Segunda-feira, 31.01.11

O que fazer com o Egipto?

Não é fácil falar sobre esta região. Há uma complexidade subjacente ao tema que nos obriga a ser cautelosos e evitar ditar sentenças definitivas. Esta é uma região que, devido aos seus factores muito específicos, afecta o complexo mapa das relações internacionais. O facto de possuir as principais reservas de petróleo, um recurso de que todos dependemos, coloca-o no centro de todas as atenções. Por outro lado, é o berço de um dos movimentos mais perigosos do século XXI, o extremismo islâmico, que ameaça todas as democracias, a começar pela única que verdadeiramente existe no Médio Oriente, Israel.

Por isso é importante olhar para o que se passa no Egipto, e cujo desfecho terá repercussões em toda a região. Este país tem sido um importante aliado das democracias ocidentais. Foi o primeiro país da região a aceitar Israel como um Estado soberano e tem sido importante para conter as ideologias extremistas da região. Por isso recebe ajuda dos Estados Unidos, e foi aceite no Ocidente como um Estado dos "seus". Mas sempre existiu aqui uma duplicidade evidente: enquanto se pedia reformas democráticas na região, o Ocidente foi fechando os olhos para o que se passava no interior dos seus aliados, como no Egipto. E foi este o principal falhanço das democracias, que não fizeram o suficiente para obrigar Hosni Mubarak a liberalizar o regime. Se tivessem sido implementadas as reformas necessárias, hoje as forças democráticas teriam a força suficiente* para se impor à Irmandade Islâmica, uma organização que inspirou a criação da Al-Qaeda e que representa um enorme perigo para a estabilidade da região. Tendo falhado nessa premissa, qual a reacção que agora o Ocidente, nomeadamente os Estados Unidos, devem ter?

A Administração Obama foi lenta na reacção a estes acontecimentos. Ainda há uma semana, Hillary Clinton reafirmou a sua crença na estabilidade do regime, quando tudo já apontava para esta enorme convulsão. Apenas passados quatro dias, Barack Obama sentiu a necessidade de falar com Mubarak, apelando em público para o respeito dos direitos humanos no país e reforçando a importância de reformas democráticas. Já no domingo, Hillary Clinton foi aos cinco programas de análise política nas TVs americanas para reafirmar que é necessário dar passos seguros rumo às reformas democráticas e respeito pela vontade do povo egípcio. Tarde, mas talvez ainda a tempo. Parece evidente que Mubarak tem os dias contados à frente do Egipto. Se cai já ou se consegue alcançar um acordo com a oposição para um período de transição, não sabemos. Mas a resposta da Administração parece-me que só pode ser uma: colocar-se ao lado das forças democráticas, ajudar ao período de transição e tentar criar no país condições para impedir que a Irmandade Islâmica chegue ao poder. A repetição do que se passou no Irão em 1979, onde os radicais islâmicos, depois do derrube de um poder despótico, o substituíram por um ainda pior, seria catastrófico. Pior que ditaduras amigas são ditaduras inimigas. Obama tem essa responsabilidade pela frente, sendo certo que não existe muito que dependa das suas acções. Mas se não tentar reforçar o lado democrático contra o poder actual e os radicais islâmicos que espreitam pela sua oportunidade, Obama poderá estar a repetir o papel de Jimmy Carter em 1979.

* Várias pessoas têm afirmado que é quase certo que a Irmandade Islâmica venceria umas eleições democráticas no Egipto. Como escreve Robert Kaplan, na Foreign Affairs, esse cenário não é assim tão evidente. Por isso é importante reforçar o papel das forças democráticas, até para os impedir de fazer o triste papel dos Mencheviques em 1917.
publicado por Nuno Gouveia às 23:29 | comentar | partilhar

Dr. Passos Coelho, este senhor tem de ser o seu Ministro da Educação

publicado por Alexandre Homem Cristo às 23:03 | comentar | ver comentários (19) | partilhar

