Sexta-feira, 29.06.12

Habilidade diplomática

De acordo com os dados revelados, a China diminuiu a importação de petróleo do Irão em 25% nos primeiros 5 meses deste ano. Nos EUA, Obama agradece e suspira de alívio - por num período eleitoral não ter que ser consequente com as ameaças que tinha feito. No Irão, este é um sinal ao regime para não tentar forçar o tom das ameaças; e ceder mais vantagens comerciais no sector petrolífero. Habilidade diplomática também é isto: fazer simultaneamente um favor a um adversário e uma advertência a um aliado. O favor será cobrado em breve (como indícia a notícia), a advertência já deverá ter revertido em valor económico.

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publicado por Victor Tavares Morais às 22:14 | comentar | ver comentários (1) | partilhar

A Justiça no seu labirinto (I)

 

A Justiça portuguesa está doente. Durante anos houve a percepção que era lenta mas funcionava, mas as coisas estão a piorar: espalha-se uma ideia de impunidade que contamina toda a sociedade e fragiliza o próprio Estado. 

O problema é tão grave que já não bastam remendos. É urgente ir mais fundo na reforma de um sistema onde cada vez menos se confia. Um sistema que é rápido a cobrar uma multa de trânsito ou a executar fiscalmente quem se atrasou a pagar o IVA, mas que demora uma eternidade em casos graves de corrupção ou pedofilia, em especial quando há nomes sonantes envolvidos. Basta recordar o caso Isaltino Morais, em risco de prescrever, ou a investigação dos casos Freeport ou BPN.

É habitual ouvirmos dizer que a Justiça não funciona, mas será que nos damos conta da gravidade dessa afirmação? Para além do estado de direito, são os mais pobres e frágeis que são prejudicados, ou seja, aqueles que o sistema deveria proteger em primeiro lugar: os que não podem pagar a bons advogados, nem esperar anos e anos, de recurso em recurso, por uma decisão fora de tempo.

O problema não está apenas na lei mas numa cultura judiciária formalista, burocratizada, cada vez mais distante da verdade material e dos mais elementares critérios de eficiência. A tudo isto não será alheia a cultura relativista e de intenso positivismo jurídico que tem vindo a dominar, nas últimas décadas, as faculdades de direito e o Centro de Estudos Judiciários. O sistema, que já era pesado e corporativo, estagnou nos últimos anos, sem se conseguir adaptar ao ritmo e à massificação próprias do nosso tempo. Certos magistrados e advogados tornaram-se burocratas encartados. Refugiam-se na tecnicidade da lei, nas deficiências formais do “sistema”, esquecendo que a sua missão é fazer uma justiça real e concreta em nome do povo. [continua]

publicado por Paulo Marcelo às 11:05 | comentar | ver comentários (4) | partilhar
Quinta-feira, 28.06.12

Obamacare

 

 

 

O Supremo Tribunal americano passou a lei de saúde de Obama por uma curta maioria (5-4), incluindo o inesperado voto do conservador John Roberts. Mitt Romney já prometeu mandar a lei abaixo. Só lhe falta ser presidente.

publicado por Pedro Gonçalves Rodrigues às 22:03 | comentar | ver comentários (1) | partilhar

Do dever social de somar (3)


