João Pedro Neto a 11 de Março de 2012 às 12:29
Primeiro, gostaria de elogiar o facto de apresentar as referências que motivam a sua opinião. Devia ser algo mais generalizado entre nós. Os meus parabéns!
Mas as suas referências não são muito modernas (o mundo realmente mudou muito) e a sua argumentação parece-me frágil.
Um exemplo: sobre as relações homossexuais durarem menos tempo. Não me parece honesto querer comparar uma forma de agregado familiar defendida socialmente e protegida pelo Estado (a relação heterossexual) com uma outra que até há bem pouco tempo no Ocidente foi alvo de uma pressão social que dificilmente podemos entender. Este estudo de 2008 [1] indica que os casamentos interraciais na America possuem maior percentagem de divórcios que os casamentos da mesma raça (i.e., mais socialmente aceites). Se encontrarmos estudos similares nos restantes pontos que indica(*), o Pedro Picoito também seria contra a adopção de crianças por casais racialmente mistos?
(*) Apostaria que esses estudos seriam mais fáceis de encontrar nos anos 50 e 60 do que actualmente.
[1] Bratter, JL, King, RB "But Will It Last? Marital Instability Among Interracial and Same-Race Couples", Family Relations, vol.57, 2008, pp.160-171. Artigo referido em www.census.gov/prod/2011pubs/p70-125.pdf
Decl. de interesse: não sou homossexual nem pretendo adoptar uma criança.
pedro picoito a 12 de Março de 2012 às 09:56
As minhas referências são sobretudo dos anos 90. Há uma de 2001 e outra de 73. Valem o que valem, mas devem valer alguma coisa para que a única coisa que lhes aponta seja "não serem lá muito modernas". E, se em vez de as catalogar, as contestasse? As coisas mudaram assim tanto que tenham tornado falsos ou incorrectos os dados que citei?
Não conheço o estudo sobre os casamentos inter-raciais a que se refere, mas deixo duas observações. Primeira: se a taxa de divórcios for significativamente mais baixa do que entre os homossexuais casados, então a sua comparação cai pela base. Segunda: esse factor de risco deve ser tido em conta na adopção, claro. Como muitos outros.
João Pedro Neto a 12 de Março de 2012 às 10:43
Caro Pedro,
Quando se usam aspas para citar, deve-se citar palavra a palavra e não inserir pequenas nuances de leviandade. O que eu queria dizer é que não se passou assim tanto tempo desde que se considerava a homossexualidade como uma doença (só em 1973 a American Psychiatric Association retirou-a da sua lista). Artigos com décadas (e artigos dos anos 90 têm 15-20 anos de idade) poderão estar irremediavelmente contaminados com preconceitos contra os homossexuais. Pensei que tinha percebido isso com a nota de rodapé do meu comentário anterior. Não estou a implicar que é isso que ocorre com os artigos que o post cita, porque não disponho de horas para os ler e tentar refutar. Podem até ser óptimos artigos.
De resto não cai nada pela base. Acho que você não percebeu o que eu quis dizer. É evidente que a pressão sobre os casamentos interraciais é menor que a pressão sobre os casais homossexuais. Você precisa de uma analogia perfeita para perceber o contra-argumento?
Em relação à sua penúltima frase, estamos de acordo. Baseado na melhor evidência, devem entrar nas contas todos os factores de risco. Isso implica dar a liberdade de opção de adoptar a *todos* os agregados familiares e deixar profissionais qualificados a tarefa de aceitar/recusar um pedido e fiscalizar cada adopção aprovada de acordo com o risco avaliado. O que não se deve fazer é impedir, por princípio discriminatório inconstitucional (artigo 13º), que certos casais não possam tentar adoptar. Interpretei, do seu post, que é esta a sua posição. Diga-me se me precipitei.
Isto não é baseado num pressuposto politicamente correcto, um tipo de pensamento tão ou mais pernicioso que os preconceitos discriminatórios que ainda persistem na nossa sociedade. Esta política actual vai contra a noção fundamental que todos temos os mesmos direitos. Este é um princípio que imagino que você seja sensível e para o qual deve aceitar todas as suas consequências. Devemos ter especial atenção pelas crianças, mas é ridículo assumir que os piores casais heterossexuais são melhores que os melhores casais homossexuais. Por mais evidência que recolha, bastaria um contra-exemplo.
Em rigor, do DSM só saiu em 1980, com a publicação do DSM-III.
Bid a 12 de Março de 2012 às 21:50
Esta está tão preocupada com o bem-estar das crianças...
Bid a 12 de Março de 2012 às 21:52
Que descoberta científica foi feita para deixar de classificar a homossexualidade como uma doença? Freud estava errado também aqui?
pedro picoito a 12 de Março de 2012 às 14:09
Os artigos que citei apresentam dados sobre a homossexualidade que são bastante objectivos. A única maneira de os contestar é mostrar que são incorrectos ou insuficientes. Mais, alguns dos estudos que citei são abertamente contrários à discriminação dos homossexuais, o que reforça a credibilidade dos dados e afasta a tese da influ~encia do preconceito nas conclusões. Mas também podemos pôr a coisa ao contrário: os estudos posteriores aos anos 90 estarão afectados pelo politicamente correcto e pelo verdadeira autocensura de não tirar conclusões científicas que possam ser acusadas de homofobia. É a percepção que tenho.
Quanto ao resto, um primeiro ponto. A adopção não é um direito dos adoptantes, portanto ninguém se pode queixar de não o ter. Sucede que os gays o exigem porque são gays, coisa que nenhum outro grupo faz e que nos pareceria estranhíssima se outro grupo o fizesse. Ora, a literatura científica citada, e estou certo de que com um bocadinho mais de esforço descobriria refer~encias mais recentes, mostra que há muitas dúvidas sobre a capacidade parental dos casais gays (não dos gays em si próprios, note-se). Aceita-se todos os agregados familiares, sim, mas medem-se os riscos. E os riscos são evidentes. O campeonato não é entre os piores casais heteros e os melhores casais homo, porque os piores casais hetero também não podem adoptar. Se isto parece discriminatório é simplesmente porque o activismo gay apresenta a adopção como um direito a conquistar. É um erro táctico evidente. E é um erro, sem mais.
xico a 11 de Março de 2012 às 14:44
Não estou, em princípio, de acordo com a adopção por casais homossexuais. Entendo assim de acordo com considerações sociais, culturais e biológicas. Essa coisa de explicar as coisas "científicamente", com recurso a estatísticas, etc, são, muitas vezes, disparatadas. Ninguém sabe, por exemplo, qual a percentagem de gays exactamente. Pela simples razão que, talvez, possa haver uma enorme percentagem de bissexuais na sociedade (há quem afirme que o natural será a bissexualidade). E não há estatística que o comprove. Um rapaz homossexual terá melhor à vontade de o assumir se viver num ambiente "gayfriendly". Logo as estatísticas partem de premissas erradas à partida. Isto é assim um pouco como as estatísticas do tamanho do pénis. Nunca dei as medidas do meu e nunca conheci ninguém que o tivesse feito.