Proz e Kontras: sôbre educassão

Como não podia deixar de ser, a ministra "socrática", já começou com umas tretas vulgarmente propagandísticas: "os Portugueses já se aperceberam que a Escola está mais exigente" [sic!], etc. Vê-se por lá o "habitual" do PSD (que, prevejo, virá com umas banalidades contemporizadoras) e o incessante Albino-dos-progenitores (autêntica cavalgadura de Tróia do governo "socrático" na Escola). Felizmente, também lá estão o Nuno Crato e o Mário Nogueira. A respeito destes dois, desenganem-se os sectários susceptíveis da "esquerda" e da "direita", que nunca avistam nada para lá da perspectiva da manada tribal: no que realmente conta, eles estão, objectivamente, do mesmo lado. (Como dizia o camarada Mao Tse-Tung, na hora da verdade, o que importa é que as balas vão todas para o mesmo lado.)
publicado por Carlos Botelho às 22:47 | comentar | ver comentários (10) | partilhar

Educação e Ideologia na RR


A minha crónica desta semana na Rádio Renascença: "Educação e Ideologia".

O debate público em torno dos cortes no financiamento às escolas com contratos de associação tem sido bastante revelador do estranho entendimento que alguns têm dos objectivos do Estado social. Assim que o Governo anunciou os cortes às escolas não estatais, acompanhado pela propaganda do costume que apresenta sempre os bravos ministros lutando infatigavelmente contra as hordas do “privilégio”, levantou-se uma barragem de comentadores em seu apoio. O seu intuito pode ser resumido a isto: criticar tudo o que fuja ao controlo total do Estado central. A crítica é muitas vezes mal informada; outras vezes mal intencionada. Mas procura sempre esconder-se atrás de um argumento geral de defesa intransigente do Estado social e da sua superior humanidade.
Pouco importa que o Estado social tenha como propósito e justificação o acesso das pessoas a bens que se consideram indispensáveis; pouco importa que as estruturas agora afectadas forneçam esses bens de forma satisfatória e que sejam as populações, e não a burocracia do Ministério, a reconhecer o facto. O que conta em Portugal em pleno ano de 2011 é a propriedade dos meios de provisão desses bens. Se é do Estado, então está salvaguardado o Estado social e a fraternidade entre os povos. Se a propriedade escapar à malha do Estado, então teremos necessariamente a opressão dos pobres às mãos dos ricos, os fracos agrilhoados pelos poderosos. Para que a questão concreta dos problemas orçamentais do nosso sistema educativo encaixe nesta aberrante perspectiva vale quase tudo. Desde o sofisma mais inocente até à mentira descabelada, já para não falar na exploração indecorosa e sistemática dos ressentimentos que inevitavelmente grassam numa sociedade pobre, rígida e desigualitária como a nossa.
Como o País não está suficientemente estatizado querem estatizá-lo ainda mais. Afinal, é só mais um passo no caminho para a pobreza, para a uniformização e para o definhamento.
publicado por Miguel Morgado às 19:32 | comentar | partilhar

Enquanto por cá a última moda é reforçar a gestão estatal das escolas...

The government today gave the green light for the first eight "Free Schools" to open in England, with the Prime Minister, David Cameron, pledging they will bring greater opportunity to the poorest pupils. (...) The free schools, which will be funded directly by Westminster and operate outside local authority control (...) will have more freedom over their curriculum and teachers' pay and conditions. (Guardian, 29 jan 2011)

Free Schools are all-ability state-funded schools set up in response to parental demand. The most important element of a great education is the quality of teaching and Free Schools will enable excellent teachers to create schools and improve standards for all children, regardless of their background. Under the new plans it will become much easier for charities, universities, businesses, educational groups, teachers and groups of parents to get involved and start new schools. (Department for Education)
publicado por Nuno Lobo às 19:30 | comentar | ver comentários (4) | partilhar

Pub

Clicar para ver melhor.
publicado por Pedro Picoito às 19:10 | comentar | ver comentários (2) | partilhar

"A má educação"

"Quando o assunto é a educação dos filhos, qualquer pai só tem uma pergunta: a escola é boa ou má? Não entra no cálculo se a escola é estatal ou privada; basta-lhe que seja pública, ou seja, que ele tenha acesso a ela gratuitamente. Este raciocínio básico devia orientar a nossa política de educação: permitir a escolha dos pais de acordo com a qualidade das escolas.

