Terça-feira, 31.08.10

Beba, pela sua saúde...

Esta parece ser a conclusão de um estudo da Universidade do Texas. Segundo estes investigadores, os abstémios morrem mais cedo que as pessoas que bebem álcool, especialmente aquelas que o fazem moderadamente. Um conselho a seguir?
publicado por Nuno Gouveia às 19:18 | comentar | ver comentários (13) | partilhar

Lei da gravidade

Portugal é um país zangado (deixo de lado nas considerações que se seguem os bobos da corte). Nota-se pela maneira como se fala dele e ele fala de si. Uma multidão só se zanga assim, em boa verdade, com aquilo que lhe é muito caro. E há razões de sobra para a zanga. Não é só a ubiquidade de Sócrates e dos seus dependente, e a náusea que a sua simples aparição já causa. Posso garantir: estive acordado nestes últimos 36 anos e nunca um Governo, um primeiro-ministro ou um político de primeira fila qualquer causaram semelhante efeito de repulsa, porque nunca o descrédito e a desesperança chegaram a este fundo, que parece não acabar de recuar. Mas não é só Sócrates, que se tornou uma maldição. É - tudo. É a cumplicidade, não se sabe se por oportunismo puro, se por inconsciência, se por um composto dos dois em doses difíceis de determinar, das outras instâncias políticas; é o desamparo perante um Presidente, totalmente ocupado com os lances tácticos da sua agenda pessoal, erigindo a estabilidade política em torno do orçamento acima de qualquer outra consideração, como se a estabilidade política que tanto preza não estivesse, de facto, sobre um vulcão - a situação económica e financeira do país -, que pode explodir a qualquer momento, com uma dimensão de estragos inédita, que só uma drástica ruptura de políticas - primeiramente a orçamental - poderia mitigar, se não viesse a ser, como parece ser esse o destino, forçada ex-post facto pelas circunstâncias da explosão. É a oposição à direita, medíocre, desprezível, anos-luz aquém do que dela se gostaria de esperar, jogando ora à defesa, com um discurso vazio como o de Pedro Passos Coelho na feira de Verão do Algarve, ora na mais pura demagogia, como o CDS de Paulo Portas, o que hoje, por exemplo, só um exemplo, quer chamar ao Parlamento a ministra do Trabalho e o seu secretário de Estado para... discutirem os números do Eurostat (!), num número simétrico de abrantização da política e das décimas da estatística que seria cómico, se não fosse o espelho desta gente merdosa que nos governa, ou espera a sua vez de nos governar. É o desastre da Justiça e da Educação, a cujo desmoronamento diário assistimos inermes, entre um encolher de ombros (que fazer?), e umas tiradas ácidas, para desanuviar. É a paisagem desolada dos media, onde publicamente deveríamos tomar conhecimento do que se passa à nossa volta e reflectir sobre isto tudo: sim, repito, os jornais portugueses de referência não valem o papel que custam, dominados que estão por uma classe de jornalistas genericamente ineptos, preguiçosos e convenientemente enviesados. Num ambiente assim, apodrecido, sufocante, é natural que um país esteja zangado. É a impotência, a falta de saída, a hipoteca disto tudo e do seu futuro, a paródia da liberdade. Vai, é claro, acabar mal. Muito mal. É a lei da gravidade.
publicado por Jorge Costa às 18:44 | comentar | ver comentários (11) | partilhar

Atentado em Israel

Mais um atentado em Israel, desta vez com quatro pessoas mortas, entre elas, uma mulher grávida. Os terroristas, sejam eles do Hamas ou da Al-Qaeda, apenas pretendem matar o maior número de inocentes. Como aconteceu há pouco em Hebron. O assassinato é o jogo deles.

Aconselho a leitura deste artigo do Henrique Raposo, "A outra Palestina", a esquecida pelos media europeus.
publicado por Nuno Gouveia às 18:14 | comentar | ver comentários (10) | partilhar

Mestre Federer brilha no Open dos Estados Unidos

publicado por Paulo Marcelo às 17:46 | comentar | partilhar

E agora?


