Quarta-feira, 31.03.10

Farsa não será, com certeza

E não é, com certeza, como farsa.

Hoje parecem sobrar cada vez menos dúvidas de que a Casa Branca se resignou a um Irão nuclear. É essa a convicção do senador John McCain, e a comparação entre Neville Chamberlain e Obama é (também a) dele. O que explica, diz Stephen Hayes, a reacção aparentemente histérica do presidente norte-americano em relação à recusa israelita de suspender a construção em Jerusalém. «Pensam que estamos a sobre-reagir à questiúncula das casas? Então experimentem bombardear o Irão», terá sido a mensagem. Entretanto, vai avançado o debate sobre a nova era de contenção. A new beginning? De quê? Não há como um appeaser para chamar a guerra.
publicado por Jorge Costa às 20:13 | comentar | ver comentários (7) | partilhar

Blogue renovado

O Amor nos tempos da blogosfera, do João Gomes de Almeida, apareceu esta semana renovado, com alguns nomes bem conhecidos, entre eles o Nuno Miguel Guedes. A visitar regularmente.
publicado por Nuno Gouveia às 20:08 | comentar | partilhar

Sobre os primarismos

A propósito de um post que publiquei acerca dos artigos de Alberto Gonçalves, obtive vários tipos de reacções. Uma dessas reacções, a mais interessante de esclarecer e de rebater, é a do Miguel Noronha, que faz os seguintes comentários lá na caixinha:
(a) «Não percebo como é que a opinião do Alberto Gonçalves pode constituir uma ameaça à liberdade ou diversidade. Será que a liberdade ou a diversidade de opiníões já não conta?»;
(b) «Tolerar a diversidade não implica um olhar acritico à realidade nem abdicar de valorizá-la segundo a nossa escala de valores. O socialismo é que costuma implicar “entrar na carneirada”».
Julgo que o Miguel terá feito uma leitura precipitada do meu post (talvez incendiada pelos ataques moralistas que alguma esquerda fez aos artigos), embora eu também aceite que poderia ter explicado melhor o meu ponto final sobre o que escreveu Alberto Gonçalves. Tentarei fazê-lo agora, em resposta às duas observações do Miguel.

Não disse, em momento algum do meu texto, que a opinião de Alberto Gonçalves constituía uma ameaça à liberdade ou à diversidade. O que digo no post é somente que Alberto Gonçalves não lida bem com a diversidade, o que me parece manifesto na série de insultos que faz àquilo que desconhece (ou que simplesmente não aprecia), o que é muito diferente do que o Miguel me aponta.

É evidente que ele é livre de ter a opinião que quiser. Contudo, não pode, por um lado, elaborar uma série de manifestações de intolerância e, por outro, pretender que não deve ser qualificado de intolerante. Liberdade e responsabilidade -- ele é livre de escrever o que quiser, mas deve assumir o que escreve. E não é porque todos somos livres de dizer o que queremos que todas as opiniões valem o mesmo e devem ser igualmente respeitadas. [Por exemplo: não podemos impedir um nazi de pensar o que pensa sobre o povo judeu, mas também não podemos considerar que a sua opinião tem o mesmo valor que a dos outros. Este exemplo, que é provavelmente o mais radical, aplica-se a casos menos radicais, i.e. a todas as formas de intolerância para com o ‘outro’].

É a segunda observação do Miguel que me parece mais curiosa, nem que seja porque sugere (subtilmente) que o meu post tem vestígios de socialismo -- nunca ninguém me tinha dito nada assim. Espero que o que acima digo afaste a ideia de que vi na opinião de Alberto Gonçalves algum tipo de perigo à liberdade que devesse ser ‘resolvido’.
É óbvio, como diz o Miguel, que tolerar a diversidade não significa ter um olhar acrítico. Mas há uma enorme diferença entre ter um olhar crítico (demonstra tolerância) e insultar (demonstra intolerância). Dizer que não se aprecia bonés não é igual a dizer que quem usa boné é um cretino. Ou seja, o que Alberto Gonçalves faz não é avaliar a realidade a partir da sua escala de valores, mas meramente um ataque àquilo que não coincide com o seu gosto.

