Domingo, 31.07.11

Primeiras impressões sobre o impasse em Washington

As notícias que chegam dos Estados Unidos é que ambos os partidos terão chegado a acordo para aumentar o limite do endividamento. Como sempre acreditei que fatalmente aconteceria. Ainda se acertam agulhas de parte a parte, mas o acordo, segundo o que é relatado, não deverá ficar longe disto: aumento do limite do endividamento até depois das eleições de 2012, cortes imediatos na ordem dos mil biliões, a criação de uma comissão para cortar 1,8 mil biliões até Novembro e nenhum aumento de impostos. Grande vitória dos republicanos? Not so fast. 

 

Apesar de isto ainda não ter terminado, parece-me que para a opinião pública haverá dois grandes perdedores: Barack Obama, que não demonstrou capacidade de liderança neste processo, e ainda viu o seu grande argumento, o aumento dos impostos para os mais ricos, ficar de fora do acordo final. Não por acaso, ontem Obama atingiu o nível mais baixo de popularidade na sua presidência, na sondagem da Gallup, com apenas 40 por cento. Mas há outro grande derrotado: o Tea Party, que emergiu neste processo aos olhos de muitos independentes como uma força radical e incapaz de celebrar compromissos, essenciais na arte da governação. Quando nomes como Allen West, Mike Pence ou Paul Ryan (quem conhece estes nomes saberá que são do mais conservador que o GOP tem) são atacados pela direita por serem demasiado "lefties", está tudo dito. Por outro lado, há aqui um aspecto positivo para o GOP: pela primeira vez o establisment e muita imprensa conservadora saiu a público para criticar este radicalismo. John McCain, Bill Kristol, o Wall Street Journal ou Bill O´Reilly foram alguns dos que criticaram violentamente o movimento. Isto é um sinal do que aí vem nas primárias republicanas do próximo ano, mas talvez seja um bom indicador contra o radicalismo protagonizado por Bachmann ou Palin. E, afinal de contas, na proposta de John Boehner que gerou tanta dificuldade para ser aprovada, apenas 22 congressistas votaram contra.

 

Diria que numa situação normal os republicanos seriam os grandes vencedores desta negociata. E até temos a ala esquerda do Partido Democrata verdadeiramente furiosa com os termos do acordo. O pior para o GOP é que toda esta confusão que o Tea Party incutiu nas negociações acaou por lhe retirar algum espaço de manobra. Até conquistaram praticamente tudo o que poderiam realmente almejar: não teremos aumento de impostos e haverá severos cortes na despesa. Por outro lado, mal ou bem, nenhum dos candidatos republicanos se imiscuiu nisto (a excepão terá sido Bachmann, que luta pelo apoio dos tea partiers), e até podem sair beneficiados, porque Obama ficou muito mal na fotografia e o trabalho deles passa sobretudo pela crítica ao Presidente. Mas esperemos até ao fim do Verão para verificar se este acordo impele transformações radicais na percepção que os americanos têm dos seus representantes.

 

Também no Era uma vez na América

publicado por Nuno Gouveia às 20:50 | comentar | ver comentários (4) | partilhar
Sábado, 30.07.11

Guerra total (Totaler Krieg...)

Esperar-se-ia diferente da NATO - mas não: bombardeou alvos não-militares. O resultado parece não ter sido o desejado: a tv líbia prosseguiu as suas transmissões. A seguir, bombardeará a própria estação, fazendo, objectivamente, dos seus funcionários alvos? Sim, Kadhafi faria isso sem pestanejar. A NATO ainda pestaneja?

Quando se tratou de auxiliar a limpeza de Sérvios do Kosovo por parte dos "Albaneses" (o pretexto era evitar a limpeza destes por aqueles, lembram-se?), a NATO também não terá pestanejado ao bombardear as instalações da televisão de Belgrado. Penso que, então, o argumento invocado foi o mesmo: o uso propagandístico da tv. Será isso, numa guerra que não se queira "total", suficiente para transformar uma televisão num alvo militar?... (Será preciso recordar quem, no séc. XX, usou - e aplicou - ostensivamente o conceito de "guerra total"?)

publicado por Carlos Botelho às 23:11 | comentar | ver comentários (4) | partilhar
Sexta-feira, 29.07.11

Esforço colossal

Parece que a JSD está contra a fusão do Instituto da Juventude com a Movijovem e o Instituto do Desporto.

Eu também estou contra.