Em resumo, acho a sua explicação científica muito pouco convincente. A mim que sou contra a adopção por parte de casais gays, pela simples razão que esse não é o modelo que a natureza criou. Estou-me nas tintas para o científico, para o politicamente correcto. A humanidade é composta por homens e mulheres. Os dois fazem o humano. Depois, é gozar à brava quanto queiram e quanto possam. Mas as crianças, não!
pedro picoito a 12 de Março de 2012 às 09:59
Não confia nas estatísticas, mas confia na natureza. Eu também gostava de ser assim.
xico a 12 de Março de 2012 às 10:27
Confio nas estatísticas. Não confio é em quem as faz.
Pedro, não vou sequer comentar que o artigo mais recente que refere é de 1997. Se eu fosse buscar artigos da era do gestaltismo também daria uma má impressão.
Também não me vou preocupar sobre se os estudos tiveram a preocupação de comparar estratos sócio-económicos idênticos ou mesmas faixas etárias.
Também não entro na discussão de que nos anos 70 a 90, os homossexuais eram severamente discriminados o que amplia comportamentos de frustração e raiva.
O que me chateia neste seu post é que, ao abordar os homossexuais como grupo de risco, não leve a sua ideia ao fim e comece a defender a proibição de outros casais de grupos de risco a adoptar. Se vai responder que para isso existe o serviço de assistência social que usando da peritagem faz uma triagem dos casais associando riscos à criança, então porque não o mesmo para os homossexuais?
j. a 12 de Março de 2012 às 00:55
A proibição de outros casais não é necessária - como nem sequer seria necessária para os pares homessexuais,- já que a adopção pretende que se crie entre o adoptando e os adoptantes uma relação igual à que se forma um vínculo semelhante ao da filiação - natural -e o bem a ter em conta é o do adoptante, não o dos adoptantes.
Isso põe de parte os pares do mesmo sexo e faz com, atendendo aos critérios da lei que os casais passem à frente dos solteiros.
J.,
Desde quando o critério 'semelhante a filiação natural' correlaciona com capacidade de criar uma criança? Leia lá o meu comentário com mais cuidado. E já agora, leia os restantes comentários que foram adicionando, com referências a estudos científicos mais recentes.
j. a 12 de Março de 2012 às 21:58
A adopção é isso: a formação de um vínculo semelhante ao da filiação. Isso é o primordial.
E não há filiação possível de ligações homossexuais.
Por outro lado os pais são muito mais (ou até muito menos) do que encarregados de educação: são pais.
pedro picoito a 12 de Março de 2012 às 10:02
O artigo mais recente é de 2001 e garanto-lhe que não estou muito preocupado com a impressão. estou preocupado em apresentar os dados científicos que me foram solicitados e, que assim que aparecem, são desvalorizados. se tem dados que contestem os que apresento, mais recentes ou mais antigos, faça o favor de os citar.
E a que grupos de risco é que se está a referir?
Pedro,
Outros, na lista de comentários, já referiram outros estudos com conclusões diferentes. Não percebi bem a sua contestação a esses mesmos estudos.
Outra nota: não desvalorizei os dados. O contexto ondes os dados são produzidos é de extrema importância. Por exemplo, um casal de homossexuais nos anos 70 era vítima de um preconceito mais radical que hoje; que isto tem impacto como duas pessoas vivem a sua relação não tenho a menor dúvida.
Um exemplo de um grupo de risco já foi dado na lista de comentários. Não tenho nada mais a acrescentar ao que o João Pedro Neto já lhe contestou.
De qualquer forma, tem aqui (http://www.apa.org/pi/lgbt/resources/parenting-full.pdf) um bom resumo. Alguns highlights:
- "Common stereotypes are not supported by the data. Without denying the clarity of results to date,
it is important also for psychologists and other professionals to be aware that research in this area as presented a variety of methodological challenges"
- "Thus, contemporary research on children of lesbian and gay parents involves a wider array of sampling techniques than did earlier studies"
- "Lesbian couples who are parenting together have most often been found to divide household and family labor relatively evenly and to report satisfaction with their couple relationships (Bos et al., 2004; Brewaeys et al., 1997; Chan, et al., 1998a; CianoBoyce & Shelley-Sireci, 2002; Hand, 1991; Johnson & O'Connor, 2002; Koepke, Hare, & Moran, 1992; Osterweil, 1991; Patterson, 1995a; Sullivan, 1996; Tasker & Golombok, 1998; Vanfraussen, PonjaertKristoffersen, & Brewaeys, 2003)"
- "Research on gay fathers likewise suggests that they are likely to divide the work involved in child care relatively evenly and that they are happy with their couple relationships (Johnson & O'Connor, 2002; McPherson, 1993)"
- "The results of some studies suggest that lesbian mothers' and gay fathers' parenting skills may be superior to those of matched heterosexual couples" (Ainda ponho o Pedro a defender que se dê prioridade a casais homossexuais)
- "Golombok and Tasker (1996, 1997) studied 25 young adults reared by divorced lesbian mothers and 21 young adults reared by divorced heterosexual mothers. They reported that offspring of lesbian mothers were no more likely than those of heterosexual mothers to describe themselves as feeling attracted to same-sex sexual partners."
