Domingo, 28.02.10

Leitura imprescindível


Não li nem todos, nem metade, nem nada que se pareça dos livros que nos últimos anos foram escritos em língua portuguesa. Portanto não posso dizer que este seja o mais importante. O mais belo. Talvez seja, não sei. É um livro sobre o tempo que sobra, ou melhor, sobre o tempo como sobra, e sem préstimo. Sobre o tempo que sobra, porque vamos morrer em breve e já nada com sentido é, de aqui em diante, possível. Ou sobre o tempo que sobra, porque o luto é impossível e o tempo se quebra (leiam, se quiserem perceber o que é isso). É um livro sobre o tempo nu. Sobre o tempo quando ele verdadeiramente (?) aparece. É um livro que conta histórias sobre o irremediável. Sobre pessoas que vivem com o irremediável no tempo que lhes sobra, e sem préstimo. Um paradoxo, bem sei. Talvez a grande literatura, com que o livro dialoga permanentemente, seja a forma humana de encontro com esse nó de ser que resiste à, e reclama a apropriação com sentido, pela forma narrativa. Ou talvez seja isso a grande tradição da filosofia, que tem na sua origem o espanto inextinguível por serem as coisas aquilo que são. O que é como é. O livro de Filipe Nunes Vicente participa da tradição da grande literatura e da filosofia. Uma tradição que não chega. É um livro necessário.
publicado por Jorge Costa às 20:43 | comentar | ver comentários (8) | partilhar

Arqueologia

Os meus Scorsese preferidos são Mean Streets, Taxi Driver, Touro Enraivecido e Goodfellas. Não há que ter medo dos consensos. Todos estes filmes têm uma marca comum: a urgência. Filmes de autor, a esticar limites estéticos e morais, tal como as personagens que os habitam. Harvey Keitel no primeiro, Robert de Niro nos outros dois e Ray Liotta no último. Casino, também muito bom, é menos urgente, produto de um realizador mais seguro e mais perfeito mas menos interessante. Aqui, a violência, mesmo quando brutal na intensidade (a cena do espancamento no milheiral), é mais inócua (comparar com a cena inicial de Goodfellas), mais estetizada. Uma abordagem da violência que atinge o paroxismo nas videoclipescas cenas de luta em Gangs de Nova Iorque: as facadas e os golpes de machado já não ferem. Scorsese, também não. Há comparação possível com a catarse sangrenta de Travis Bickle, com as fúrias domésticas de Jake La Motta, com o descontrolo maníaco de Tommy DeVitto? Não há. Scorsese deu lugar ao mestre. Depois de Goodfellas, os filmes começaram a ser realizados pelo cinéfilo apaixonado que nos levou pela mão e pelo coração através do cinema americano e do cinema italiano. Duvido que este Scorsese tivesse a audácia de filmar a trip de Ray Liotta, muito provavelmente a sequência mais radical, inovadora e influente do cinema mainstream americano dos últimos 25 anos.

Scorsese, tal como outros companheiros da geração de 70, não queria implodir Hollywood, queria ressuscitá-la. Esta tensão entre tradição e ruptura, entre a lei dos estúdios e a independência autoral, é o código genético de grande parte dos filmes daquela década que se tornaram clássicos. Os falhanços de Friedkin, Cimino e Coppola reduziram o espaço dos realizadores e, aqueles que não desapareceram, foram obrigados a renunciar a uma visão mais pessoal em favor de projectos menos arriscados para os estúdios. O Cabo do Medo é uma obra que nasce neste contexto. Spielberg terá dito a Scorsese que iria produzir o seu maior sucesso comercial e entregou-lhe este remake de um série b do início anos 60, de J. Lee Thompson. O filme, apesar de todo o virtuosismo de Scorsese, é uma homenagem, um exercício de estilo, uma obra impessoal. Anos depois, com o Aviador, Scorsese levaria ao extremo esse exercício de arqueologia cinéfila. Somos obrigados a admirar a fotografia de Robert Richardson, mas quando um aspecto técnico se sobrepõe à visão do realizador é porque este não tem uma ou é tão frágil que temos de nos contentar com o superficial. A paixão de Scorsese pela história do cinema está bem expressa no documentário A Personal Journey with Martin Scorsese Through American Movies. Enquanto declaração de amor, Shutter Island não nos diz nada que não soubéssemos. Mais uma vez há a notável fotografia de Richardson e a montagem da eterna Telma Schoonmaker. A interpretação de diCaprio é a mais convincente das quatro colaborações com Scorsese, mas o filme é plot, plot e mais plot.
“Nos melhores filmes de Scorsese só cabe a vida inteira. Um simples enredo não chega para o realizador que ele é. Scorsese é narrador de percursos, de ascensões, quedas e redenções. Não é o tarefeiro a quem se peçam filmes d'hór-i-meia, planos eficazes, trabalho despachado e adeus-até-à-próxima. Dos seus filmes diz-se que são "character driven" porque a narrativa obedece às personagens e não aos truques do argumento. As personagens não estão submetidas às necessidades da intriga, seguem apenas as suas pulsões, quase sempre auto-destrutivas, das quais apenas uma muito católica ideia de redenção as pode salvar.” Escrevi isto a propósito de Entre Inimigos e o mesmo pode ser aplicado a Shutter Island. A violência continua inócua (a cara desfeita de um general alemão, criancinhas afogadas como nos filmes japoneses de terror, alguns sustos série b) e é fraco consolo saber que ninguém filma como Scorsese. Dele queremos e esperamos mais. Mas, pelas últimas amostras, o melhor é tirar o cavalinho da chuva e rever muitas vezes aqueles quatro filmes, da época em que o artista não brincava aos tarefeiros.
publicado por Joana Alarcão às 20:29 | comentar | ver comentários (3) | partilhar

