Ontem, as caravanas dos dois principais partidos passaram por Braga.
E, antes de qualquer outro comentário, cumpre fazer uma desmistificação: Braga não é um feudo socialista, como muitos invocam confundindo a matriz eleitoral do concelho com as sucessivas vitórias do meu já quase ex-adversário local no plano autárquico. Bem pelo contrário, Braga é um concelho em que os resultados locais seguem com alguma proximidade os resultados nacionais, como bem o demonstraram as históricas vitórias de Cavaco Silva (nas Legislativas e Presidenciais) ou Paulo Rangel (nas Europeias de 2009).
Posto isto, o dia de ontem pode bem servir de exemplo para o que se vive no País.
De um lado, a máquina socialista de comunicação, com eventos feitos à medida das televisões, com o trabalho de mobilização adstrito às autarquias locais e concretizado exemplarmente.
Na mesma avenida em que eu e Mesquita Machado promovemos comícios com alguns milhares de pessoasnas últimas autárquicas, Sócrates montou um anfiteatro com pouco mais que 800 lugares sentados (inclusive na plateia) - por entre a parafernália de equipamentos multimédia que se observava nas imagens do comício da Praça do Giraldo, em Évora -, mas que as bandeiras e as câmaras estrategicamente colocadas servem para transformar numa multidão.
Mesmo para encher esses escassos lugares, quando não há recrutamento de imigrantes ou ofertas de bilhetes para atracções turísticas, recorre-se aos passeios das Juntas de Freguesia, com escalas previstas para o local do comício depois da oferta das visitas e dos almoços (ontem, especialmente centrados no São Bentinho, Penha, para onde convergiram autocarros de várias freguesias).
Mas "S. Pedro não esquece que a crise é do PS!" e Sócrates e os seus parcos apaniguados levaram com uma chuvada apenas comparável às críticas que vão receber no dia 6 de Junho, "quando for o momento para deixar cair Sócrates".
Até às 18 horas, brilhou um sol intenso em Braga, com temperaturas bem acima dos 30 graus, mas que eram bem superiores junto ao solo, por entre as muitas centenas (milhares?) que acompanharam Pedro Passos Coelho na arruada do PSD no centro da cidade.
Aqui, o único autocarro trazia algumas dezenas de apoiantes da JSD nacional, do grupo entusiasta que acompanha a volta do candidato.
Em Braga, porém, não fossem as vistosas t-shirts laranjas e mal se daria pelos jotinhas tal foi o "arrastão"/"tsunami" - as expressões são retiradas de órgãos noticiosos nacionais - que caracterizaram a iniciativa do PSD.
A destacar, a gente, a alegria, o entusiasmo, a vontade de cumprimentar Passos Coelho, as múltiplas mensagens de apoio, os apelos emocionados à consumação de uma viragem que tantos já percebem imprescindível para mudar o rumo do País, os gestos carinhosos de estímulo para os dias que faltam da campanha eleitoral.
A todos e a cada um, Passos Coelho não regateava uma palavra, um cumprimento, a vontade de registar as preocupações, a disponibilidade para explicar as ideias e mensagens mal percebidas. Mais do que disputar votos, Passos Coelho parece querer conquistar a confiança de cada um dos seus interlocutores, como que lamentando não poder dirigir-se a cada Português de forma directa e pessoal, de forma a partilhar o seu projecto para o País e a sua visão para o futuro de Portugal.
As camisas já seguem coladas aos corpos. Passos Coelho sobe a um pequeno palco e dirige uma curta saudação à enorme multidão que o acompanha. Ao lado, um grupo de crianças qua participa na Braga Romana assusta-se quando se vê rodeada pelo cortejo e algumas começam a chorar. Passos Coelho pede imediatamente desculpa apesar de não poder assumir responsabilidades pela situação. Dois ou três pais mostram-se indignados e dão o primeiro tema para as notícias sobre a iniciativa. O segundo será uma troca de "minmos" entre apoiantes do PS e PSD que se cruzam no final da arruada do PSD/início do comício do PS.
Nas reportagens do dia, esta adesão histórica, espontânea e genuína da população de Braga quase chega a ser criticada, destacando-se as "falhas da organização".
Pelo meio, ainda tempo para um simpatizante garantir que está prestes a concretizar um "sonho maior que o do Sá Carneiro": "Um Presidente, um Governo, uma Maioria, um Presidente da Câmara e um Presidente da Junta".
A um outro, Passos Coelho garante com simpatia: "O Ricardo já foi um excelente candidato mas vai ser um óptimo Presidente da Câmara".
Uma coisa de cada vez. Agora, Braga é laranja.
Daqui por dois anos, voltará o azul e branco das cores da cidade. Até porque aqui já construímos uma aliança sólida com o CDS em que, de parte a parte, sabemos bem qual é o verdadeiro inimigo a combater para podermos ter oportunidade de fazer mais pela nossa terra e pela nossa gente.