Infelizmente, o raciocínio não entra na cabeça dura do governo. Para a dra. Alçada, as escolas privadas com contratos de associação são demasiado caras; e, além disso, existem escolas estatais às moscas na mesma área das privadas. Tudo muito certo. Pena que a ministra não tenha esclarecido dois pontos: primeiro, quanto custam as escolas estatais por comparação com as privadas; e, segundo, por que raio se mantêm abertas escolas estatais às moscas quando existem as privadas que fazem o mesmo trabalho com assinalável sucesso.

Reduzir todo o ensino a uma coutada estatal é condenar gerações de alunos a uma única opção de ensino. E, como sempre, serão os mais pobres a pagar esta factura ideológica.
"

publicado por Nuno Lobo às 17:31 | comentar | ver comentários (1) | partilhar

Falta de Educação

É o mínimo que se pode dizer.
publicado por Filipe Anacoreta Correia às 16:19 | comentar | ver comentários (8) | partilhar

Vítor Bento

Há poucos, assim, em Portugal: uma sólida formação teórica, um raro conhecimento empírico da realidade portuguesa, um currículo como gestor invejável, independência de espírito, e do resto, nada dado a ilusões, uma constante intervenção cívica em Portugal, ao longo das duas últimas décadas, que tanto contribuiu para pôr os pontos nos ii na confusão ambiente, um pensamento extremamente bem articulado. Não se vê na política activa: só não vejo como é que a política activa o poderá dispensar.
publicado por Jorge Costa às 13:05 | comentar | partilhar

Corta

Multiplicam-se as notícias de que os cortes salariais e o congelamento de carreiras no sector público não estão a ser cumpridos. Recordo que algo de muito semelhante ocorreu na Irlanda no ano passado. Existe uma grande diferença entre anunciar cortes e congelamentos, e depois executá-los. A assimetria de injustiça que irá crescer - de um lado, os que cumprem à risca, e do outro, os que graças a dotes inexplicáveis escapam ilesos - terá consequências. Não sei quem é ficará a rir no fim. E estaremos cá para ver os resultados na contenção da despesa. O mais provável é o movimento do costume: o crescimento da receita fiscal justificará o júbilo de governantes e jornalistas patrióticos. Mais nada.
publicado por Miguel Morgado às 12:50 | comentar | partilhar

Esperar para ver

O governo alemão deu uma grande volta na posição face à crise do euro, parece que está em vias de deixar de reagir para começar a agir.


Desde já saúda-se que a Alemanha tenha evoluído do foco excessivo sobre as contas públicas, para atribuir uma nova importância aos temas da competitividade e do crescimento.

Das ideias que se conhece, parece que há uma certa confusão, porque quando se fala de “coordenação” parece que ser quer dizer “uniformização”. Enquanto haver mais coordenação é algo quase tautologicamente bom, mais uniformização pode bem querer dizer mais conflitos e resistências, sobretudo em matérias fiscais.

Há um aspecto ainda não esclarecido, mas que é provável que venha a ser esclarecido em breve, que é a necessidade de criar mecanismos de excepção nos casos de países que já têm fortes desequilíbrios externos. A actual legislação europeia não o permite, mas será necessário que se autorizem esses países a introduzir discriminação entre bens transaccionáveis e bens não transaccionáveis, para facilitar “desvalorizações internas”. Dito de outro modo, é necessário introduzir mecanismos de discriminação contra as importações vindas da Alemanha. Não é necessário ser um génio para imaginar as resistências que isto vai suscitar.

Sabendo-se que as propostas alemãs são condições necessárias para que eles abram os cordões à bolsa, é mais do que provável que inúmeros países as aceitem por isso mesmo, com uma muito baixa vontade e convicção de as concretizar. Ou seja, é muito provável que se criem mais problemas adiados.
publicado por Pedro Braz Teixeira às 11:56 | comentar | ver comentários (4) | partilhar

Resgates aos bancos: a 4ª via para o socialismo


Um filme de terror sobre o triunfo da corrupção. Se não começar já a dizer: não!, em breve, mais um desastre em cima de si.
publicado por Jorge Costa às 11:42 | comentar | partilhar

Nasceu um "Arabista"?