Os alvos escolhem-se

Passos Coelho, na entrevista à tsf, parece alçar-se e engrossa a voz quando se refere a Jardim. Intransigente. Duro. "Era o que faltava". O que é curioso é que não me lembro de alguma vez o ter ouvido assim (e tantas oportunidades houve!) em relação a José Sócrates. Valentias selectivas.
publicado por Carlos Botelho às 14:50 | comentar | ver comentários (8) | partilhar

Entre cá e lá: é diferente, mas vendo bem

Jim Fitzpatrick, ministro do Ambiente britânico denuncia infiltração de radicais islâmicos no Partido Trabalhista.

Há dias, falando com uma amiga, dizia-lhe eu: «Começa a ser cada vez mais difícil respirar na Europa. Há dias impossíveis. De novo. Parece que desta é a nossa vez.» E ela respondeu-me: «Em Portugal, felizmente, as coisas não estão tão más como no resto da Europa.» Dizia-me: «Claro que há, como sempre houve, uma espécie de anti-semitismo larvar, que ao mínimo problema sério pode voltar a estalar. Mas, apesar de tudo,» insistia, «as coisas aqui estão mais calmas.»

Acedi. Não porque estivesse convencido do «ponto» que ela queria fazer, ou porque a calma (aparente) que a sossega (por enquanto) me engane, mas para quê insistir, explicar que não, nisto não há ilhas, e que o trabalho de preparação para a violência está outra vez em curso e com toda a clareza. Que a esquerda radical, bem mais do que a direita radical, tem, entre nós, feito por sua conta o que noutras paragens é obra partilhada com o radicalismo islâmico. (Sim, é claro, os judeus não são os únicos alvos do radicalismo islâmico. Mas, sim, é claro, são o catalizador do seu combate. E serão os primeiros a cair.)

Para quê lembrar-lhe os recorrentes textos de Alexandra Lucas Coelho, por exemplo, mas é só um exemplo, porventura o mais óbvio, onde o ódio a Israel - a alavanca do anti-semitismo contemporâneo -, sem qualquer inibição, tem, por cá, a respeitabilidade do que, só por ofuscação, se confunde com jornalismo. Por exemplo: no jornal Público, nesta entrevista, ainda há coisa de um ano, a Zeev Sternhell (sim, claro, aos judeus nunca faltaram judeus idiotas úteis ao serviço dos seus piores inimigos):

O historiador está a explicar à jornalista (?) o que entende ser a motivação da deslocação para a direita do eleitorado israelita.

Pergunta da jornalista do Público: Há também aquela frase que diz: «Mata tantos árabes quanto possível e fala tanto de paz quanto possível». Neste caso, trata-se de escolher quem mata muitos árabes e não fala muito de paz.

Resposta do entrevistado: (...).