Finalmente, quanto ao socialismo, julgo que uma leitura mais atenta do que eu escrevi, e sobretudo do que escreveu Alberto Gonçalves, será esclarecedora. Ao afirmar que não é imprevisível a morte de um rapper porque ele é diferente, depois de insultar tudo o que caracteriza a sua diferença, Alberto Gonçalves mostra que é a única pessoa que tem dúvidas quanto às vantagens do pluralismo. Julgo que se o Miguel ler com atenção estes dois artigos do Alberto Gonçalves, encontrará lá muitos mais vestígios desse socialismo de que fala.
publicado por Alexandre Homem Cristo às 18:31 | comentar | ver comentários (10) | partilhar

O Cônsul Expiatório

A forma expedita como o Ministério dos Negócios Estrangeiros suspendeu o cônsul honorário de Portugal em Munique, por causa do negócio de compra pelo Estado português de submarinos aos mesmos alemães que tanto zelam pelo equilíbrio das contas públicas e da balança de transacções correntes nos países meridionais que pertencem à zona Euro, demonstra claramente que, para problema idêntico (alegada corrupção), o Governo e o Estado português têm dois pesos e duas medidas.
publicado por Fernando Martins às 15:47 | comentar | ver comentários (3) | partilhar

Burkas e Niqabs

Depois da França em 2009 é agora a vez da Bélgica .... pelo meio fica a posição muito multiculturalmente correcta do comissário para os Direitos Humanos do Conselho da Europa Thomas Hammarberg. A ponta de um "tema icebergue" que merece reflexão.
publicado por Eugénia Gamboa às 15:35 | comentar | ver comentários (1) | partilhar

Esta esquerda é um lugar fantástico

O Eduardo Pitta está alí a trazer uns argumentos daquelas coisas dos pais e dos filhos, mas já sabemos que é apenas para demonstrar que é injusto. À atenção do João Galamba, para quem estas coisas têm um certo nome.
publicado por Manuel Pinheiro às 13:00 | comentar | ver comentários (6) | partilhar

Então não era moderno e arejado?

A aposta energética feita por Sócrates e Pinho foi elogiada por muita imprensa que tinha a obrigação de estar mais atenta e informada. Foi apresentada como excelente e uma das vitórias do governo em momentos de balanço. Começa agora a aparecer em força nos media aquilo que são as consequências de facto de uma má decisão socialista, atempadamente alertada como está patente em diversos documentos públicos no Instituto Sá Carneiro. Tal como foi desenhada, a estratégia energética é uma autêntica SCUT ambiental. Imaginem quem paga.
publicado por Manuel Pinheiro às 12:50 | comentar | ver comentários (2) | partilhar

Coisas com imensa graça

Coisas às quais certas pessoas devem achar imensa graça. E que provam que elas têm imensa razão. E que aqui (por enquanto) elas até são imensamente meiguinhas. Lá fora estão imensamente mais avançados. Esta é uma fotografia da forma imensamente engraçada com que, no ano passado, «resistentes islâmicos» se manifestaram em Nova Iorque contra Israel. O Arrastão, como de costume, não inventa nada. O inimigo é outro. A técnica terrorista da generalização à marretada é a mesma. Diz que a marreta era para lançar o debate, coitado.
publicado por Jorge Costa às 12:09 | comentar | ver comentários (2) | partilhar

Um Dilema

Com Pedro Passos Coelho feito novo "líder" do PSD há, pelo menos, duas estratégias possíveis para, no interior do PSD ou à sua volta, enfrentar com êxito tamanha adversidade: a) antes quebrar que torcer; b) baixar um pouco a cabeça para deixar passar a borrasca, porque o essencial é não quebrar.
publicado por Fernando Martins às 00:41 | comentar | ver comentários (7) | partilhar
Terça-feira, 30.03.10

Notas atrasadas sobre o PSD

Pedro Passos venceu forte. Os números dispensam retórica e esmagam qualquer tentativa de os contornar: o PSD tem aquilo que uma grande maioria dos seus militantes quis. E sobre isto não há narrativa desresponsabilizadora que cole, a dimensão da vitória não permite acantonar os votos apenas no "aparelho" ou procurar outro tipo de álibis mais ou menos marginais. Os militantes são e foram soberanos, esta propriedade não os torna especialmente mais nem menos sábios, torna-os decisivos. E foram-no de forma clara.

