Quarta-feira, 30.11.11

I loveS you Porgy

publicado por Tiago Mendes às 23:01 | comentar | ver comentários (1) | partilhar

E os Domingos? Quanto nos custam os Domingos?...

Mr. Ebenezer Scrooge
publicado por Carlos Botelho às 11:00 | comentar | ver comentários (6) | partilhar

Preparações para o fim do euro

O Financial Times tem hoje um artigo sobre os planos de contingência que empresas internacionais estão a fazer sobre o possível fim do euro, de “acordo com entrevistas a dezenas de administradores de multinacionais”.

 

Uma das empresas contactadas foi justamente a “nossa” AutoEuropa, que analisou o problema e chegou à conclusão que as consequências não seriam muito negativas, por serem basicamente exportadores e estarem integradas num grupo mundial.

 

De facto, especulo eu, haveria uma consequência claramente positiva que seria a desvalorização do valor acrescentado da AutoEuropa, que constituiria um forte aumento de competitividade. Haveria também uma consequência negativa, de subida dos custos de financiamento, que poderia ser em alguma medida mitigada, se parte deste financiamento fosse obtido pela empresa-mãe na Alemanha.

 

Mas o mais importante a reter é que não é só o mercado obrigacionista e um número crescente de analistas que antecipa o fim do euro: neste momento há cada vez mais empresas que se estão a preparar para esse cenário de forma muito concreta. Por exemplo, a Siemens criou o seu próprio banco para poder depositar os seus fundos directamente no BCE. 

publicado por Pedro Braz Teixeira às 08:13 | comentar | ver comentários (17) | partilhar

Uma batalha nuclear

 

A energia é cada vez mais um tema de contenda na disputa eleitoral. E Portugal tem prova disso, Sócrates e o PS foram os primeiros a explorar o tema com sucesso eleitoral (Foz Côa, renováveis).

 

Depois dos Estados Unidos (lembram-se do famoso slogan republicano "drill, baby, drill"), da Alemanha, é agora a vez da França, as próximas eleições presidenciais também se jogam neste tabuleiro – com o PS francês a fazer uma aliança pré-eleitoral com os verdes (Europe Ecologie Les Vertes) para o encerramento de 24 das 58 centrais nucleares francesas até 2025, e a suspensão da construção de mais centrais nucleares após Flamanville. O UMP responde acusando o PS de demagogia, e de querer destruir a indústria nuclear francesa, de não ter consciência do impacto social e económico, de uma decisão destas. Esta pode ser uma das batalhas nucleares das próximas eleições presidenciais em França. E lá, se a coisa vira, temos o mais sério e significativo revés (talvez fatal), da indústria nuclear europeia.

 

Neste mesmo tabuleiro, Sarkozy também não se inibe de jogar as suas cartadas eleitorais, e por decreto, resolveu congelar o preço do gás até às eleições. Só que teve azar, por decisão do Supremo Tribunal Administrativo, após recurso dos comercializadores, o decreto foi suspenso. A batalha continua.

publicado por Victor Tavares Morais às 07:55 | comentar | ver comentários (4) | partilhar
Terça-feira, 29.11.11

O Feriado explicado às crianças

A eliminação dos feriados do 5 de Outubro e do 1º de Dezembro é uma pouca-vergonha política e cultural. [Sim, riam.]

 

 Se a Igreja entra na barganha de "ter feriados para a troca" e aceita suprimir o do Corpus Christi e o da Assunção de Maria, é lá com ela. E se os Católicos se sentem representados nessa opção, é outra história...

A apregoada "indiferença" e/ou "ignorância" indígenas, para além de não serem geograficamente homogéneas, são irrelevantes, porque o critério para o sentido de um feriado não é estatístico. (A celebração é outra coisa.)

