Sexta-feira, 31.10.08

MSNBC

Um estudo e gráfico certamente aborrecido e que não tem 1% da graça das referências ao "fair and balanced" da FOX News, não é verdade, camaradas?
publicado por Manuel Pinheiro às 22:38 | comentar | ver comentários (14) | partilhar

O fim do 11 de Setembro


Nas próximas três semanas, vou sair de circulação. Irei à Casa Velásquez, em Madrid, e depois à École des Hautes Études en Sciences Sociales, em Paris, falar de uma coisa a que chamo, por hábito, a minha Tese de Doutoramento. Parece uma tournée, mas é uma coincidência. Entretanto, os americanos votarão no nosso Presidente - e tudo indica que será Barack Hussein Obama.
A vitória de Obama, a confirmar-se, será histórica. Por dois motivos.
Primeiro, porque se trata do primeiro Presidente negro dos Estados Unidos. A sua eleição tem um peso simbólico tão grande como a de Kennedy, o primeiro católico na Casa Branca. Isto não significa que ele vá ser um bom Presidente. Também ninguém sabia o que viria a ser Kennedy quando foi eleito e é até provável que o veredicto da história sobre Kennedy, responsável pelo mergulho de cabeça no Vietname e pela barraca da Baía dos Porcos, fosse menos indulgente se ele não morresse em Dallas. No caso de Obama, acredito (e sem qualquer secreto prazer) que a desilusão se vai seguir necessariamente à eleição. As expectativas são tão altas que não há margem de erro.
Segundo motivo de história: a eleição de Obama representa o fim do 11 de Setembro. Depois de, em nome da "guerra ao terror", o povo americano ter apoiado a invasão do Iraque e do Afeganistão, ter enfrentado a ira do mundo e ter eleito Bush para um segundo mandato, o voto em Obama significa a vontade de mudar de página. Já ninguém se lembra, graças (ou desgraças) à crise económica, que a primeira grande diferença entre McCain e Obama é o Iraque. McCain ficará em Bagdad "cem anos, se necessário". Obama quer retirar depressa e em força. Se este programa ganha nas urnas, os americanos estão a dizer ao mundo que trocaram Bin Laden pelo subprime. O mundo talvez agradeça, mas não ganhará com a troca.
Ao contrário do que diz agora toda a gente, McCain fez uma boa campanha. Pedro Magalhães resumiu, há dias, que ele tinha contra si todas as condições de uma tempestade perfeita: o apoio a uma guerra impopular, o cansaço do eleitorado com Bush, uma crise que a maioria atribui aos republicanos. E não foi a escolha de Sarah Palin que lhe custou a vitória. Palin cumpriu plenamente a sua função, que era a de mobilizar as bases do GOP. Ninguém esperava que ela rendesse muitos votos em Hollywood ou no jugular. A posteriori, alguns votos transferidos dos republicanos para os democratas, como os de Powell ou Fukuyama, serão atribuídos à fé, aos escândalos e ao amor pela caça ao gambozino da Governadora do Alasca. Mas isso é esquecer convenientemente que Powell, Fukuyama e outros neocons já estavam em ruptura com a Administração Bush há muito tempo.
A história é escrita pelos vencedores: vae victis. Daqui a cinco anos, ficaremos a saber se não perdemos todos.
publicado por Pedro Picoito às 22:29 | comentar | ver comentários (8) | partilhar

Cachimbos de lá

Vilmos Aba-Novak, Auto-retrato com cachimbo (1926)
publicado por Pedro Picoito às 22:28 | comentar | partilhar

Leitura Recomendada

«Não estou seguro de que todos aqueles que hoje invocam Keynes a torto e a direito, alguma vez o tenham lido, ou conheçam exactamente as circunstâncias em que ele escreveu ou sobre as quais escreveu. Em particular, quando a invocação é feita para justificar os benefícios dos investimentos em obras públicas, apoiando-se nos seus efeitos multiplicadores, fico com a impressão de que talvez não tenham ido muito além da vulgata Hicksiana do modelo IS/LM, aplicado em economia fechada. E que não terão chegado sequer à sua aplicação ao caso da economia aberta, ou a elaborações mais sofisticados (vg modelo Mundell-Fleming, por exemplo). Posso estar a ser injusto, mas é o que me parece. Não que eu tenha nada contra o modelo IS/LM, que sempre achei um excelente instrumento analítico para se perceberem os rudimentos de política conjuntural, desde que, quando se quiser agir na prática, se tenham percebido as suas limitações.

