Costa a 10 de Março de 2012 às 16:16
Olá, João. Cá nos revemos. Você, honra lhe seja, é de uma coerência sólida (mais blindada do que certos contratos promovidos sob os auspícios de um governo de certo partido de esquerda...): até nesta discussão tinha que entrar o seu Marx e a maldade tentacular, omnipresente, irredimível , do capital.
Homem, telemóveis (sem dúvida mais uma perniciosa invenção do capital, criando uma necessidade artificial e com isso obtendo torrentes de lucro) com toques a imitar as velhas campainhas telefónicas são coisa já com muitos anos. A ir por aí, essa - mais uma - manobra deletéria do capital é coisa longe de recente.
O bom do Marx por acaso não inseriu essa nostradâmica previsão num dos seus textozinhos, não? É que se alguém nos poderá elucidar sobre isso é você.
Saudações,
Costa
João. a 10 de Março de 2012 às 19:14
"Homem, telemóveis (sem dúvida mais uma perniciosa invenção do capital, criando uma necessidade artificial e com isso obtendo torrentes de lucro) com toques a imitar as velhas campainhas telefónicas são coisa já com muitos anos. A ir por aí, essa - mais uma - manobra deletéria do capital é coisa longe de recente."
Caro Costa,
Sou eu que estou desatualizado, então. Pensei que fosse coisa recente.
Mas veja, o telemóvel não é invenção de capitalistas mas de cientistas. O capitalista apenas financia com a contrapartida de torná-la num produto seu. Enfim, é quase como comprar uma tese de doutoramento a um doutorado, apresentá-la como sua, transformá-la num livro e vendê-la ao público.
Quanto a Marx, o que ele propõe não é que se diga que as mercadorias parecem ter propriedades "mágicas" mas não têm; é bem o contrário, ou seja, podem bem pensar que as mercadorias não têm propriedades "mágicas", que estas são uma ilusão, que, na verdade a ilusão é pensar que elas não têm propriedades "mágicas", pois que as têm. (para isto pode ver-se Zizek, julgo que por exemplo na obra "Em defesa das causas perdidas")
Enfim, a questão é que é preciso assumir claramente a "realidade mágica" das mercadorias, tomar isso como um dado, pois só assim é possível superar essa perspectiva. Enquanto se pensar que parece que têm mas não têm, continuar-se-á sob a sua influência.
Veja a publicidade, ela sugere isso a toda a hora, quer dizer e por exemplo, um carro aparece com a propriedade mágica de nos facultar uma fila de mulheres bonitas desejosas de dar uma volta connosco; outro carro já aparece com a propriedade mágica de providenciar uma vida em família feliz e harmoniosa, etc, etc.
Se isto não resultasse não se gastaria tanto dinheiro com os mais elaborados anúncios de publicidade.
Renato a 10 de Março de 2012 às 23:42
"Homem, telemóveis (sem dúvida mais uma perniciosa invenção do capital, criando uma necessidade artificial e com isso obtendo torrentes de lucro)"
Sou capaz de citar textos assim a propósito do telefone, do automóvel,etc. A vida era muito mais simples há duzentos anos.
João. a 11 de Março de 2012 às 04:49
Renato,
Acho que o Costa estava a ser irónico. Pelo menos foi assim que tomei essa frase.
Costa a 12 de Março de 2012 às 11:19
A minha intenção era apenas a de ser irónico, de facto.
É que eu - um simplório, um alienado, um joguete nas mãos do grande capital, está visto - não vislumbraria na preferência pelo leite em embalagem de vidro, e na admissão da existência de factores emocionais nas decisões de compra (desde que haja meios para lhes dar a primazia, a esses factores), a mão terrível do capital. E sobre tudo isso, até sobre uma garrafita de leite Vigor, o pensamento redentor de Marx.
Via apenas um gosto pessoal que (o direito a tê-lo e a optar por quem proponha o meio de o satisfazer), sendo no caso em apreço fundamentalmente inóquo para os outros - e até algo ecológico por permitir a reutilização potencial e simples das embalagens em causa - tomava por legítimo. Salutar, até, consagrando a individualidade de cada um.
Mas enganava-me, está visto. Bom, bom, é o mesmo leitinho, servido na mesma embalagem, para todos. Nada de fantasias, gostos pessoais e desconformidades perante o rebanho. E popós, a se ter direito a um, do mesmo modelo para todos (um Trabantezito, ou coisa do género; maus como o inferno, poluidores como o diabo, mas obra do proletariado socialista...).
Concordemos então que discordamos. Não sei se Marx permitiria esta linha desviante de pensamento. Mas Marx morreu e, até ver, os seus seguidores não tomaram o poder por cá.
Se tomam e têm acesso ao meu IP, estou desgraçado...
