Resposta ao "Descoberto"

Carlos Botelho e Rui Felício, em "Descoberto" e respectivos comentários, produzem uma série de afirmações e argumentos em defesa da estabilidade de alguns benefícios actuais do nosso sistema educativo público para os seus actores, como sejam as reduções de horários lectivos que ocorrem com a idade e carreira.

Produzem também uma série de afirmações e argumentos para contrariar a hipótese de os pais poderem escolher a escola mais adequada para os seus filhos, com um financiamento do Estado que seria igual por cada aluno captado por uma escola (pública ou privada).

Eu poderia responder a cada argumento isoladamente, a lógica de cada argumento é basicamente "este argumento faz sentido e produz melhores resultados", sendo que, curiosamente, todos estes benefícios que produzem melhores resultados já existem hoje no nosso sistema educativo público, e também curiosamente, os resultados não são famosos.

Eu poderia responder a cada argumento, mas isso não resolveria nada, porque a questão da superioridade é, para eles, uma questão de fé. Porém, é possível argumentar logicamente de uma forma simples que vence todos esses argumentos simultaneamente. É isso que farei. Simplesmente:

SE Carlos Botelho e Rui Felício acreditassem realmente nos seus próprios argumentos, não teriam problemas em que os pais escolhessem as escolas, confiantes de que a superioridade de uma escola que praticasse aquilo que eles advogam, se imporia. Portanto, resulta óbvio que não defendem essa escolha, porque apesar de argumentarem pela superioridade daquilo que defendem, não acreditam realmente que aquilo que defendem produza resultados superiores (ou não teriam problemas em que os pais escolhessem, pois para o mesmo custo, eles escolheriam certamente o melhor).

Daqui resulta que só defendem o que defendem, em defesa de interesses particulares, e não na defesa do interesse geral da população - pois defendem benefícios que não acreditam realmente produzirem os resultados que argumentam, sendo que não estão dispostos a que esses benefícios sejam colocados em causa pela escolha dos pais na defesa do interesse dos seus filhos.
publicado por Joana Alarcão às 13:38 | comentar | partilhar