Há uma dimensão deste problema da recusa dos números por suposta preocupação social que parece particularmente relevante nos dias que correm.
A partir do momento em que nos endividamos, estamos a fazer negócio com o futuro.
Como é que podemos deixar de alargar a nossa preocupação social aos que virão depois de nós? Tenho humanidade e compaixão quando tapo a pobreza de hoje com uma pobreza maior de outro, mas que só chegará amanhã?
O que vale a minha preocupação social de hoje, a minha defesa obstinada dos direitos das pessoas, se é em detrimento dos direitos dos filhos dessas mesmas pessoas?
Não vos dá calafrios olhar para a geração que nos segue e pensar no que lhes estamos a deixar em herança? Eu não me senti culpado quando, nos últimos 20 anos, iam abrindo as auto-estradas, quando iam melhorando os hospitais e as escolas, quando se iam substituindo rapidamente as televisões para acrescentar uma ou duas polegadas de pixéis em 24 suaves prestações.
Mas tudo somado, olhando para a nossa dívida (do Estado, das empresas e das famílias), o que estamos a deixar para os nossos filhos? Não lhes fomos roubar algum bem-estar e segurança para nos confortarmos com o supérfluo?
Sim: é verdade que o que parecia bom-senso ontem pode já não parecer hoje. Mas não víamos nada? Não havia vozes a avisar-nos? Não temos um dever de desconfiar de benesses demasiado fáceis? E, agora que o vemos, onde está a vontade de reparar pelos nossos erros e repôr alguma justiça? Ou foram só os outros a errar?
O problema já está aí, nem é preciso esperar. Já fechámos as portas aos que estão agora a sair da universidade… Nem lhes damos os empregos que eles precisam para pagar as nossas dívidas… mas que ninguém nos mexa nos nossos direitinhos adquiridos!
Quando a troika se for embora, se o seu plano tiver corrido todo bem (grande se!), deveremos mais dinheiro do que devíamos quando eles chegaram. Teremos passado 3 anos a chorar cortes, e o problema do nosso deficit deverá estar reduzido a metade… mas ainda um deficit. Ainda estará por começar o pagamento da dívida. Considerar todas estas coisas dá-nos uma medida melhor do problema que criámos. Este nó é muito complicado de desatar: não basta encher-nos de bons sentimentos e desatar a ser generosos e altruístas. Vai ser preciso muito trabalho e muito engenho, boa gestão e boa política. E moderação nas queixas.
Temos um dever social de somar as parcelas todas e cortar o que houver a cortar nas nossas vidas. E sem deixar de fora as parcelas de amanhã.

publicado por Pedro Gonçalves Rodrigues às 11:17 | comentar | ver comentários (17) | partilhar

Jobs: o segredo comercial da Apple

emprego, emprego e mais emprego 

 

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publicado por Victor Tavares Morais às 08:40 | comentar | ver comentários (3) | partilhar

"Pensamento" mono-neuronal

Formas do "pensamento" mono-neuronal descritas aqui e ali. A enunciação de chavões e estribilhos não passa de um disfarce para a ausência de pensamento. Ou, alternativa trágica, pode ser tomada pelo próprio como um pensamento.

 

Por outro lado, o que chega a ser nauseante é o carácter (até custa usar esta última palavra) tremendamente desinteressante do discurso dominante da tropa que agora temos por aí. É um discurso que, num sentido, nem chega a ser merecedor de se chamar "político". São como títeres que papagueiam enunciados retoricamente eficazes, mas que não resistiriam ao mínimo exame se fossem inquiridos, escalpelizados. Geralmente, são enunciados que não chegaram a ser sequer apropriados, apenas são repetidos de um modo insubstantivo.

"Papaguear" é um bom verbo para descrever a coisa, na medida em que o vistoso animal não sabe o sentido dos sons que emite. Por exemplo, quando ouço os exemplos citados ou, ainda mais, o ministro Relvas pronunciando, grave, com uma solenidade intelectual impante, a palavra "cosmopolitismo", para justificar esta tirada de Passos Coelho, ocorre-me logo o macaco de que Kandinsky fala na Introdução do seu Sobre o Espiritual na Arte: o bicho está sentado, empunha um livro diante do nariz, folheia-o,  põe um ar grave, sério - mas a estes gestos não corresponde qualquer compreensão interior do seu sentido [Vide]. Para nossa desgraça, o discurso dominante é o de Affen mit bedenklichen Gesichtern.

publicado por Carlos Botelho às 00:20 | comentar | ver comentários (8) | partilhar
Quarta-feira, 27.06.12

Notícias da frente Leste (a Ucrânia)

 

O jornalista Miguel Gaspar tem assinado esta semana no Público uns artigos interessantes sobre a Ucrânia – recomendo a leitura. A Ucrânia é um caso complexo, como explicava um cidadão ucraniano ao jornal de segunda-feira, a Ucrânia é metade Europa, metade Ásia, um país bipolar onde a sua política é um confuso reflexo desta realidade. A União Europeia desejou a inclusão da Ucrânia no seu espaço de influência política e económica, hoje nem tanto, ao contrário, a pretensão da Rússia de a arregimentar para o seu espaço político a leste é continuamente reforçada.

