O que está em causa
Esta campanha traduz a perda de qualidade da nossa vida política. O espaço público encheu-se de "casos" que nascem e morrem todos os dias. Não se vai a fundo acerca de nada. Nada tem consequências. A mentira banalizou-se disfarçada de marketing, o que conduziu à indiferença generalizada. Perdemos sensibilidade. Descemos o padrão de exigência. A responsabilidade é diluída, como se ninguém tivesse a culpa, como se o buraco onde nos meteram fosse fruto de um qualquer acaso, mascarado de crise internacional. Como se não houvesse decisões e rostos concretos que nos conduziram à pobreza, ao desemprego e à mendicidade internacional.
Não me recordo de uma campanha tão pouco esclarecedora. E nunca, como nestas eleições, tanta coisa esteve em causa. Por detrás do aparato das caravanas, esconde-se algo de que depende o nosso futuro depois de 5 de Junho. Não se trata apenas de afastar o pior primeiro-ministro das últimas décadas. É fundamental que destas eleições saia um governo com força política para executar o acordo com a ‘troika'. O tal documento que José Sócrates assinou e considerou positivo, mas que agora esconde, voltando a negar a realidade. Tal como não cumpriu os PEC's é cada vez mais óbvio que Sócrates não tem intenção de cumprir o MoU. As críticas à descida da TSU são disso exemplo, com o candidato a criticar uma medida que ele próprio tinha assinado como primeiro-ministro. A estratégia socialista resume-se a manter o poder, depois logo se vê, para isso é preciso ganhar tempo. Só assim se compreende que o Estado tenha adiado o pagamento de 205 milhões, como revelou a UTAO, para maquilhar a execução orçamental do 1º trimestre.
Por tudo isto, as próximas eleições são muito mais do que um benfica-sporting entre partidos. Uma democracia onde quem governa não é responsabilizado pelos resultados é uma democracia doente. Se aqueles que nos levaram ao buraco não forem penalizados é a sanidade do sistema que está em causa. Há dois caminhos à nossa frente: cumprir ou não o acordo com a ‘troika', seguir os passos da Irlanda ou da Grécia. Para podermos cumprir é essencial uma nova maioria parlamentar que apoie as medidas impopulares que o próximo governo terá de tomar, num calendário muito apertado. Com a auto-exclusão da extrema-esquerda e a "lepra da bancarrota" que persegue Sócrates, essa maioria só pode acontecer com o centro-direita. O nosso futuro depende disso.