Parece que Manuela Moura Guedes se tornou, segundo os blogues da órbita socialista e a ERC (está bem, outro blogue da órbita socialista), um atentado semanal à "deontologia" informativa.
A "deontologia" tem as costas largas, mas os camaradas queixam-se exactamente de quê?
O Jornal Nacional das Sextas é apenas um espelho do lodo em que o PS afundou a política portuguesa. O cabeça de lista às europeias ("um Professor Doutor de Coimbra!") envolve placidamente o maior partido adversário na "roubalheira" do BPN, o sempre estimável Dr. Lello acrescenta que ele devia ter ido mais longe na insinuação, o Primeiro-Ministro sentencia que a líder da oposição "não tem jeito para a política", o mesmo PM mente sobre as suas habilitações académicas, o Ministério da Educação mente sobre pretensos relatórios da OCDE, um magistrado e ex-governante socialista "usa indevidamente o nome" do PM para sugerir o arquivamento de um caso em que o PM é acusado de corrupção, um outro ex-governante socialista acusa os magistrados que denunciaram a pressão de delatores, a Dra. Ana Gomes tem a melhor das impressões do magistrado que "usou indevidamente o nome" do PM e portanto ele não se deve demitir, PM esse que tem um primo também com queda para usar o nome do já bastante citado (a culpa não é minha) PM, primo que uma Procuradora-Geral adjunta próxima do PS declara à televisão não esclarecer onde está para que ele não fuja, mas que se farta de dar entrevistas a toda a gente menos à TVI e promete cristãmente pedir desculpa ao primo PM no próximo Natal.
E queriam que o telejornal da Manuela Moura Guedes fosse diferente?
Entendamo-nos: aquilo é repugnante porque diz à populaça o que a populaça quer ouvir. Como o Independente no tempo do cavaquismo. Mas não me lembro de grandes queixas do PS na altura. Nem de porta-vozes da "deontologia" quando a senhora fazia o mesmo a Bush e Rumsfeld.
Eu lembro-me, não foi assim há tanto tempo - embora o vento tenha mudado. Na Atenas do velho Sócrates chamava-se a tal coisa demagogia. Na antena do novo Sócrates é campanha negra, botabaixismo ou o nunca assaz recordado "quem se mete com o PS leva".
Até o estilo é mais rasteirinho.
Cada um tem o Dorian Gray que merece.