Estou convencido que a União Europeia deu a Ucrânia como um caso perdido, prefere vê-la como aliada da Rússia do que como um factor de instabilidade e perturbação (nomeadamente no fornecimento de gás à Europa). A Ucrânia lê bem estas intenções e acusa a UE, a coberto das boas relações que alguns dos seus Estados Membros mantêm com a Rússia, de a empurrar para os braços do urso. Quem está muito preocupada com tudo isto é a Polónia, preferia não arriscar a ver a Ucrânia ser asfixiada pelo abraço (ao que noticiam, na inauguração do Euro 2012 o indesejado presidente ucraniano passeou-se pelos tapetes vermelhos de Varsóvia).

A verdade é que, a Ucrânia nada fez para confirmar as diversas alianças (económica e energética) que lhe foram oferecidas pela UE – desaproveitou todas as oportunidades e, pior, fazendo uso de manobras simplesmente oportunistas. Agora, se pretendesse voltar atrás provavelmente seria tarde, estou entre os que acreditam que aumentaram, e muito, as probabilidades de a Rússia, após as eleições de Outubro na Ucrânia, fazer uma “tomada hostil” (sem tanques nem violência) à qual a UE vai assistir com uma contida satisfação.

A Ucrânia está falida e o FMI não parece disposto a salvá-la. Actualmente, só o Gazprombank lhe empresta dinheiro e para comprar gás à Rússia, e a Putin já começa a faltar paciência para as fanfarronices de Yanukovych. A conjugação do desespero financeiro da Ucrânia e da dependência energética da Europa vão ditar o salvo-conduto para a Rússia obter, finalmente, o que tanto deseja: o domínio do operador da rede de transporte de gás (o controlo da Naftogaz, o objectivo mais ambicionado); e a participação da Ucrânia numa união económica e aduaneira a leste, juntamente com a Bielorrússia e o Cazaquistão.

Há mais em jogo na Ucrânia do que a partida de hoje e a final do EURO 2012 no próximo fim-de-semana em Kiev.

publicado por Victor Tavares Morais às 13:31 | comentar | ver comentários (14) | partilhar

Do dever social de somar (2)

 

Não saberemos ser justos, caridosos e humanos, se não soubermos olhar para cada homem e para cada mulher como um ser concreto e único, com dignidade pessoal.
Mas argumentei aqui que também não cai fora dessa mesma preocupação social a soma das parcelas, o olhar para os custos das várias benesses que atribuímos e das barreiras de protecção que, bem intencionadamente, elevamos à volta dos desfavorecidos. Se o bolo é limitado, optimizaremos o cuidado social se optimizarmos o modo sábio de o dividir equitativamente, atendendo às diferentes necessidades e urgências.
(Há uma saída alternativa que é tentar aumentar o tamanho do bolo; concedo, mas concedam-me também que isso é o mais difícil em tempos de recessão, e é o que sempre se promete mas dificilmente se consegue. Portanto, essa saída existe, e vamos explorá-la; mas reconheçamos que essa saída matiza, mas não anula, o problema que descrevi.)
Quando se passa para a dimensão geral, do orçamento, da dívida, e se propõem os cortes necessários, não venham acusar (pelo menos automaticamente) de perder de vista as pessoas reais e concretas, e os seus sofrimentos. Pode dar-se o caso de a razão porque se está a procurar cortes é para ir atender a outros fogos, a outros sofrimentos, outras preocupações sociais, em última análise, a outras pessoas.
Pode-se argumentar que esse gesto seja infeliz, que o equilíbrio que se conseguiu ficou pior do que o anterior, ou que ainda ficam outros sofrimentos por resolver. Mas não se pode argumentar à partida que isto se faz apenas por desrespeito a quem viu a sua porção reduzida.
É mais emotivo fazer um Telejornal com o choro de quem ficou sem um 13º mês que lhe era devido (e era mesmo) mas, em situação de ruptura orçamental, há sempre outro choro a ter em conta, caso se tivesse dado essa quantia.
Cada "reivindicante" que se pergunte: a minha dor (ou a dor daqueles que me preocupam) é mesmo maior do que a do vizinho, ou só dói mais porque é minha?
No fundo trata-se só disto: não reduzamos o nosso olhar sobre a política, essa (potencialmente) nobre arte de equilíbrios, de compromissos, de casar ideais com realismos, a uma mera sinalização de dores sociais, que pode acabar por ser desequilibrada e, por isso, irresponsável.
É tão claro o diagnóstico de que temos um problema sério no estado geral de saúde do país… não estranhemos que andem por aí cirurgiões a preparar-nos incisões dolorosas. Nem toda a gente que nos espeta uma lâmina é agressor ou assassino. Há também a hipótese (só uma hipótese!) de que tenha um plano e que o conjunto da acção seja em nosso favor. O que não está certo é negar a doença geral cada vez que se vê sangue…
Há cortes em ordenados e pensões que se devem desejar precisamente em nome da nossa preocupação social.

