Quarta-feira, 31.12.08

Das duas, uma

Os que por aí vão insistindo (como, ontem, um cavalheiro exaltado numa conferência de imprensa no sossego de Lisboa) em falar dum "outro Holocausto" infligido pelas forças armadas israelitas aos habitantes de Gaza e aos "Palestinianos" em geral, ou são ignorantes ou são praticantes de uma má fé dificilmente qualificável.

O que está acontecendo em Gaza é, realmente, uma miséria. Que me parece, em grande medida, "inevitável" - ainda que hesite em dizê-lo assim (as aspas não salvam tudo), com esta facilidade "verbal" (julgo saber que estas palavrinhas -dum tipo com a casa de pé e que, em princípio, tem-se a si e aos seus como seguros, isto é, vivos, nas próximas horas e amanhã- estão a anos-luz do que lá se passará e, se tentarmos ser honestos, há que reconhecer que o verbo não sangra e não dói como os corpos atingidos: o nosso e o dos outros). Não deixa de ser verdade que há algo de atroz em tudo aquilo: de facto, uma criança palestiniana não tem culpa pelo Hamas. Mas isso, precisamente isso, não deveria fazer pensar apenas os que tomam partido por Israel. Também os outros, tantas vezes aliados objectivos (senão cúmplices) do terrorismo palestiniano, deviam, por entre o clamor indignado de sofá, pensar um pouco nisso. Pensar qual o sentido do Hamas (e outros) transformarem as crianças palestinianas em alvos do Tzahal.

Ainda assim (e reconheço que este advérbio é enorme), falar aqui em "Holocausto" é, repito, ignorância ou má fé. Ignorância, se, quem diz isso, não tem conhecimento do que foi o "Holocausto" (talvez mais apropriadamente, Shoah...). As vítimas indefesas e inofensivas. As vítimas objectivamente vítimas, por terem nascido. A motivação, o planeamento, os meios, os métodos, o objectivo. O objectivo definitivo.
Contudo, o problema de muito boa gente é, na verdade, a má fé. Sabem muito bem o que foi o "Holocausto" e sabem muito bem que não é aplicável aqui. E têm plena consciência da ironia obscena que é acusar Israel disso. Mas fazem-no. Porque sacrificaram a sua honestidade às suas opções "ideológicas". Já decidiram antecipadamente que Israel, faça o que fizer, está errado ou que, pura e simplesmente, não deve existir como país. Tudo o resto são meios "retóricos" e manipuláveis, já sem qualquer densidade "moral", sujeitos ao serviço daquele "fim".
publicado por Carlos Botelho às 16:14 | comentar | ver comentários (9) | partilhar
Terça-feira, 30.12.08

Deve ser a isto que chamam neoliberalismo...


publicado por Miguel Morgado às 20:13 | comentar | ver comentários (4) | partilhar

Quo Vadis Açores?

Que o "avanço" das autonomias, e em particular a dos Açores, vão alterar a natureza e a forma do Estado português ninguém duvide. Por isso, o novo estatuto autonómico dos Açores é apenas mais um passo em direcção, senão à independência, pelo menos à condição de estado associado da República Portuguesa.

Do lado do continente, e para já, é melhor começar a pensar em reduzir as transferências financeiras para os Açores. É que se os açorianos querem mais poder - e querem-no sem discussão política séria entre todos os portugueses -, melhor será começar a fechar a torneira do financiamento à região autónoma dos Açores. Frontalmente e com discussão entre todos os portugueses, particularmente os dos distritos do interior do território continental. Precisamos do nosso dinheiro para resolver os nossos problemas. E se os açorianos quiserem a independência, que a Constituição proíbe, que lhes seja dada à revelia da Constituição (que pelos vistos é irrelevante para grande parte dos portugueses). Digo isto porque, afinal, o arquipélago de Cabo Verde é independente há mais de trinta anos e não só não se tem dado mal com a situação, como Portugal também não.

publicado por Fernando Martins às 19:34 | comentar | ver comentários (2) | partilhar