Isto passa por jornalismo. É claro, que hoje, como no passado, o ódio aos judeus se propaga em nome do humanitarismo como ideologia. Israel, o único Estado judaico do mundo (e, já agora, a única democracia do Médio Oriente, onde, por exemplo, Zeev Sternhell é premiado pela sua obra científica e se pronuncia publicamente sempre que pode), é o mal. A humanidade pertence aos seus inimigos mortais. Nada de novo debaixo do Sol.
publicado por Jorge Costa às 13:15 | comentar | ver comentários (16) | partilhar

Já há cartaz da visita do Papa

publicado por Paulo Marcelo às 07:10 | comentar | ver comentários (10) | partilhar
Sábado, 27.02.10

PS a descer nas intenções de voto


A sondagem da Marktest para o Económico/TSF retrata uma queda na imagem pública de José Sócrates e das intenções de voto no PS. Ao mesmo tempo que o PSD vê a sua percentagem de intenção de voto subir 3.6%. De escuta em escuta, de escândalo em escândalo, com a economia em farrapos e o desemprego a subir, seria estranho se a tendência fosse diferente.

publicado por Paulo Marcelo às 23:15 | comentar | ver comentários (6) | partilhar

Música



An die Musik:
Du holde Kunst, in wieviel grauen Stunden,
Wo mich des Lebens wilder Kreis umstrickt,
Hast du mein Herz zu warmer Lieb' entzünden,
Hast mich in eine beßre Welt entrückt!

Oh gracious Art, in how many grey hours,
When life's fierce orbit ensnared me,
Have you kindled my heart to warm love,
Transfigured me into a better world!

Franz von Schober
publicado por Jorge Costa às 23:09 | comentar | ver comentários (1) | partilhar

Será que algo está a mudar?

Acabo de saber pela Lusa que Miguel Relvas perdeu as eleições para Presidente da Mesa da Assembleia Geral da Concelhia do PSD de Tomar. Depois de muitos anos à frente daquele órgão partidário, o braço direito de Pedro Passos Coelho, nesta campanha para as eleições directas, foi derrotado por uma lista que tinha como lema "mudança". Curioso nome este. Será isto um sinal de que alguma coisa está a mudar no PSD? Parece que afinal não há vencedores antecipados, como alguns nos querem fazer crer.
publicado por Paulo Marcelo às 21:29 | comentar | ver comentários (1) | partilhar

Aniversário d'O Insurgente

Aqui está o meu presente de aniversário.
Abraços aos Insurgentes.
publicado por Miguel Morgado às 17:29 | comentar | ver comentários (1) | partilhar

Da série "A concorrência faz melhor"

O estado a que isto chegou, do Pedro Correia.
publicado por Miguel Morgado às 16:53 | comentar | ver comentários (2) | partilhar

Falta de

Estas gracinhas do primeiro-ministro com uns microfones revelam muito bem (para mais sabendo-se o que sabemos hoje e ao mesmo tempo em que se ia sabendo mais) o descaramento, a falta de vergonha da personagem.
E, como é da praxe, há sempre uns cortesãos de riso pronto ao “humor” do senhor primeiro-ministro.
publicado por Carlos Botelho às 16:15 | comentar | ver comentários (7) | partilhar

Há mais de cem anos que o melhor CV é o cartão de militante

“Portugal é para todos, mas o Estado é para os republicanos”. Este dito, que durante a I República tantas vezes foi repetido entre militantes do PRP, relembra-nos como a nossa forma de compreender a política evoluiu tão pouco. O significado que os militantes do PRP lhe davam era diferente (exclusão dos adversários políticos dos cargos públicos), mas a ideia de apropriação dos cargos públicos por quem governa mantém-se: cem anos depois, basta substituir no dito ‘os republicanos’ pelo nome do partido no poder (seja PS ou PSD) para obter um fiel retrato do Portugal dos últimos 35 anos. Um sinal grave e preocupante que, por perdurar, corre o sério risco de se tornar num traço de personalidade; e, portanto, irresolúvel.
publicado por Alexandre Homem Cristo às 09:07 | comentar | ver comentários (8) | partilhar

Estado de direito formal

O procurador-geral da República argumenta que, mesmo que estivessem provados os factos indiciados, eles não constituiriam qualquer crime. Não tem razão. O crime de atentado ao Estado de direito tem três modalidades: destruição, alteração e subversão do Estado de direito. A modalidade que se indicia nas escutas referidas no Sol é esta última. Há subversão do Estado de direito quando há uma "instrumentalização dos órgãos e processos constitucionais para fins estranhos às funções constitucionais do Estado", como já escrevi há anos. É o que se indicia no caso. Em face das escutas referidas no Sol, indicia-se que a posição institucional e os poderes funcionais de um membro de um órgão constitucional (Governo) foram instrumentalizados para fins estranhos ao Estado. Como crime de empreendimento puro, o crime consuma-se com a violação ou a tentativa de violação da liberdade de imprensa de um jornalista ou de um meio de comunicação social. No caso em apreço, o bem jurídico da liberdade de imprensa é encabeçado nos concretos jornalistas (Manuela Moura Guedes e José Eduardo Moniz) e nos concretos meios de comunicação visados (a TVI, o Correio da Manhã e o Público). Por isso, a lei tutela especialmente o direito de acção do cidadão ou entidade "directamente ofendidos pelo acto considerado delituoso". É a própria lei que considera que os actos delituosos previstos na Lei n.º 34/87 podem "ofender directamente" cidadãos e entidades! Note-se que o legislador escolheu a palavra "ofendidos" e não "vítimas", o que tem o significado dogmático de que os tipos desta lei também tutelam bens jurídicos das pessoas singulares e colectivas visadas.
Paulo Pinto de Albuquerque, no DN (ler tudo aqui)
publicado por Alexandre Homem Cristo às 01:28 | comentar | ver comentários (3) | partilhar
Sexta-feira, 26.02.10