E porque acho o modelo útil para análises simples, gostaria de o utilizar para comparar (muito grosseiramente) os efeitos multiplicadores em economia fechada e em economia aberta, para tentar demonstrar precisamente porque é que os grandes projectos de obras públicas são desaconselháveis do ponto de vista macroeconómico, dadas as circunstâncias em que vive a nossa economia (crescimento anémico e elevado défice externo).

Recordando que (por se pertencer ao euro) a curva LM se mantém horizontal e admitindo uma propensão marginal ao consumo de 0.75, o efeito multiplicador do investimento público no PIB, em economia fechada, seria de 4. Mas se se abrir a economia e se admitir uma propensão marginal a importar de 0.4 (não devemos andar muito longe disso), o efeito multiplicador reduz-se para 1.5 e o défice externo gerado corresponde a 40% do PIB. I.e. ganha-se, em PIB, 50% do valor investido e importa-se mais de 60% desse mesmo valor! E, no final, qual foi a capacidade reprodutiva criada? Na maior parte dos casos (tirando eventualmente o aeroporto) será mesmo negativa, pois que a exploração dos equipamentos ou das operações estabelecidas deve vir a ter que ser duradouramente subsidiada pelo Estado.

É que se não fosse assim, nós tínhamos obrigação de estar a crescer muito acima da média Europeia, porque, pelo menos desde 1999, temos investido (em percentagem do PIB), muito mais do que a média Europeia. Então porque é que investindo muito mais, crescemos muito menos? Porque a eficiência do investimento tem sido a mais baixa da Europa (Não consigo inserir o gráfico para o provar). Expo, estádios, scuts, etc. afinal não nos puseram a crescer. Então porque é que mais do mesmo há-de ter um efeito diferente?
(...)
E, voltando ao Keynes, será que esta crise poderá dispensar uma intervenção do Estado, estimuladora da procura? Por mim, acho que não, pois acho que vivemos precisamente uma situação onde se justifica o apelo às recomendações keynesianas. Acho que a resposta macroeconómica terá que passar por um estímulo fiscal e por uma redução significativa das taxas de juro do BCE (que está a demorar demasiado tempo).(...)»

Vitor Bento no novo blogue da SEDES
publicado por Manuel Pinheiro às 11:12 | comentar | ver comentários (1) | partilhar

O Lobo das Estepes (1)

Reorganização formal do livro

O primeiro post da série que agora inicio resume-se a algumas notas formais sobre o livro e as minhas sugestões para a sua leitura. Hermann Hesse organizou O Lobo das Estepes da seguinte forma:

A) Prefácio (pp. 9-28)
B) O manuscrito de Harry Haller (pp. 31-fim)

Sobre o Prefácio, bastará dizer que se trata de uma narrativa feita pelo sobrinho da dona da casa onde o protagonista do livro, Harry Haller, também chamado o lobo das estepes, aluga um quarto e sala contígua que lhe servem de refúgio durante o período de nove ou dez meses a que corresponde a história; o Prefácio serve de primeira apresentação de algumas facetas do lobo das estepes e começa com a seguinte declaração: “Este livro contém as anotações que nos foram deixadas por um homem a quem chamávamos lobo das estepes, expressão que o próprio frequentemente usou.”

Ao prefácio sucede-se o corpo principal, O manuscrito de Harry Haller. O Manuscrito, ainda subintitulado ‘Só para loucos’, corresponde a uma narrativa desenvolvida pelo próprio Harry Haller acerca da sua vida quotidiana. A dada altura do Manuscrito, ainda na parte inicial, a narrativa na primeira pessoa é interrompida pela rubrica que Hermann Hesse intitula Tratado sobre o lobo das estepes. Como o próprio título denuncia, o Tratado tenta responder à questão “Quem é o lobo das estepes?” Uma vez encerrado o Tratado, Hermann Hesse retorna à narrativa na primeira pessoa de Harry Haller.

