Fim do euro (7) O BCE já está falido

No post anterior desta série defendi que era um exagero que Portugal provocasse o fim do euro, porque neste momento só havia 120 mil milhões de dívida pública portuguesa no mercado, muito menos do que os 750 mil milhões de fundos europeus que deverão estar disponíveis dentro de pouco tempo.

 

Esqueci-me de referir que o próprio BCE já comprou uma quantidade significativa de dívida soberana portuguesa. De acordo com um estudo do Barclays, o BCE já terá comprado cerca de 20 mil milhões de euros desta dívida, o que significa que já só restam no mercado cerca de 100 mil milhões. Também neste caso é provável que o BCE continue a comprar dívida portuguesa ao longo do ano, diminuindo ainda mais o que sobra para comprar num caso de aflição.

 

A propósito, este estudo do Barclays também estima que o BCE esteja a perder cerca de 30 mil milhões de euros com o total de compras (213 mil milhões) que já fez de dívida soberana dos países em dificuldades, quase tudo por causa da Grécia (entre 20 a 25 mil milhões). Isto ajuda imenso a explicar a relutância do BCE em assumir as perdas em relação a este país nas negociações em curso. É que o BCE tem de capitais próprios apenas 10 mil milhões de euros. Ou seja, se assumisse as perdas com a dívida grega ficava todo o mundo a saber que o BCE está falido, o que não é a melhor das notícias que um banco central pode dar.

 

As consequências dessa notícia seriam infindáveis: uma profunda perda de confiança no euro e uma forte depreciação; o fortalecer da ideia do fim iminente do euro; a proibição de qualquer compra futura pelo BCE de mais qualquer dívida pública; a necessidade de injectar doses maciças de capital no BCE, provocando a ira de inúmeros eleitorados, porque têm que pagar uma conta que sempre lhes disseram que nunca existiria.

 

Já tinha explicado aqui alguns detalhes sobre a falência do BCE e uma forma alternativa de intervenção, que teria evitado esta mesma falência. Parece que emprestar directamente aos Estados viola os Tratados. E levar o BCE à falência não viola os Tratados? Nem viola o bom senso?

 

Para além de tudo isto, a verdade é que o BCE já está tecnicamente falido. Só não foi é ainda declarado oficialmente falido, ou insolvente, um termo mais técnico e rigoroso, mas que esconde uma realidade dramática. 

publicado por Pedro Braz Teixeira às 15:17 | comentar | partilhar