Acabar com o Dia da Implantação da República já é extraordinário. Aquela, para lá de todas as birras monárquicas, não deixa de ser uma data verdadeiramente patriótica [Sim, continuem rindo.]: em grande medida, é aos Republicanos que devemos a concepção politicamente assumida de Portugal como objecto de patriotismo. Salazar teve a inteligência de incorporar a ideia, não de a deitar fora. Aquelas birras monárquicas em relação ao 5 de Outubro são formalmente equivalentes à embirração que uns putos que por aí andam experimentam pelo 25 de Abril - esses, por impotência histórica e temor supersticioso, coitados, dizem apenas "25 do A." (Ah! quanto não dariam eles, na sua fixação infantil, pela supressão daquele dia entre o 24 e o 26...). Estes, por sua vez, são também formalmente equivalentes àquela aversão imbecil ateia que puxa da pistola de cada vez que avista duas rectas cruzadas a 90º e que sonha com a eliminação purificadora de todos os feriados religiosos, atingindo-se assim o asséptico Paraíso dos laicos. Como se vê, nesta história, há palermices para todos os gostos.

Mas, talvez mais extraordinário ainda, realmente inconcebível é a eliminação do 1º de Dezembro. Ainda se lembram do que a data representa?... Não é apenas uma mudança de regime... Trata-se de algo mais fundamental. E passam pela possibilidade da coisa como cão por vinha vindimada?...

É claro que há quem defenda a coisa sem sequer pestanejar, quem não veja aqui um problema - mas esses, já se sabe, seriam capazes de vender a própria mãe. (A questão está somente na quantia a receber.) Só mesmo uma curteza de vistas deprimente pode ver num feriado (para mais, naqueles) uma espécie de institucionalização da preguiça ou coisa que o valha. É mesmo de quem não alcança que um feriado constitui uma desaceleração, ou mesmo uma paragem do tempo quotidiano. Essa paragem não corresponde a uma mera coloração diferenciada do mesmo tempo. Corresponde a uma verdadeira alteração do tempo - irrompe outro tempo. Por isso, suspende-se o trabalho (a nossa condição "natural" desde a Queda adâmica), põe-se como que entre parênteses o sofrimento do labor quotidiano. E pode acontecer qualquer coisa como uma "festa originária". Ora, acontece, meus queridos, que essas "festas" não são descartáveis. São constitutivas.

publicado por Carlos Botelho às 23:25 | comentar | ver comentários (14) | partilhar

Parafraseando

«(...) E então sentimos que apesar dessas perdas não estamos mais ou menos sós, que o nosso estar no mundo é provisório apenas na sua aparência e que o mundo que vamos construindo requer constante renovação, estando sempre, de um ou de outro modo, sempre em perfeito equilíbrio, mesmo que não o alcancemos em cada momento - e que por isso (por definição) nunca estamos sós. E então relembramos que a sua significação não é nem mais nem menos que a que lhe quisermos e conseguirmos dar todos os dias, um dia de cada vez. A aceitação dessa capacidade e dessa responsabilidade é o primeiro passo para encararmos de frente o maior desafio de cada passagem que por cá fazemos.»

 

Adaptado daqui.

publicado por Tiago Mendes às 14:33 | comentar | partilhar

We scare because we care

 

 

Começou ontem em Durban a conferência da ONU para as Alterações Climáticas, e ao contrário do que se passa a Ocidente, a Oriente não há grande consideração por estratégias tidas como mais adequadas para a ilustração de jovens infantes.

 

Para benefício dos mais pobres e das gerações futuras, era muito bom que algumas das propostas, mais simples e realistas, que estão em cima da mesa tivessem um significativo avanço: financiamento para a gestão das florestas; mecanismos de apoio e adaptação às alterações climáticas; e transferência de tecnologia para os países mais pobres.

publicado por Victor Tavares Morais às 08:07 | comentar | ver comentários (6) | partilhar
Segunda-feira, 28.11.11

A ler

Claramente, a Zona Euro não pode continuar a agir como tem feito até agora. Se a Zona Euro não caminhar no sentido de uma maior integração política, económica e orçamental (num caminho consistente com o restabelecimento do crescimento, competitividade e sustentabilidade da dívida no curto prazo, necessário para solucionar o problema da insustentabilidade da dívida e para reduzir os crónicos défices orçamentais e externos), a deflação recessiva irá certamente conduzir a um desmoronamento desordenado.