A minha sugestão é a de começarmos a leitura do livro com o Prefácio e o Tratado; seguidamente, passaremos ao Manuscrito. Outra sugestão que faço – ao arrepio da organização do próprio Hermann Hesse – é a de acrescentarmos ao Manuscrito, para além do subtítulo ‘Só para loucos’, as rubricas A história de Harry Haller e o Último acto. Por sua vez, sugiro ainda que o Último acto seja separado em dois momentos: uma primeira parte e uma conclusão.

Tudo somado, a minha leitura d’O Lobo das Estepes é arrumada sequencialmente da seguinte forma:

A) Prefácio (título do autor; pp. 9-28)
B) Tratado sobre o lobo das estepes (título do autor; pp. 47-71)
C) O manuscrito de Harry Haller (título do autor)
C1) ‘Só para loucos’ (título do autor; pp. 31-47)
C2) Primeira parte do Último acto (título meu; pp. 179-210)
C3) A história de Harry Haller (título meu; pp. 72-179)
C4) Conclusão do Último acto (título meu; pp. 210-fim)

A numeração de páginas que apresento correspondem à tradução do livro por Sara Seruya, Difel, 3ª ed.
publicado por Nuno Lobo às 10:55 | comentar | partilhar

O Lobo das Estepes (2)

Entre duas idades (ou dois mundos)

O Lobo das Estepes foi publicado em 1927, quando Hermann Hesse tinha 50 anos de idade. A referência a Nietzsche é inelutável quando situamos o livro no espaço e tempo em que surgiu; ainda mais quando é o próprio autor, na voz do Narrador do Prefácio, a evocar o filósofo quando diz que o lobo das estepes é um “génio do sofrimento”. Apenas com o propósito de nos situar, abro aqui um parêntesis para lembrar que na terceira parte do Assim falava Zaratustra de Nietzsche, nomeadamente no episódio intitulado “O convalescente”, Zaratustra apresenta-se a ele próprio, entre um punhado de outros qualificativos, como “o advogado do sofrimento.” Fechado o parêntesis e de volta ao Prefácio, uma dezena de páginas adiante, o Narrador diz recordar-se do lobo das estepes um dia haver-lhe dito o seguinte:

[H]á épocas em que toda uma geração é apanhada entre duas idades, entre dois modos de vida, e assim perde a sua identidade, a sua moral, a sua segurança, a sua inocência. Naturalmente, nem todas as pessoas sentem isto de igual modo. Uma natureza como a de Nietzsche foi obrigada a sofrer, uma geração antes de nós, as misérias de que hoje padecemos. Milhares de homens sofrem hoje aquilo que Nietzsche teve de sofrer sozinho.

Ou seja: o lobo das estepes vive uma existência trágica; na medida em que se situa numa encruzilhada entre duas idades, ele é um estrangeiro no mundo onde habita. Para não complicar demasiado o problema, vou aqui assumir que o acontecimento a separar estas duas idades ou estes dois mundos é a “morte de Deus”, anunciada pelo louco n'A Gaia Ciência de Nietzsche.

As passagens analisadas correspondem às pp. 16 e 28 do Prefácio, Difel, 3ª ed.

Próximo post da série: Sob a sombra de Nietzsche I (A “morte de Deus” e o “super-homem”)
publicado por Nuno Lobo às 10:53 | comentar | ver comentários (1) | partilhar

Carta ao Banco

Dear Sir,
In view of current developments in the banking markets, if one of my cheques is returned marked "insufficient funds", does that refer to you or to me?
Yours faithfully,
Joe, the plumber
publicado por Paulo Marcelo às 10:48 | comentar | partilhar
Quinta-feira, 30.10.08

Not over?

É o jogo sujo, etc. e tal...
publicado por Miguel Morgado às 22:32 | comentar | partilhar

Animal Spirits

Diz o João Pinto e Castro:
«Friedman foi simultaneamente um grande economista, um polemista temível e um perigoso demagogo. Compreende-se que a opinião pública confunda as três dimensões...»

