Crónicas da Renascença: A Adição Gay (II)

 

           

A minha última crónica provocou algumas reacções, em concreto de pessoas que me pediram para fundamentar cientificamente as dúvidas sobre a adopção por casais homossexuais. Vou tentar responder-lhes no curto espaço de que disponho.

Partamos de uma evidência consensual entre os especialistas: a formação da identidade sexual da criança não se faz apenas em confronto com o pai ou a mãe, individualmente considerados, mas no contexto da relação entre o pai e a mãe (Brazelton e Cramer, The Earliest Relationship. Parents, Infants and the Drama of Early Attachment, 1991; tradução portuguesa: A Relação Mais Precoce, 1993). Por outras palavras, a criança interioriza os papéis masculino e feminino observando o pai e a mãe, mas também observando o modo como o pai se relaciona com a mãe e a mãe com o pai. É importante repetir isto porque as reservas à adopção gay não implicam que alguém com tendências homossexuais, seja qual for o grau, não possa ser um bom pai numa relação heterossexual. Implicam, isso sim, que uma relação homossexual pode ser um ambiente muito negativo para o desenvolvimento de uma criança.

Porquê?

Em primeiro lugar, porque os gays tendem a ter relações afectivas muito instáveis. Numa obra de 1973, M. Saghir e E. Robins sustentam que as relações homossexuais duram em média dois a três anos (Male and Female Homosexuality, 1973, p. 225), valor reafirmado em 1982 por M. Pollak (“L`homosexualité masculine, ou le bonheur dans le ghétto?”, in P. Ariès e A. Bejin, ed., Sexualités Occidentales, 1982, pp. 56-80), que o atribui à promiscuidade (“centenas de parceiros ao longo da vida”). A este respeito, um estudo recente do perfil demográfico de 2583 homossexuais afirma que “a variação modal para o número de parceiros [da maioria dos indivíduos estudados] é de 101 a 500”, sendo de 501 a 1000 para cerca de 15% e de mais de 1000 para outros 15% (Paul Van de Ven et al., “A Comparative Demographic and Sexual Profile of Older Homosexually Active Men”, in Journal of Sex Research, 34, 1997, p. 354).

Ao citar estes números, não faço qualquer juízo moral. Cada um é livre de viver como bem entende, desde que não prejudique os outros. O que contesto é que o estilo de vida da maioria dos gays, segundo tais estudos, seja o ideal para criar um filho, tarefa que exige relações familiares fortes e estáveis. Será legítimo sujeitar crianças que vêm de uma primeira desagregação da família biológica à hipótese provável de uma segunda desagregação da família adoptiva – em nome do preconceito de que não há diferenças entre casais heterossexuais e homossexuais?

 Mais. De acordo com D. Island e P. Letellier, “a incidência de violência doméstica entre os homossexuais masculinos é quase o dobro da que se verifica na população heterossexual” (Men Who Beat the Men Who Love Them. Battered Gay Men and Domestic Violence, 1991, p. 14), enquanto uma investigação sobre 1099 lésbicas, também de 1991, indicava que “ligeiramente mais de metade” tinha sofrido violência física ou verbal da parte das parceiras (Gwat Yong Lie e Sabrina Gentlewarrier, “Intimate Violence in Lesbian Relationships. Discussion of Survey Findings and Practice Implications”, in Journal of Social Service Research, 15, 1991, pp. 41-59).

Sabe-se que as crianças tendem a reproduzir o comportamento violento, dentro e fora da família, dos adultos de referência. Mas não só. Como disse acima, os papéis sexuais tendem igualmente a ser replicados. A probabilidade de uma rapariga criada por um casal de lésbicas vir a ser uma lésbica activa é quatro vezes superior à de uma rapariga criada por heterossexuais (F. Tasker e S. Golombok, “Adults Raised as Children in Lesbian Families”, in American Journal of Orthopsychiatry, 65, 2, pp. 203-215). No caso dos rapazes, segundo J. M. Bailey, a percentagem de homossexuais adultos criados por um casal de gays é de 9%, quando a taxa de homossexuais exclusivos no total da população é de 1 a 2% (“Sexual Orientation of Adults Sons of Gay Fathers”, in Developmental Psychology, 31, 1995, pp. 124-129). Judith Stacey e Timothy Biblarz confirmaram a maior taxa de homossexualidade entre adultos criados em lares homoparentais, chegando mesmo a descrever esta conclusão como “politicamente incorrecta” (“How Does the Sexual Orientation of Parents Matter”, in American Sociological Review, 66, 2001, pp. 174 e 179). Último dado, talvez o mais preocupante: segundo um estudo, 29% dos filhos dos casais homossexuais seguidos foram vítimas de pedofilia por parte de um dos pais, pelo menos, contra 0,6% dos filhos de casais heterossexuais (P. Cameron e K. Cameron, “Homosexual Parents”, in Adolescence, 31, 1996, p. 772).

Não faço juízos de valor, repito, mas repito também que negar a adopção a casais homossexuais não é discriminá-los - é proteger as crianças. Adoptar é dar uma família a uma criança e não uma criança a uma família. A adopção não é um direito. Muito menos se exigido por um grupo que usa as crianças como escudo humano contra uma suposta injustiça, ao mesmo tempo que difunde uma cultura que tão claramente as prejudica. 

publicado por Pedro Picoito às 10:38 | comentar | partilhar