Prémio Nobel da Ciência Política 2008

O Cachimbo de Magritte galardoa Jürgen Habermas com o Prémio Nobel da Ciência Política 2008. No próximo ano, Habermas completará 80 anos, e aguarda-se a publicação na Alemanha (e também em Portugal) de cinco volumes de obras escolhidas pelo próprio autor.
Os protestos e as manifestações de escândalo podem agora seguir para a caixa de comentários.
publicado por Miguel Morgado às 12:43 | comentar | ver comentários (1) | partilhar

Nós e a Constituição (2)

Na caixa de comentários anterior, um leitor anónimo coloca a pergunta que muitos colocam: por que é que o PR não suscitou imediatamente a inconstitucionalidade do artigo assim que o viu? Por que é que houve "tanto teatro", pergunta o nosso honesto anónimo, que aparentemente gosta de coisas sérias, directas, sem "teatro"? Não estou dentro da cabeça do PR, por isso não posso responder com a certeza que o anónimo exige. Mas parece-me que as encenações e o "teatro" em política são muito importantes quando servem determinados propósitos. E que propósito foi servido pelas intervenções do PR que o nosso sóbrio anónimo identifica com "tanto teatro"? Eu diria que o PR considerou - e com razão - o assunto tão grave que quis marcar uma posição para memória futura. Cavaco Silva quis dizer algo como isto: "a minha oposição a este estatuto é política e de princípio, e não me vou esconder atrás do Tribunal Constitucional. Eu, o PR, quero ser o rosto da oposição a este atropelo da constituição. Mesmo que, no final do processo, seja forçado a promulgar o diploma".
publicado por Miguel Morgado às 12:26 | comentar | ver comentários (7) | partilhar
Segunda-feira, 29.12.08

Nós e a Constituição

Estou à espera dos engraçadinhos do costume que gostam de dizer que estes são "assuntos que não interessam à vida das pessoas". Ainda não apareceram. Os assuntos, entenda-se, é a constituição da República. Coisita pouca.
publicado por Miguel Morgado às 22:38 | comentar | ver comentários (3) | partilhar
Domingo, 28.12.08

A propósito da morte do Deep Throat

O caso Watergate é apresentado como um exemplo de jornalismo de investigação: dois jornalistas novos, com o apoio de um editor competente denunciam um conjunto de actividades que provocam a queda do presidente dos EUA, e nunca revelam qual a sua fonte. A ideia que existe é que o objectivo, tanto do jornal como da fonte, era que fosse feita justiça.
Ora bem, tudo isto é verdade, mas, a propósito da morte de Mark Felt, o Deep Throat do caso Watergate, George Friedman faz ver que a história só foi contada a meias, e que só foi possível percebê-la quando se soube que Felt era a fonte.
Felt era o terceiro da hierarquia no FBI, nos tempos de Hoover (aquele que tinha um enorme poder sobre Washington, porque conhecia os podres da cidade). E quando Hoover morreu e o seu lugar-tenente saiu do FBI, Felt pensou que o lugar seria seu. Mas Nixon nomeou L. P. Grey director, um estranho à casa, para controlar melhor o Bureau. Mas Grey não conhecia o FBI, e por isso era Felt quem mandava. O FBI continuou com as práticas de Hoover, como se constata no Watergate: a espionagem à Casa Branca durou enquanto foi preciso para deitar abaixo o Presidente.
A revelação de que Felt foi o Deep Throat mostra que o episódio lhe permitiu vingar-se do Presidente, mesmo que a sua primeira intenção fosse a justiça. Mas também mostra que, como o editor do The Washington Post sabia quem era a fonte, sabia que estava a ser manipulado. A protecção do anonimato da fonte levou a que não fossem os jornalistas a controlar o processo, no fundo, a que toda a investigação ao Watergate fosse uma manipulação. E levou a que uma notícia tão importante quanto informar que o FBI espiava a Presidência nunca fosse dada.
O problema das “fugas de informação” programadas é actualíssimo. Os governos e as empresas utilizam-nas, as agências de comunicação trabalham com elas e os jornalistas também. O que é preocupante é pensar que, para se conhecer um facto relevante, vários outros nunca venham a ser sabidos.
publicado por Joana Alarcão às 11:35 | comentar | ver comentários (3) | partilhar
Sábado, 27.12.08