publicado por Pedro Gonçalves Rodrigues às 12:34 | comentar | ver comentários (32) | partilhar

Uma observação

Este post assenta em e parte de um erro fundamental: o de considerar haver uma espécie de "falta de bom senso" político que seria perene, que se manteria diacronicamente ao longo de décadas, de vários governos e agentes políticos, etc.
Acontece que as coisas não são assim. Uma medida, uma opção política que, agora, no presente, nos parece falha de "bom senso", não o seria necessariamente assim na época, no tempo em que foi tomada. Pode muito bem acontecer (e acontece certamente, pelo menos em alguns casos) que o nosso olhar do presente se constitua numa perspectiva enviesada sobre esta ou aquela opção política. Isto é, muitas medidas que agora são descritas como escandalosamente inadequadas ou "erradas" (e, num certo sentido, essa perspectiva é sempre "verdadeira", porque é inevitavelmente adequada ao tempo em que acontece), eram, no seu tempo, "racionais".
Não existe qualquer coisa como uma decisão política "essencialmente" errada, errada em si mesma independentemente de tudo o resto, que paire num qualquer éter acima das contingências humanas, um éter "científico", puro. Nesse céu da Verdade com V maiúsculo, descobriríamos, sempre com boa consciência epistemológica, as opções erradas e as opções certas...
Por outro lado, o uso fácil (de resto, na moda) de expressões como "idealismos" e "ignorar a realidade", para além de equívoco, tem apenas um valor retórico, não correspondendo a nada de substantivo.

publicado por Carlos Botelho às 02:12 | comentar | ver comentários (14) | partilhar

Cachimbos de lá

Pierre Etaix, As férias do Sr. Hulot, 1953 (por sugestão do nosso leitor Renato).
publicado por Pedro Picoito às 00:37 | comentar | ver comentários (1) | partilhar
Terça-feira, 26.06.12

Diário de um cínico

Os resultados das eleições presidenciais no Egipto, que deram a vitória a Mohammed Morsi com 51% dos votos, vieram confirmar os receios de que os islamistas tomem conta da Primavera Árabe. Com os 71% nas legislativas e uma larga maioria na comissão nomeada pelo Parlamento para redigir a Constituição, a Irmandade Islâmica é agora o rosto da transição democrática no país. Não se pode dizer que haja motivos para sorrir.

Paradoxalmente, a dissolução do Parlamento pelo Supremo Tribunal Administrativo e o decreto que concentrou poderes nas mãos das Forças Armadas, um verdadeiro golpe de Estado que se antecipou aos resultados conhecidos anteontem, talvez tenha salvo a democracia egípcia. Não albergo ilusões sobre o amor à vontade popular do exército, sustentáculo do regime de Mubarak até à sua queda. Mas os militares, no Médio Oriente, são ainda a última barreira da laicidade contra o fundamentalismo islâmico. A Turquia de Ataturk continua a ser o modelo histórico de modernização para muitos muçulmanos. Os generais reconheceram a vitória de Morsi e não repetiram o histórico erro argelino, mas só Alá sabe quando e como deixarão o poder.

O que, de resto, nada tem de exclusivamente árabe. A democracia portuguesa, para não ir mais longe, foi tutelada pelos capitães de Abril até à extinção do Conselho da Revolução em 82. E cá estamos. Mesmo que Otelo e Vasco Lourenço suspirem por um novo PREC. 

