Fim do euro (10) Desvalorização
Se, por qualquer razão, Portugal for forçado a sair do euro, a nossa nova moeda sofrerá uma desvalorização de, no mínimo, 20%. É possível que esta desvalorização seja até superior, sobretudo se a saída ocorrer de forma caótica. No entanto, prefiro falar em 20%, já que há imensas pessoas que se estão a proibir de pensar nestes temas e quanto pior for o cenário, maior resistência oferecerão. Esta desvalorização terá consequências imediatas em, pelo menos, duas variáveis: a taxa de inflação e a taxa de juro de curto prazo.
A desvalorização deverá fazer saltar a taxa de inflação dos actuais valores, em torno de 3%, para valores próximos dos 12%, provocando uma descida súbita do poder de compra. Todos os produtos chamados transaccionáveis (sobretudo agrícolas e industriais) deverão ver os seus preços subir numa percentagem semelhante à taxa de desvalorização. Os outros produtos, chamados não transaccionáveis (sobretudo serviços), sentirão uma muito menor pressão para subir de preço. O canal através do qual a desvalorização fará subir estes outros preços é através dos salários, que muito dificilmente terão margem para subir, um tema a que voltarei.
Com uma taxa de inflação de cerca de 12%, a desvalorização não poderá ficar-se pelos 20%, terá que ser seguida por uma desvalorização deslizante (crawling peg), que compense o diferencial de inflação entre Portugal e o que restar da zona do euro. Em números redondos, com uma inflação em Portugal de 12% e de 2% na zona do euro, será necessário uma desvalorização anual de 10%, ou seja, uma depreciação de 0,8% ao mês.
Com esta inflação em Portugal e a perspectiva de uma depreciação anual de 10%, a taxa de juro de curto terá que ser superior a 12%. Para quem fique surpreendido com estes números talvez seja útil recordar que as taxas Lisbor (primas das Euribor), criadas em Dezembro de 1992, registaram então taxas acima dos 16% nos prazos inicialmente disponíveis (1, 3 e 6 meses). Relembre-se que a inflação média de 1992 foi de 9,4%, inferior aos 12% que deverão prevalecer quando Portugal sair do euro.
Se a desvalorização inicial for superior aos 20% aqui sugeridos como mera base de simulações, todos os outros valores serão necessariamente superiores.
Esta subida drástica das taxas de juro terá inúmeras consequências, que detalharei posteriormente.