The Mamas & The Papas

Ainda a respeito do episódio de plástico que sobressalta a pátria, ouviu-se ontem por aí um excitado criaturo duma Associação qualquer de progenitores do Porto ou arredores. (Dizem que, nos tempos que correm, começa a haver poucos progenitores - talvez, mas pais, como se vê, ainda os há menos.) Diz o homem que a coisa terá sido encomendada [sic!] e revolta-se por ter sido filmada e mostrada. Note-se que, segundo o cavalheiro, constitui problema maior ter sido mostrado do que ter acontecido. Pois é, para que há-de o público saber daquilo? Ver aquelas coisas incómodas? Ainda vão as pessoas pensar que há conflitos disciplinares nas salas de aula. O que vem perturbar o remanso da pax socratica. Agita-se o sujo lodo discretamente depositado no fundo. Como se já não bastasse o mau feitio en masse da professorada, ainda exibem aquelas porcarias para desinquietar os lares, as famílias e tal. E aquele Nogueira teve o descaramento de comentar o caso e, até (rasguem as vestes) sugeriu uma qualquer punição não exagerada. Ao que isto chegou! Estamos no PREC ou quê? queixa-se o homem assustado. As crianças já não podem brincar? Qual é o mal, se a pistola era de plástico?
Só estaríamos perante um problema se a arma fosse real. Foi apenas uma simulação, caramba. Como será, por exemplo, amanhã, simularem estrangular uma professora? Sem mãos de plástico. Que não apertarão realmente, claro. Tudo a brincar. Ou coisas piores. Mas, desde que seja a brincar, não haverá qualquer problema.
Ainda mais curioso foi o facto do tal representante se ter atrevido a dizer que, para o caso, 'uma repreensão é mais do que suficiente'. O sinal dado pelo progenitor mitómano (e também pela directora da DREN) é simples: crianças de 17/18 anos, não se preocupem, sejam energúmenos à discrição, que nós cá estamos para vos cobrir; não temam os professores e os orgãos escolares, porque nós estamos vigilantes.

Estas reacções delirantes são reveladoras e são fruto da campanha constante de achincalhamento dos professores a que este governo se tem entregue desavergonhadamente. Ora é o 'perdi os professores, mas ganhei os pais', o 'antes de um aluno abandonar a escola, já foi abandonado pelo professor', de Lurdes Rodrigues, a acusação de chantagistas(!) aos 120 000 manifestantes, ora é a insinuação (ou insulto descarado) recorrente de que os professores estão habituados a trabalhar pouco, ora o próprio Sócrates berrando irritado, por lhe terem perturbado o estendal da propaganda dos andaimes nas escolas, que 'o tempo da facilidade acabou!', quando interrogado sobre as não-colocações de docentes, etc. Tudo isto e as próprias medidas hostis deste governo misólogo concorreram para uma aceleração da erosão da autoridade natural e até do simples papel do professor na Escola.
Por outro lado, ao mesmo tempo, foi-se alimentando esta hipertrofia da pretensa legitimidade dos "pais" (independentemente de putativas competências pedagógicas ou científicas), bem para lá do aceitável, em se imiscuirem em questões que só à escola dizem respeito e que só por ela podem e devem ser competentemente tratadas. Tudo isto constitui e contribui para uma (ainda maior) degradação da Escola.
E já cansa esta solicitude rastejante de algumas associações de "pais" em relação ao governo... Pobre gente (Sócrates e equipa de Lurdes Rodrigues incluidos) que vê tudo isto como uma espécie de jogo de poderes ou de conquista de territórios: trata-se da ideia peregrina de que há que retirar "poderes" aos professores na Escola, porque eles o têm "a mais" e são um "obstáculo" às "mudanças necessárias" e outras parvoíces desse género. Perdem assim de vista aquilo para que existe a Escola.
Bem, straight shooter, if you know what I mean...
publicado por Carlos Botelho às 19:38 | comentar | ver comentários (10) | partilhar