- ". If they were attracted in this way, however, young adults with lesbian mothers were more likely to report that they would consider entering into a same-sex sexual relationship, and they were more likely to have actually participated in such a relationship. They were not, however, more likely to identify themselves as nonheterosexual" (Aqui entram as considerações da repressão de orientação sexual que muitas crianças sofrem e que enviesam as estatísticas oficiais que apontam para os 2%)
pedro picoito a 13 de Março de 2012 às 11:48
É curioso que alguns dos artigos que cita são tão antigos como os que eu cito. Assim sendo, porque é que só as conclusões dos artigos que aqui trouxe são fruto da homofobia da época? Aconselho-o a olhar com mais cuidado. Relembro que, por exemplo, o estudo de Paul Van de Ven sobre o perfil demográfico dos homossexuais é baseado nas respostas de 2500 gays, respostas que eles próprios dão. Será preconceito registar que a grande maioria dos gays entrevistados respondeu ter tido mais de 100 parceiros sexuais ao longo da vida e que as suas ligações afectivas duram em média dois a três anos? Isto são factos. Compreendo que sejam factos incómodos e silenciados em muitos outros estudos, como por exemplo os que cita, que preferem adoptar variáveis subjectivas como a satisfação com a própria relação e outras que tais. Mas a menos que me apresente um estudo sobre 2500 gays que mostra que a duração média das suas relações aumentou esplendorosamente e, de repente, a maioria adoptou a estabilidade afectiva e a monogamia como valores de comportamento, eu continuarei a dizer que os lares homoparentais apresentam estatisticamente problemas muito mais sérios para educar uma criança do que os lares hetero. Factos são factos.
Pedro,
O facto de apresentar artigos da mesma época que os seus com outras evidências não o chateia. Isso é que eu acho estranho. Depois, você gosta de apontar que tem um artigo de 2001. Pois bem, apresentei-lhe artigos de 2002 (2), 2003 (1) e 2004 (1). Depois volta à carga com um artigo de... 1997. E não venha me dizer que o estudo é melhor que os outros porque a amostra é maior; isso nunca foi aferição da performance de um estudo estatístico.
Mas penso que o Pedro não está a entender uma coisa (estou a assumir que estamos ambos de boa vontade nisto). O que para mim é importante é que casais homossexuais tenham igual acesso à adopção que casais heterossexuais. Não defendo enviesamento por parte da assistência social para preferir casais homossexuais. Defendo sim que sejam considerados como os outros, em pé de igualdade. Se de facto apresentarem problemas conjugais então não serão seleccionados. Qual o seu problema com isto? Científico ou moral? Do primeiro tenho todo o gosto em o debater consigo. Se for moral então não vale a pena toda esta troca de argumentos.
pedro picoito a 13 de Março de 2012 às 19:03
Vamos lá rever os factos. Criticam a minha bibliografia por não ser actual e, portanto, por já ter sido contraditada por estudos mais recentes. Quando faço notar que alguns dos estudos que contraditam os que apresento são da mesma época (anos 90), então criticam-me por simplesmente não os achar melhores do que os que apresento, vá-se lá saber porquê. E quando faço notar que alguns dos que apresento são difíceis de ultrapassar porque têm uma amostra muito grande (2500 pessoas), então diz-me que a grandeza da amostra nunca foi um critério de qualidade em estatística. O que é vai criticar a seguir? Que aminha bibliografia está em inglês?
Ainda bem que não defende nenhum enviesamento a favor dos homossexuais, Só faltava isso. A questão, aqui, não é pôr em pé de igualdade casais homo e casais hetero. se a homossexualidade dos adoptantes é um factor de risco para as crianças (por exemplo, devido à falta de estabilidade ou à promiscuidade dos casais homo), então é óbvio que não se podem pôr em pé de igualdade casais hetero e casais homo. Eu sei que cutsa aceitar isto, mas não tenho culpa do estilo de vida que a maioria dos gays quer levar. e muito menos as crianças. Dizer que isto é uma condenação moral da homossexualidade é como dizer que negar a adopção a um casal que anda sistematicamente de carro em excesso de velocidade é uma condenação moral.
Pedro,
Começo a achar que não está a ser sério nesta discussão e que não vale a pena continuar nesta discussão.
No comentário que fiz onde exponho alguns pontos com apoio bibliográfico, em qualquer um deles há sempre pelo menos um artigo posterior a 2001 a suportar o ponto.
Os únicos pontos onde apresento apenas dados dos anos 90 (os últimos dois) serve apenas para refutar uma das suas intrepertações de um estudo que apresenta. Você escreve: "A probabilidade de uma rapariga criada por um casal de lésbicas vir a ser uma lésbica activa é quatro vezes superior à de uma rapariga criada por heterossexuais (F. Tasker e S. Golombok, “Adults Raised as Children in Lesbian Families”, in American Journal of Orthopsychiatry, 65, 2, pp. 203-215)". Eu apresento-lhe um estudo feito pelos mesmos autores (e posterior, já que este que referenciou é de 1995) com outras conclusões. Aliás, o que o artigo de que faz referência realmente diz é: "No differences were found in the proportion of each group that reported experiencing sexual attraction to someone of the same sex, though the children of lesbians were more likely to act, or consider acting, on those attractions. 1995. American Journal of Orthopsychiatry, Vol. 65, No.2, pp.203-215.". Percebe? Completamente diferente!
O argumento de que o tamanho da amostra é relevante foi dado pelo Pedro. Apenas o refutei. Não percebo a indignação. Não pode defender um estudo porque foi feito a 2500 gays. Isto per si não é indicativo da performance de um teste porque não indica a representatividade da amostra. Pode sempre indicar outras considerações do mesmo estudo para suportar o argumento de que acha este estudo mais relevante que os outros.
Relativamente à comparação entre um casal homossexual e um casal que conduz sistematicamente em excesso de velocidade não vou comentar. Já nesta corrente de comentários o Pedro se insurgiu contra uma comparação que achou disparatada. Reserve-se a mesma disciplina.
pedro picoito a 14 de Março de 2012 às 16:11
E a mim parece-me que já duvidava da minha seriedade no comentário anterior. Tem que se decidir.
Percebo a sua diferença. É por isso que, citando esses autores, se distingue lesbianismo não activo (raparigas que sentem atracção por pesoas do mesmo sexo) e activo (raparigas que iniciam a sua vida sexual com pessoas do mesmo sexo). A proporção das segundas tende é maior em raparigas criadas por lésbicas, e não vejo qual é a surpresa.
Em estatística, o tamanho da amostra é importante, claro (isto soa mal, mas é assim). Se não tiver problemas metodológicos ou científicos graves, um inquérito com uma população homossexual tão numerosa deve sempre ser tido em conta como representativo de qualquer coisa.
A comparação era só para chmara a atenção de que o estilo de vida do adoptante deve ser tido em conta na adopção. podia citar exemplos mais concretos como o alcoolismo.
