A doença portuguesa

 

Há duas patologias económicas que caracterizam, por norma, a economia e a gestão pública dos petro-Estados: a crónica “doença holandesa”; e o “toque reverso de Midas”. Vou falar aqui da primeira, e num próximo post da segunda. A Holanda tornou-se nos anos 60 o maior exportador mundial de gás natural, e à medida que as suas exportações energéticas aumentavam a economia do país ia sendo inundada com o dinheiro proveniente da venda do gás. Em consequência, a moeda sobrevalorizou-se, as exportações tornaram-se menos competitivas face ao exterior e a economia nacional começou a sofrer. Com uma moeda forte as importações eram mais competitivas do que os bens nacionais, e o desemprego também começou a aumentar. Este tipo de conjuntura económica é conhecido na literatura económica como “Dutch disease”, a doença holandesa.

Se recordarmos o que nos aconteceu após a entrada na CEE, e depois reforçada com a adesão ao Euro foi, em tudo, muito parecido: um afluxo anormal de capitais e crédito barato que inundaram toda a economia do país, quer a pública quer a privada, cujos efeitos foram também devastadores e muito semelhantes aos provocados pela “doença holandesa”, diferindo na questão da dívida.

Esta doença é bem conhecida, e tem hoje (em países como a Holanda e a Noruega) um mecanismo, quando bem gerido, que é um antídoto adequado - são os chamados fundos soberanos – que concentram os recursos financeiros provenientes da exportação do petróleo e do gás natural e garantem a injecção desses capitais em doses homeopáticas, para que a economia não sofra choques anafiláticos. Agora, já não vamos a tempo de plasmar no país um qualquer mecanismo equivalente que proteja a nossa economia do “dinheiro fácil”, a asneira está feita e com o alto patrocínio político da UE, mas também, por agora, o dinheiro fácil e barato não voltará a Portugal tão cedo.

Entretanto, seria avisado estudar isto nas escolas de economia, nem que seja para memória futura, é que esta não foi a primeira vez que fomos atacados pela doença.

– Já estudam?!

Então, deviam tentar renomear para: doença portuguesa (até por razões de ordem histórica e de direitos autorais), e talvez assim os alunos retivessem algo.

 

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publicado por Victor Tavares Morais às 11:32 | partilhar