichet e BCE

O fenómeno não é imprevisível, em particular em contextos como o nosso actual, mas não deixa de chatear. Nos dias que correm, cresce a contestação irada a Trichet e ao Banco Central Europeu. Ontem foi a vez de Ângelo Correia mostrar a sua indignação. Segundo ele, Trichet e o Banco Central Europeu a que preside "não percebem nada", tal é a sua obcessão com critérios "monetaristas". Sem qualquer conhecimento dos dados da economia europeia, Ângelo Correia e os demais não se coíbem de criticar subidas da taxa de juro determinada pelo BCE (as descidas da taxa de juro presumivelmente nunca são criticadas). Eu nem duvido que Ângelo Correia saiba o que é o "monetarismo". Mas duvido que ele e a maior parte do restante coro de críticas à actuação do BCE percebam como é que a economia funciona, e qual a natureza da relação entre as taxas de juro (nominais e reais) e o comportamento da chamada "economia produtiva". Como em tantos outros casos, este tipo de crítica vulgar denuncia tanto de frustração como de ignorância. Principalmente, quando vem de cidadãos, produtores e consumidores portugueses.
publicado por Miguel Morgado às 15:44 | comentar | partilhar

Father Knows Best

Segundo Vital Moreira, o investimento dos socialistas em obras públicas é "aquilo que melhor pode aliviar a situação da classe média, dinamizando a economia, criando oportunidades de negócio para pequenas e médias empresas, gerando procura de serviços profissionais, etc."

Isso seria apenas parcialmente verdade se os cidadãos fossem incapazes de uma aplicação mais eficiente dos seus recursos, se fossem incapazes de detectar melhores "oportunidades de negócio", de gerar melhor oferta e "procura de serviços profissionais". Se os recursos não forem retirados aos privados, eles não vão parar ao fundo do mar sem utilização, terão uma aplicação alternativa que tudo indica ser mais eficiente do ponto de vista económico que a aplicação estatal em Portugal neste momento, dados os valores globais que estamos a falar (o que não quer dizer que não haja individualmente investimentos que se justifiquem).

O que Vital Moreira tem de explicar para justificar a generalidade que afirma, é porque é que retirando dinheiro aos privados, limitando-lhes ainda mais a tal capacidade de iniciativa, e dando-o ao estado, que por sua vez irá pagar a sua despesa burocrática de funcionamento antes de lançar o que restar em investimentos cuja última decisão é política, será melhor do que deixar estes mesmos recursos no bolso dos contribuintes.

Keynes seria o primeiro a não concordar com a visão de Vital Moreira, o diagnóstico dos problemas económicos do país tem sobretudo que ver com eficiência, produtividade e competitividade, aos quais se juntam alguns problemas financeiros e macroeconómicos (ex: défice externo, défice contas públicas, dívida pública, peso da fiscalidade, etc). E deste ponto de vista em que espécie de análise custo-benefício, com aplicação alternativa de recursos, se baseia Vital Moreira para defender a globalidade do "pacote de investimentos" para além dessa defesa ideológica e algo mitológica das alegadas bondades intrínsecas do investimento público?

Ouvi uma vez o ministro Pinho, um ou dois dias depois da demissão de Campos e Cunha, fazer exactamente o mesmo tipo de defesa ideológica cada vez que da plateia da Ordem dos Economistas surgiam questões específicas sobre determinados projectos, sobretudo dos grandes. Não convenceu, preocupou e criou uma escalada no tom das perguntas, ao ponto de lhe ser questionado se ele era ministro da economia (dos cidadãos e das empresas) ou uma espécie de ministro do plano descontextualizado no tempo e no espaço.

O que Vital Moreira diz é preocupante, pois é bem possível que seja quase só isso que Sócrates, Pinho e Lino nos tenham para dizer. Investimento, "dinamização" da economia? O Estado é que sabe. Já vimos este argumento na tela, o final não é feliz.
publicado por Manuel Pinheiro às 12:24 | comentar | ver comentários (2) | partilhar

Da série «outras leituras»

Excelente artigo Biotech Enhancement and Natural Law, publicado no número 20 da New Atlantis, sobre os avanços científicos e o direito Natural.
publicado por Paulo Marcelo às 11:12 | comentar | ver comentários (1) | partilhar
Quinta-feira, 26.06.08

Diogo Chang Faria

Anda, por aqui, uma jovem e promissora (boa) notícia para quem gosta de guitarra.
Aconselho o "clique". E mais não digo.
publicado por Joana Alarcão às 17:29 | comentar | partilhar