O que o estudo diz é o seguinte: crianças criadas por casais de lésbicas têm menos tendência a esconder a sua homossexualidade, ou seja, o aumento de lesbianismo activo faz-se à custa da redução do lesbianismo não-activo (a proporção entre estes dois números é um bom indicador de repressão de orientação sexual). Eu acho isto positivo uma vez que a homossexualidade, segundo especialistas (outros comentários já deram referências relativamente a isto) não é nem doença nem comportamento desviante. Por isso não percebo como este estudo pode ser um argumento para o que o Pedro quis estabelecer.
Relativamente ao tamanho da amostra num estudo estatístico, é importante (onde disse que não era?) mas não é determinante. O que lhe disse foi: se quer demonstrar a importância desse estudo não indique apenas o número de observados/inquiridos mas outros factores como por exemplo: critério de selecção, objectivo do estudo (qual a hipótese a testar), local de recrutamento, etc. De qualquer modo já outros, nesta correnteza de comentários, fizeram referência a outros estudos bem mais recentes e cujo objectivo era testar exactamente a sua linha de argumentação: se há prejuízo para crianças que são criadas por casais do mesmo sexo.
Quando alguém me diz que é homossexual eu não assumo que essa pessoa tem comportamentos de risco. Não revejo na sua bibliografia suporte para tal afirmação (por todas as razões já aqui descritas) nem nas histórias de vida dos meus amigos homossexuais. Como tal, se enquanto cidadão não tenho questionado a capacidade do sistema de assistência social para triar os melhores casais para adoptarem uma criança, não o questiono se os casais homossexuais puderem igualmente se candidatar. Se defendo igual acesso é porque penso no interesse da criança sem me deixar enternecer pelos direitos dos adoptantes. O direito destes é, de facto, não serem discriminados na hora de quererem adoptar.
pedro picoito a 16 de Março de 2012 às 22:13
O que estou a tentar dizer é que um ambiente lésbico tende a reproduzir o lesbianismo nas crianças que aí são educadas. Esta evidência é habitualmente negada pelos defensores da adopção gay. Não falei em desvio nem em doença: isso são fantasmas vossos. E uma vez que tenho dúvidas sobre o facto de a orientação social ser puramente genética, ao contrário do que sugere, parece-me óbvio que os casais homoparentais replicam a homossexualidade na educação que dão às crianças.
Vou voltar a tocar no tema, até porque acabo de saber que a ILGA se interessou por esta modesta contribuição para o debate, mas reafirmo dois pontos. Primeiro, a adopção não é um direito, logo ningyuém se pode queixar de não ter. Segundo, os homossexuais têm realmente um estilo de vida que representa um risco para as crianças. A palavra risco é aqui um pouco vaga: implica desde instabilidade familiar a exposição a comportamentos compulsivos (alcoolismo, etc.). Mas cá voltarei.
O Pedro diz que ninguém contestou os estudos que apresenta. O que é falso porque eu fui mais além e até contestei a interpretação que faz de alguns estudos que cita.
Mas curiosamente, além de ocultar a existência de estudos mais consistentes em sentido contrário, o Pedro também não consegue contraditá-los ou quesitoná-los.
pedro picoito a 13 de Março de 2012 às 11:55
Não conheço muitos dos estudos que cita, pelo que me reservo uma opinião para depois de os ler. A sua interpretação do Brazelton e do Cramer que contraria a minha parece-me incorrecta, é só isso. e expliquei porquê. Segundo esses autores, o ideal para a criança é crescer num contexto relacional que envolva a mãe e o pai, pelas razões apontadas, sendo que, nem sempre se verificando este ideal, a criança procurará susbstituir a figura paterna ou materna por outra figura masculina ou feminina de referência. Uma substituição que é naturalmente mais difícil num contexto homossexual.
O que os autores dizem é que a criança cresce com a dinâmica relacional e não mimetizando cada um deles. E não dizem que isto ou aquilo é melhor do que aquilo.
pedro picoito a 14 de Março de 2012 às 16:15
Sim, é verdade, mas apenas parti dos autores para dizer que a capacidade parental é sempre uma capacidade em relação. O resto já são conclusões minhas. Pensei que isso era evidente.
pedro picoito a 12 de Março de 2012 às 10:06
Esse é um dos pontos que nos separa radicalmente. para mim, o sexo é uma relação entre dois sujeitos e não entre um sujeito e um objecto. Compreendo que a sua visão seja essa, já que também parece acreditar que a criança seja um objecto à disposição dos casais gay para adoptar.
E se sou intelectualmente desonesto, o melhor é mesmo deixar de debater comigo. Não pode é tentar dar uma aspecto muito científico à coisa e depois insultar-me porque apresento dados científicos que não lhe agradam.
IH a 12 de Março de 2012 às 11:04
Felicito-o, caro Pedro, pela coragem com que fala contra a corrente (mas não é esse o caminho certo para as fontes?). Notável também a elevação que traz ao debate, sobretudo com a Ana Matos Pires e a corte "bem-pensante" que a incensa.
Amigavelmente.
Literalidades tb lhe ficam bem, Pedro. É linguagem psicanalítica, vem da relação objectal, o Winnicott -
http://en.wikipedia.org/wiki/Donald_Winnicott - dedicou-lhe muito do seu tempo.
O que está em causa não agradarem-me ou não, não é nessa base que eu discuto.
I'm here. I'm queer! Get used to it! a 11 de Março de 2012 às 17:47
Eu ia jurar que os serviços sociais estudam a capacidade parental de uma família antes de entregar uma criança para adoção. Como as familias hetero também podem haver más familias homo.
E será que o Pedro julga que todos os gays caêm nos esteriótipos que cita?
Como se sentiria o Pedro se eu dissesse que é um mentiroso falso promiscuo que paga por sexo? No fim de contas é o que fazem imensos heterossexuais, é por isso que os classificados de "meninas" aumentam, as prostitutas aumentam e as casas de alterne idem.
Quanto às percentagens de crianças que acabam por serem também elas homossexuais dentro do seio de uma familia homossexual, será que isso acontece porque vivem num ambiente livre de preconceito?
O Pedro diz que só 1 ou 2% da população é homossexual? Está a incluir os falsos homossexuais que vivem dentro do armário e que dão as suas escapadelas sempre que podem? Que mentem uma vida inteira à sua familia? São estes os bons pais?
Como vê Pedro, o mundo não é tão linear assim. Cada caso é um caso, cada pessoa é diferente da outra, e obviamente existem familias boas e más.