No estado do país são organismos da administração pública que deveriam ser extintos. O contribuinte agradecia. Ou será que não perceberam que não há dinheiro.

publicado por Pedro Pestana Bastos às 23:55 | comentar | ver comentários (7) | partilhar

A propósito do chamado 'caso Bairrão'

O controlo da informação da RTP pelos sucessivos governos foi uma das razões para adiar a sua privatização. Pior ainda, a falta de independência da televisão pública face ao poder político contagiou outras antenas privadas. É no mínimo bizarro invocar o serviço público como argumento para manter um canal comercial que transmitiu 37 novelas latino-americanas nas últimas duas décadas – cerca de duas por ano.


Hoje no CM

publicado por Paulo Pinto Mascarenhas às 22:43 | partilhar

Cachimbos de lá

Fernando Vicente, Evelyn Waugh, 2009.

(Uma coisa é certa: ceci n´est pas o Francisco Mendes da Silva...)

publicado por Pedro Picoito às 19:34 | comentar | ver comentários (1) | partilhar

A propósito de transparência

Já está aqui disponível informação relevante, embora ainda incompleta, sobre as nomeações feitas pelos membros do Governo para os respectivos gabinetes, incluindo as funções a desempenhar e a remuneração mensal bruta. Faltam os dados biográficos dos nomeados (eu pelo menos não encontrei). Cumpre-se uma promessa eleitoral feita por Pedro Passos Coelho. Um sinal positivo a bem da transparência na alta administração do Estado.

publicado por Paulo Marcelo às 17:32 | comentar | ver comentários (4) | partilhar

Conselhos úteis para a diplomacia portuguesa

A visita aos estaleiros com pompa e circunstância, com o seu "amigo José Socrátes", foi uma acção de propaganda, nada mais. Além disso, o investimento diplomático em ditadores é uma má política. Como se vê com a situação de Khadhafi e com o isolamento cada vez maior de Chavez na América do Sul, os seus regimes são muito vulneráveis. No fim de tudo, o que ficou foi o aproveitamento de Caracas e de Tripoli para ganharem alguma credibilidade, através de uma aproximação a um Estado membro da União Europeia. É verdade que outros países europeus tiveram comportamentos semelhantes, mas isso não legitima a política portuguesa. Esperemos que se tenha aprendido a lição.

 

Portugal deve resistir não só à ilusão que poderia ser uma "ponte" entre o Ocidente e os regimes árabes e islâmicos mais radicais, como à tentação de criticar Israel para ter o apoio de muitos. Há valores mais importantes do que contas diplomáticas. Portugal deve seguir dois princípios em relação ao "grande Médio Oriente". Em primeiro lugar, concertar os seus interesses com os dos seus principais aliados, como os Estados Unidos e a Alemanha. Em segundo lugar, deve apostar no apoio à consolidação das reformas políticas no Norte de África.


João Marques Almeida, no Diário Económico

publicado por Nuno Gouveia às 16:11 | comentar | partilhar

Explosivo

Segundo dados do Instituto de Gestão do Crédito Público, no 1º semestre de 2011 a dívida pública aumento 20.618 milhões de euros. Um aumento de 14% cujo total é equivale aos dos 3-trimestres-3 anteriores. Só o mês de Junho a representa 40% do valor total. Parece que a contenção orçamental foi apenas uma fantasia dos nossos "queridos" ex-governantes que andaram a empurrar o mais que podia a assunção das dívidas por parte da administração central. A propósito do tema, ler os comentários de Tavares Moreira.

 

 

 

 

Nota: Também se torna interessante comparar a evolução da dívida com os periodos eleitorais

 

publicado por Miguel Noronha às 12:09 | partilhar

Sobre o "debt ceiling"

 

Para os mais desatentos, nesta altura, verifica-se um "braço de ferro" entre a administração Obama e o Cãmara dos Representantes (e mesmo dentro do Partigo Republicano) acerca do aumento do limite de endividamento autorizado ao governo federal (debt ceiling). O Professor Michael McConnel diz algo que me parece óbvio. A questão essêncial do debate está claramente descentrada do problema essêncial.

 

The debt ceiling is a different problem than the debt. Some observers seem to think that the nation’s fiscal difficulties are caused by the debt ceiling, and that if only Congress would increase the ceiling all would be well. This is a misconception. The debt ceiling issue presents a liquidity problem; the debt itself presents a solvency problem. Debt rating agencies would surely be concerned if the Treasury slipped up on an interest payment because of a cash crunch. But the longer-term, more difficult, and more important problem is the rising level of spending and debt, which limits the futures of our children and grandchildren, stifles economic growth today, and puts into question, for almost the first time since Alexander Hamilton, the ability of the nation to service the public debt. Whatever the resolution of the current debt ceiling controversy, it is imperative that Congress bring spending back down to levels consistent with our ability to pay.

