«O PS ao longo dos últimos anos governou o país com sucesso na política de redução estrutural do défice», disse Francisco Assis, o líder da bancada parlamentar do PS em reacção ao discurso do Presidente.
Mentiu, claro.
De acordo com
as mais recentes informações da Comissão Europeia (Cf. p. 194 do documento), o desastre da política financeira do PS têm a seguinte expressão em números. O chamado défice estrutural, que, traduzindo, quer dizer: o défice que teríamos, se o crescimento da economia fosse igual ao seu potencial (certo, tudo isto é um bocado esotérico, mas é sobre isso que mentiu o líder do PS), teve a seguinte evolução:
2004 = -2,8% do PIB
2005 = -5,6% do PIB (primeiro ano da governação socialista)
2006 = -3,6% do PIB
2007 = -2,8% do PIB
2008 = -2,6% do PIB
2009 = -6,6% do PIB
Resumindo: os únicos anos em que houve consolidação orçamental efectiva foram 2006 e 2007. Em 2008 não se registaram progressos dignos de nota. Em 2009, o desastre, ainda mal contabilizado (os dados são do Outono passado), dispensa maiores comentários.
Vale a pena, porém, referir que o valor - subestimado - para 2009 é superior ao valor anual médio de qualquer um dos segmentos temporais apresentados na série da União Europeia, que retrocede a 1974. É obra.
O deboche atrás descrito vai pagar-se muito caro. Portugal tem até 2013 orientações da União Europeia para fazer regredir o défice até 3% do PIB (o défice, neste caso, não ajustado dos efeitos do ciclo económico). De acordo com as orientações da União, isso deverá traduzir-se numa redução do défice estrutural de 1,25 pontos percentuais por ano. Portugal está, pois, forçado a realizar, nos próximos quatro anos, uma política orçamental fortemente restritiva. Será observado pelos seus pares da União e será observado pelos mercados onde tem de endividar-se para cobrir o seu excesso de despesa. Tem, como disse o Presidente da República, a escolha entre fazê-lo por iniciativa própria, ou à força. Isto, ao longo de um ciclo durante o qual o desemprego vai continuar a aumentar e nada sugere que a economia cresça. Se não o fizer, e não traduzir a intenção de o
fazer já, nas opções do próximo orçamento, significa que o Governo se revela ser parte do problema, factor de instabilidade, e factor grave. Deviam os líderes da maioria estar há muito a dar sinais - aos seus parceiros, aos mercados - de querer impor ordem em casa, e não alardear curriculum que não têm, nem «sinais claros» do que não há.
Francisco Assis não podia estar calado? Poder, podia, mas não era a mesma coisa.