Ainda bem que é o João a afirmá-lo, por dizer algo parecido do Krugman ainda tenho o ouvido a zumbir do apito do João Galamba, alegando que não se pode fazer essas distinções, que assim se isola a economia do mundo, etc. Mas voltando ao que o João P.C. diz ser o seu argumento central, a prosperidade dos últimos 30 anos, continuo a não perceber exactamente a extensão da afirmação. O Friedman já cá estava há mais de 60 anos quando os últimos 30 começaram, e mesmo sendo verdade que as suas ideias tiveram mais eco no período que o João P.C. aponta, também temos de reconhecer que quer a produção de ideias quer de políticas está bastante disseminada na sociedade contemporânea, pelo que, aceitando colocá-lo como uma figura de destaque, não podemos ignorar a dimensão do movimento, a sua heterogeneidade e a legitimação política a que várias práticas mais liberais foram sujeitas. Friedman faz então parte deste movimento cujos resultados, segundo o João P.C., não são então nada de especialmente interessante quando colocados, por exemplo, em perspectiva no séc. XX em toda a sua extensão. E aqui discordo do João P.C., a prosperidade gerada recentemente não tem paralelo histórico nem no seu volume e nem na sua disseminação face a outros períodos do séc XX. Penso que o João P.C. alega taxas de crescimento, mas isso é uma forma enganadora de avaliar a prosperidade, por um lado porque quando passamos de 1 para 2 a taxa é efectivamente mais elevada do que quando passamos de 100 para 150, por outro porque os volume e distribuição de riqueza são tais que os países mais ricos passam a poder cometer diversos luxos, como seja despreocupar-se um pouco com o crescimento económico medido pelo incremento em taxa do PIB, para passar a preocupar-se com outros factores que não são propriamente monumentos à eficiência económica mas que trazem outro tipo de riqueza às sociedades, nomeadamente diversas políticas sociais, preocupações ecológicas, de conforto e qualidade de vida, ajuda internacional e um sem número de outros exemplos nesta linha de pensamento. Se por um lado é virtualmente impossível replicar as taxas de crescimento iniciais, porque o incremento marginal passa depois a ser menor a partir de certa acumulação de factores 2+2 de uma economia de mercado, por outro é a própria sociedade que escolhe adoptar objectivos adicionais. Os países em desenvolvimento, com outro tipo de prioridades, e fazendo as escolhas mais ou menos tradicionais da economia de mercado, conseguem atingir taxas efectivamente altas - só neste início de séc XXI, a taxa de crescimento dos países desenvolvidos mais do que duplicou.

Penso que Friedman ajudou a uma melhor compreensão da, vá lá, máquina capitalista, e não sendo todas as suas conclusões acertadas, penso que o sentido delas o é, nomeadamente a importância da liberdade e da iniciativa nos mercados e de como ela é essencial para a prosperidade, assim como é acertado o sentido da desconfiança face aos poderes públicos. Junto-me já ao João P.C. se ele disser que Friedman esticou em demasia os dois argumentos (embora certamente discordaríamos na "intensidade"), mas foi a este estilo de acção e iniciativa no mercado que Keynes chamou os "animal spirits", e não consta que o objectivo fosse colocá-los numa jaula ou contratar um exército de domadores.
publicado por Manuel Pinheiro às 16:58 | comentar | ver comentários (1) | partilhar

Ainda alguém se lembra?

Four years ago, George W. Bush's critique of John Kerry was a simple, two-pointed attack: He's too liberal and he flip-flops. (...) Ask McCain advisers for a succint description of his message, and you'll get several different answers. Obama's too risky. He's too inexperienced. He has bad judgment. He's not bipartisan enough. He has no record. His record is too liberal. He avoids tough decisions. He's all rhetoric. He's the wrong kind of change. And on it goes. Many of these things are true, of course, but in trying to communicate all of these messages at once the campaign risks communicating none of them.

Stephen F. Hayes The Weekly Standard October 20, 2008

"He's a radical"



"He's too ambitious"


 
publicado por Nuno Lobo às 16:45 | comentar | partilhar

Ah a Finlândia, a Finlândia...