Segundo o EFFIS, em Agosto arderam 94016 ha, ultrapassando todos os anos desta década com excepção de 2003 e 2005. Trata-se efectivamente de um claro retrocesso no “sucesso” da política de controle e combate aos incêndios florestais tão apregoada pelos socialistas e anualmente reiterada desde 2006. A tónica positiva manteve-se mesmo em 2009, apesar da área ardida ter quintiplicado relativamente a 2008. O governo apresentou os 87 416.27 ha queimados nesse ano como um sucesso, porque se tratava de um valor inferior ao objectivo estipulado no plano nacional de 100 000 ha anuais.
Depois de 116 milhões de euros investidos dos 170 milhões do Fundo Florestal Permanente oriundos da ecotaxa financiada com o imposto petrolífero (dos quais pouco ou nada se sabe), depois dos planos, das estratégias, das campanhas de sensibilização (que este ano não existiu ou passou despercebida), depois de muito papel e de novos organismos e novas competências, os socialistas bem podem questionar os dados europeus, acusar o tempo e as as gentes, revelarem tiques de “ PREC mental” com ameaças de nacionalização, a realidade é apenas uma: Portugal continua a arder e, num lento processo de combustão, a empobrecer.
Resta agora assistir à estratégia de comunicação que o executivo adoptará para do real fracasso criar o aparente sucesso. Nesta como em outras áreas da actuação governativa vale a pela ler o conto do roubo do elefante branco de Mark Twain.
publicado por Eugénia Gamboa às 15:06 | comentar | ver comentários (17) | partilhar

> 600 000

Foto: Daqui.
publicado por Fernando Martins às 14:53 | comentar | ver comentários (4) | partilhar

Toy Story

Durante duas semanas ouvimos o PSD a assegurar que não viabilizaria um orçamento PS que aumentasse a carga fiscal, designadamente através do corte de deduções fiscais na educação e na saúde.
O Senhor Presidente da Républica falou e, afinal, parece que o PSD já admite o corte de deduções fiscais em alguns escalões do IRS.
E tenho aqui um dedo que adivinha que me diz que o PSD já não vai apresentar o projecto de revisão constitucional em Setembro, como anunciado.
publicado por Pedro Pestana Bastos às 10:10 | comentar | ver comentários (7) | partilhar

O monstro


Oito anos volvidos sobre a revelação dos abusos sexuais na Casa Pia, vamos conhecer a sentença esta semana. Qualquer que seja o deve e o haver entre condenações e absolvições, o balanço não pode deixar de ser negativo. Seis anos de julgamento, 460 sessões, 2043 requerimentos, 1933 despachos, 800 testemunhas, 300 volumes, sem falar nos recursos que vão fazer arrastar ainda mais o processo, e nos pedidos de nulidade que podem fazer regressar tudo à casa da partida.
As semelhanças deste “monstro” jurídico com a parábola kafkiana do Processo são evidentes. Uma Justiça cada vez mais desumanizada e enredada numa lenta e pesada teia burocrática, que conduz à sua própria negação. Onde os aspectos formais se tornam mais importantes que o apuramento da verdade.
Até há pouco tempo acreditava-se que a Justiça era lenta mas funcionava. Agora, com a mediatização dos processos Casa Pia, Freeport, entre outros, generaliza-se uma ideia de fragilidade e de ineficácia. Um sistema que é forte com os fracos, mas fraco com os ricos e poderosos.
A situação é de tal modo grave que já não bastam reformas legislativas. Não se tem feito, aliás, outra coisa nos últimos anos: sucessivas alterações legais com resultados medíocres. Se não concordam, leiam as conclusões dos últimos relatórios do Observatório Permanente da Justiça Portuguesa, ou o recente estudo da associação europeia MEDEL.
O nosso sistema é formalista e burocrático, o que atrai mais complexidade e morosidade. É intolerável que haja processos que se arrastam durante décadas. Por detrás desses quilómetros de papel estão pessoas concretas, com problemas reais que carecem de uma solução rápida.
A palavra-chave, por isso, tem de ser simplificar. O que implica, sejamos claros, reduzir certas garantias processuais em benefício da eficácia. Se nada fizermos o sistema corre o risco de perder legitimidade e apodrecer.
A introdução de um regime de “sentença simplificada” seria um passo positivo. Tal como a eliminação de algumas exigências probatórias. Não faz sentido, por exemplo, que a prova produzida perante um magistrado na fase de Inquérito (ou Instrução), com todas as garantias processuais, tenha de ser repetida em julgamento. Tal como não faz o excesso de testemunhas em certos processos.
Que me perdoem os meus colegas advogados, mas esta simplificação implica aumentar o poder dos magistrados, com riscos de aumento da discricionariedade decisória. E libertá-los das tarefas administrativas, para se poderem concentrar na actividade jurisdicional. Apostar na oralidade, desmaterialização e nos sistemas de acesso à informação.
É urgente uma revolução do nosso paradigma processual, pensado para um outro tempo. Trazer a justiça portuguesa para a modernidade, aproximando-a do tempo socialmente justo, mais próximo das expectativas dos cidadãos e das empresas.

