Este artigo de Henrique Raposo não
analisa um problema. Não é sério: é mais um panfleto demagógico do que outra coisa. A
facilidade com que usa as palavras “privilégio” e “privilegiado” é reveladora. O método é antigo: aplica-se o ferrete de
privilegiado num grupo – e ele fica logo
desqualificado moralmente. A partir desse momento, praticamente não é preciso apresentar argumentos fundamentados. Usam-se uns adjectivos excitantes (como “salazarista”), que, sendo sempre verdadeiros, mascaram o seu uso ilegítimo – isto é, a sua verdade nada acrescenta nem nada retira à sua razão de ser. Ou outros, como “viver acima” (este resulta sempre) ou a “casta” – neste contexto já envenenado, curiosamente, “casta” equivale sempre a “corja”.
Para além da simplificação mentirosa (“saúde à borla”, p. ex.), apresentam-se as coisas de um modo enviesado, deixando-se na sombra factos que não convêm à pulsão difamatória e persecutória do artigo (situação bem respondida
aqui).
Enfim, é um texto, que, na verdade, não
trata de um tema – simplesmente, pretende acicatar incautos e açular aqueles que já decidiram de antemão quem são
os culpados (há-os sempre, nestes processos,
transitados em julgado logo no começo): agora, a corja dos funcionários públicos. Já foram outros. E há sempre pretextos disfarçados de argumentos “factuais” e “objectivos”, claro. Parece que a Direita precisa destas coisas estimulantes.