Quanto às esperanças nascidas na Praça Tahrir, repito o que já aqui disse. O teste da normalização democrática será o respeito dos islamistas pelos direitos das mulheres, da minoria copta e de Israel. Veremos o que acontece com Morsi na presidência e uma Constituição feita pelo seu partido.  

publicado por Pedro Picoito às 23:25 | comentar | partilhar

Convite

O lançamento é já amanhã, às 18h20, na Férin de Lisboa, com apresentação de António Victorino de Almeida. O camarada Andreas Lind, que traduziu os textos de três dos maiores teólogos do século XX sobre Mozart, diz-me que acabamos a tempo de ver Ronaldo e companhia darem música aos espanhóis. A pontualidade é germânica, o resto é outra cantiga. 
publicado por Pedro Picoito às 22:21 | comentar | partilhar

Do dever social de somar (1)

A sopa dos pobres nos EUA durante a Grande Depressão

 

 

Quando olhamos para cada parcela da nossa vida neste país, é fácil entusiasmarmo-nos com coisas que não têm preço, que é preciso preservar a todo o custo. Cortar na educação? Nunca, é o futuro. Na saúde? Nunca – sem saúdinha, o que somos nós? Nas pensões? Que injusto, o valor de uma sociedade mede-se pelo respeito que se mostra aos idosos! E por aí adiante.
E assim vamos andando, sem somar as parcelas todas, gastando, gastando o dinheiro de outros. Mais tarde, quando a dura realidade se impõe, por uma crise de dívida, comemos com ataques à justiça, aos contratos, à soberania, e sim, também às pensões, saúde e educação. Não é difícil ver que estas derrocadas e cortes forçados têm um efeito final pior do que se tivéssemos tido algum bom-senso desde o início.
Todos aqueles que dizíamos defender, os trabalhadores, os velhinhos, as crianças, pagam a factura agravada… da nossa preocupação social.
Pois é, somar é duro, despedir é chato, mas o mal maior parece ser mesmo o de ignorar a realidade, mesmo que lhe chamemos humanismo ou preocupação social. Saem caros, certos idealismos. É bom sonhar o bem mas convém não sonhá-lo só com dinheiro sonhado.
Não falei do peso do Estado nem da liberdade dos mercados. Este não é um post liberal, nem tecnocrata, nem pragmatista. É um post de preocupação social, um argumento social para o dever de somar as parcelas todas.
Afinal, porque é que havemos de limitar as nossas preocupações de equidade apenas ao grupo de que estamos a falar num determinado momento? Os outros não são gente?
Trata-se de distribuir as porções do alimento pelos vários que se aproximam para a receber. Podemo-nos fazer de ofendidos sempre que se reduz a dose a um, e a outro (tão esfomeado está!)… mas um sinal genuíno de preocupação social será preocuparmo-nos em olhar para o fim da fila. E a nossa fria matemática de dividir equitativamente, tendo presente o total, será verdadeira caridade.

publicado por Pedro Gonçalves Rodrigues às 16:39 | comentar | ver comentários (11) | partilhar

Parque Escolar: os factos

(Sócrates, em 2007, a anunciar o investimento de mil milhões. O valor final foi muito superior)

 

Artigo publicado ontem no "i"

 

Já todos terão ouvido falar da “festa” da Parque Escolar. Depois de o Tribunal de Contas ter arrasado o modelo de gestão da empresa, é agora notícia que foram pagas obras que não se realizaram. E que se gastou mais de 2 milhões de euros num só sistema de ar condicionado, geralmente utilizado em hotéis de cinco estrelas. Está tudo nos relatórios sobre as escolas D. João de Castro e Passos Manuel. Com a chegada destes novos factos, é importante recuperar alguns dos já conhecidos.

 

Facto 1: a empresa endividou-se para além dos limites. Apesar do PEC 2010-2013, foi fixado à Parque Escolar um limite máximo de endividamento para 2010 de 542 milhões de euros. No entanto, o endividamento bancário da empresa no final de 2010 foi de 665,9 milhões de euros, mais 23% do que o limite fixado.