Do cinismo como política educativa

Sou professor há mais de uma década. Já ensinei a ler miúdos de bairros de lata e já dei aulas de Mestrado. Hoje, dou formação universitária a futuros professores do Básico, formação contínua a professores do Secundário e História ao 10º ano. Posso dizer que conheço o ofício e os que o exercem.
Ao contrário da lenda, são poucos os que escolhem esta profissão porque não têm outra "saída" - horrorosa palavra. Mas o desalento está no ar e sente-se cada vez mais. Nos melhores casos, os professores conformam-se com a mediocridade dos alunos, a indiferença dos pais, a solidão a que são votados pelas escolas, a burocrática estupidez do Ministério da Educação. Fazem o que têm a fazer e esforçam-se por ensinar, ainda que sem grande investimento pessoal. Aprenderam a defender-se. Mesmo assim, manter este low profile anos a fio pode ser uma espécie de heroísmo quotidiano. Nos piores casos, porém, os professores tornam-se cínicos. Deixam de acreditar que os alunos possam mudar ou que o seu trabalho sirva para alguma coisa, deixam de acreditar no sistema, deixam de acreditar em si próprios. Por vezes, passam a odiar tudo e todos - a profissão, os colegas, a Ministra ou o Ministro, os pais e, claro, os bárbaros que têm de enfrentar diariamente. Não é preciso ser um génio para ver aqui a origem de muitas depressões. E uma das principais causas de fracasso do ensino público.
O cancro do cinismo é o pior de tudo. Não é a indisciplina, nem o excesso de alunos, nem a ausência de reconhecimento, nem a falta de apoio, nem a incerteza profissional. Tudo isso é mau, é péssimo, mas pode remediar-se. A única coisa que não tem remédio é a perda de sentido. Um professor que não tem razões para ensinar está morto por dentro.
Não se espera, no entanto, que o cinismo ataque também as instituições. Ou a política educativa de um Governo democrático. Pelo contrário, é legítimo esperar que aqueles que nos governam, mal ou bem, e para isso foram eleitos, mal ou bem, acreditem que podem mudar as coisas. Acontece que as provas de aferição e os exames em curso revelam que o cancro do cinismo se tornou galopante no Ministério da Educação. A actual Ministra e a sua equipa, com o tenebroso GAVE à cabeça, já não acreditam que os resultados escolares possam melhorar pelo esforço dos professores e dos alunos. Mas como têm de mostrar serviço, e mostrar serviço é talvez a única motivação dos cínicos, reduziram a exigência dos testes para chegar a melhores resultados. Conseguiram - inevitavelmente. Na União Soviética, as estatísticas dos planos quinquenais também eram inevitavelmente gloriosas em nome dos amanhãs que cantam. Só que não estamos na União Soviética. Embora alguns idealistas não tenham dado por isso.
Ora, se um cínico é um idealista desiludido, nada o ilustra melhor do que este episódio. Depois de ter passado a legislatura a pedir à escola que nos desse a igualdade e o "homem novo", o tal que não fuma, fala inglês desde pequenino e acede ao futuro através do inesgotável Plano Tecnológico, o PS descobriu que a história anda mais devagar do que gostaria. Afinal, o bom selvagem não consegue somar 2+2 sem a mão invisível dos especialistas em "avaliação" da 5 de Outubro. Que não faltou. A bem dos manhãs que cantam, perdão, das estatísticas.
O embuste já foi denunciado, mas não deixa de ser criminoso. Porque se o cinismo pode acabar com um professor, o cinismo como política pode destruir uma geração inteira. Os que passaram pelas escolas portuguesas no último ano não sabem ainda, mas depressa hão-de dar conta que as suas notas falsas não têm crédito na universidade e no mercado de trabalho. Feliz ou infelizmente, quando perguntarem de quem é a culpa, Maria Lurdes Rodrigues e os outros cínicos não estarão cá para lhes responder.
publicado por Pedro Picoito às 14:39 | comentar | ver comentários (28) | partilhar

...

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publicado por Manuel Pinheiro às 01:01 | comentar | ver comentários (2) | partilhar
Quarta-feira, 25.06.08

Sossego e propostas

Tem uma certa piada, porque aquilo que se deveria pedir ao PSD pós-Congresso de um ponto de vista de gestão seria a operacionalização da equipa, sendo que parte dela consiste em recrutar e literalmente enfiar dentro dos "gabinetes" quadros do partido que construam as propostas do mesmo (não tanto a visão, análise, objectivos nem a estratégia, já alinhados pela Presidente).