Striking back duck

Por causa disto, nas próximas horas, nos próximos dias, vamos todos ouvir a litania da "reacção desproporcionada" de Israel. Como se sabe, as reacções de Israel são sempre, sempre "desproporcionadas". Espera-se, certamente, que os Israelitas respondam com fisgas. Ou com beijinhos, talvez.
Toda a gente parece querer que Israel seja um sitting duck. Um alvo tranquilo. Ninguém parece querer lembrar-se dos ataques permanentes que o sul do país vem sofrendo há anos. As populações da zona de Sderot são constantemente bombardeadas com foguetes qassam e mísseis. São lançados para cima das casas das pessoas de qualquer maneira - o que importa é que lhes acertem. (Espreite-se este quotidiano.) Lembro-me dum caso em que houve mais cuidado com a pontaria. Foi quando os "activistas" de Gaza se lembraram de comemorar a abertura do ano escolar 2007 de Israel lançando qassam para cima de escolas primárias no primeiro dia de aulas. Os valentes rapazes do Hamas sempre a pensar no futuro.
É verdade que tem havido muito menos mortos do que hoje (que, tudo indica, não são civis desarmados), mas, que eu saiba, um "lado" não tem mais "razão" por contar com mais cadáveres nas suas fileiras - para mais quando esses cadáveres são descaradamente usados pela propaganda. Seja como for, a situação era insustentável. Quantos países a suportariam por tanto tempo? E temos exemplos históricos eloquentes da doçura proporcional com que, aqui, na Europa, se dão respostas militares... mesmo não estando em causa a sobrevivência do país...
Israel deveria, talvez, escancarar os seus postos de controlo, retirar a barreira de segurança (o "muro") e deixar matar os seus cidadãos às dúzias de cada vez - em festas de família, pizzarias, discotecas ou, simplesmente, na rua. Esperar que todos se comovessem (esperança vã, tratando-se de Israelitas, com a culpa já inscrita) e então, talvez fossem autorizados a defender-se. Mas devagar.
O que irrita é que eles insistam em não se deixar matar mansamente. Como até 1948.
publicado por Carlos Botelho às 12:47 | comentar | ver comentários (26) | partilhar

Prémio Nobel da Ciência Política (4)

Depois da triste notícia da morte de Samuel Huntington deixada aqui pelo André, actualizamos a lista dos nossos candidatos ao Prémio Nobel da Ciência Política 2008:

- Robert Dahl
- Jürgen Habermas
- Harvey Mansfield
- Quentin Skinner

Registo apenas que a inclusão do nome de Huntington nesta última lista de candidatos finalistas foi muito criticada pelos nossos leitores e por alguns membros do Cachimbo (sim, tu, André). Daí eu notar com agrado algumas das passagens do texto lincado: "People all over the world studied and debated his ideas. I believe that he was clearly one of the most influential political scientists of the last 50 years." "Every one of his books had an impact." "These have all become part of our vocabulary"; "one of the giants of political science worldwide during the past half century".
publicado por Miguel Morgado às 01:12 | comentar | ver comentários (1) | partilhar
Sexta-feira, 26.12.08

Huntington

Chegou a conquistar o Nobel do Cachimbo?
publicado por Joana Alarcão às 20:53 | comentar | partilhar

Ausharren

Não é uma palavra muito natalícia, mas é a palavra do momento actual.
publicado por Miguel Morgado às 12:29 | comentar | partilhar

Traduzindo


Na véspera e no Dia de Natal (e hoje deve continuar a saga) lá fomos sendo massacrados nos Telejornais com a história edificante dos alunos que, em pleno decurso da aula, apontam uma pistola de plástico à cabeça de carne e osso da professora. Tudo a brincar, claro. Para ilustração dos indígenas, a coisa foi devidamente filmada pelo telemóvel de serviço. Imagino que, a esta hora, já devem ter sido convidados os "especialistas" do costume para se "pronunciarem" e "analisarem" o curioso fenómeno.
Giras, giras são as "reflexões" sobre a maravilhosa interacção já publicitadas pela famosa funcionária política Margarida Moreira, por coincidência directora regional de Educação do Norte. Lembram-se dela? Aquela zelosa directora que acarinhou a delação em forma de filho da puta do professor Charrua. Que tem uma comovente predilecção pelas tautologias reverenciais ao 'sr. primeiro-ministro de Portugal'. Que defende que os alunos 'têm direito ao sucesso' [sic] e que sugeriu, com gosto, que devessem ser purgados os professores correctores demasiado exigentes. (O que será um professor demasiado exigente?). Mas que disse desta vez a manifesta directora?
Que se tratou somente de 'uma brincadeira de mau gosto que excedeu os limites do bom senso' - 'não foi mais do que isso'. Certamente por subidas razões de justiça, a senhora esclarece a pátria que 'o grupo de alunos em causa teve, no passado, um percurso marcado pelo insucesso e abandono escolar, tendo depois sido integrado no ensino tecnológico, num curso de Desporto.' E 'garante [imagino que com as mãos juntas] que estes estudantes estão agora a ter sucesso nas aulas, tendo poucas negativas e poucos problemas disciplinares'. O que é extraordinário e muito, muito meritório, depreende-se. Mas a melhor parte vem depois: 'Não gostaria de todo que um momento de mau gosto e insensatez, que todos podemos ter tido aos 17/18 anos, acabe por marcar um percurso que já é e quero que continue a ser feito de sucesso'. Perceberam a subtileza da coisa? Para mais, avisa ela, a DREN irá acompanhar (com o tipo de zelo que já se adivinha...) o inquérito feito pela escola aos brincalhões de poucas [sic] negativas e poucos [sic] problemas disciplinares. Margarida Moreira lá saberá o que andou a fazer aos 17/18 anos - eu, que não era particularmente doce com os professores que me desagradavam, não me lembro de lhes andar a apontar armas de plástico brincando às intimidações.
Traduzindo a senhora:

Deixem-se de tretas! Trata-se de uma brincadeira inocente de crianças de 18 anos. Mas qual é o problema de, dentro da sala de aula, um conjunto de encapuzados rodearem a professora e lhe apontarem uma pistola de plástico à cabeça exigindo notas altas? Até é engraçado. E aquelas crianças estão a ter sucesso: poucas negativas e poucos problemas disciplinares - não vamos agora estragar tudo com a vossa falta de sentido de humor! Façam de conta que não se passou nada, finjam um bocadinho (mas não exagerem!) que ainda são professores e que isso é uma escola e repreendam-nos (mas sem os magoar). E não esqueçam que estou atenta ao vosso comportamento.

A reacção de Margarida Moreira a este episódio ridículo mostra bem o que vai na cabeça das criaturas que gerem a Educação. Reparem como neste caso exemplar a escola do Cerco é intimidada pelo longo braço da 5 de Outubro - que termina na mãozinha ameaçadora da responsável da DREN. Esta gente vê as escolas como autênticos caixotes de lixo. E não, não sou eu que estou a chamar lixo aos alunos. São estas "orientações" que tratam os alunos como lixo. Ao lixo não se pede responsabilidade. O lixo não se pune, porque ele não nos merece respeito. O lixo pode continuar a ser o que é, porque não merece que o ajudem a deixar de ser lixo. E as escolas devem limitar-se a conter o lixo e fazer todos os esforços para que ele não transborde. Devem ignorar o mau cheiro. E, primeiro que tudo, devem fingir, mascarar o lixo de outra coisa. Numa palavra, as escolas são industriadas em enganar os alunos.
Mas, vá, patriotas, força, continuem a massacrar os professores com a "avaliação". Isso é que importa. Pô-los a trabalhar e tal. É essa que irá mudar tudo. É ela que vai salvar a Escola.
Pois.
publicado por Carlos Botelho às 09:32 | comentar | ver comentários (8) | partilhar

