Longe de mim depositar uma confiança imoderada nos praticantes da "lúgubre ciência" (a expressão, descobri há uns tempos, foi inventada por Carlyle), mas, de qualquer maneira, em relação a estes dois manifestos "de economistas" que clamam por atenção, duas coisas podem ser ditas. Primeiro, o manifesto original inclui as pessoas mais respeitáveis na matéria. Devem ter feito várias previsões erradas ao longo da vida, mas o objecto de pensamento deles presta-se a isso. É inevitável. Nada os designa particularmente ao Inferno. São só economistas. Em segundo lugar, o outro manifesto, o dos 52, inclui vária gente que não é economista. Contei 4 sociólogos - entre os quais Boaventura Sousa Santos que, além de sociólogo, desempenha o papel de sociólogo, como o empregado de café de Sartre fazia de empregado de café -, 1 politólogo, 1 psicólogo, 2 engenheiros agrários, 4 geógrafos e 3 indescritos (um "Professor Catedrático", um "Investigador" e um "Gestor"). O facto, é claro, não invalida teoricamente a pertinência do "manifesto dos 52". Mas muda sensivelmente os dados. A falível opinião profissional tende a diluir-se, neste caso, numa falibilíssima opinião política.
Contrariamente àquilo que o primeiro-ministro pensa (se necessário, produzo a citação), a economia não é uma ciência que permita que as mesmas receitas sejam utilizadas irreflectidamente em conjunturas históricas diferentes. Mas, por mais dúvidas legítimas que tenhamos em relação à competência dos "especialistas" - o que um outro Sócrates explicou muito bem -, há gente que sabe alguma coisa, e há gente que nem essa alguma coisa sabe. E quando a gente que sabe alguma coisa diz aquilo que é consonante com a intuição das pessoas comuns - isso tem um significado.