The Cure - Friday I'm In Love

publicado por Paulo Marcelo às 17:15 | comentar | ver comentários (1) | partilhar

Tivoli


Ontem fui ao Hotel Tivoli. À saída assinei a proposta de candidatura de Paulo Rangel à liderança do PSD. Gostei de ver alguma gente conhecida. E, sobretudo, de ver tanta gente desconhecida. Claro que não gostei de ver alguma gente conhecida, mas, que diabo, a sala do Tivoli não é exactamente a minha casa.

Hoje não comprei os jornais todos. A vida não está para supérfluos. Dos que li, em papel e online, fico com a estranha impressão que o jornalista que lá foi não ouviu o mesmo discurso que eu.

Eu ouvi: uma década de sacrifícios, dez anos de sacrifícios. E, ouvi, claro, a ideia de que estamos escravos da dívida e o PSD terá de servir outra vez para nos libertar, desta vez disto. Sacrifícios. A ideia de que, socialmente, a mobilidade e, com ela, a igualdade de oportunidades se promove com um escola responsabilizadora e exigente, e não com uma «escola inclusiva», estratagema socialista para gerar estatísticas e autêntica desigualdade social. Claro que os ricos vão para os colégios e os pobres ficam com o lixo inclusivo. Sacrifícios. Libertarmo-nos. Liberdade. Uma década de sacrifícios, dez anos de sacrifícios.

Acredito que, se começarmos por aceitar isto, ainda um dia havemos de ter futuro. Gostei do discurso de Paulo Rangel.
publicado por Jorge Costa às 13:04 | comentar | ver comentários (19) | partilhar

O Psicólogo Explica

Do estado de negação, passando para a vitimização e terminando no branqueamento. Um artigo de opinião que não merece comentários.
publicado por Eugénia Gamboa às 11:57 | comentar | partilhar

Citação tocquevilliana do dia



"DA CORRUPÇÃO E DOS VÍCIOS DOS GOVERNANTES NA DEMOCRACIA; DOS EFEITOS QUE DAÍ RESULTAM PARA A MORALIDADE PÚBLICA
(...)

Se os homens que dirigem as aristocracias procuram por vezes corromper, os chefes das democracias mostram-se eles mesmos corruptos. Nas primeiras ataca-se directamente a moralidade do povo; exerce-se nas outras, sobre a consciência pública, uma acção indirecta que é ainda mais temível.
Nas nações democráticas, sendo os que estão à cabeça do Estado quase sempre alvo de suspeitas infames, dão de algum modo o apoio do governo aos crimes de que os acusam. Apresentam assim exemplos perigosos à virtude que se afirma e fornecem comparações gloriosas ao vício que se esconde.
(...)
O povo não penetrará jamais no labirinto obscuro do espírito de corte; descobrirá sempre com dor a baixeza que se esconde sob a elegância de maneiras, o refinamento do gosto e as graças da linguagem. Mas roubar o tesouro público ou vender por dinheiro os favores do Estado, isso qualquer miserável compreende e pode vangloriar-se de fazer o mesmo, por seu turno.
O que devemos temer, pois, não é tanto a visão da imoralidade dos grandes, mas a da imoralidade que leva à grandeza. Na democracia, os simples cidadãos vêem um homem que saiu das suas fileiras e chega em poucos anos à riqueza e ao poder; esse espectáculo provoca a sua surpresa e o seu ressentimento; interrogam-se como é que alguém que ontem era seu igual exibe hoje o direito de os conduzir. Atribuir a sua ascensão a talentos e virtudes é incómodo, porque seria confessar que eles mesmos são menos virtuosos e menos hábeis. Dão então por principal causa algum dos seus vícios, e muitas vezes têm razão. Opera-se assim uma não sei que odiosa mistura entre as ideias de baixeza e poder, indignidade e sucesso, utilidade e desonra."

