Helena Matos fez ontem na televisão (e repete-o hoje no Blasfémias) um comentário, cuja pertinência fatalmente escapou a Carlos Magno, que vale a pena sublinhar. Disse ela que o primeiro-ministro, na sua declaração ao país, se dirigiu não aos portugueses, mas aos jornalistas, e que isso é revelador do próprio estilo político que ele imprimiu ao governo, preocupado acima de tudo com a maneira como a comunicação social o refere e trata.
Vale talvez a pena acrescentar uma coisa, na linha daquilo que a Helena diz. Esse estilo de José Sócrates relaciona-se obviamente com uma espécie de dedicação total às aparências em que ele se parece deleitar. Ele é o Magalhães apresentado numa sala de aula, ou lá o que era, a criancinhas contratadas, ele é o Magalhães entregue para a fotografia e depois devolvido, ele é o jogging postiço de circunstância, ele é o relatório da OCDE que não é da OCDE, ele é (essa foi particularmente obscena) o "sucesso de Portugal" que o PSD não suportaria, ele é Sócrates quase todo.
Nisto há muito de infantilidade e de egotismo, de incapacidade em distinguir o subjectivo e o objectivo, a ficção da realidade. Daí tudo - um muito legítimo inquérito, por exemplo - se transformar em "campanha negra" e "cabala" contra a sua pessoa. A coisa ultrapassa, e de longe, o que é aceitável em política. Estraga e polui. E farta.