Sendo Itália demasiado grande para falir, demasiado grande para salvar e agora no ponto de não retorno, já começou o fim do jogo na Zona Euro. Primeiro virão as reestruturações sequenciais e coercivas da dívida e em seguida virão as saídas da união monetária, o que acabará por levar à desintegração da Zona Euro.

publicado por Tiago Mendes às 22:11 | comentar | ver comentários (4) | partilhar

In the 90's (XXIII)

publicado por Nuno Gouveia às 20:54 | comentar | partilhar

Acordar a Alemanha e ressuscitar a Europa

1. Parece que ainda ninguém lembrou a Alemanha de que ela no passado também incumpriu os critérios do défice, sem ter sido sancionada por isso. Na altura este incumprimento foi "permitido", à Alemanha como à França - para destacar os dois grandes do actual Euro - um erro e um precendente lamentável. 

 

Quando há regras é para serem cumpridas - um aluno que precisa de 10.0 valores para passar numa disciplina deverá chumbar se tiver 9.9, period. Qualquer regra que encerre um limite quantificado implica que se este for atingido, a sanção deverá ser accionada devendo nós ser cegos às circunstâncias - sobretudo quando a falta de cegueira conduza a um risco acrescido de futuros incumprimentos.

 

Se abrimos uma excepção hoje, por que razão não abriremos outra amanhã?

 

Há um exemplo com que costumo enfadar amigos sobre a diferença entre a forma de respeitar as regras em Portugal e em Inglaterra. Ainda no outro dia o confirmei, viajave eu no elétrico 28. Em Portugal, é normal um motorista da Carris abrir a porta fora das paragens a um qualquer cidadão esbaforido a pedir que lhe abram a porta. Fá-lo "simpaticamente", "humanamente", como quem abre uma excepção a um amigo, violando uma regra por ter, momentaneamente,  o poder de o fazer sem incorrer em sanção. Em Inglaterra isto não acontece. Nunca. Não se tratará de "falta de humanismo" dos condutores ingleses, ou de insensibilidade dos administradores da Carris lá do sítio, mas de um entendimento simples de que se todos cumprirmos as regras, em média, e no longo prazo todos ficaremos a ganhar. E isso impede toda e qualquer excepção.

 

Em Inglaterra, da "ameaça" credível que nenhum condutor alguma vez abrirá a porta a um transeunte que o peça decorrem várias coisas. Primeiro, raramente se vê alguém a pedir que lhe abram a porta - o procurar a excepção, o incumprimento", ainda que de forma consciente ou, se consciente, não maliciosa, é simplesmente eliminado, porque se percebe não ser eficaz. Segundo, quando isso acontece, o condutor nunca se vira para o cidadão, nem lhe dá troco - quem tem poder ignora pedidos de excepção às regras instituídas, e fá-lo sem fulanizar ou particularizar o pedido. Terceiro - e em consequência das duas anteriores -, os ingleses "precavêem-se" face à impossibilidade de incumprir as regras: se sabem que o autocarro chega às 10h42 e que se chegarem atrasados o perderão, estão na paragem às 10h39 (ou 10h41 se houver sincronia suiça).

 

O ponto é que as excepções introduzem um ruído que não é só mau em si mesmo - em cada situação, no imediato, no curto prazo -, como tem tendência a reproduzir-se e, como tal, a tornar os efeitos a longo prazo ainda mais perniciosos do que no curto prazo. A falta de pontualidade dos portugueses quando se marcam reuniões é disso um exemplo gritante. Mas o ponto é mais vasto: se aceitamos a necessidade das regras - como a regra do défice - temos de aceitar haver um limite acima do qual terá de haver sanções; e, havendo lugar a sanções, elas têm de ter efeito de forma automática, sem casualizações ou personalizações (o condutor inglês não tem nada contra o cidadão, novo ou velho, branco ou negro, que pede que ele lhe abra a porta, desinformado sobre a realidade do país.