publicado por Paulo Marcelo às 08:36 | comentar | ver comentários (7) | partilhar

Uma Entrevista





publicado por Fernando Martins às 00:40 | comentar | ver comentários (3) | partilhar
Segunda-feira, 30.08.10

Gente firme, sempre a postos

Manouchehr Mottaki, ministro dos Negócios Estrangeiros do Irão, e Luís Amado, há mês e meio, por cá.

Quando a 13 e 14 de Julho passado, corriam pelo mundo já as notícias da iminente lapidação de Sakineh Mohammadi Ashtiani, e Manouchehr Mottaki, ministro dos Negócios Estrangeiros do Irão, se passeava pelas Necessidades, honrosamente recebido pelo seu homólogo luso, a quem o visitante não poupou elogios, onde estavam estas boas almas? O súbito pathos desta minúscula assinatura comove-me. Em Julho* havia mais que fazer.

* Se tiver paciência, é só percorrer nove páginas de rolo. Há resmas de posts sobre a fé, uma verdadeira fixação jugular, havia a chatice do Freeport, muita alegria, muito coisa gira, etc.
publicado por Jorge Costa às 22:31 | comentar | ver comentários (8) | partilhar

Ódio


As manifestações valem o que valem, o que na maioria dos casos é muito pouco. Dificilmente será uma manifestação a mudar o rumo dos acontecimentos, mesmo que repartida por vários cantos do mundo, quando o seu destinatário é o regime iraniano. Mas não será isso a retirar-lhe a dignidade. O que há a lamentar, para além do inevitável destino de Sakineh Mohammadi Ashtiani, é que a razão que juntou as pessoas seja abafada pelo ruído dos interesses particulares. A Fernanda Câncio partidarizou o que aos partidos não pertencia e, ao contabilizar as ausências, transformou a comoção em manifesto político. O João Pereira Coutinho, ao defender que o Irão só se resolve à bomba mas sabendo que isso não acontecerá a tempo de salvar Sakineh Mohammadi Ashtiani, desvalorizou o papel político da sociedade civil e apelou à indiferença colectiva. Ambos, plenos de ódio, têm a mesma visão egoísta do mundo.
publicado por Alexandre Homem Cristo às 17:07 | comentar | ver comentários (24) | partilhar

Vida acasalada

Desgosta-me ver o João Gonçalves subscrever a inanidade dessa "reflexão" da intragável Sontag acerca da vida acasalada. Cita o João as palavras da autora: "O mundo todo em casais, cada casal na sua casinha, a tomar conta dos seus pequenos interesses e oprimidos na sua privacidadezinha". Essa presuntiva realidade do mundo, diz-se aqui, "é a coisa mais repugnante do mundo" (assim de repente ocorrem-me umas boas dezenas de coisas mais repugnantes, mas enfim). Entre outras coisas, o que o João e a sua autora provavelmente se esquecem é de notar a merdinha de vida de muitos dos que se emanciparam heroicamente da opressão da "privacidadezinha" da vida acasalada.
Parafraseando os americanos, João, it was a now opinion then; and a then opinion now.
publicado por Miguel Morgado às 16:29 | comentar | ver comentários (8) | partilhar

cabecinha de polícia, alminha de bufo

Esta cabecinha de polícia andou a contar judeus no Largo Camões. Esperta como é, imagino o método: somar os payot à vista e dividir por dois. Parece que a conta deu zero. Bem, payot, não é costume nesta terra. E os judeus portugueses, pelo menos os que guardam o Shabbat, estavam de certeza em casa. Como de costume. Dos outros não sei. Mas no relatório da cabecinha não constam. E, se ela diz, é porque não havia. Confirmem: a alminha de bufo diz que são critérios jornalísticos.
publicado por Jorge Costa às 13:29 | comentar | ver comentários (6) | partilhar