O Mundial de Futebol de 2018

Ao que tudo indica Portugal e Espanha irão apresentar uma “candidatura conjunta” à organização do Campeonato Mundial de Futebol que se realizará em 2018. Tal como sucedeu algures em finais do século XX, há por aí um influente coro luso que apoia a realização do evento pelos dois países. O dito coro tem como maior argumento a favor das suas posições o facto de Portugal possuir já vários estádios, legados pelo “Euro 2004”, capazes de albergarem aquele evento FIFA. No entanto, em primeiro lugar, e como é fácil perceber, a organização conjunta do Mundial de 2018 nunca será tão barata como se pensa (será preciso investir muito em estádios que em 2018 terão pelo menos 14 anos e, por outro lado, construir infra-estruturas de transporte e de telecomunicações que uniformizem ainda mais o espaço ibérico – a começar pelo TGV entre o Porto, Lisboa, Madrid e, talvez, Algarve –, ou que garantam um melhor e mais seguro acesso por avião à capital portuguesa – estou a pensar na construção do novo aeroporto internacional de Lisboa).
Em segundo lugar, uma organização ibérica do evento não é mais do que um enorme erro político e desportivo. Erro desportivo porque a degradação irreversível da qualidade do futebol português tornará risível, quanto a resultados, a participação lusa num Mundial a realizar dentro de seis anos. Erro político, porque dificilmente a Espanha deixará que internacionalmente Portugal apareça numa posição que não seja a de desigualdade e, portanto, de submissão, ao mesmo tempo que tentará usar Portugal, a sua pequenez e o seu atraso, para produzir um upgrade político de regiões espanholas como a Catalunha, as duas Castelas, Valência e o País Basco.
Mas se não deixa de ser curioso que duas das dez mais endividadas economias do mundo queiram realizar um Mundial de Futebol, não queria perder esta oportunidade para deixar aqui uma proposta que embora mantendo, e até agravando, todos os handicaps financeiros e desportivos de um evento com a natureza de uma competição FIFA de primeiríssima linha, terá ao menos, política e diplomaticamente, uma dimensão profundamente útil e até (vagamente) meritória. Trata-se, nada mais, nada menos, de uma proposta de realização conjunta do Mundial de Futebol de 2018 por Portugal e por Marrocos. Seria a primeira vez que países vizinhos, mas de continentes distintos, se propunham realizar um Mundial. Por outro lado, e tratando-se de Marrocos e Portugal, certamente que este tipo de iniciativa, com o subsequente desenvolvimento e aprofundamento da cooperação bilateral, traria vantagens políticas tanto para os protagonistas como para os blocos políticos e económicos em que os dois países se integram. Quem não gostaria nada da ideia, claro está, seriam os espanhóis, que certamente tentariam boicotar na FIFA esta iniciativa. Porém, mesmo que não se concretizasse, e como dizia o outro, política e diplomaticamente a aposta estaria sempre ganha.
publicado por Fernando Martins às 02:07 | comentar | ver comentários (5) | partilhar

Ahmadinejad na TV

Os responsáveis do dito canal de televisão, aliás público, defenderam a sua iniciativa evocando um valor intocável como é, ou será, a liberdade de expressão e o facto de Ahmadinejad ser portador de uma mensagem de Natal verdadeiramente “alternativa.” Sendo certo que Ahmadinejad tem todo o direito de ser convidado para falar numa estação de televisão britânica e de aceitar tal convite, verdade também é que, para além de muitos outros considerandos, devemos ser sobretudo suficientemente lúcidos para perceber que o objectivo dos responsáveis do Channel 4 não foi defender a liberdade de expressão ou a relevância pública de uma mensagem de Natal verdadeiramente alternativa. O que os moveu foi a vontade de chocar, de provocar e, com isso, de conseguirem uma assinalável subida de audiências daquele canal de televisão, além da conquista de uma maior notoriedade interna e internacional. Quanto à evolução das audiências cabe perguntar se os britânicos farão a vontade aos responsáveis do Channel 4.
publicado por Fernando Martins às 01:08 | comentar | partilhar
Quarta-feira, 24.12.08

O melhor romance do ano


Este foi um ano particularmente bom para o romance em inglês. Atmospheric Disturbances da minha amiga Rivka Galchen é o melhor primeiro romance do ano. Sea of Poppies de Amitav Ghosh é uma bela e inesquecível história. Netherland de Joseph O´Neill é um livro quase perfeito: um controlo magistral da linguagem e da narrativa, um realismo psicológico que nos reconcilia com os poderes da literatura, uma evocação generosa dos sonhos e da tristeza com que vivemos na primeira década do milénio.
publicado por Joana Alarcão às 19:06 | comentar | ver comentários (1) | partilhar
Terça-feira, 23.12.08

