Invasões bárbaras

Tem razão o Filipe Nunes Vicente: identificar genericamente imigração e criminalidade é um erro.
Antes de mais, traduz um preconceito (injusto, como todos os preconceitos) que começa a tornar-se vox populi. Em que dados se baseia Garcia Leandro para afirmar que, em cada cem imigrantes, há um "mau"? Faz-me lembrar os cálculos de uma dona-de-casa que compra fruta na mercearia. E se eram "bons" para trabalhar nas obras, já não são quando a sociedade portuguesa ignora os seus direitos elementares porque precisa de mão-de-obra barata, ou nunca pensou como integrá-los, ou não controla os ilegais? E a criminalidade violenta é monopólio de estrangeiros? Na Quinta da Fonte, em Alhos Vedros, no Bairro do Aleixo, na Ribeira do Porto, temos visto outra coisa. Ciganos, africanos de segunda geração, gangs do futebol, que talvez não tenham chegado este Verão, também entram nas contas? Garcia Leandro mistura tudo, o que é o melhor caminho para não compreendermos nada.
Pior ainda, a reconfortante generalização - o número de portugueses "maus" está muito abaixo do 1%, já se sabe - em nada contribui para uma política de imigração responsável. Política essa que não se fica pela questão da segurança. Enquanto discutimos o número de "maus" e de "bons", esquecemos o resto. Se há máfias russas e brasileiras, também há muitos imigrantes a quem o reagrupamento familiar é dificultado. Ora, quer-me parecer, como bom português e temente a Deus, que a mulher e os filhos por perto dissuadem mais um pistoleiro azougado do que um regimento inteiro do Corpo de Intervenção. Mas isto digo eu, que "sei pouco sobre esta divisão do mal pelas bandeiras".
Adenda: Nem de propósito, o Público traz hoje uma reportagem sobre a "exploração" (sic) de romenos nas vindimas. Só em Santa Marta de Penaguião, uma pequenaa aldeia do Douro, são 400. Prendam já os quatro maus - antes que eles se atrevam a morrer de fome, os bandidos.
publicado por Pedro Picoito às 13:05 | comentar | partilhar