Lá voltaram eles com a Finlândia... Sempre a Finlândia... Terminar com os "chumbos", claro. Coisa retrógrada, o "chumbo". Na Finlândia não há "chumbos". Pois não. Na Finlândia não há muita coisa. Por exemplo, não me consta que na Finlândia haja crianças a ter aulas em contentores liliputianos. Sim, contentores. Na Finlândia, os pais não irrompem furibundos pelas escolas adentro e não desatam ao murro e ao pontapé a tudo o que mexe. Especialmente quando o que mexe são professoras. Sim, docentes do sexo feminino - são mais fáceis de espancar.
Na Finlândia haverá uma ministra da Educação que desrespeita continuamente os próprios professores? Haverá lá, para cima do Báltico, uma ministra da Educação que troça, aos microfones da tv, da principal escola de música do país? Ou que incentiva a fraude educacional ao alardear progressos enganadores?
Esta "ideia" caíu como sopa no mel para o nosso meridional Governo. Valter Lemos, um homem para quem a realidade não conta: 'nem sequer se põe o problema de os alunos não atingirem os objectivos. Não.' Partir da 'permissa' que os alunos possam não atingir os objectivos é uma 'prespectiva' errada. Pois. Pelo contrário, deve-se é partir da 'permissa' que os alunos, esses entes mecânicos e sem espessura humana, dê por onde der, atingirão os objectivos. E se, por hipótese delirantemente fabulosa, eles, estranhamente, não atingirem os objectivos, a gente dá um jeito, ó Valter. Esta é a 'prespectiva' certa.
Na Finlândia, haverá Secretários de Estado imbecis que não saibam falar o Finlandês?
Mas o Governo não está só. Veio também logo a correr o formidável Albino Almeida, sempre presente, a enfileirar-se muito, muito apressado ao lado do Governo e, não vá este não dar pelo seu apoio, começa de imediato, ainda a poeira da sua corrida aflita não assentou, a esganiçar proclamações que sim, que sim, que concorda, que quanto mais depressa acabarmos com a praga dos "chumbos", mais depressa entraremos na senda do progresso e tal. Pois, pois. Tudo tão fácil. Como na Finlândia.
Vamos ter escolas equipadas como as finlandesas? Vamos ter números decentes de funcionários nas escolas - como na Finlândia? Vamos pagar aos nossos, como aos professores finlandeses? Vamos substituir os encarregados de educação portugueses pelos finlandeses? E os alunos também? E digam-me cá, vamos transferir toda a História finlandesa para aqui? Vamos trocar a nossa geografia, o nosso clima, pelos da Finlândia, é?
É isso? Ou querem falar a sério?
publicado por Carlos Botelho às 00:19 | comentar | ver comentários (21) | partilhar
Quarta-feira, 29.10.08

O desmancha-prazeres

Contra as maravilhas da Escola de Sócrates, o taumaturgo, ouçam aqui Nuno Crato, esse 'pessimista de serviço', esse que, segundo Valter Lemos, a luminária, não tem 'características especiais' [sic!] para ajuízar dos exames de Matemática.
publicado por Carlos Botelho às 20:51 | comentar | ver comentários (6) | partilhar

O Salário Mínimo

A recente polémica em torno da subida do salário mínimo no próximo ano ajuda a fazer um bom retrato do país. Os liberais, que deviam ver na subida do salário mínimo decretado pelo Governo, mas negociado e acordado em “concertação social”, um excelente instrumento para ajudar ao funcionamento do mercado, uma vez que não faz sentido que existam empresas que não possam pagar a funcionários cerca de 450 euros por mês, mais subsídios de Natal e de Férias e respectivas contribuições, aliás muito reduzidas, para a segurança social e as finanças, criticam a subida. Em vez de a verem como uma ajuda do Estado ao efectivo funcionamento do mercado onde ele está morto, ou quase, criticam-no.
Os organismos pseudo defensores dos interesses patronais/empresariais, também criticam a dita subida em nome da defesa do emprego. Ao fazê-lo apenas demonstram tratarem-se de dirigentes e de organizações que se encontram nas mãos de patrões sem escrúpulos que comandam negócios onde a exploração (sim, a exploração) é a palavra de ordem e a produtividade e a rentabilidade dos respectivos negócios uma ficção.
A líder do PSD usou a questão da subida do salário mínimo para tentar vincar o seu discurso em prol da sua credibilidade e da “irresponsabilidade” do Governo e do primeiro-ministro, quando é óbvio que o está em causa em Portugal é o facto de ainda se praticarem salários mínimos nos serviços, na indústria, na agricultura ou no chamado serviço doméstico, que apenas reflectem a existência de políticas activas em prol da perpetuação de empresas e de empregos totalmente obsoletos. De facto, o país caracteriza-se pela existência política e administrativamente sustentada de milhares de salários e de empresas que há muito deviam ter desaparecido ou mudado a sua natureza. Salários mínimos artificialmente baixos permitem a existência de empresas social, económica e moralmente insustentáveis.
Bem, portanto, esteve o Governo em manter a subida acordada do salário mínimo para 2009 e, espero, para anos subsequentes, com a vantagem, para o PS, desta posição lhe poder vir a garantir muito votos nas eleições de 2009. Bem esteve ainda Bagão Félix, o ex. ministro das Finanças de Santana Lopes, ao vir afirmar que não apenas estará por demonstrar que a subida daqueles salários irá agravar significativamente o desemprego, como mesmo que tal possa acontecer se tratará de um preço que a sociedade portuguesa pode e deve pagar. É que como disse Bagão Félix a questão do salário mínimo, e a questão dos salários em geral, é uma também e muito uma questão de “dignidade humana.”
Finalmente, a subida do salário mínimo, mesmo que não imposta pelo mercado, e ainda que acarrete um aumento sempre comportável do desemprego, trás quase sempre consigo uma subida da produtividade, coisa que as empresas, a economia e a sociedade portuguesa precisam como de pão para a boca. Penso, aliás, que foi Daniel Bessa que o afirmou há não muito tempo.
publicado por Fernando Martins às 09:54 | comentar | ver comentários (12) | partilhar
Terça-feira, 28.10.08