O que algumas pessoas estão a pedir ao PSD é que se aventure de forma ligeira na produção instantânea de números e datas, uma espécie de leite instantâneo em pó. Parece um regresso à infância, em que existe uma necessidade incessante de entretenimento no berço. Nada disto tem como consequência um absoluto silêncio, mas quem não percebe que uma coisa é detectar um montante excessivo de investimento em obras públicas e uma outra coisa é análise uma a uma e hierarquizá-las para definir o ponto máximo de execução e respectiva calendarização, percebe efectivamente muito pouco. Ou isso ou a má fé. Ou as duas.
publicado por Manuel Pinheiro às 16:48 | comentar | ver comentários (3) | partilhar
Terça-feira, 24.06.08

Justiça é...



publicado por Nuno Lobo às 12:55 | comentar | ver comentários (36) | partilhar
Segunda-feira, 23.06.08

Palavras há muitas (2)


O João Galamba escreveu um post no 5 dias com uma resposta -- via José Manuel dos Santos no Expresso -- a este outro post que eu escrevi aqui no Cachimbo.
O desafio que lancei no meu post era o de questionar a natureza da retórica de Obama. Para João Galamba, o desafio foi exemplarmente superado por José Manuel dos Santos. E o que é que faz José Manuel dos Santos no seu artigo do Expresso? Enuncia os três meios retóricos elementares estudados por Aristóteles, nomeadamente o argumento (logos), a emoção (pathos) e o carácter (ethos), ao mesmo tempo que afirma que Obama convence porque argumenta, porque emociona, porque há um “eu” que diz “vós” e é reconhecido. Para José Manuel dos Santos, ouvir Obama é voltar a ler a Retórica de Aristótles.
Porém, se considerarmos que a boa retórica aristotélica se resume a estes três meios elementares, e se a nossa intenção fosse justificar (e não apenas afirmar) que Obama é um bom exemplo da retórica aristotélica, o que deveríamos nós fazer? Deveríamos mostrar que a retórica de Obama não se limita a provocar um sentimento emocional na sua audiência e a induzir a audiência a formar uma opinião favorável sobre ele. Deveríamos, acima de tudo, mostrar que Obama convence a audiência pela força dos seus argumentos. Acontece que José Manuel dos Santos não tenta fazer nada disto e não apresenta os méritos de um único argumento de Obama. Obama é um bom exemplo da retórica aristotélica porque sim. Ponto final.
Mas não chega. A verdade é que, durante as primárias, a principal crítica a que Obama foi sujeito é a de ter um discurso vazio. Sem conteúdo. Centrado na sua pessoa. Um discurso com palavras sonantes como "mudança" e "esperança" e "sonho" ou slogans circulares do género "Nós somos aqueles por quem temos esperado". Não é difícil concluir que todos nós queremos a "mudança" para melhor. Não é difícil concluir que todos nós queremos ter "esperança" em vez de estarmos desesperados. Não é difícil concluir que todos nós temos um "sonho" que queremos realizar. Mas importa perguntar qual o sentido da mudança?! Importa perguntar qual o sentido da esperança?! Importa perguntar em que medida o sonho pode ser realizado?! É aqui que deve começar o argumento e acabar a má retórica (a mera produção de emoções na audiência). E é aqui, precisamente, que Obama se cala.
É claro que quando Obama discursa e fala às pessoas, cada uma delas identifica a "mudança" e a "esperança" de acordo com os seus "sonhos" pessoais, mas não é evidente que todas elas queiram mudar no mesmo sentido ou esperem o mesmo ou que todo e qualquer "sonho" possa ser realizado. O argumento deve discernir os fins e os meios da política e persuadir as pessoas de um caminho concreto e responsável que se pretende percorrer. Nada disto se vislumbra no discurso de Obama. Pelo contrário, ouvimos Obama dizer "Nós somos aqueles por quem temos esperado"? Mas que raio quer isto significar? Algum argumento racional pode ser construído a partir de um slogan que ninguém percebe o que significa? Alguém acredita que os milhares de pessoas que exultam quando ouvem Obama dizer “Nós somos aqueles por quem temos esperado” fazem a mínima ideia do que ele está a falar? Alguém acredita que o próprio Obama sabe do que está a falar? "Nós somos aqueles por quem temos esperado" é um eloquente resumo da má retórica de Obama: um slogan redondo, sem porta de entrada ou de saída. Argumento: zero! Emoção: a rodos! (Não é por acaso que Obama recusou os tais 10 debates propostos por McCain, em que cada um dos candidatos teria de responder a perguntas não planeadas feitas por membros da audiência –- recusou porque sabe que não é no argumento que reside a sua força.)
De facto, não basta afirmar que Obama é um exemplo da boa retórica aristotélica, é necessário argumentar. José Manuel dos Santos não argumenta, limita-se a afirmar –- ele também não é um bom exemplo da retórica aristotélica de que curiosamente diz ser adepto.
Em relação a João Galamba, a aposta parece ser na distinção do posicionamento de Platão e Aristóteles face à retórica. Sou capaz de acompanhar João Galamba quando ele afirma no seu post que Aristóteles procurou "reabilitar" o significado da retórica. Mas importa acrescentar que Aristóteles tentou reabilitar acima de tudo o elemento argumentativo da retórica, contra aqueles que a reduziam à mera produção de emoções na audiência. Neste sentido, Aristóteles seria hoje um acérrimo crítico da retórica de Obama. É importante lembrar que Aristóteles define a retórica como sendo a “antístrofe” da dialéctica. Para Aristóteles, uma coisa é a antístrofe de outra quando aquela pode ser convertida nesta, isto é, quando a relação que se estabelece entre os dois termos é de reciprocidade e reversibilidade. Dizer que a retórica é a antístrofe da dialéctica significa dizer que discurso político e a filosofia estão numa relação de reciprocidade e reversibilidade. Eis a boa retórica.
Em suma, a noção de que a retórica de Obama ilustra o entendimento que Aristóteles tem da retórica é um elogio precipitado a Obama e uma simplificação da filosofia de Aristóteles. Saber se a retórica de Obama faz justiça ao entendimento que Aristóteles tem da retórica? ou se a retórica de Obama é uma mera técnica de produção de emoções nos eleitores com o fim de conquistar o poder político? é uma questão que não pode ser respondida com duas ou três pinceladas e muito menos deve ser respondida com o recurso à autoridade de filósofos que exigem estudo cuidadoso e não permitem leituras simplificadas.
publicado por Nuno Lobo às 20:38 | comentar | ver comentários (7) | partilhar