Citação montesquieuana do dia

«Os homens, no fundo razoáveis, submetem a regras até os seus próprios preconceitos.»
publicado por Miguel Morgado às 12:34 | comentar | ver comentários (1) | partilhar

Irão mas não foram

A manifestação de sábado parecia ter um objectivo importante, mas o Nuno Gouveia explica em grande medida porque foi um fracasso. Há quem se julgue dono da verdade e se permita fazer avaliações de carácter a propósito da presença ou da ausência em manifestações. O João Pereira Coutinho também é capaz de ter alguma razão.
publicado por Paulo Pinto Mascarenhas às 00:36 | comentar | ver comentários (2) | partilhar

Não sei se repararam

Primeiro acto da recandidatura presidencial de Cavaco Silva: "os governos não precisam ter a confiança política dos Presidentes, nem respondem politicamente perante o Presidente da República. Nos termos constitucionais, respondem politicamente perante a Assembleia da República." Mais: "Estou a exercer as minhas funções à luz da Constituição que está em vigor e que eu jurei cumprir. E, para mim, a palavra ‘jurar’ tem muito significado e, por isso, confirmo o texto da Constituição que jurei cumprir e fazer cumprir. Não quer isto dizer que concordo ou não com todo o conteúdo da Constituição. Não é isso que está em causa. Agora eu sou Presidente no contexto desta Constituição, não de outras."
publicado por Paulo Pinto Mascarenhas às 00:34 | comentar | ver comentários (5) | partilhar
Domingo, 29.08.10

De la Démocratie en Massamá

Parece que uma das grandes polémicas do defeso consiste em saber se Passos Coelho é ou não "do povo". Magna questão. Não tenho um demómetro nem sei o que é ser do "povo", mas há quem saiba: ser "do povo", dizem, é viver em Massamá, passar férias no Algarve e ir à festa do Pontal com Mendes Bota. Logo, conclui-se, Passos é "do povo" porque faz o pleno do charme indiscreto do proletariado.

Note-se que esta súbita plebeização de Passos, antigo leitor de apócrifos de Sartre e putativo candidato a uma carreira de barítono, nada deve ao eterno projecto de reconduzir o PSD à social-democracia. Para isso basta citar Bernstein. O downgrade a que me refiro, fenómeno de mobilidade social descendente também conhecido por bota-abaixismo graças à metonímica companhia de Bota, é uma táctica de objectivos tão modestos quão precisos. Primeiro, diferencia Passos de Sócrates pelo fato-de-banho, já que não se distinguem pela gravata. Segundo, diferencia Passos de Manuela Ferreira Leite, com a qual o PSD deixou de "ir para a rua", na expressão orgulhosamente lumpen de Miguel Relvas. Por fim, e not the least, permite acalmar os receios do povo, o verdadeiro, quanto ao anunciado projecto de "revisão constitucional" de Passos, acusado pelo PS e pelo Dr. Arnaut de querer acabar com o Serviço Nacional de Saúde, o ensino tendencialmente gratuito, a progressividade dos impostos e o lince da Malcata.

Estas coisas deixam mossa e o PSD desceu nas sondagens, o que certamente preocupou muito quem se preocupa muito com sondagens. De modo que a corte passista se sentiu na necessidade de convencer o povo, o verdadeiro, de que Passos é do "povo". Se Passos é do "povo", nunca faria ao povo aquilo de que o acusam. Nunca. Metam o homem em calções, salvo seja - e já ninguém lhe vai perguntar pelo lince da Malcata.

Como táctica, está muito bem. A esquerda não ousaria criticar o Passos "do povo" porque o povo é quem mais ordena. E a direita muito menos porque está tão preocupada em parecer democrática que se esquece de ser democrática. Só que a democracia, convém lembrar, não é o regime em que desaparecem as classes sociais, mas em que um político vai a votos pelas suas ideias, pelas suas propostas, pelo seu programa e não pela sua classe social. E, sobre isto, continuamos sem saber o que realmente pensa o novo PSD do SNS e do lince. Se é que pensa alguma coisa. Porque é mais fácil viver em Massamá do que pensar na São Caetano à Lapa. Mais fácil e mais classista: julgar-se "do povo" por aparecer em calções no Expresso é tão snob como julgar-se um cavalheiro por aparecer de chapéu alto em Ascot. "Todas as revoluções fazem crescer a ambição dos homens, sobretudo as revoluções que derrubam uma aristocracia", disse Tocqueville há muito tempo. Que pena não o ter dito no Pontal, em vez de escrever livros em francês.
publicado por Pedro Picoito às 23:31 | comentar | ver comentários (5) | partilhar