 

A sanção automática, descontextualizada, de incumprimentos aos futuros critérios de disciplina financeira, terá de fazer parte do novo entre os países do Euro. Terá de ser "automática" como era automática a "Doomsday Machine" do Dr. Strangelove. De outra forma não será credível - os países continuarão a achar que podem ter menos "folga" que o desejável (e assim dar mais subsídios, etc) na esperança de que o condutor abra mais uma vez a porta fora da paragem onde é suposto os cidadãos se apearem.

 

2. A sobrevivência da Europa passa por duas coisas: que o BCE aceite a necessidade de salvar a Europa, monetizando parte da dívida; que os países devedores (mas de forma mais geral qualquer país que se queira manter no grupo) aceitem perda de soberania a nível de decisões orçamentais. Se quisermos ser muito concretos, que aceitem ter um super-ministro das Finanças, ou, talvez mais rigoroso, um "super-tesoureiro". Durão Barroso não foi, infelizmente, suficientemente claro e preferiu dar pouca, senão nula importância ao segundo aspecto, que é fundamental para que o primeiro seja levado a cabo.

 

Se o BCE não intervir rapidamente - a "intervenção" suficiente é que seja declarada a disponibilidade para comprar dívida soberana, a troco de um maior controlo financeiro no futuro por entidades para-nacionais. Não é preciso reescrever já amanhã a forma exacta como essa perda de soberania se dará, mas é preciso declarar essa disponibilidade com urgência, porque isso, mais do que afastar o "muro" do actual camião desgovernado, sem travões e carregado de pesado lixo, na realidade garante que o muro estará sempre a uma distância mínima de segurança do camião desgovernado - mais ainda, de qualquer camião que se desgoverne. Um "muro em movimento" - a garantia de que nunca bateremos no muro, e que desarmará o clima de especulação (legítimo e racional, face ao que vemos) em torno de possíveis defaults de países europeus e de forma mais vasta do fim do euro.

 

A discussão sobre os perigos de inflação ficam para outro tempo - desde que a efectiva perda de soberania dos países para entidades para-nacionais seja garantida, não parece haver razão para especular sobre hiper-inflação, risco moral descontrolado e outros cenários catastróficos.

publicado por Tiago Mendes às 15:05 | comentar | ver comentários (36) | partilhar

Da série "Vale a pena ler"

No picnic for anyone na The Economist.

publicado por Paulo Marcelo às 12:31 | comentar | partilhar
Domingo, 27.11.11

Fado: "Património Imaterial da Humanidade"

publicado por Joana Alarcão às 15:18 | comentar | ver comentários (2) | partilhar
Sábado, 26.11.11

"Puramente posicional"

"(...)

Estamos num tempo de não-pensamento, mas de obediência e ordem (...). Como o debate escasseia e é puramente posicional - quem não é por nós é contra nós, ou se é da situação ou se é da oposição, ou se é do Sócrates ou do Passos Coelho -, tudo é simples, tudo é a preto e branco e que ninguém pie. E depois há toda uma violência verbal incontida que jorra logo por todo o lado, quando aparece qualquer dissenso, qualquer objecção e dúvida. (...) O não-pensamento acompanha muitas vezes a raiva, vem nos livros para quem os costuma ler, esse hábito demasiado subversivo em tempos de miséria intelectual."

 

José Pacheco Pereira, no Público de hoje.

publicado por Carlos Botelho às 23:16 | comentar | ver comentários (12) | partilhar

O Cairo nos Anos 90

 

 

Em 2002, quando o escritor egípcio Alaa El Aswany publicou o livro “ Os Pequenos Mundos do Edífico Yacoubian “estava longe de imaginar como estaria hoje o Egipto. E no entanto, o romance ilustra a decadência e o mal-estar da sociedade egípcia durante o regime de Mubarak e lança o desafio:  “ Começa por ti Abduh, aplica-te e educa-te, é o primeiro passo para conseguires os teus direitos”.  


Yacoubian  é um livro escrito na primeira pessoa, sobre as vidas dos que habitam o prédio onde o autor também viveu. Histórias que revelam a arbitrariedade do regime, os esquemas, a corrupção e a força do exército tido como garante de uma sociedade que se quer secular e que com o passar do tempo passa a ter agenda própria, ao sabor de favores e esquemas nublosos.