E ao terceiro século ressuscitou

Decididamente, a moda pegou: Marx está de volta. À boleia da "crise do capitalismo", a esquerda ideológica saiu do armário. Ontem, até uma jornalista como Teresa de Sousa, geralmente cordata apesar da furiosa eurofilia, dissertava sobre o tema no Público. Obama parece ter assegurado a vitória, Brown ganhou novo alento, Soares e Alegre multiplicam-se em declarações sobre a "nova esquerda" (sic) e Sócrates, o mesmo que recupera o vilipendiado Código do Trabalho de Bagão Félix, dispara chumbo grosso sobre os lucros das empresas e a ganância dos especuladores.
Isto, vão-me desculpar, dá para alguns sorrisos. A última grande onda de filomarxismo foi no pós-guerra. O Exército Vermelho vencera Hitler, a foice e o martelo erguiam-se sobre Berlim, o Komintern engolia metade da Europa, a China era o que se sabia, o "terceiro mundo" era uma questão de tempo, os partidos comunistas de França e Itália quase ganhavam eleições, os pacifistas gritavam "better red than dead" conta a instalção de mísseis americanos na Europa e Sartre proclamava o marxismo "a filosofia inultrapassável do nosso tempo".
Sabe-se como acabou o assunto. Aquilo em que nunca se pensa é que o marxismo não falhou por erros políticos ou estratégicos de conjuntura, mas porque a sua visão da história estava profundamente errada. Marx previu que a revolução socialista triunfaria primeiro nos país mais industrializados: a América e a Inglaterra. Falhou. Mais: contra as suas previsões, o socialismo chegou antes ao poder em impérios feudais, a Rússia e a China, que nunca tinham conhecido um verdadeiro sistema capitalista. O próprio capitalismo que Marx descreveu, com as suas condições desumanas, jornadas de trabalho 16 horas, trabalho infantil, exploração das mulheres e proletariado miserável, há muito que não existe. Para não falar da lei marxista do empobrecimento progressivo, segundo a qual o capitalismo viria a multiplicar tanto o número de pobres que um belo dia a mera consciência da realidade os levaria à revolução.
Pois é, talvez as notícias da ressurrreição de Marx sejam um pouco exageradas.
publicado por Pedro Picoito às 21:31 | comentar | ver comentários (11) | partilhar

O Lobo das Estepes (0)