Sobre a miséria do jornalismo português em geral

e do Público em particular. Pelo Nuno Gouveia, aqui. E, por aqui, visita guiada de João Miranda ao disparate consumado. Apetece dizer: «diga não a isto. Não compre o Público».
publicado por Jorge Costa às 19:38 | comentar | ver comentários (5) | partilhar
Sábado, 28.08.10

Manuel Núñez Bernal, natural de Almeida (1615?, 1655), 40 anos, mercador

Dele não consta sequer uma entrada na internet. São omissos tanto o Dicionário Histórico dos Sefarditas Portugueses, quanto o Dicionário do Judaísmo Português e a História dos Judeus Portugueses, de Carsten Wilke. Não consta também das histórias de Meyer Kayserling, de Mendes dos Remédios ou J. Lúcio de Azevedo. O que só mostra – tudo somado – o que muito bem se sabe: o quanto há ainda por fazer, por muito que já esteja feito, e muitas vezes muito bem.

Deixo de lado a vasta problemática dos criptojudeus na Espanha moderna – em esmagadora medida uma questão de judeus portugueses – e vou directo ao assunto. Sem muitas pinças e introduções: para quem se interessar, o tema tem merecido aturada investigação histórica, e nela têm lugar fundamental dois nomes: Julio Caro Baroja, com o seu monumental Los Judios en la España Moderna y Contemporánea, em três volumes, e Antonio Domínguez Ortiz, com extensa obra, e esta, em especial: Los Judeoconversos en la España Moderna*, que me fez cruzar com ele: Manuel Núñez Bernal. A fonte primária é um relato do Doutor Nicolás de Vargas, médico no Tribunal do Santo Ofício de Córdova, à época do auto de fé: 3 de Maio de 1655. O título do referido relato é ele, por si só, um epigrama sobre uma faceta do barroco ibérico. Reproduzo, pelo estilo inimitável: Triunfo gloriosamente grande, demostración heroicamente religiosa, azote pavoroso de ignorante malicia, castigo de la perfidia judaica, juicio tremendo de las venganzas de Dios.

O que me importa, agora, é este nome: Manuel Núñez Bernal. Domínguez Ortiz conta assim, e eu não vou traduzir tão límpido castelhano.

Como muestra de lo que eran estos autos [autos de fé] voy a resumir el relato que se imprimió acerca del celebrado en Córdoba el 3 de mayo de 1655. Su celebración se publicó el 30 de marzo antecedente, y en seguida se empezaran los preparativos, una vez obtenido el perceptivo permiso de la Suprema Inquisición. Se avisó al obispo de la diócesis y al Ayuntamiento para que prestasen su concurso, y se recordó a los familiares y comisarios [funcionários da Inquisição] del partido de Córdoba la obligación que tenían de asistir. En la Plaza de la Corredera, la más espaciosa de la ciudad, se levantaron las plataformas y graderíos de madera, defendidos por un gran toldo de los rayos del sol.


Desde días antes de la celebración reinaba en Córdoba una expectación semejante a la que en nuestros días rodea un decisivo partido de fútbol. Se aseguraba que habían llegado ochenta mil forasteros (exageración andaluza), entre ellos algunos señores de la mas alta nobleza, como el marqués de Priego, a quien se confió el encargo de llevar el Estandarte de la Fe en la procesión, distinción que admitió agradecido, haciendo partícipes de ella a sus parientes el duque de Cardona y el marqués de los Vélez, que llevarían las borlas del estandarte. Llegó también el Generalísimo de la Orden de San Francisco, que no quería perderse tan lucida función, y el dominico fray Enrique de Santo Tomás, a quién se encomendó el sermón. Es de imaginar el trajín de idas y venidas, cumplidos y ceremonias que ocasionaría la visita de tan ilustres huéspedes. La distribución de asientos se hizo con suma atención para no desairar a nadie, pues en punto a etiquetas aquella sociedad era muy puntillosa.