Neste livro conhecemos Hagg Muhammad Azzam, o engraxador de sapatos que se torna num grande empresário e com as suas ligações ao narcotráfico conquista um lugar de deputado no Parlamento Egípcio, ou Taha El Shazli o estudante promissor que quer entrar na Academia de Polícia e é chumbado por ser filho do porteiro do edifício.

 

O livro esteve envolto em polémica ao denunciar abertamente os esquemas, a violência e o fundamentalismo da cidade do Cairo. Apesar de algumas personagens serem estereotipadas, um tanto previsíveis, Yacoubian foi muito bem recebido pelo público e tornou-se rapidamente um best seller.  Em 2006 foi adaptado para o cinema pelo realizador Marwan Hamed e após ter sido editado pela censura, passou a ser uma referência.


publicado por Joana Alarcão às 17:34 | comentar | partilhar

Portugal, 35 anos depois

Falência, Futebol e o Fado, claro. Apesar de tudo, preferia Fátima.
publicado por Filipe Anacoreta Correia às 11:33 | comentar | ver comentários (5) | partilhar

Montserrat Figueras

 

Canta Montserrat Figueras.

 

POR QUÉ LLORAX BLANCA NIÑA

 

Por qué llorax blanca niña,

Por qué llorax blanca flor?

- Lloro por vos cavallero,

Que vos vax e me dexáx.

Me dexáx niña e muchacha,

Chica e de poca edad.

Tengo niños chiquiticos,

Lloran e demandan pan.

Si demandan al su padre,

Qué repuesta les vo a dar?

Metió la mano en su pecho,

Cien dovlones le fue a dar.

Esto para qué m'abasta,

Para vino o para pan?

Si esto no vos abasta,

Ya tenéx d'onde tomar.

Venderéx viñas y campos,

Media parte de la civdad.

Venderéx viñas y campos,

De la parte de la mar.

Vos asperaréx a los siete,

Si no, a los ocho vos cazáx.

Tomaréx un mancevico,

Que paresca tal y cual.

Que se vista las mis ropas,

Sin sudar y sin manchar.

Esto que sintió su madre,

Maldición le fue a echar.

"Todas las naves del mundo,

Vayan y bolten con paz.

Y la nave del mi hijo,

Vaya y no abolte jamás."

Pasó tiempo e vino tiempo,

Descariño le fue a dar.

Asentada en la ventana,

La que da para la mar.

Vido venir navezica,

Navegando por la mar.

Así biva el Capitán,

Que me diga la verdad.

Si veriáx al mi hijo,

Al mi hijo caronal?

Ya lo vide a su hijo,

Al su hijo caronal.

Echado en aquellos campos,

La tierra tenía por cama,

Y el cielo por cuvierta.

Tres buracos él tenía,

Por el uno le entra el aire,

Por el otro le entra el sol.

Y por el mas chico de ellos,

Le entra sale el lunar.

Esto que sintio su madre,

A la mar se fue a echar.

No vós echéx la mi madre,

Que yo so tu hijo caronal.

Ya se bezan y se abrasan,

Ya se van a paséar.

 

[Por qué llorax blanca niña, um romance sefardita de Sarajevo, do séc. XVI, já influenciado pela poesia narrativa dos Balcãs. Montserrat Figueras - canto, Pedro Memelsdorff - flauta, Andrew Lawrence-King - arpa doppia, Jordi Savall - viola, Pedro Estevan - percussão. De um CD duplo de 1999, Diáspora Sefardí, do Hespèrion XXI, com Montserrat Figueras. Quando, ontem, me contaram do falecimento da soprano, foi desta interpretação que me recordei.]

publicado por Carlos Botelho às 01:59 | comentar | ver comentários (1) | partilhar

34 mil milhões é quase 45% de 78 mil milhões, embora a taxa de juro seja de 5% - e esta, hein?