Cachimbos de lá

Roy Lichtenstein, Natureza morta cubista, 1974
publicado por Pedro Picoito às 18:13 | comentar | partilhar

O Cachimbo ao poder

Como o João Gonçalves e o Vasco Campilho já notaram, o Cachimbo tem desde ontem um representante na Comissão Nacional do PSD: o Paulo Marcelo.
Não era sem tempo. Ao fim de vários meses de campanha contra o Menezes, o Santana e o Passos Coelho, fomos finalmente recompensados com um lugar no coração da máquina partidária.
Outros se seguirão. Estejam atentos ao camarada Pinheiro, que vai urdindo a sua teia a partir de Santa Isabel.
Nós bem avisámos - não queremos o poder, mas já estamos por tudo, lembram-se?
Ninguém acreditou. Aí têm o cachimbismo agora.
E o que é o cachimbismo?, perguntarão vocês.
Uma mistura de neo-marcelismo, social-democracia à Botelho, manuel-keynesianismo, defesa da filosofia "o homem é o lobo do homem" pelo Lobo e regresso do morgadio com o Morgado. Em suma, o nosso programa consiste em impedir que o PSD seja um partido liberal.
A história absolver-nos-á.
publicado por Pedro Picoito às 16:28 | comentar | ver comentários (7) | partilhar
Domingo, 22.06.08

Discurso

Manuela Ferreira Leite ou o gosto de ter ouvido hoje um discurso social-democrata.
publicado por Carlos Botelho às 15:52 | comentar | ver comentários (7) | partilhar

Cachimbos

O Cachimbo de Magritte é um blogue de comentário político. Ocasionalmente, trata também de coisas sérias. Sabe que a realidade nem sempre é o que parece. Não tem uma ideologia e desconfia de ideologias. Prefere Burke à burqa e Aron aos arianos. Acredita que Portugal é uma teimosia viável e o 11 de Setembro uma vasta conspiração para Mário Soares aparecer na RTP. Não quer o poder, mas já está por tudo. Fuma-se devagar e, ao contrário do que diz o Estado, não provoca impotência.

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