A propósito, a maior parte das violações é feita por homens heterossexuais. O que vamos fazer quanto a isso? Que tal um toque de recolher às 19?
Pedro Pedro Pedro, percebe agora que não faz sentido nenhum? Ou é mais um daqueles tão preso às suas ideias que não ouve argumentos lógicos?
pedro picoito a 12 de Março de 2012 às 10:13
Nunca disse que o mundo é linear. Evidentemente, todos os estudos que envolvem dados estatísticos podem ser acusados de generalização. Mas, se faz muitas perguntas, não contesta os dados que apresento. Que tal começar por aí? Ou está tão preso às suas ideias que nem sequer ouve argumentos lógicos?
kiko a 11 de Março de 2012 às 17:59
crónicas da renascença ou crónicas da rádio renascença?
pedro picoito a 12 de Março de 2012 às 10:14
Da rádio renascença, claro. Qual é a dúvida?
Daniel a 11 de Março de 2012 às 20:23
Apoiado!!!!!
Am J Orthopsychiatry. 1995 Apr;65(2):203-15.
Adults raised as children in lesbian families.
Tasker F, Golombok S.
SourceChild and Family Psychology Unit, City University, London, U.K.
Abstract
A longitudinal study of 25 young adults from lesbian families and 21 raised by heterosexual single mothers revealed that those raised by lesbian mothers functioned well in adulthood in terms of psychological well-being and of family identity and relationships. The commonly held assumption that lesbian mothers will have lesbian daughters and gay sons was not supported by the findings.
Que se cite este artigo para justificar "cientificamente" que a adopção por casais homossexuais é negativa para as crianças só pode ser uma anedota.
pedro picoito a 12 de Março de 2012 às 10:21
Leia o que lá está. Não cito esse artigo para fundamentar uma crítica à adopção gay: cito-o para dizer que, ao contrário do que sustentam outros estudos, a probabilidade de uma raparariga criada por lésbicas vir também a ser lésbica é quatro vezes superior à de uma rapariga criada em casais hetero. o facto de os autores não verem nisso um problema só torna mais credível o dado em si próprio. E deveria explicar-me como é que o seu abstract diz uma coisa e o texto diz outra.
Ainda o mesmo estudo:
" Subjects were 27 lesbian mothers with 39 children, and 27 heterosexual single mothers and their 39 children. Found that although children from lesbian families were more likely to explore same-sex relationships, the large majority of children who grew up in lesbian families identified themselves as heterosexual. "
J. M. Bailey et al
“Sexual Orientation of Adults Sons of Gay Fathers”, in Developmental Psychology, 31, 1995, pp. 124-129
Ao ler estes 2 comentários tive curiosidade e fui abrir um outro estudo referido no post (o de cima) e deparei com o seguinte abstract:
"The sexual development of children of gay and lesbian parents is interesting for both scientific and social reasons The present study is the largest to date to focus on the sexual orientation of adult sons of gay men. From advertisements in gay publications, 55 gay or bisexual men were recruited who reported on 82 sons at least 17 years of age. More than 90% of sons whose homosexual orientation could be rated were heterosexual. Furthermore, Gay and heterosexual sons did not differ on potentially relevant variables such as the length of time they had lived with their fathers. Results suggest that any environmental influence of gay fathers on their sons' sexual orientation is not large"
pedro picoito a 12 de Março de 2012 às 10:26
A percentagem de 9% de filhos de homossexuais poderem vir a ser também gays já a tinha citado. a questão é a conclusão: se a percentagem de homossexuais entre a população é de 1 a 2%, como é que se pode concluir que não há influência?
Ora explique lá essa relação de causalidade, pf.
pedro picoito a 13 de Março de 2012 às 12:07
se a percentagem de homossexuais é significativamente maior entre adultos criados em lares homoparentais do que entre adultos criados em lares hetero, então é provável que a orientação sexual dos pais tenha influência na identidade sexual dos filhos. Ou isso ou os corn flakes do pequeno-almoço.
Bem me queria parecer que a relação de causalidade era interpretativa, assim do tipo "todas as rosas são flores, a minha mãe é Rosa, a minha mãe é flor". Retirar inferências causais de estatísticas descritivas é metodologicamente maravilhoso, ainda por cima sem que uma das percentagens tenha sido encontrada no decorrer do trabalho científico q está a ser referido nem inquestionavelmente verdadeiro. Prefiro SpecialK
pedro picoito a 13 de Março de 2012 às 18:47
Retirar inferências causais a partir de estaísticas descritivas não é a própria definição de ciência? Não foi assim que a medicina estabeleceu a relação entre o tabaco e o cancro, por exemplo? Porque é que já não se pode fazer no caso em apreço? porque ninguém a há-de convencer que a orientação sexual dos pais têm influência nas crianças?
Não, não foi, usou estatística inferencial, a mesma que deve ser usada no caso em apreço.
Não é que o assunto me interesse particularmente, a orientação sexual de cada um, desde que egossintónica, a cada um diz respeito, não existem orientações sexuais certas ou erradas, boas ou más, e neste momento é consensual a sua multideterminação. A minha pergunta era mesmo só metodológica.
ão pedro picoito a 12 de Março de 2012 às 10:37
Desconheço a história toda, mas tendo em conta os dados que cito, e que a Ana não contestou, não é muito difícil imaginar porque é que o cameron tem problemas (para si e para muita gente).
Essa de eu não contestar, sustentando a minha contestação, só pode ser pr rir, Pedro.
pedro picoito a 13 de Março de 2012 às 12:08
Como queira.
Tantas vezes já o vi (li) zangado perante barbaridades ditas por outros na sua área de estudo...
pedro picoito a 13 de Março de 2012 às 12:11
O que não me viu, de certeza, foi a invocar argumentos de autoridade como "a APA, ou outra associação profisional qualquer, diz isto e nós tesmos todos que concordar porque é científico".
Eu cá não vou lá por fezadas, está a a falar com a pessoa errada. As sustentações científicas são assinaladas, nomeadamente com a objectivação das dificudades metodológicas respectivas.
Caro Pedro Picoito,
Se a ideia era fundamentar cientificamente as suas posições, porque razão ignora todas as investigações que têm sido produzidas nos últimos anos? Porque razão ignora os consensos que têm sido obtidos pelas Sociedades Internacionais de Psiquiatria e Pedopsiquiatria?