 

Facto 2: houve desvios orçamentais. O programa foi apresentado, em 2007, para requalificar 332 escolas secundárias (2,83 milhões de euros por escola). Com o Plano de Negócios 2008, o objectivo mudou: requalificar 166 escolas (8 milhões de euros por escola). Cerca de 3 meses depois, após a Iniciativa Investimento e Emprego (IIE), o objectivo voltou a mudar: requalificar 205 escolas (11,95 milhões de euros por escola). Em 2010, o número de escolas a requalificar mantinha-se, mas o custo por escola aumentou para 15,45 milhões de euros. O desvio deste valor é de 445% face à apresentação do programa em 2007, de 93% face ao Plano de Negócios 2008, e de 29% face ao estimado após o IIE.

 

Facto 3: os custos aumentaram em 2010. Em 2009 (ano eleitoral), previa- -se que a 3ª fase do programa de requalificação fosse a mais barata. Fazia sentido, pois havia experiência acumulada e o país vivia num difícil contexto económico. No entanto, em 2010 (ano pós-eleitoral), a 3ª fase aumenta surpreendentemente os seus custos: no custo médio por escola (de 11,5 para 17,1 milhões de euros) e no custo médio por aluno (9592 para 13 834 euros). Tornou-se a fase mais cara.

 

Facto 4: não se fixaram tectos máximos. A Parque Escolar previu todo o seu programa de requalificação sem fixar tectos máximos de investimento. A opção resultou num descontrolo dos custos, particularmente visível pela variação do investimento por aluno entre escolas. Por exemplo, a Escola D. João de Castro custou, por aluno, 3 vezes mais do que o valor médio.

 

Facto 5: houve luxos. O aumento sucessivo dos custos do programa de requalificação explica-se, em parte, pelos materiais e pelas soluções técnicas utilizadas. Houve madeiras e pedras nobres, iluminação decorativa, e candeeiros Siza Vieira. A ordem para acabar com os luxos veio tarde, a 3 dias das eleições legislativas de 2011, para ser cumprida por quem viesse a seguir.

 

Ora, o PS negou a má gestão do programa de requalificação de escolas e negou a existência de luxos. Só que não lidou com os factos. Mistificou-os. Para os socialistas, ter candeeiros Siza Vieira não é um luxo, é querer o melhor para os alunos. Por isso, para eles, não houve desvios. Gastou-se apenas o necessário, e quem afirmar o contrário é inimigo da escola pública. Fica assim claro, para quem tivesse dúvidas, qual a razão para termos chegado ao estado a que chegámos.

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publicado por Alexandre Homem Cristo às 11:00 | comentar | ver comentários (6) | partilhar

Como interpretar as palavras de Gaspar?

Ontem no Parlamento, perante os números da execução orçamental que evidenciam uma queda das receitas fiscais, o Ministro das Finanças afirmou que vai procurar “margens de manobra dentro da execução orçamental que permitam controlar esses riscos e incertezas a custos mínimos para os portugueses". O que significa isto? Ou muito me engano ou o Governo está a abrir caminho para novas receitas extraordinárias para cumprir a meta de 4,5% de défice em 2012. Não sendo o ideal, longe disso, poderá ser a menos gravosa face ao estado de emergência que enfrentamos. Melhor do que novos cortes salariais, sem dúvida, e muito melhor do que um novo aumento de impostos que, para além de ineficaz, secaria a actividade económica que ainda nos resta. Depois da transferência do fundo de pensões da banca para a Segurança Social, suspeito que se ande de novo a puxar pela criatividade lá para os lados do Terreiro do Paço.

publicado por Paulo Marcelo às 09:54 | comentar | ver comentários (3) | partilhar

Ainda o Crato e os professores

A fazer fé no Público de hoje o número de professores do quadro reduziu em 23.000 nos últimos 3 anos. No mesmo período aumentou em 19.000 o nr. de professores contratados. Tudo isto em resultado de reformas por limite de idade e saídas antecipadas. Garantir, como fez o Ministro Crato, aos professores do quadro que não serão despedidos é como que garantir o óbvio. Aqui discordo do Carlos Botelho pois não me parece que o Ministro tenha comprado a paz laboral. Trata-se, sim, de um aproveitamento político de uma realidade que vem de trás conforme revelam os números. Nem tem de mexer no processo de renovação do nr. de professores do quadro pois a Ministra Lurdes Rodrigues já o tinha  feito. Ou seja a precarização laboral dos professores (que os números mostram com toda a evidência) é obra socialista a que os actuais governantes (que têm o post-it de neoliberais) estão dar continuidade.