 

E não me venham com o argumento que os EUA precisam de gastar (ainda) mais (quanto?) para sair da recessão.

publicado por Miguel Noronha às 11:24 | partilhar

É urgente negociar, mas Agosto é só para férias

A proposta de novo modelo de avaliação docente é hoje apresentada aos sindicatos. Nos últimos 15 dias, ouvimos por diversas ocasiões o líder sindical Mário Nogueira a exigir que este assunto, a sua raison d’être, fosse resolvido com a maior urgência, porque não era justo fazer os professores esperar. Afinal, depende por quem se espera. Num comunicado divulgado ontem, a FenProf já veio avisar que não se pode negociar em Agosto, “por se tratar de um período de férias para os docentes”. Exemplar.

publicado por Alexandre Homem Cristo às 10:48 | comentar | ver comentários (1) | partilhar

Então?

Apesar de não ter voltado a pegar no assunto, espero que o PS continue empenhado na realização do inquérito às actividades dos serviços de informação. Sinceramente.

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publicado por Miguel Noronha às 09:54 | partilhar
Quinta-feira, 28.07.11

Tão diferentes e tão semelhantes

Nancy Pelosi e Michele Bachmann são muito diferentes na ideologia que defendem. Mas são bem semelhantes no radicalismo político professam. A primeira chegou a Speaker, com os resultados que se conhecem entre 2006 e 2010. Espera-se que a segunda nunca passe de uma mera congressista.

 

Leader Pelosi is trying to “save world from Republican budget”

 

Bachmann: If Obama Uses 14th Amendment He's A "Dictator"

publicado por Nuno Gouveia às 23:58 | comentar | ver comentários (3) | partilhar

Ainda se lembram do caso DSK?

Este caso teve, até ao momento, dois grandes momentos mediáticos, que prenderam a atenção da opinião pública mundial. Primeiro a cobertura circense que envolveu a prisão de DSK e mais recentemente quando os jornais americanos revelaram que o caso poderia estar prestes a terminar. Neste momento estamos a assistir a uma terceira fase, menos espalhafatosa do que as duas anteriores, mas com revelações interessantes sobre o caso e uma defesa pública por parte da empregada guineense que acusou a antiga estrela da esquerda francesa.

 

Uma sequência de acontecimentos que revela que estamos perante uma verdadeira batalha pela opinião pública. Os factos dados como provados na primeira fase foram desmentidos na segunda, quando surgiu em força a resposta da equipa de Strauss Khan. Nessa fase, alguns mais eufóricos até já davam como possível uma candidatura presidencial em 2012. Depois foram sendo revelados mais casos antigos de DSK e histórias pouco abonatórios sobre o seu carácter. Hoje foi noticiado que afinal era mentira que havia provas que a empregada tivesse sido apanhada ao telefone a falar em ganhar dinheiro com o caso, algo que foi dado como certo na ofensiva mediática lançada por DSK. Aliás, essas conversas que foram relatadas na imprensa eram falsas e contraditórias com o que a guineense realmente disse ao telefone.

 

Assistimos ao lançamento do jogo, ao ataque de DSK e ao contra-ataque da empregada guineense. Não é dificil verificar quem detém mais poder de fogo nesta guerra, mas o mesmo não quer dizer que eventualmente a razão não esteja do lado da força. O que poderá fazer uma pobre emigrante contra um todo poderoso como DSK, se realmente não estiver com a verdade do seu lado? Mas haverá nos bastidores outros jogadores? O que é interessante de observar neste caso são as jogadas dos diversos intervenientes pela conquista da razão na praça pública, como se o que interessasse não fosse a verdade. Na França e, em parte, na Europa, já sabemos quem está a ganhar. Pelo menos a atender pela forma como tem sido relatado o caso. Nos EUA, DSK começou por ser goleado, mas o seu contra-ataque valeu-lhe alguns pontos. No entanto, penso que ainda estará a perder por muitos.