A dificuldade em encontrar referências actualizadas que fundamentem a sua opinião pessoal sobre esta matéria é precisamente um sintoma da justeza das críticas que lhe foram dirigidas. Se reparar, grande parte das referências que cita reportam-se a um período em que a Organização Mundial de Saúde ainda não tinha retirado a homossexualidade da Classificação Internacional de Doenças.
Além disso, algumas das citações que utiliza não dizem respeito a produções cientificamente validadas pela revisão de pares mas a opiniões produzidas por técnicos e/ou cientistas em livros. Isto significa que apesar de poderem ser utilizadas no debate público não podem ser utilizadas para justificar cientificamente as suas posições.
Acresce que, logo no primeiro parágrafo, faz um interpretação errada daquilo que os autores que cita afirmam. Não posso deixar de salientar que aquilo que os autores escreveram é uma coisa bem distinta do que afirma na frase subsequente ("por outras palavras, a criança interioriza os papéis masculino e feminino observando o pai e a mãe, mas também observando o modo como o pai se relaciona com a mãe e a mãe com o pai."). Na verdade, se a identidade de género se construísse APENAS a partir da observação dessa dinâmica das relações entre pai e mãe, o que diríamos da sexualidade e da identidade de género das crianças órfãs de pai ou mãe, dos filhos de mães solteiras ou das crianças que crescem sem conhecerem um dos seus progenitores? Não acredito que o Pedro Picoito possa acreditar naquele que escreveu a esse respeito.
Por fim, apenas reforçar que o seu texto é um apanho de juízos de valor(es) (são os seus valores, não questiono) cujo epílogo é a consideração acerca das diferenças entre a qualidade parental de um mesmo homem numa relação homo- e heterossexual. Ficou clara a incapacidade que alguns têm para admitir que se pode ser igualmente competente em todas as matérias independentemente do sexo pelo qual cada indivíduo se sente atraído ou com o qual pratica a cópula. Há um longo caminho até nos entendermos neste ponto, mas quando isso acontecer não faltaram pedidos de desculpa e sentidas batidelas no peito de perdão. Se foi assim com os pretos e com os judeus porque é que haveria de ser diferente com os gays?
Cumprimentos,
Pedro Morgado
pedro picoito a 12 de Março de 2012 às 11:05
Como já disse acima, a maioria dos estudos que apresento é dos anos 90. Há um de 2001. E, se em vez de dizer que são antigos, os contestasse com os tais estudos recentes que conhece? é mais fácil adjectivá-los do que contestá-los, não é?
Os consensos institucionais de que fala são geralmente fruto de decisões políticas, não da investigação. é exactamente como a homossexualidade ser considerada uma doença pela OMS até certa altura e depois deixar de ser. Era antes? Deixa de ser depois? Trata-se de uma decisão política, nada mais.
É verdade que cito dados que vêm de livros e outros que vêm de revistas com peer review. Aparentemente, os primeiros não lhe oferecem a mesma garantia científica, mas noto que não os contesta. E devo concluir que aceita os outros?
O que o Brazelton e o Cramer afirmam, salvo melhor opinião, é o que aqui disse. O Brazelton mostra, por exemplo, que o divórcio costuma tem consequências muito negativas no desenvolvimento psicológico dos filhos. se quer pôr em causa a credibilidade científica do homem, parece-me que vai ter algum trabalho. É certo que em muitos casos, a ausência da figura paterna é minimimizada por figuras masculinas de susbstituição (um avô, um tio, um professor, até um outro companheiro da mãe). E o mesmo sucede, embora mais dificilmente, com a figura materna. o que ninguém negará, julgo eu, é que o ideal para uma criança é crescer acompanhada por uma mãe e um pai que têm uma relação estável e próxima.
A sua elegante refer~encia final aos "pretos e judeus" diz mais sobre os seus próprios preconceitos do que sobre os dos outros. e faz parte da chantagem emocional do costume quando se toca nos supostos direitos dos gays. Segundo a sua denúncia, quem não aceitar a adopção gay é necessariamente racista, pelo menos, ou então defende a escravatura e o holocausto. Para quem acusa os outros de preconceito, não está nada mal. Mas a sua acusação disparatada tem o mérito de evidenciar que o activismo gay não recua perante qualquer juízo de intenções. E tem uma resposta: se "os pretos ou os judeus" (sic) exigissem adoptar só por o serem, conceder-lhes-ia a adopção como um direito colectivo? É isso que querem os gays. E, se alguém diz que a homossexualidade não é fonte de direitos, chamam-lhe nazi. Um argumento profundíssimo, como se v~e.
Caro Pedro,
Nem me vou dar ao trabalho de comentar o seu último parágrafo porque não vejo ali nada para além de uma tentativa frustrada de manipular o que eu afirmei para defender a sua dama. Repare que eu não o julguei por ter uma posição que considero errada. Como não julgo aqueles que eram contra o casamento interracial e agora são a favor; e por aí em diante.
Relativamente a este assunto, o que está em causa neste nosso debate são duas coisas: em primeiro, o direito das crianças a terem uma família onde possam obter o afecto indispensável ao seu desenvolvimento harmonioso; em segundo, o direito de todos à não discriminação em função do sexo, raça, religião e orientação sexual. O segundo direito não tem nada a ver com o primeiro porque o primeiro é, nesta matéria, absoluto. Mas a retórica de pessoas como o Pedro Picoito obrigam a fazer este debate em simultâneo, o que, confesso, me desagrada profundamente. Peço-lhe, por isso, que se concentre apenas no primeiro direito quando falar comigo.
Como certamente reconhecerá, a visão que a sociedade tem da homossexualidade é um factor que influencia directamente o objecto dos estudos que aqui estamos a debater. Como tal, é desaconselhável comparar estudos ocidentais da década de noventa do séc. XX com estudos do séc. XXI. Mais do que isso é no mínimo imprudente utilizar estudos das décadas de 80 e 90 do século passado para caracterizar a situação actual.
Uma pesquisa sumária na PubMed permitiu-me encontrar quatro artigos bem mais recentes que as suas fontes que contraditam muito daquilo que afirmou acerca da homossexualidade e da parentalidade de casais constituídos por duas pessoas do mesmo sexo. Quando tiver tempo dê uma vista de olhos. Penso que não é novidade para o Pedro que só podemos fundamentar cientificamente uma posição quando temos capacidade de utilizar as fontes que nos agradam e também as que nos desagradam. É isto que aprendi com os meus professores e é também isto que vou aprendendo com os meus alunos.