Aguiar-Branco tem sido um excelente líder parlamentar, ao ponto de já ser uma repetitiva banalidade dizê-lo. Lançou legitimamente a sua candidatura, mas deveria ter agido em conformidade com os dados que da campanha toda a gente, incluindo o próprio, percebeu: que a disputa seria Passos e Rangel. Com a naturalidade com que o fazem os americanos nas primárias, Aguiar Branco deveria ter desistido, a favor de alguém ou não, mas desistido, permitindo um debate público e escolha mais clara entre as únicas duas alternativas reais que se afirmaram. Acabou com menos votos do que as assinaturas que tão energicamente entregou, e com poucos mais dos que as assinaturas necessárias para sequer se apresentar a votos. O dano que causou na candidatura de Rangel, especialmente no espaço mediático, vai muito além dos votos que efectivamente recebeu, os quais sendo ditados pelas circunstâncias são curtos face ao que tem dado ao partido.

Paulo Rangel, o meu candidato, recebeu genericamente os votos do eleitorado PSD que votou Manuela Ferreira Leite nas anteriores directas. Sendo um candidato mais completo que MFL, foi uma relativa surpresa que não tivesse conseguido descolar eleitoralmente, deixando no ar o sentimento que a política partidária, pelo menos no PSD, atingiu um patamar que exige tempo e equipas que não se montam e garantem resultados em pouco mais de um mês.

Resta destas eleições um clima de facilitação do trabalho de quem ganhou. Quem conhece os partidos e este nosso país sabe que esta disposição é frágil e nada intemporal. Mas neste clima de unidade PSD é importante não esquecer quem venceu: Pedro Passos, e que isso lhe dá a natural legitimidade para escolher trabalhar com quem com ele (e o seu programa) concordou. A mobilização do partido poderá eventualmente ser feita área a área, procurando pontos de contacto de modo a mobilizar em torno de algo. A manutenção de António Capucho no Conselho de Estado foi um bom sinal. Cá estaremos para acompanhar o resto.
publicado por Manuel Pinheiro às 23:03 | comentar | ver comentários (6) | partilhar

Baptizados de pé

Depois de insinuar que todos os padres são pedófilos, o Daniel Oliveira agora insinua que todos os que criticaram pela baixaria são católicos. É uma versão moderna da ordem de D. Manuel que obrigou os judeus a baptizar-se ou a sair do reino. O Jorge Costa vai de arrastão para o rebanho dos beatos, como os seus antepassados há quinhentos anos.

Talvez devesse dizer-lhe que o Daniel Oliveira não quis ofender ninguém, a bem do ecumenismo, mas tenho pouca fé. No livro de Daniel, aqueles que mostram a mais leve repugnância pelo seu altíssimo humor são lançados no inferno das virgens ofendidas. E quem sou eu para negar o inquisidor-mor da virgindade alheia?
publicado por Pedro Picoito às 23:00 | comentar | ver comentários (3) | partilhar

Kafka com laranja

Hoje, pela manhã, tentei reler O Processo de Kafka. Esbarrei de novo contra aquele ambiente ao mesmo tempo banal e absurdo a que chamamos kafkiano (belo adjectivo). No Processo, na Metamorfose, no Castelo há um espaço familiar e uma expectável rotina que, de repente, se tornam ameaçadores pela existência de um elemento sem sentido, mas que todos, menos o protagonista, aceitam como lógico e óbvio. É a detenção nunca explicada de Joseph K., é a transformação matutina de Gregor Samsa em insecto, é a ausência do castelão para o qual se trabalha e nunca se vê. Kafka ensina-nos que o maior perigo para o sentido comum não vem da loucura, da morte ou da subversão total do quotidiano, mas do que julgamos ser a normalidade. Porque a nossa vida nunca é normal. Não há vidas normais.
Só li uma página. Ninguém devia ler Kafka três dias depois das directas do PSD.
publicado por Pedro Picoito às 20:38 | comentar | ver comentários (5) | partilhar

Da série "vale a pena ler"

Scoundrel Time(s), na revista First Things. George Weigel escreve sobre as situações de abuso sexual de crianças e os ataques à Igreja Católica.
publicado por Paulo Marcelo às 17:42 | comentar | ver comentários (2) | partilhar

Quantos?