O PCP hoje conseguiu por vários jornalistas a dizer que vamos pagar 34 mil milhões de juros pelo empréstimo de 78 mil milhões da Troika. Importa dizer qual o prazo de amortização, e qual a taxa de juro anual ? Não! Com a colaboração (supõe-se que tácita) de jornalistas ignorantes (não há outra palavra), passa-se alegremente a mensagem de que a Troika é usurpadora, dado o montante total de juros eventualmente pagos ser muito elevado...

 

Mas todos sabemos que a taxa de juro anual é de aproximadamente 5%.

 

Para um empréstimo de 78 mil milhões, ao fim do primeiro ano pagaremos 3,9 mil milhões de juros.. A não ser que amortizemos 100% do empréstimo ao fim desse ano, no segundo ano teremos de pagar juros novamente, sobre o capital em dívida, é natural... Afinal quem nos emprestou ainda não viu o seu capital devolvido e sobre o que tem a receber precisa de uma rendibilidade mínima que permita cobrir aquilo de que prescindiu para nos emprestar dinheiro...

 

Por exemplo, se amortizássemos 4 mil milhões, no segundo ano teríamos de pagar 5% de juros sobre 74 mil milhões, ou seja 3,7 mil milhões... E assim sucessivamente... Vemos que ao fim de apenas dois anos já pagámos 7,6 mil milhões de juros, quase 10% do capital inicial! Não é difícil que num empréstimo de 10, 15 ou 20 anos, paguemos, no final, um montante acumulado de juros de 40-50%. Acontece que esse montante acumulado de juros se refere a pagamentos em vários anos, sendo que o valor do dinheiro muda com o tempo... 10 mil milhões pagos hoje ou pagos daqui a 5 anos têm um valor bem diferente... Também sabemos que quanto menores as amortizações iniciais, maiores os juros totais pagos no final do período, porque o capital em dívida diminui de forma mais lenta, e portanto os juros anuais incidem sobre uma base maior...

 

Mas nada disto pode ser novo para quem tenha uma hipoteca (parece que todos temos) e quem saiba o B-A-B mais básico sobre o valor intertemporal do dinheiro. Mesmo assim os 34 mil milhões são anunciados pelos jornalistas como se a proporção destes face ao empréstimo contraído fosse um sinal de usura e "agiotagem" da Troika. Os comunistas não merecem o Campo Pequeno, mas uma escolinha convenhamos que não lhes fazia mal.

 

PS: ler ainda a nossa Maria João, e outros tantos espantos.

publicado por Tiago Mendes às 00:52 | comentar | ver comentários (30) | partilhar
Sexta-feira, 25.11.11

Heróis da terra

João Bonifácio, um dos melhores cronistas da pop portuguesa em actividade nos jornais, recorda hoje no ipsilon os trinta anos dos Heróis do Mar. Nunca fui grande fã do grupo, apesar de ter cantado muitas vezes o "Só gosto de ti" (todos temos os nossos momentos embaraçosos). Pior ainda, ensinei a coisa aos meus filhos e berramo-la de vez em quando em viagem, para vergonha da digníssima senhora que toma conta de nós (e que também tem os seus momentos embaraçosos, por culpa alheia e da fidelidade matrimonial na alegria e na desgraça). Imaginem a cena: uma Peugeot 307 cheia de putos e um quarentão decadente a gritar "AFINAL VALE A PEEEEENA... NÃO PENSAR EM MAIS NINGUÉÉÉÉÉÉÉÉÉEM...", etc., enquanto a digníssima senhora tenta convencer quem nos ultrapassa, por meio de gestos, que não foi raptada por um bando de anões loucos chefiados por um ogre. Um horror liliputiano que talvez explique a súbita vontade de emigrar para a Arábia Saudita. Sozinha.
Tirando os momentos embraçosos, portanto, nunca fui um devoto, nunca me cativou muito aquela mistura de sintetizadores e saudosismo, nunca tive paciência para o famoso debate sobre se seriam ou não de direita. Era boa música e chegava. E também um conceito, uma estética total, uma narrativa coerente das letras aos adereços. Algo de novo entre nós. Com a sua originalíssima fusão de referências, eles eram a primeira banda pós-moderna portuguesa. Até aí, a música lusitana tinha sido dominada pelo irredentismo da canção de intervenção, com um linha secundária que ia dar aos Trovante, a que se seguira a hegemonia igualmente sólida do rock urbano dos UHF, GNR, Xutos e Pontapés e afins. Os Heróis do Mar eram outra coisa, não necessariamente melhor, certamente diferente, em grande parte graças a um encenador de génio chamado Pedro Ayres Magalhães.
Talvez por isso, como nota o realizador Edgar Pêra no supracitado artigo, o projecto Heróis do Mar "passou de eléctrico a acústico e internacionalizou-se sob o nome de Madredeus". O sucesso de Teresa Salgueiro e companhia deve muito a uma certa ideia de portugalidade nascida na anterior experiência de Magalhães. Ironicamente, foi o folclore nacionalista dos Heróis do Mar, na altura execrado pelos corifeus do progresso, que deu a muita gente lá fora a imagem do Portugal moderno antes de Figo e Cristiano Ronaldo. Sic transit gloria mundi e tal.  
publicado por Pedro Picoito às 22:31 | comentar | ver comentários (5) | partilhar