Um abraço,
Pedro Morgado
Nontraditional families and childhood progress through school. (2010)
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20879687
Preadoptive factors predicting lesbian, gay, and heterosexual couples' relationship quality across the transition to adoptive parenthood. (2010)
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20545395
Outcomes for children with lesbian or gay parents. A review of studies from 1978 to 2000. (2002)
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/12361102
Through the lens of hetero-normative assumptions: re-thinking attitudes towards gay parenting. (2011)
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20960356
Anónimo a 13 de Março de 2012 às 12:36
Como é que não julgou a minha posição? Então se diz que um dia não faltarão pedidos de perdão aos gays como outros têm feito aos negros e aos judeus, isto não é julgar? Não é dizer que quem tem de pedir perdão é culpado de qualquer coisa? Não é equiparar a negação da adopção como um direito homossexual à escravatura e ao holocausto? Francamente, acho que está a brincar com as palavras. Quis fazer retórica, para usar as suas palavras, e foi mais longe do que gostaria. Mas o que disse está dito. Por mais voltas que dê ao texto, as suas palavras foram essas. Quem lê que tire as suas conclusões.
Vou ler os estudos que cita, mas continuo sem perceber porque é que seria desconselhável ou imprudente recorrer a estudos dos anos 90. Só se os seus dados forem falsos, ou errados, ou insuficientes, ou tecnicamente inválidos, o que não me parece o caso. A maior parte dos estudos que cito limita-se a apresentar dados estatísticos e dificilmente é acusável de qualquer tipo de bias, preconceito ou falha científica. Por exemplo, e vou repetir este exemplo porque é elucidativo, o estudo de Paul Van de Ven sobre cerca de 2500 homossexuais, que indica que a esmagadora maioria dos estudados teve mais de cem parceiros sexuais ao longo da vida, estará assim tão desactualizado? E, se está, quais são os estudos que o podem desmentir?
Isto não tem nada a ver com preconceitos, são factos. Admito que se conteste a conclusaõ que tiro daí (os casais homossexuais têm certos riscos para a educasção de uma criança etc.), mas não vejo como é que se podem contrariar dados estatísticos - a não ser apresentando outros dados que provam que os primeiros são falsos ou parciais.
pedro picoito a 13 de Março de 2012 às 12:40
O comentário anterior é meu.
"Admito que se conteste a conclusaõ que tiro daí (os casais homossexuais têm certos riscos para a educasção de uma criança etc.), mas não vejo como é que se podem contrariar dados estatísticos - a não ser apresentando outros dados que provam que os primeiros são falsos ou parciais." isso e desenvolvendo estudos cada vez mais apurados do ponto de vista metodológico, coisa que tem sido feita, de resto, daí a verdade científica só o ser até ser refutada e, tb por isso, a escolha de uma bibliografia actualizada ser tão importante.
pedro picoito a 13 de Março de 2012 às 18:41
De acordo. E os estudos mais recentes contraditaram as conclusões do Paul Ven de Ven?
"Por exemplo, e vou repetir este exemplo porque é elucidativo, o estudo de Paul Van de Ven sobre cerca de 2500 homossexuais, que indica que a esmagadora maioria dos estudados teve mais de cem parceiros sexuais ao longo da vida, estará assim tão desactualizado? E, se está, quais são os estudos que o podem desmentir?"
Aqui está o link
http://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/00224499709551903#preview e o abstract do artigo q o Pedro Picoito cita
"Our analysis draws a comparative profile of older homosexually active men. For an Australian national telephone survey (Project Male‐Call), 2,583 homosexually active men were interviewed. Questions about demographics, types of sexual partners, attachment to gay community, HIV/AIDS, and sexual practices were asked. About 10% (n = 256) of the Male‐Call men were over 49years. These older men were likely to live alone (52.7%), to be or have been married (62.9%), to have children (56.4%), and to have lived at their present address for more than five years (67.5%). Relatively few (12.4%) lived in gay areas, but a significant number (29.2%) lived in rural regions. They were generally less likely than younger men to have disclosed their sexual orientation (p < .00005). Although their attachment to gay community was quite strong, it was less than younger men's in terms of social attachment (p < .00001), cultural involvement (p < .001), and sexual involvement (p <. 00005). As a group, they were less likely to have been tested for HIV antibodies (p <. 0005). Older men had as many male and female sexual partners in the past six months as did younger men. They had a narrower range of anal (p < .00005) and oral/tactile (p < .001) homosexual practices, but differences in oral/tactile repertoire were not significant after controlling for other differences between younger and older men. There were no significant age differences in rates of condom use during anal intercourse with regular or casual male partners; however, the older men were more likely to have no anal intercourse with casual partners (p < .005). We concluded that older homosexually active men are fairly closely attached to gay community. They are sexually active, albeit with a less extensive range of anal practices than their younger counterparts. Although they are generally as safe in sexual conduct as younger men, education campaigns targeting older men would benefit from using a variety of metropolitan and rural, mainstream and gay media to improve safe sex understanding and encourage HIV antibody testing."
Que curioso...."to be or have been married (62.9%), to have children (56.4%)". Por razões óbvias q se prendem com a impossibilidade legal os casamentos fizeram-se com mulheres. ah, espera, estes "promíscuos" pertencem ao grupo do exemplo do Pedro, aqueles q até podem ter boas qualidades parentais, não é? Não, os dados que aponta no seu texto, Pedro, para mostrar como a adopção por casais do mesmo sexo é perigosa pr as crianças não são falsos, o uso que deles se faz pr concluir e sustentar as suas opiniões - ao contrário do que diz - é que são abusivas, vá. É o que dá não ler os artigos no original e apenas apanhar assim umas coisas já mastigadas
http://carm.org/statistics-homosexual-promiscuity
pedro picoito a 13 de Março de 2012 às 19:15
Está enganada. A citação é do original, que aliás é um clássico. não conheço esse artigo que cita. Tiro na água. Em todo o caso, não contesta as conclusões sobre a promiscuidade dos gays. Pode-se ser casado em certa altura da vida, ou até toda a vida, e até ter crianças, e ter um comportamento homossexual paralelo. Pensei que já tínhamos chegado à conclusaõ de que a vida das pessoas é mais complicada do que as suas categorias LGBT querem fazer crer.