De facto, não haveria grande coisa a dizer de Daniel Oliveira. Ele é o que é, e não está para mais. Só tem interesse como caso. Ele tem imensa razão. 13 argumentos. Gráficos. Suponhamos que há 600 bandalhos a escrever posts como o dele. A partir de que número fazem uma sociedade respeitável? Aproveito para o informar que não sou católico.
publicado por Jorge Costa às 11:24 | comentar | ver comentários (2) | partilhar

O dia seguinte


Leio os jornais do fim-de-semana. Vejo nuvens negras sobre a economia portuguesa. Previsões de crescimento anémico. Sondagens que mostram os portugueses cada vez mais pessimistas. Leio uma entrevista ao ex-ministro Jorge Coelho, presidente da Mota-Engil, a maior empresa de construção nacional. Fico a saber que o Governo quer colocar, através da CGD, outro ex-ministro socialista, Mário Lino, à frente da Cimpor. Leio que a Provedoria está a investigar as adjudicações directas feitas pela empresa Parque Escolar.
Tudo isto a par das notícias sobre a eleição de Pedro Passos Coelho.
Não é animador o panorama com que se depara o novo presidente do PSD. O problema não é tanto Sócrates, cada vez mais descredibilizado, mas como ele deixa o País. Uma economia decadente. Um Estado colonizado pelos interesses partidários. Instituições descredibilizadas, incluindo os partidos. Desemprego elevado e uma crise social eminente. É esta a pesada realidade que Passos Coelho terá de enfrentar. É isto que é preciso mudar, usando o verbo “obamiano” por ele escolhido. O caminho não será fácil.
Passos Coelho preparou-se durante dois anos para este dia. A campanha correu-lhe bem. Mostrou persistência e vontade em liderar o PSD, o que é uma qualidade. Falta agora o mais difícil: afirmar-se como candidato a primeiro-ministro. Juntar uma equipa sólida, passando por cima da lógica do aparelho, e construir um projecto alternativo credível para governar.
Para isso tem de mostrar que o PSD é diferente do PS. E que ele próprio é diferente de José Sócrates. Não basta esperar pelo desgaste do governo. Terá de explicar como vai fazer crescer a economia (algo que os socialistas não conseguiram), como vai reduzir o peso do Estado (e não apenas privatizar à pressa por causa do garrote orçamental), e como vai libertar o Estado dos interesses partidários e económicos que dele se têm apropriado. Só isso permitirá passar dos 43.949 militantes que o elegeram, para os dois milhões e meio de portugueses necessários para governar com maioria absoluta.
Passos Coelho deu sinais positivos, no discurso de vitória, ao convidar os seus adversários para os órgãos nacionais do partido. Paulo Rangel mostrou dignidade ao aceitar o resultado e ao manifestar-se disponível para colaborar. Apesar da sua candidatura ter surgido tarde, Rangel fez uma boa campanha. Mostrou inteligência e conseguiu lançar novos temas e propostas para a discussão política: mobilidade social, descolonização do Estado e a aposta numa sociedade descentralizada, com mais autonomia e responsabilidade dos cidadãos. Rangel confirmou-se como um talento político da nova geração. As suas ideias são um capital político para o futuro.

publicado por Paulo Marcelo às 10:39 | comentar | ver comentários (8) | partilhar
Segunda-feira, 29.03.10

Memória

De novo a respeito disto, será que o Daniel Oliveira ainda se recorda por que chamou Arrastão ao seu blog? (Na altura, muitos terão produzido piadas igualmente edificantes sobre os Pretos, esses gatunos.)
(Imaginem, num dia de chuva, alguém dizer 'Os Pretos hoje não arrastam nada.' - giro, não é?)
publicado por Carlos Botelho às 23:26 | comentar | ver comentários (10) | partilhar

Podia ser só uma piada rasca, mas não é

Esta piada rasca do Daniel Oliveira e o comentário que deixou aqui mostram que, em certas cabecinhas, a tragédia da pedofilia na Igreja é apenas uma oportunidade para atacar os católicos.
Vale tudo. Até ridicularizar as vítimas. A sua preocupação com estas resume-se a duas palavras: carne tenrinha.
gaffes que dizem mais sobre uma pessoa do que todas as declarações de princípios. Teria ele coragem de chamar o mesmo às crianças da Casa Pia?
publicado por Pedro Picoito às 18:19 | comentar | ver comentários (22) | partilhar