publicado por Vasco Mina às 07:58 | comentar | ver comentários (5) | partilhar
Segunda-feira, 25.06.12

A Utopia de S. Tomás Moro, às 18h30

 

Na Ferin (Chiado, Lisboa), às 18h30, com apresentação do Miguel Morgado.

publicado por Alexandre Homem Cristo às 12:46 | comentar | ver comentários (2) | partilhar

O não querer de Crato

 

Porque diz o Ministro da Educação isto, a saber, não querer que "nem um" professor do Quadro "saia", seja despedido ou "mandado para a mobilidade"? Crato está, por assim dizer, comprando a paz laboral/política dos docentes. Note-se que nada diz a respeito dos "outros", dos contratados. Nem precisa de o fazer.

As palavras do ministro vêm tranquilizar os professores do Quadro - são esses, e não os outros, que são os mais inconvenientes, porque mais aguerridos: para além de contarem com mais experiência (viram passar muitos ministros...), sabendo defender-se melhor, com uma desconfiança quase cínica das opções políticas dos governos, sentem-se mais seguros, e, por isso, por um lado, têm mais consciência do que lhes pode ser exigido e das condições que lhes são possibilitadas, por outro lado, sentem-se com mais liberdade para agir laboral e politicamente enquanto professores. São eles, portanto, que importa ao governo manter apaziguados. (Para além de Crato ter a vantagem da comparação com a misologia terrorista de Sócrates.)

 

Os "outros", os professores contratados, não representam grande perigo. Para além de serem em número inferior, não estão tão enquadrados em associações de classe e, pela sua própria situação permanentemente insegura, são, de facto, menos livres. Os sindicatos, por razões óbvias, tendem a mover-se mais com os professores do Quadro. Como se sabe, nestas coisas, não abunda nenhuma espécie de "altruísmo de classe" e os contratados encontram-se praticamente sozinhos. Têm sido e continuarão a ser carne-para-canhão. Cabe-lhes a infelicidade cívica de serem considerados descartáveis e de o Estado, que os preparou e os encaminhou, ter agora decidido (sim, decidido) que já não são precisos e que estão "a mais". (Fazendo um desenho para os escandalizados: decidir é escolher; quando se decide, escolhe-se B de entre as alternativas A, B, C, etc.)

 Aos professores contratados restará mendigar um lugar no mundo maravilhoso das escolas privadas portuguesas. Em muitas delas, para além de serem lesados sem defesa nas condições em que trabalharão, não serão sequer respeitados enquanto professores. Não só há uma espúria hierarquização de facto entre as disciplinas "mais importantes" e as "outras", como as direcções das escolas, reféns das propinas pagas por uma não-élite ignorante e parvenue, mais preocupada com a dimensão vertical das classificações aparentes dos filhos do que com a sua formação e boa educação, violam, sempre que convenha, as autonomias científica e pedagógica dos professores, sem as quais estes deixam de ser o que são. Produz-se, assim, ali, uma alienação do professor. Traduzindo: as classificações são alteradas "administrativamente". Os παιδαγωγόι da Antiguidade eram mais livres...

Também por estas razões, o Ensino Público, em muitos sentidos, tem, no fim de contas, se não quisermos ser preconceituosos, genericamente, mais qualidade do que o privado. É mais reliable.

publicado por Carlos Botelho às 01:35 | comentar | ver comentários (24) | partilhar

De giz guardado

Claro, isso faz parte.

publicado por Carlos Botelho às 00:30 | comentar | ver comentários (2) | partilhar

Não, obrigado

publicado por Nuno Gouveia às 00:01 | partilhar

Cachimbos

O Cachimbo de Magritte é um blogue de comentário político. Ocasionalmente, trata também de coisas sérias. Sabe que a realidade nem sempre é o que parece. Não tem uma ideologia e desconfia de ideologias. Prefere Burke à burqa e Aron aos arianos. Acredita que Portugal é uma teimosia viável e o 11 de Setembro uma vasta conspiração para Mário Soares aparecer na RTP. Não quer o poder, mas já está por tudo. Fuma-se devagar e, ao contrário do que diz o Estado, não provoca impotência.

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