Cachimbos de lá

Bert Thomas, "Fag" Day (cartaz de guerra inglês), 1917
publicado por Pedro Picoito às 19:13 | comentar | ver comentários (2) | partilhar

Contas em família (4)

Não deixa de ser curioso que em Portugal, quando se fala do endividamento das famílias e da insustentabilidade de certo tipo de estruturas financeiras - créditos incomportáveis que originam mais créditos só para pagar juros dos créditos anteriormente contraídos, num conhecido efeito bola de neve -, é comum referir "os encargos com os empréstimos", mas quando se fala de finanças públicas é raríssimo falar nos custos com a dívida pública.

 

Em particular, João Proença e Carvalho da Silva parecem particularmente insensíveis, ou pelo menos alheios a esta questão.

 

Os encargos com a dívida podem subir via dois efeitos parciais: primeiro, quando, assumindo um stock de dívida constante, as novas emissões de dívida são feitas a uma taxa de juro superior à taxa das emissões vencidas; segundo, quando o stock de dívida cresce, por efeito de a nova dívida emitida ser superio à dívida vencida. Naturalmente, ambos os efeitos podem acontecer conjuntamente.

 

O problema de encargos maiores com a dívida é simples: ou se reduzem outras despesas do Estado - salários, subsídios, gastos com o SNS, etc -, de modo a manter o défice controlado; ou se aceita aumentar o défice, emitindo nova dívida. Emitir nova dívida significa aumentar, passo a passo, a insustentabilidade das finanças públicas, e o risco de eventual incumprimento, com consequências catastróficas para o país. Não aumentar a dívida implica diminuir gastos do Estado.

 

Os mandarins Proença e da Silva, que não querem que o Estado diminua as suas despesas, à implicação que tal tem na evolução da dívida, seus encargos futuros, etc, dizem nada. E isto não pode acontecer. Os jornalistas, os interlocutores, têm de perguntar: mas o senhor tem noção do impacto que o crescimento do serviço da dívida tem? O senhor não se preocupa com o efeito de bola de neve e a roubo que tal representa às gerações futuras?

 

É urgente trazer para a praça pública a discussão sobre os encargos da dívida

publicado por Tiago Mendes às 16:07 | comentar | ver comentários (2) | partilhar

Cachimbos

O Cachimbo de Magritte é um blogue de comentário político. Ocasionalmente, trata também de coisas sérias. Sabe que a realidade nem sempre é o que parece. Não tem uma ideologia e desconfia de ideologias. Prefere Burke à burqa e Aron aos arianos. Acredita que Portugal é uma teimosia viável e o 11 de Setembro uma vasta conspiração para Mário Soares aparecer na RTP. Não quer o poder, mas já está por tudo. Fuma-se devagar e, ao contrário do que diz o Estado, não provoca impotência.

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