Alexis de Tocqueville, De la Démocratie en Amérique (1835)
publicado por Pedro Picoito às 11:55 | comentar | ver comentários (4) | partilhar

Há coisas fantásticas, não há?

Parece que as escutas do caso Face Oculta "apanharam" Manuela Ferreira Leite e Passos Coelho, sempre tão tolerante com o Primeiro-Ministro, se apressou a comentar a notícia. A insurgente Elisabete Joaquim faz o cronograma.
publicado por Pedro Picoito às 11:46 | comentar | ver comentários (1) | partilhar

A última viagem


No próximo Domingo, o centenário Sud-Express que liga diariamente Portugal a França fará a sua última viagem.

O comboio que parte diariamente de Lisboa para França já não rola até Paris, (em Hendaye os passageiros fazem transbordo para o TGV), e já não é o mesmo comboio que fazia a viagem no início do século XX em 34 horas, mas no mesmo ainda seguirá a mítica carruagem azul construída nos anos 60 (Camas Wagon Lits), e a última carruagem restaurante da CP.

Quando tinha 20 anos viajei no Sud-Express sozinho na primeira etapa do meu primeiro Inter-Rail. Entre algum desconforto e a horas que não passavam, a viagem era bonita e servia para se planear a primeira semana do Inter-Rail. Entre a carruagem azul (camas) e a carruagem restaurante experimentava-se um encanto desconhecido que associei à nostalgia dos grandes Expressos do início do século XX.

Entalado entre as novas auto-estradas a os aviões low-cost, o Sud-Express perdeu importância e deixou de ser um canal de ligação importante à Europa. Fica a memória de um comboio que faz parte da nossa história. A sua última viagem merecia uma evocação condigna. Se pudesse embarcava na última viagem Sud-Express.
publicado por Pedro Pestana Bastos às 09:49 | comentar | ver comentários (4) | partilhar
Quinta-feira, 25.02.10

os intolerantes são os outros

(a propósito disto escrito por eles)
Tirou-me as palavras da boca, cara Fernanda. Estava também a pensar nisso e julgo que a resposta à pergunta seria que existe (ainda) uma esquerda que encontra como principal foco de legitimação a sua oposição aos EUA, i.e. o confronto com um (suposto) poder imperial -- uma esquerda que vive numa espécie de Guerra Fria mitológica, porque um mundo bipolarizado é mais simples de compreender (e de caracterizar o adversário moralmente). Cuba, símbolo da résistance (em francês, porque é mais Sartre) por excelência, é também a persistência desse mito, e o Daniel Oliveira, que vive nesse mito, não podia correr o risco de ser confundido com aquela gente (que ele despreza) que concorda com ele quanto aos Direitos Humanos (neste caso a morte de um prisioneiro político em Cuba), mas que não acha que os EUA sejam a fonte do Mal. Tal como quanto à Liberdade, quando ele fala de Direitos Humanos não se refere ao mesmo que nós. Na verdade, como ficou manifesto em ambos os casos, o verdadeiro problema não é de conceitos ou valores, mas a companhia. E ainda faz de conta que os intolerantes são os outros.


Adenda: acabo de notar que o Daniel Oliveira comentou no post da Fernanda. Cito duas frases: "Porque os que fazem a petição decidiram que a luta pelos direitos humanos em Cuba não é um exclusivo dos que defendem uma nova Baia dos Porcos" ; "E não assinaria outra ao lado de amigos do Pinochet . Como noutra ocasião, escolho as companhias". I rest my case.

Aproveito para lhe dizer, caro Daniel, que sou do Sporting (como julgo que também é), e que estou a pensar ir ao estádio no domingo. Aviso-o com antecedência porque sei que escolhe as companhias, e quero deixá-lo à vontade para não aparecer.
publicado por Alexandre Homem Cristo às 23:55 | comentar | ver comentários (5) | partilhar

Cachimbos

O Cachimbo de Magritte é um blogue de comentário político. Ocasionalmente, trata também de coisas sérias. Sabe que a realidade nem sempre é o que parece. Não tem uma ideologia e desconfia de ideologias. Prefere Burke à burqa e Aron aos arianos. Acredita que Portugal é uma teimosia viável e o 11 de Setembro uma vasta conspiração para Mário Soares aparecer na RTP. Não quer o poder, mas já está por tudo. Fuma-se devagar e, ao contrário do que diz o Estado, não provoca impotência.

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