José Saramago 1922 - 2010

Não concordei com muitas das suas opiniões, sentenças, manifestos, mas nunca fui, nem serei indiferente ao "Nobel do Compromisso", título que abre a manchete de hoje, do jornal El País. Saramago era o escritor que nos queria ver acordados a olhar, a ver e reparar no mundo.

Conheci-o na biblioteca da minha escola. Estava no 9º ano e andávamos a ler o Memorial do Convento. O autor esteve connosco uma tarde inteira. A bilioteca escolar ainda cheirava a novo. Os professores visivelmente nervosos faziam muitas perguntas. Lembro-me dele impaciente, porque os alunos não falavam. Torcia as suas mãos grandes, cobertas com manchas da idade, e retorcia-se.

Perguntei-lhe como arrumava a sua biblioteca. Ele devolveu-me a pergunta dizendo: como arrumas a tua? Fiquei sem resposta. Os meus livros resumiam-se a uma pequena prateleira. Com os anos foram aumentanto. Quando comecei a comprar armários para os arrumar lembrei-me dele . Saramago disse-me que tínhamos livros que nos estavam destinados. Para os encontrarmos bastava passear pela biblioteca. Ao ler as lombadas por certo eles iriam aparecer. Meio que a pedir para os lermos. Para os levarmos para casa.

Foto: Jornal Correio Regional Ibaiti
publicado por Joana Alarcão às 11:19 | partilhar