La víspera del día señalado salió de los Reales Alcázares, morada de la Inquisición, una lucida procesión, acompañando a una cruz cubierta de negros velos «que eclipsando las soberanas luces de su esplendor, influía horrores, ocasionaba sentimientos y provocaba venganzas». Tras largo recorrido acompañada de música y de infinito pueblo, quedó colocada en el tablado de la plaza, y allí se celebraron misas durante toda la noche.

El 3 de mayo muy temprano se fueron sacando los presos a la luz del día de la que tanto tiempo habían estado privados; a cada uno se colocó su insignia, según sus delitos, entregándolo a la vigilancia de dos familiares [funcionários locais]. «Iban los reos en cuerpo, velas de cera amarilla en las manos, apagadas como su caduca Ley y sogas a la garganta». Les seguían veinte estatuas de difuntos y ausentes, y tres mujeres condenadas a relajación [à morte, a ser executada pelas autoridades seculares], que por haber pedido misericordia serían estranguladas antes de entregar sus cuerpos a las llamas. Las asistían muchos religiosos para consolarlas y mantener su perseverancia. De los relajados varones uno había también aceptado dicha mitigación, mientras el otro, Manuel Núñez Bernal, portugués vecino de Écija, se mantenía aferrado a su fe.

Judío tan pertinaz que asistido toda la noche en la Inquisición y todo el día en el cadalso de religiosos graves y santos, cuya predicación derritiera bronces y ablandara escollos… cansados de su protervia se retiraban confusos.
No agradaba a los inquisidores que se dieran estos casos de entereza y por eso agotaban todos los medios para probar la eficacia de su pedagogía, que mezclaba el terror y la persuasión para la conversión de los condenados, siquiera fuese aparente y motivada por el temor a las llamas.

El auto duró desde las nueve de la mañana a las nueve de la noche, relevándose los escribanos en la lectura de las sentencias. Fueron despachados con rapidez los tres bígamos, las cuatro hechiceras y una berberisca. Los judaizantes eran 78, treinta y seis mujeres y cuarenta y dos hombres, todos portugueses, aunque no pocos nacidos en España de familia portuguesa, muchos emparentados entre sí. Los había de Baeza, Cabra, Andújar, Écija y otras ciudades andaluzas, mercaderes en su mayoría. Las penas más frecuentes, cárcel y destierro, agravadas en algunos casos con multas y azotes.

Antes de terminar el auto, los relajados fueron conducidos al campo donde se habían de verificar las ejecuciones; primero fueron agarrotados el hombre y las tres mujeres que habían confesado sus errores. Se dejó para el final a Manuel Núñez Bernal, que seguía impenitente; era portugués, natural de Almeida, de 40 años, mercader, vecino de Écija. Salieron también al auto las estatuas de su cajero y de un criado que evitaron el castigo con la fuga. Su mujer y una hija suya fueron reconciliadas, pero él se mantuvo firme y se dejó quemar vivo con admirable entereza.

* A acrescentar mais recentemente: HUERGA CRIADO, Pilar, En la raya de Portugal, solidariedad y tensiones en la comunidade judeoconversa, Salamanca, 1993. A lista de historiadores que se dedicaram ao assunto é, porém, muito longa: Y. Baer, H. Beinart, E. Benito Ruano, B. Bennassar, J. C. Boyajian, J. Contreras, F. Chácon, J. P. Dedieu, J. I. Israel, H. Kamen, H. Ch. Lea, B. López Belinchón, H. Méchoulan, G. Nahon, B. Netanyahu, J. Pérez Villanueva, M. Schreiber, Y. H. Yerushalmi, para referir muito selectivamente alguns dos autores mais importantes.
publicado por Jorge Costa às 21:41 | comentar | ver comentários (1) | partilhar

Leituras de Verão



A melhor (e mais útil) até ao momento, até porque isto não pode ser só "alta cultura".
publicado por Manuel Pinheiro às 17:31 | comentar | ver comentários (1) | partilhar

Cachimbos

O Cachimbo de Magritte é um blogue de comentário político. Ocasionalmente, trata também de coisas sérias. Sabe que a realidade nem sempre é o que parece. Não tem uma ideologia e desconfia de ideologias. Prefere Burke à burqa e Aron aos arianos. Acredita que Portugal é uma teimosia viável e o 11 de Setembro uma vasta conspiração para Mário Soares aparecer na RTP. Não quer o poder, mas já está por tudo. Fuma-se devagar e, ao contrário do que diz o Estado, não provoca impotência.

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