Cimeira União Europeia – União Africana e Marrocos: Lisboa, 6 de Dezembro de 2007.

Não deixa de ser curioso que, quando se aproximam os 80 anos sobre a chegada de Salazar ao poder para ocupar o cargo de ministro das Finanças (o que sucederá em Abril do próximo ano), Lisboa, Portugal e os portugueses, por causa da sua presidência da União Europeia, recebam um número grande, mas um tanto impreciso, de ditadores que, comparados com o acima citado, o tornavam numa personagem política e moral altamente respeitada e respeitável.
Visto isto, cumpre tentar perceber o porquê da cimeira UE – União Africana e Marrocos. Parece que será um exercício de realismo político posto em prática para aprofundar e melhorar relações entre estes dois "blocos" que, e ao menos quanto ao segundo, só existe na cabeça de quem não conhece a história do continente africano desde que, no início da década de 1950, deixou de ser, na sua quase totalidade, uma reserva colonial, para passar a ser um espaço de estados independentes onde praticamente ninguém quer viver. Serve ainda a cimeira para que a Europa recupere as oportunidades de negócios perdidas para norte-americanos, indianos e, sobretudo, chineses, esses novos demónios económicos do mundo em que vivemos. A cimeira é também útil para dar visibilidade a Portugal, ao seu governo, ao seu povo (que como nenhum outro, há quem garanta, conhece e percebe África) e aos méritos da sua presidência da UE. E, no entanto, todos estes argumentos são falaciosos. Da cimeira nada sairá, excepto, claro está, a humilhação da Europa – já evidente aos olhos de todos – e a concessão gratuita, aos ditadores que nos visitam, de um sopro de dignidade e de legitimidade política e moral de que necessitam absolutamente, mas que não merecem.
publicado por Fernando Martins às 17:35 | partilhar