O único artigo que cito é a sua ref bibliográfica e as conclusões, como pode confirmar no exemplar q tem em seu poder, são "Despite the sampling limitations, the Project Male-Call data and the findings presented here paint an interesting picture of older Australian homosexually active men. Our findings are generally in agreement with the limited previous research evidence concerning older homosexual men. As a group, older homosexually active men are sexually motivated, have opportunities to satisfy sexual desires, and are involved in gay community. They are committed to a homosexual orientation, although they are more likely than post-Stonewall generations to have accommodated to prevailing heterosexist ideology through limited disclosure of their sexual identity and through straight marriage and family life.
This analysis points to some specific issues for safe sex campaigns aimed at older homosexually active men. In the HIV/AIDS era, older men are more likely than their younger counterparts to have no anal intercourse rather than condom-protected anal intercourse with casual partners. Such a strategy (be it deliberate or otherwise) is quite safe so long as it is sustainable. Almost half the older men sometimes do not use condoms for anal intercourse with regular male partners. This may or may not be a problem, depending on whether the men know their HIV status and have negotiated a reliable agreement about safe sex outside their partnership. In the absence of HIV antibody testing--a more common characteristic of the older men--such sexual negotiation to exclude HIV from the relationship is meaningless. It is therefore important to extend existing campaigns to improve older men's safe sex understandings and to encourage HIV antibody testing. Given that older men were more likely to have been recruited through the mainstream rather than gay press, those running gay men's education programs would be advised to use a variety of media, metropolitan and rural, and not just gay avenues, to ensure that all constituents are reached.". Em nenhum local do texto do artigo se diz q o propósito do desenho do estudo foi concluir sobre promiscuidade - essa é uma ilação sua. Sabe, Pedro, nestas coisas da ciência os estudos são desenhados de modo a dar resposta às questões de investigação que colocam e todas as ilações que extravasam isso são abusivas, não devendo ser feitas.
Já agora, o artigo é um clássico de quê?
O que quer dizer com "as minhas categorias LGBT"?.
pedro picoito a 14 de Março de 2012 às 16:01
É citado por outros como uma das primeiras tentativas de estudar o estilo de vida gay com base numa ampla base de entrevistados.
Quero dizer que nem sempre as categorias LGBT esgotam a realidade da vida sexual das pessoas, sobretudo quando servem de base a reivindicações políticas.
É um estudo comparativo de homossexuais com mais e com menos de 49 anos, ponto. Nada ali, naquele desenho de estudo, permite qq outra extrapolação ou generalização é abusiva, basta lê-lo. Em nenhum local os estudo se detém sobre o ser ou não ser promíscuo ou sobre a influência q isso possa ter sobre o q quer q seja, nomeadamente sobre o efeito do número de parceiros sobre o desempenho parental, isso são juízos valorativos que os estudo, pels suas características, não permite.
A orientação heterossexual é uma categoria LGBT? Não percebo. E quem está a apelar a algum tipo de categorização, no caso a orientação sexual homossexual dos membros de um casal candidato a adoptar - se for singular já não há problema perante a lei, recordo -, isto é, a tomar esse aspecto como base pr uma "reivindicação política" é quem a usa como argumento pr o impedimento.
pedro picoito a 16 de Março de 2012 às 22:02
É claro que a relação entre a promiscuidade e o desempenho parental dos homossexuais não é feita, nem o estudo se dedica a isso. A conclusão sou eu que a tiro. Mas já que não contesta os números do estudo, diga-me uma coisa: acha que uma população estatiticamente tão instável nas suas relações e com tantos parceiros sexuais é o melhor ambiente para criar um filho? Uma criança sentirá estabilidade numa "família" que provavelmente se desintegrará ao fim de dois ou três anos e em que os pais têm frequentemente outros parceiros sexuais?
Quem usa a categorização de homossexual para uma reivindicação política, a adopção, não sou eu: são os gays.
Quer dizer, portanto, q o q já é clássico é a adulteração das conclusões q o próprio estudo permite e refere. ok, estou esclarecida.
Mais, o simples facto do estudo comparar 2 grupos de homossexuais masculinos separados pela idade só mostra q para os autores fez sentido avaliar a importância do passar do tempo sobre o modo como se altera o tipo de vida das pessoas, donde justifica, por si só, a importância da actualização com estudos recentes.
ah, e não contesto nem reconheço a promiscuidade dos gays pq não conheço nenhum estudo comparativo com a promiscuidade dos heterossexuais cuja questão de investigação tenha sido essa, com metodologia adequada, se o tiver em seu poder gostava de o poder ler.
pedro picoito a 14 de Março de 2012 às 16:18
existem e já lhes pasei a vista por cima. vou procurá-los outra vez.
Agradeço antecipadamente, só lhe peço q tenha atenção aos aspectos metodológicos e à qualidade geral do estudo e dos autores pr não perder tempo.
pedro picoito a 16 de Março de 2012 às 22:43
Então cá vai:
Robert T. Michael et al., Sex in America. A Ddefinitive Survey, Boston, 1994: amostra de cerca de 2500 indivíduos: 90% das mulheres casadas e 75% dos homens casados da amostra são fiéis aos respectivos parceiros ao longo do casamento.
Michael Wiederman, Extramarital Sex: Prevalence and Correlates in a National Survey", in Journal of Sex Research, 34, 1997, p. 170: amostra de 884 homens e 1288 mulheres: 77% dos homens casados e 88% das mulhers casadas da amostra são fiéis durante o casamento.
Agora compare estes dados com os da promiscuidade entre a população homossexual estudada pelo Van de Ven em amostras relativamente semelhantes.
eheheheh
Gosto particularmente do "relativamente". E faltou o efeito da " da "promiscuidade" e da "fidelidade" sobre o desenvolvimento da criança.
O que é que a promiscuidade (ou não) dos gays tem a ver com o assunto?
pedro picoito a 14 de Março de 2012 às 16:22
A promiscuidade está directamente ligada à estabilidade do casal e ao desenvolvimento harmonioso da criança. se, num casal heterossexual, os pais tiverem centenas de parceiros sexuais, é de esperar que a relação dure menos do que em casais monogâmicos e que não seja um exemplo de compromiso afectivo, o que certamente tem repercussões na criança. o mesmo se passa nos casais homoparentais.
Porque é desanconselhável? Pelo mesmo motivo que seria desaconselhável emitir uma opinião sobre doenças infecciosas baseando-se em estudos anteriores à descoberta dos antibióticos. Fui suficiente claro, agora?
pedro picoito a 14 de Março de 2012 às 16:25
Não, não foi. Qual é o antibiótico que se descobriu entretanto nos estudos sobre a matéria? Que antes eram todos homofóbicos e agora não?