O sucesso económico da Coreia do Sul, o país que mais rápido se desenvolveu no planeta, está totalmente assente nos chaebols. Os chaebols são conglomerados de dezenas ou centenas de empresas que pertencem a famílias coreanas, agora na sua terceira geração (os mais conhecidos são a Samsung, Hyundai e LG mas há dezenas de outros). Estes monstros começaram a crescer nos anos 60 quando a ditadura militar estabeleceu um ambicioso plano de desenvolvimento para a Coreia e favoreceu um número restrito de empresas - via crédito e concessão de monopólios. Para o leitor ter uma ideia, os três maiores chaebols que acima referi controlam mais de 50% da economia coreana e cada um deles é do tamanho de toda a economia portuguesa.
O que determina o sucesso espectacular de alguns destes grupos? Já mencionei o acesso a crédito fácil (foi mais no princípio, eles agora arranjam dinheiro onde querem) e favorecimento no acesso ao mercado interno, ambos pela parte do governo. Mas há outros elementos, mais subtis e interessantes.
O mais relevante, talvez, seja o facto de toda a população activa da Coreia - ultra qualificada - desejar profundamente trabalhar para um destes grupos e estar disposta a fazer sacrifícios que já não se fazem no Ocidente há 50 anos (eu que o diga carago). Ou seja, estes grupos têm acesso a uma pool sensacional de engenheiros, físicos, matemáticos, economistas e gestores cujo o objectivo de vida é servir a empresa. E estes em troca têm um emprego para sempre e promoções garantidas até aos 50 anos (depois é mais difícil).
A outra característica de sucesso dos chaebols é o estilo militar de gestão, que torna a execução muitíssimo eficaz e a organização mais flexível para mudanças necessárias. Ninguém coloca em causa ordens vindas de cima, que são imediatamente executadas independentemente de fazerem sentido a quem está a executá-las (só esta sociedade profundamente Confuciana permite isto). Ou seja quando é vislumbrada uma oportunidade pelos "patrões" (um novo mercado ou produto por exemplo) a malta atira-se de cabeça e não fica meses a fazer análises de risco, medição do impacto na empresa, alocação de recursos etc. É executar e mais nada.
A última coisa que destaco é a estratégia de crescimento que estes grupos seguem. O sistema educacional na Coreia é famoso por produzir gente sem criatividade, mestres em memorizar e copiar. Os Chaebols acabam por ficar profundamente marcados por esta realidade. E por isso em vez de tentarem inovar e serem líderes nas áreas onde actuam, optam sempre por serem fast followers: seguem de muito perto os produtos da empresa líder no mercado, copiam, inovam em pequenas coisas e vendem a um preço mais baixo, mantendo a qualidade. Esta estratégia, que nos pode parecer um pouco de segunda, tem tido um enorme sucesso. Dificilmente se alterará: basta ver os putos que estão agora na escola para perceber que o essencial não está a mudar.
(nota: na imagem, os HQs da Samsung em Seul - Samsung Electronics, Samsung Life e Samsung Construction & Trading)