Brutal e instrutivo

Sempre tive a maior repugnância em debruçar-me sobre as fontes directas da cultura nazi. Sobre os escritos dos seus mentores, a arte dos seus artistas. Nunca li, por exemplo, Mein Kampf, embora tenha lido, dispersas por tantas obras, seguramente centenas de citações. O problema é que a cultura nazi não é um dado do passado, uma realidade transcendida. É inspiradora. Os meus inimigos são por ela abundantemente informados, iluminados. Sendo uma coisa de actualidade, decidi-me (tinha de ser um dia, estava escrito nos astros) a meter mãos à obra. É duro, mas compensa. Este livro é um guia clássico

George L. Moses

Vou dando os meus passos nesta floresta negra. Uma primeira observação. Hitler, como é óbvio, compreendeu as massas. Isso é da ordem da evidência empírica. Até, pelo menos, 1940, teve a Alemanha a seus pés. Ignoro se leu Sorel ou Gustave Le Bon (em breve saberei). Mas foi capaz de escrever isto, que revela um profundíssimo avanço reflexivo na matéria, e - julgo - explica à perfeição uma regra de ouro do jogo da sua progenitura ideológica.

No ataque implacável ao inimigo, as massas vêem, sempre, uma prova do seu próprio direito, e percebem a renúncia à sua destruição como uma incerteza a respeito do seu próprio direito, se não mesmo um sinal de que estão erradas.

É brutal. Mas instrutivo.
publicado por Jorge Costa às 17:37 | comentar | ver comentários (5) | partilhar

E agora PSD?

A vitória de Pedro Passos Coelho nas eleições directas foi clara. Os militantes escolheram esse caminho e agora resta esperar que o novo líder esteja à altura desse voto de confiança. E também que o partido, que se ocupou em dilacerar líderes nos últimos 15 anos, consiga mudar de vida, como diria Marques Mendes. Escrevi no início desta campanha que esperava que o PSD fosse a partir do desfecho destas eleições “um partido normal e minimamente unido em torno de um projecto para Portugal”. A minha opção foi Paulo Rangel. Tenho orgulho no apoio (dentro das minhas imensas limitações) que dei à sua candidatura. Acredito que seria um excelente líder para o PSD e para o país. A sua derrota não me convenceu do contrário. Mas em democracia são os votos que fazem as lideranças, e o resultado destas eleições não deixou margem para dúvidas. Pedro Passos Coelho será o líder do PSD nos próximos dois anos. Pelo menos.
A partir daqui espero que o partido balcanizado dos últimos 15 anos dê lugar a um novo partido, mais unido em torno da liderança. O objectivo do PSD é derrubar o Partido Socialista e protagonizar um projecto alternativo para o país. Conforme se observou na campanha interna, existe um relativo consenso sobre o rumo que o PSD deve assumir, nomeadamente na área económica. Um projecto que retire o Estado da economia, que termine com a promiscuidade entre o sector público e privado, e que dê maior liberdade aos agentes económicos. No fundo, e apesar das diferenças entre os candidatos, todos assumiram a bandeira da liberdade económica, e é isso que se espera de Pedro Passos Coelho. Noutros sectores, também espero que a nova liderança seja inovadora e aproveite algumas ideias que surgiram nesta campanha eleitoral dos seus adversários. Estou a lembrar-me por exemplo da revolução na educação defendida por Paulo Rangel. Uma liderança inclusiva também o deverá ser no campo das ideias. Estou certo que Passos Coelho irá colocar em prática as lições retiradas dos erros das anteriores lideranças, bem como dos erros cometidos pelas oposições internas. Um partido onde todos tenham espaço. Só assim será possível o PSD voltar ao poder e protagonizar um governo que termine com a balbúrdia socialista dos últimos 15 anos.

publicado por Nuno Gouveia às 16:09 | comentar | ver comentários (11) | partilhar

Primarismos

Obviamente, o hip hop é principalmente uma invenção das indústrias discográfica e televisiva, e não traria mal ao mundo se o mundo não se deixasse influenciar por semelhante patetice. Infelizmente, do Bronx a Chelas, essa celebração da boçalidade é erguida aos currículos escolares e milhões de jovens tomam-na por "afirmação". Na verdade, é o inverso: o hip hop é a sujeição dos pretos ao que o "multiculturalismo" em vigor deles espera. Ao trocar a literatura pela "poesia das ruas", a música pelo ruído, a educação pela agressividade, o esforço pela automarginalização, a única afirmação do hip hop é a da inferioridade. Se levado a sério, o paternalismo condescendente limita os membros de uma etnia a uma existência parcial nas franjas da legalidade. E não anda longe do folclore abertamente racista.