Nascer

Enganam-se os que pensam que só nascemos uma vez.
Para quem quiser ver a vida está cheia de nascimentos.
Nascemos muitas vezes ao longo da infância
quando os olhos se abrem em espanto e alegria.
Nascemos nas viagens sem mapa que a juventude arrisca.
Nascemos na sementeira da vida adulta,
entre invernos e primaveras maturando
a misteriosa transformação que coloca na haste a flor
e dentro da flor o perfume do fruto.
Nascemos muitas vezes naquela idade
onde os trabalhos não cessam, mas reconciliam-se
com laços interiores e caminhos adiados.
Enganam-se os que pensam que só nascemos uma vez.
Nascemos quando nos descobrimos amados e capazes de amar.
Nascemos no entusiasmo do riso
e na noite de algumas lágrimas.
Nascemos na prece e no dom.
Nascemos no perdão e no confronto.
Nascemos em silêncio ou iluminados por uma palavra.
Nascemos na tarefa e na partilha.
Nascemos nos gestos ou para lá dos gestos.
Nascemos dentro de nós e no coração de Deus.
O que Jesus nos diz é: "Também tu podes nascer",
pois nós nascemos, nascemos, nascemos.

José Tolentino Mendonça
publicado por Paulo Marcelo às 16:40 | comentar | partilhar

Da série "Cachimbos de Lá"


Norman Rockwell, Santa Claus Reading His Mail (1935)
publicado por Pedro Picoito às 15:56 | comentar | ver comentários (5) | partilhar

A Entrevista

A entrevista de Fernando Ulrich ao Público, embora em tom bem mais circunspecto, está naquilo que diz, e até num ou noutro silêncio a propósito da compra de acções do BPI ao BCP por Isabel dos Santos ou da forma como a CGD funciona, ao nível do que Medina Carreira não se tem cansado de repetir há vários anos ou que Manuela Ferreira Leite insiste em tornar no cerne da sua mensagem política. Ou seja, Portugal está endividado até ao limite do razoável; a opção por executar inúmeras e grandes obras públicas é um erro económico e financeiro de enormes e trágicas proporções; a CGD é, entre outras coisas pouco dignas e extremamente preocupantes, gerida de acordo com os interesses políticos do Governo e do PS (Ulrich chama-lhe, a dada altura, o "saco azul do Governo", o que me fez recordar Fátima [de] Felgueiras). O presidente do BPI alerta ainda para o facto das soluções para a crise financeiras congeminadas por Gordon Brown para o Reino Unido, e seguidas quase cegamente um pouco por toda a União Europeia, estarem a criar enormes problemas à Banca. Isto, independentemente de também ser dito, aparentemente sem impressionar quem conduziu a entrevista, que o Governo está a saber gerir a crise, embora excessivamente susceptível à pressão mediática, como é o caso das ameaças feitas pelo ministro das Finanças de o aval do Estado aos bancos poder ser retirado caso estes não emprestem às empresas o capital que estas lhes reclamem para se refinanciarem.
No meio disto tudo, é óbvio que a realidade existente e pintada a traços grossos por Fernando Ulrich, só nos permite concluir duas coisas. A primeira é que a “conjuntura” não só vai piorar, como poderá tornar-se social, económica, financeira e politicamente insustentável. A segunda é que “é preciso mudar de Governo e de políticas”, por mais que esta palavra de ordem nos faça lembrar Jerónimo de Sousa ou Carvalho da Silva.
publicado por Fernando Martins às 13:38 | comentar | ver comentários (1) | partilhar

A tristeza social

Quando esta crise internacional eventualmente se levantar, há pelo menos 4 países da União Europeia que vão continuar doentes: Portugal, Itália, Grécia e Hungria. Não é surpreendente que os sintomas sejam muito semelhantes nos 4 países: um sistema político e estatal disfuncional, corrupção em praticamente todos os sentidos da palavra, energias sociais quase paralisadas, resignação, conformismo extremo e medo. Não sei se serão os homens "doentes" da Europa como poderiam dizer os comentadores do século XIX. Mas são certamente os homens "tristes" da Europa deste início de século. Cada um à sua maneira.
publicado por Miguel Morgado às 12:27 | comentar | ver comentários (1) | partilhar

Cachimbos

O Cachimbo de Magritte é um blogue de comentário político. Ocasionalmente, trata também de coisas sérias. Sabe que a realidade nem sempre é o que parece. Não tem uma ideologia e desconfia de ideologias. Prefere Burke à burqa e Aron aos arianos. Acredita que Portugal é uma teimosia viável e o 11 de Setembro uma vasta conspiração para Mário Soares aparecer na RTP. Não quer o poder, mas já está por tudo. Fuma-se devagar e, ao contrário do que diz o Estado, não provoca impotência.

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