Fim do euro (35) Contágio grego

As próximas semanas serão de suspense eleitoral, de novo na Grécia e em França. Depois do impasse que resultou das eleições gregas esperam-se novas eleições em meados de Junho, mas é provável que se chegue a um novo impasse, mesmo que de uma natureza diferente. A maioria alcançada pelos partidos anti-austeridade pode alargar-se, pelo facto de ser provável que seja o Syriza (o Bloco de Esquerda grego) o partido mais votado que, por isso, deverá receber um bónus de 50 deputados.

 

Os eleitores helénicos estão num estado de perfeita esquizofrenia, querendo – em simultâneo – permanecer no euro e colocar um fim à austeridade. O mais provável é acabarem sem nenhuma das duas. Se não querem austeridade têm que sair do euro, o que lhes traria uma nova dose de austeridade, deste feita não pela via orçamental, mas pela via cambial, muito mais violenta.

 

Com a saída da Grécia, o Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF), que emprestou mais de 100 mil milhões de euros a este país, sofreria perdas brutais. Este FEEF é o tal muro de protecção que, pelas mais misteriosas razões, os líderes europeus consideram capaz de impedir o contágio a outros países. Na verdade, há fortíssimas razões para presumir o oposto, desde logo o contágio que as notícias sobre a Grécia estão a ter sobre os mercados accionistas asiáticos. As perdas do FEEF vão expor duas situações graves. Em primeiro lugar, a saída de um país que representa apenas cerca de 2% do PIB da zona do euro vai engolir cerca de um quinto dos recursos do FEEF. Qual é o investidor que pode sentir a mais leve sombra de tranquilidade com isto?

 

Em segundo lugar, as perdas do FEEF vão tornar claro, em particular para a Alemanha, que os “empréstimos” europeus são, em última análise, “ajuda” aos países em dificuldades, a tal “união de transferências”, híper-detestada pelos países contribuintes. Isto constituirá um poderosíssimo travão a qualquer tipo de novas contribuições para o FEEF.

 

Para além disto, como já vimos na semana passada, a saída da Grécia do euro irá provocar a falência do BCE e de todos os bancos centrais da zona do euro, em particular do Bundesbank. O desastre de Fukushima provocou uma comoção fortíssima no povo alemão, que o levou a desistir da energia nuclear. A falência do Bundesbank será o equivalente a um Fukushima monetário, que deverá conduzir a uma alteração drástica da atitude da Alemanha face ao euro.

 

Com elevadíssima probabilidade, a saída da Grécia do euro deverá produzir um efeito de contágio brutal sobre os países fracos, ao mesmo tempo que deverá conduzir a uma diminuição drástica do apoio ao projecto do euro junto dos países fortes, em particular junto dos alemães.

 

Não é, assim, temerário prever que a saída da Grécia será o princípio do fim do euro, que poderá bem acontecer ainda durante o corrente ano.

 

Uma das consequências deste contágio deverá ser a fuga de depósitos dos países em risco, em particular de Portugal, havendo recomendações na imprensa internacional de fazer depósitos em euros em países seguros, como a Alemanha. Nada de mais imprudente. Se Portugal sair do euro há uma elevada probabilidade de esses depósitos no exterior serem transformados em novos escudos, valendo muito menos. Pior ainda, os bancos dos países fortes têm investimentos gigantescos em dívida dos países fracos, pelo que têm elevado risco de falir. Tendo em atenção todas as limitações de fazer previsões em tempos de turbulência excepcional, recomendo depósitos em outras moedas que não o euro, feitos em bancos de fora da zona do euro. 

 

[Publicado no jornal “i”]

publicado por Pedro Braz Teixeira às 16:13 | comentar | partilhar