Costa
João. a 12 de Março de 2012 às 15:41
Costa,
Você fala como se fosse o socialismo que acabou em Portugal com o leite de garrafa. Que eu saiba a razão deve-se acima de tudo ao leite de pacote se ter tornado mais competitivo, como hoje se diz. Se tem queixas sobre o fim do leite de garrafa acho que não é a Marx que as deve dirigir.
Cumprimentos.
Costa a 12 de Março de 2012 às 19:37
Meu caro, curiosa observação. Marx é a sua bengala, não a minha.
Costa
João. a 13 de Março de 2012 às 12:28
Acho que o Costa já está pronto para dar uma pirueta e passar a defender o leite de pacote contra o saudosismo do leite de garrafa...
Costa a 13 de Março de 2012 às 18:30
Já tardava, João, mas não falhou: a consagrada prática das esquerdas de, na falta de argumentos racionais, pura e simplesmente desconsiderar o intelecto (pelo menos, porque bem pode ir mais longe) de quem se lhe oponha.
É coisa muito antiga. Já vem desde o tempo das fotografias retocadas. Ou mesmo de bem antes disso.
Uma vez mais, o João é coerente.
Costa
João. a 13 de Março de 2012 às 21:08
Desculpe, mas você é que tem de decidir-se, se quiser é claro. É que não há nenhuma razão para atribuir o fim de uma preferência sua - o leite de garrafa - ao comunismo.
O fim do leite de garrafa é simplesmente a consequência da sua falta de competitividade face ao leite de pacote, uma consequência que advém da mecânica do próprio captalismo, portanto, ou você, no caso aqui em pauta, se opõe a esta dinâmica central do capitalismo ou muda de ideias e passa a relativizar o seu apego ao leite de garrafa - como quem diz, é melhor o capitalismo do que o meu apego ao leite de garrafa.
Do que decorre que é melhor aceitar o leite de pacote [na medida em que resulta da mecânica do capitalismo] do que o leite de garrafa [na medida em que a sua defesa intransigente contraria a defesa da mecânica do capitalismo].
A saída deste impasse, a meu ver, só pode dar-se lançando uma campanha pelo retorno do leite de garrafa de modo a criar uma clientela suficiente para que valha a pena alguém investir nisso.
Se você não lança essa campanha, então, só pode aceitar o leite de pacote como um desenvolvimento natural do sempre desejável - para si - capitalismo, contra cujo não vale a pena lutar.
Ergo, tem de estar pronto a defender o leite de pacote em vez do leite de garrafa - a não ser que queira atacar o capitalismo, o que não me parece.
Costa a 14 de Março de 2012 às 01:28
Homem, deixe de teorizar sobre o comunismo e o capitalismo (já sei, um infinitamente mau; outro infinitamente bom; e já sei qual o quê), a pretexto de tudo e de nada. É que aqui só se tratava da mera preferência por um tipo de embalagem. Foi você que meteu Marx e o capitalismo no assunto. Está visto que para si, há capitalismo e comunismo e a verdade profética de Marx sobre tudo e mais alguma coisa, no mais banal dos gestos, actos, assuntos do dia-a-dia.
Você, julgando-se superior, é verdadeiramente um escravo da ideologia por que se deixou contaminar. Eu, calcule, penso pela minha cabecita, sem filiações dogmáticas. Eu sei que é um hábito pernicioso, mas que quer?
Costa
João. a 14 de Março de 2012 às 12:26
Ou seja, como não penso como você, sou escravo de uma ideologia. Eu pensei que ao menos valesse a pena debater isto consigo, mas vejo que você prefere ser um idiota.
Faça bom proveito.
João. a 14 de Março de 2012 às 16:51
E já agora, é interessante verificar que muita da defesa do capitalismo assenta na sua referência às pequenas coisas como o domínio onde ele se realiza, ou seja, diz-se que não é sobre ideologias que assenta mas sobre as virtudes do dia-a-dia, aquelas que se encarnam nas pequenas coisas - mas depois, se interrogamos as pequenas coisas, já o capitalismo afinal não se encontra lá. Já é sobre grandes ideias, como a liberdade. No entanto se questionarmos estas grandes ideias lá se dirá que andar a questionar grandes ideias, que laborar sobre elas, é ideologia e que é nas pequenas coisas que o verdadeiro capitalismo está.
Costa a 14 de Março de 2012 às 23:07
Ah, chegamos ao insulto. Nada que surpreenda vindo de um totalitário mal disfarçado.
Fico por aqui.
Costa
João. a 15 de Março de 2012 às 01:51
Os meus insultos, ao contrário dos seus, não fazem parte da minha argumentação aqui. São perfeitamente gratuitos, como devem ser os insultos.