Alberto Gonçalves, 21 de Março, no DN.

Aquilo que Alberto Gonçalves afirma (erradamente) a propósito do hip hop poderia aplicar-se, apesar das pequenas particularidades, a todos os géneros musicais que fogem ao mainstream. Por definição, os movimentos minoritários, sejam eles sociais ou simplesmente musicais, são marginais –- no sentido de estarem à margem. O que não significa que sejam habitados por criminosos ou que suscitem à violência. O preconceito de Alberto Gonçalves acerca do hip hop (e agora mais moderadamente acerca do heavy metal (o que os distingue, para ele, é apenas a sua esfera de influência, que é maior no hip hop do que no heavy metal) é o mesmo que outros têm para com o punk (vadiagem), o rap (crime) ou a música techno (drogas), definindo-os como música de gente delinquente que promove a delinquência. Assim, os seus dois artigos apoiam-se numa caracterização simplista, baseada nos sinais exteriores, que por serem diferentes dos tradicionais são compreendidos como sinais de delinquência. É este olhar sobre o ‘outro’ que torna, aos olhos de Alberto Gonçalves (mas não só), a morte de um rapper relativamente previsível. É também este olhar sobre o ‘outro’ que, há já uns anos, identificou na música heavy metal a razão para o parricídio que um jovem cometeu em Ílhavo.

Sejamos claros. O que incomoda nos artigos de Alberto Gonçalves não é que ele defenda que o hip hop faz uma glorificação da violência. Ele até pode ter razão nesse ponto, embora me pareça difícil estabelecer uma relação causa-efeito (ouvir hip hop causa comportamentos violentos). Nem é sequer o preconceito que choca: é compreensível o preconceito sobre o que não conhecemos, e é evidente que o cronista não é familiar com os estilos de música que avalia.

O que incomoda realmente é a repulsa de Alberto Gonçalves por estes estilos de música (ou os seus respectivos movimentos sociais). O cronista do DN não se limita a reproduzir as opiniões de intelectuais, como ele alega, mas incendiou-as através de considerações insultuosas e odiosas. Ao afirmar “sobre o hip hop, limitei-me a reproduzir algumas evidências repetidas por intelectuais americanos contemporâneos”, Alberto Gonçalves não está a ser verdadeiro.
Dizer que o hip hop faz a glorificação do crime e sustentar essa afirmação com letras de músicas e episódios da vida real dos artistas é digno da linguagem das ciências sociais, que constrói evidências. Caracterizar o hip hop como ‘primarismo’ e ‘ruído’, e os seus adeptos como ‘primários’, ‘animalescos’, ‘analfabetos’, ‘boçais’ e de ‘vestuário ridículo’ é somente uma demonstração de intolerância. Ao optar pela segunda abordagem, Alberto Gonçalves dá razão a quem o criticou com base nessa intolerância.

Para terminar, devo dizer que o que mais me impressiona não é essa intolerância em si, mas que ela habite em alguém como Alberto Gonçalves que, manifestamente desconfortável com a diversidade, se julga um defensor de sociedades livres e pluralistas.
publicado por Alexandre Homem Cristo às 16:06 | comentar | ver comentários (8) | partilhar

Cachimbos

O Cachimbo de Magritte é um blogue de comentário político. Ocasionalmente, trata também de coisas sérias. Sabe que a realidade nem sempre é o que parece. Não tem uma ideologia e desconfia de ideologias. Prefere Burke à burqa e Aron aos arianos. Acredita que Portugal é uma teimosia viável e o 11 de Setembro uma vasta conspiração para Mário Soares aparecer na RTP. Não quer o poder, mas já está por tudo. Fuma-se devagar e, ao contrário do que diz o Estado, não provoca impotência.

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