
A entrevista que dá hoje ao Público confirma a previsão. Aquilo a que chamei a sua "inflexibilidade ideológica" (sem ser necessariamente um mal, porque a política de cultura é isso mesmo - uma política) nota-se mais quando há menos dinheiro. E o último OGE impõe cortes de 23% ao orçamento da Direcção-Geral das Artes. Nenhuma visão programática resiste a tamanha falta de vil metal. Aidos, quando acusa Sócrates de não ter uma estratégia para o sector (uma absoluta evidência que o próprio confessou nas últimas eleições), di-lo por outras palavras: "A estratégia foi esgotada pelo orçamento. Não é possível ter uma estratégia sem um orçamento mínimo".
É sintomático, por exemplo, que critique a integração dos teatros nacionais no OPART, duvidando que isso represente uma optimização de recursos e afirmando que "o modelo de entidades públicas empresariais não é o melhor. O melhor modelo seria que cada um fosse uma fundação, mas estas exigem parceiros privados com parte activa que não existem. Isso implicaria um financiamento do Estado sozinho para o qual não há capacidade financeira". Em resumo, tudo começa e acaba no Estado porque os privados não se interessam. Nem uma palavra sobre as razões pelas quais a alternativa - o mecenato - está a falhar. E haveria tanto a dizer...
Outro exemplo: a crítica, justíssima, de que "ao longo dos anos, o ministério nunca criou nem hábitos nem alternativas para as próprias companhias [de teatro] procurarem outro tipo de sustentabilidade, independentemente do apoio do MC". É a mais pura das verdades, mas isso não acontecerá exactamente devido à política de cultura de que Aidos se faz porta-voz na entrevista - a tal que garante "se a Ministra pudesse ter mais cinco ou seis milhões, teria evitado os cortes"?
João Aidos é um profissional muito competente e uma pessoa muito estimável, mas temo que venha a arrepender-se da sua passagem pela DGA. E nós também.