Crónicas da Renascença: A Adição Gay*

 

            O Parlamento português discutiu  ontem a adopção por casais homossexuais, sob proposta do Bloco de Esquerda e dos Verdes e com o voto negativo da maioria dos deputados, incluindo os do PCP. É mais uma tentativa do reconhecimento social da homossexualidade por via da lei, na sequência da legalização do “casamento” gay (embora com sorte diferente: mudam-se os tempos, mudam-se as maiorias).

Em bom rigor, uma vez aprovado o “casamento” entre pessoas do mesmo sexo, não parece haver qualquer argumento jurídico contra a adopção. Quem pode casar, pode adoptar. E a orientação sexual não é prova de capacidade parental. Todos conhecemos heterossexuais que são maus pais e homossexuais que provavelmente seriam bons pais.

As minhas razões contra a adopção por casais gay são outras.

Em primeiro lugar, o interesse das crianças, principal ponto da questão, não pode ser instrumentalizado por quem procura a normalização pública de uma identidade sexual minoritária. Se aceitarmos isso, as crianças tornam-se reféns da política de reconhecimento de uma minoria, no sentido que Charles Taylor dá a este termo. A homossexualidade não é fonte de direitos. Na sociedade portuguesa, sujeitar a criança ao estigma de ter dois pais ou duas mães é um preço demasiado alto a pagar pela vitória do progresso, tal como o entendem alguns. Querer mudar mentalidades por decreto costuma fazer vítimas.

Em segundo lugar, é duvidoso que um casal sem papéis masculino e feminino definidos seja o melhor ambiente para a educação, incluindo sexual, de um jovem. A formação da personalidade, dever e direito dos pais, é uma tarefa complexa que exige um projecto de vida estável e claro. O movimento gay quer fazer reconhecer esse projecto de vida através da adopção, quando deveria ser ao contrário. Está viciado em ideais burgueses, como a família tradicional, em nome dos amanhãs que cantam. Dá vontade de pedir - que sejam um pouco menos conservadores.

 

*26/2/2012

publicado por Pedro Picoito às 18:18 | comentar | partilhar