 

A justiça, o mais importante neste imbróglio todo, ficará para depois. Se DSK violou? Só os mais incautos conseguirão responder a essa pergunta. Deixemos a justiça funcionar.

publicado por Nuno Gouveia às 19:18 | comentar | ver comentários (5) | partilhar

Para acabar de vez com a promiscuidade entre empresas e estado

 

A propósito do pouco saudável "intercâmbio" de pessoal entre reguladores e regulados que pode resultar na caputra do regulador por interesses privados (referida pelo Nuno Garoupa a propósito das nomeações para a CGD) escreve Steven Horowitz

 

"Despite the hopes of those who think this can be solved (...) by better ethics laws or hiring "better" regulators, the revolving door that leads to capture is not a "bug" but a feature - the private sector benefits from being regulated and will always push to be at the table and influence the process.

 

The problem is not regulatory or ethical, but institutional. If you want to change the pattern of outcomes, change the rules. The only possible way to end the corporate control over the state is to reduce the state's sphere of influence down to as little as possible and ideally nothing. As long as there's the dead animal of the state (really: the citizenry) to feed on, the vultures of the private sector will keep showing up to get their share."

publicado por Miguel Noronha às 14:46 | partilhar

A passagem do tempo pelas nossas vidas

 
publicado por Paulo Marcelo às 14:40 | comentar | ver comentários (4) | partilhar

Circenses

Estado investe mais 4,3% no apoio aos Jogos [Olímpicos] de Londres

 

Não sei o que me faz mais confusão. Se a insistência em classificarem como "investimento" algo que claramente é despesa se a crescente nacionalização e estatização do desporto competitivo. Claramente o papel do estado precisa ser revisto e diminuido. Com urgência.

publicado por Miguel Noronha às 10:40 | partilhar

Compreender a mentalidade socialista

 

Sempre que na imprensa se elabora um ranking dos mais ricos podemos contar com a inevitável reacção da extrema-esquerda equiparando a riqueza a roubo e exigindo a sua confiscação em nome de um estranho conceito de democracia. Esta aversão à riquiza ajuda a compreender as políticas defendidas (e infelizmente implementadas) por socialistas e comunistas. Em muitos casos nem chega a ser necessário criminalizar o enriquecimento e prender os mais abastados.  O governo encarrega-se  de promover a a destruição de riqueza e o empobrecimento generalizado da população. Ficamos todo iguais. Pobrezinhos mais iguais.

publicado por Miguel Noronha às 09:29 | partilhar

Nojo

Este artigo no Correio da Manhã, de Francisco J. Gonçalves. O ódio é uma coisa muito feia.

publicado por Nuno Gouveia às 00:09 | partilhar
Quarta-feira, 27.07.11

Pública e dependente

Felizmente há quem na AR fuja ao dicurso demagócio e igorante sobre as agências de notação financeira:

 

"Adolfo Mesquita Nunes (CDS-PP) argumentou que “quem atribui crédito às agências de rating são os investidores e podemos criar as agências de rating que quisermos que, se os mercados não as entenderem como credíveis” de nada valerá (...) [O] deputado dos populares duvidou que uma agência de rating pública tivesse “o critério justo e certo”. “É uma visão cândida (*) a de pensar que uma agência pública terá um funcionamento diferente”, sintetizou."

 

De sublinhar a proposta do comunista Honório Novo que defende que “as avaliações de risco das empresas e do mercado do crédito devia caber a instituições públicas independentes”. Parece que nem o recente exemplo das nomeações políticas na CGD lhe recorda que uma agência pública jamais será independente. Ou credível.

 

(*) O jornalista erradamente escreveu "É uma visão mecânica"

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publicado por Miguel Noronha às 16:20 | partilhar

Já deviamos ter começado ontem

 

Ficámos ontem a saber que o colossal desvio detectado por este governo na execução do OE se deve (pelo menos em parte) à suborçamentação da verba para pagamento de salários. Temos então que o imposto extraordinário servirá para cobrir despesa corrente do estado e não uma qualquer necessidade extraordinária. Não resta mesmo outra hipótese. O governo terá mesmo de iniciar, e quanto antes, um programa de redução estrutural e permanente da despesa pública. E continuo sem perceber como se irá alcançar uma poupança significativa que não passe por cortes no funcionários públicos.

publicado por Miguel Noronha às 15:32 | partilhar

Cachimbos

O Cachimbo de Magritte é um blogue de comentário político. Ocasionalmente, trata também de coisas sérias. Sabe que a realidade nem sempre é o que parece. Não tem uma ideologia e desconfia de ideologias. Prefere Burke à burqa e Aron aos arianos. Acredita que Portugal é uma teimosia viável e o 11 de Setembro uma vasta conspiração para Mário Soares aparecer na RTP. Não quer o poder, mas já está por tudo. Fuma-se devagar e, ao contrário do que diz o Estado, não provoca impotência.

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