Aparentemente sim. Aqui. Da linha Miguel Sousa Tavares. A mais capaz. Com conhecimentos bem alicerçados no facto de ler e falar árabe, ter lido e discutido o Alcorão desde a mais tenra adolescência. Conhece como ninguém a história, o direito e a cultura árabes. A não perder os próximos capítulos.
publicado por Fernando Martins às 11:31 | comentar | ver comentários (5) | partilhar

Risco e rentabilidade


A alta dos juros está afectar os bancos ibéricos que se vêem forçados a vender alguns dos créditos menos rentáveis. Vão-se concentrar nos créditos com maior rentabilidade esperada. Normalmente os com maior risco.
publicado por Miguel Noronha às 11:15 | comentar | partilhar

Como se esperava

Está encontrado o novo símbolo da oposição madeirense. O PS local acusa o PND de "sequestro político" por este não ter autorizado José Manuel Coelho a participar numa iniciativa. Está-se mesmo a ver onde isto vai acabar.

Significativamente, os "abrantes" foram grandes apreciadores do estilo e das acções do madeirense durante a campanha presidêncial. Reconhecem-se na pessoa e no estilo, depreendo.


ADENDA: "Fui aliciado pelo PS" - Deputado do PND diz que foi convidado por Trindade. Socialista não comenta
publicado por Miguel Noronha às 10:34 | comentar | partilhar

E na Tunísia...

publicado por Miguel Noronha às 10:22 | comentar | partilhar

Grande Finale (96)



Triumph des Willens, Leni Riefenstahl, 1935

publicado por Carlos Botelho às 00:00 | comentar | ver comentários (3) | partilhar
Domingo, 30.01.11

Drogas no Rato

O PS reuniu e concluiu:
1) O PS, que apoiou Alegre e não houve sujeira a que não tivesse recorrido para - sim, o PS mesmo - impedir a reeleição de Cavaco, não foi derrotado com a vitória de Cavaco; limitou-se a «não cumprir os seus objectivos»; de resto, presidenciais não são extrapoláveis para legislativas; mas,
2) O voto em Cavaco foi um voto na continuidade do Governo.

Psicadélico.
publicado por Jorge Costa às 19:29 | comentar | partilhar

Adenda: Vamos, pois, reestruturar?

Atentos leitores do Cachimbo chamam-me à atenção, relativamente ao post Vamos, Pois, Ser Racionais, para o facto de o elevado nível de endividamento externo ser o traço comum a Portugal, à Islândia e aos países bálticos como a Letónia, considerados. Parece-me, porém, que os níveis diferentes de endividamento público estabelecem uma diferença significativa. A transferência de responsabilidades do sector privado insolvente para o sector público é objectável por princípio: não devem ser os contribuintes a pagar os desmandos dos banqueiros e do sector privado em geral. O nível crítico de endividamento público torna algo que não é aceitável por razões primeiramente morais em algo inviável do ponto de vista estritamente económico-financeiro, reforçando a recomendação da reestruturação. Pura e simplesmente, o Estado português não só não deve, como não pode recapitalizar o sector privado em apuros, que, assim, falirá.
publicado por Jorge Costa às 18:31 | comentar | partilhar

Discos que giram ao domingo (15)


CATACOMBE - Kinetic
Ano: 2010 | Origem: Portugal | Género: post-rock



publicado por Alexandre Homem Cristo às 16:00 | comentar | ver comentários (2) | partilhar

Cachimbos

O Cachimbo de Magritte é um blogue de comentário político. Ocasionalmente, trata também de coisas sérias. Sabe que a realidade nem sempre é o que parece. Não tem uma ideologia e desconfia de ideologias. Prefere Burke à burqa e Aron aos arianos. Acredita que Portugal é uma teimosia viável e o 11 de Setembro uma vasta conspiração para Mário Soares aparecer na RTP. Não quer o poder, mas já está por tudo. Fuma-se devagar e, ao contrário do que diz o Estado, não provoca impotência.

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