Vou iniciar no Cachimbo uma nova e longa série de posts dedicada à leitura cuidada d'O Lobo das Estepes de Hermann Hesse. Em primeiro lugar, porque a personagem que encarna o lobo das estepes corresponde, com invulgar propriedade, aos dilemas impostos ao homem do mundo moderno. Em segundo lugar, porque se trata de um livro de leitura difícil, tanto nos seus conteúdos como na sua forma. A série inclui posts de natureza filosófica; outros com uma preocupação conceptual; outros tratam da organização formal do livro; outros descrevem as personagens; outros citam passagens fundamentais; outros são tentativas de interpretação de aspectos obscuros. Posto isto, devo alertar os visitantes do Cachimbo que eu não tenho qualquer formação no domínio da literatura; por outro lado, não sou um leitor especialmente atento da obra de Hermann Hesse - do autor li apenas O Lobo das Estepes e o Siddhartha - e não fiz qualquer investigação - leitura de comentadores, etc - do livro que pretendo analisar. De qualquer modo, convido os visitantes do Cachimbo a percorrerem comigo um caminho que, dificilmente podendo chegar a um lugar definitivo e seguro, poderá, ainda assim, tornar transparente alguns aspectos sobre os quais valerá a pena reflectir. O meu propósito é o de escrever posts curtos - sempre que possível - e menos curtos - sempre que necessário - que serão publicados mais ou menos de 3 em 3 dias. Gostaria que cada post pudesse ser suficientemente interessante para merecer alguma reflexão mas é claro que cada um deles adquire um sentido maior quando lido no contexto dos posts imediatamente anteriores e seguintes. O primeiro post da série será publicado na próxima Sexta-feira: "Entre duas idades".
(*) A edição que tenho do livro é uma tradução inglesa e as passagens que citarei serão traduções minhas dessa edição - é claro que se trata de uma limitação.
publicado por Nuno Lobo às 13:11 | comentar | ver comentários (12) | partilhar

Ferreira Leite na Grande Entrevista


Depois das vozes críticas à excessiva relevância que o Diário de Notícias deu à entrevista ao primeiro-ministro, no passado fim-de-semana, nada menos do que 16 páginas, repito, 16 páginas, para além dos destaques na primeira página, em duas edições seguidas do jornal, o DN veio agora anunciar que vai (também) entrevistar a líder do PSD, para o jornal do próximo domingo. A TSF irá transmitir a entrevista nesse mesmo dia, às 12 horas. Releve-se que a entrevista a José Sócrates não trouxe nenhuma novidade noticiosa, com excepção do anúncio do aumento do salário mínimo para 450 euros, e mesmo isso já resultava de um acordo de concertação social. Tudo o resto foi espaço (e palco...) abundante para José Sócrates fazer, sem contraditório, a sua campanha eleitoral.
Estou curioso para ver qual a relevância noticiosa, e já agora o número de páginas, que o DN vai dedicar a esta entrevista à líder da oposição, para saber qual a isenção e a imparcialidade que ainda restam a um título que, em tempos idos, chegou a ser um jornal de referência.
publicado por Paulo Marcelo às 11:34 | comentar | ver comentários (7) | partilhar

Opening our eyes wider

Em versão concurso fotográfico.
publicado por Paulo Marcelo às 10:38 | comentar | partilhar

Loucura normal

Um apoiante de Palin grita "redistributor" num comício. Andrew Sullivan ouve "he is a nigger." Não se encontra melhor exemplo da demência que tomou conta da esquerda americana, de que Sullivan é hoje um ilustre representante.
publicado por Joana Alarcão às 00:48 | comentar | ver comentários (18) | partilhar
Segunda-feira, 27.10.08

A ler

A respeito da ficção "socrática" da avaliação de desempenho dos professores [sublinhados meus]:


Mafalda Miranda Barbosa, Nem tanto ao mar...
publicado por Carlos Botelho às 23:54 | comentar | ver comentários (3) | partilhar

Em choque



Uma semana antes das eleições, descobertas declarações chocantes de Obama. Ainda me custa a acreditar que sejam verídicas. E agora, que consequências para a campanha?

publicado por Joana Alarcão às 21:47 | comentar | ver comentários (5) | partilhar

Cachimbos

O Cachimbo de Magritte é um blogue de comentário político. Ocasionalmente, trata também de coisas sérias. Sabe que a realidade nem sempre é o que parece. Não tem uma ideologia e desconfia de ideologias. Prefere Burke à burqa e Aron aos arianos. Acredita que Portugal é uma teimosia viável e o 11 de Setembro uma vasta conspiração para Mário Soares aparecer na RTP. Não quer o poder, mas já está por tudo. Fuma-se devagar e, ao contrário do que diz o Estado, não provoca impotência.

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