The Mamas & The Papas
Só estaríamos perante um problema se a arma fosse real. Foi apenas uma simulação, caramba. Como será, por exemplo, amanhã, simularem estrangular uma professora? Sem mãos de plástico. Que não apertarão realmente, claro. Tudo a brincar. Ou coisas piores. Mas, desde que seja a brincar, não haverá qualquer problema.
Ainda mais curioso foi o facto do tal representante se ter atrevido a dizer que, para o caso, 'uma repreensão é mais do que suficiente'. O sinal dado pelo progenitor mitómano (e também pela directora da DREN) é simples: crianças de 17/18 anos, não se preocupem, sejam energúmenos à discrição, que nós cá estamos para vos cobrir; não temam os professores e os orgãos escolares, porque nós estamos vigilantes.
Estas reacções delirantes são reveladoras e são fruto da campanha constante de achincalhamento dos professores a que este governo se tem entregue desavergonhadamente. Ora é o 'perdi os professores, mas ganhei os pais', o 'antes de um aluno abandonar a escola, já foi abandonado pelo professor', de Lurdes Rodrigues, a acusação de chantagistas(!) aos 120 000 manifestantes, ora é a insinuação (ou insulto descarado) recorrente de que os professores estão habituados a trabalhar pouco, ora o próprio Sócrates berrando irritado, por lhe terem perturbado o estendal da propaganda dos andaimes nas escolas, que 'o tempo da facilidade acabou!', quando interrogado sobre as não-colocações de docentes, etc. Tudo isto e as próprias medidas hostis deste governo misólogo concorreram para uma aceleração da erosão da autoridade natural e até do simples papel do professor na Escola.
Por outro lado, ao mesmo tempo, foi-se alimentando esta hipertrofia da pretensa legitimidade dos "pais" (independentemente de putativas competências pedagógicas ou científicas), bem para lá do aceitável, em se imiscuirem em questões que só à escola dizem respeito e que só por ela podem e devem ser competentemente tratadas. Tudo isto constitui e contribui para uma (ainda maior) degradação da Escola.
E já cansa esta solicitude rastejante de algumas associações de "pais" em relação ao governo... Pobre gente (Sócrates e equipa de Lurdes Rodrigues incluidos) que vê tudo isto como uma espécie de jogo de poderes ou de conquista de territórios: trata-se da ideia peregrina de que há que retirar "poderes" aos professores na Escola, porque eles o têm "a mais" e são um "obstáculo" às "mudanças necessárias" e outras parvoíces desse género. Perdem assim de vista aquilo para que existe a Escola.
Bem, straight shooter, if you know what I mean...