Abri a página on-line do Público e deparei-me com esta citação:
"A electrizante redenção da declaração revolucionária da América, de que todos os seres humanos nascem iguais, abre as portas à renovação da liderança dos EUA num mundo que precisa desesperadamente de proteger o seu legado essencial: a integridade e capacidade de vida do planeta." (Al Gore, "Visão", 27-11-2008)
Começo por dizer que não li a Visão. Posto isto, assim de repente, há algo na afirmação de Al Gore que me faz lembrar uma coisa que li há dias. O assunto é a nova Constituição do Equador:
As pessoas e os povos têm os direitos fundamentais garantidos por esta Constituição e pelos instrumentos internacionais dos direitos humanos. A Natureza é sujeito desses direitos proclamados por esta Constituição e Lei.
E o Artigo 1 diz:
A Natureza ou Pachamama [a Deusa Terra], onde a vida reproduz-se e existe, tem o direito a existir, persistir, manter e regenerar os seus ciclos vitais, estrutura, funções e processos evolutivos.
A Declaração da Independência americana é revolucionária, sim, mas ela é revolucionária na medida em que proclama que o lugar ocupado pelos homens entre as criaturas é excepcional, devendo, por causa dessa excepcionalidade, ser política e legalmente protegido:
Todos os homens são criados iguais [o que é diferente de se dizer, simplesmente, "nascem iguais"], dotados pelo Criador de certos direitos inalienáveis, que entre estes estão a vida, a liberdade e a procura da felicidade.
Uma coisa será o Al Gore conduzir a sua luta ambiental no sentido de instituir como um dever dos homens a protecção da vida no planeta; outra, bem diferente, será a tentativa de garantir à Natureza direitos iguais aos direitos humanos fundamentais.
Pior ainda se começar a ler na Declaração da Independência americana coisas que não só não estão lá como até significam precisamente o contrário do que lá está.