Fim do euro (38) Dilemas morais

A primeira vez que escrevi sobre uma possível desagregação do euro foi em Abril de 2010, em que analisava as consequências de uma possível separação do euro em dois, um para os países fortes e outro para os países fracos, onde se incluía Portugal.

 

Com a escalada da crise do euro, houve um momento decisivo, em que me apercebi da instabilidade intrínseca desta moeda (Novembro 2010): com moeda própria a variável que sinaliza os problemas (taxa de câmbio) ajuda a resolvê-los; numa união monetária a variável que sinaliza os problemas (taxa de juro da dívida pública) agrava esses mesmos problemas. Isto levou-me à convicção de que o euro tinha os seus dias contados.

 

A partir daí, vivi o dilema moral de escrever sobre o “fim do euro”. Por um lado, não queria gerar nenhum movimento de pânico mas, por outro lado, sentia a necessidade de avisar o maior número de pessoas para esta eventualidade. Os portugueses precisam de se preparar para isto, não só psicologicamente, mas também através de acções concretas. Foi com essa intenção que escrevi aqui o texto “Fim do euro, recomendações práticas”, que sei que circula pela internet.

 

A forma como tenho lidado com este dilema moral é escrever de forma ponderada, alertando para os riscos e recomendando respostas serenas. Um dos problemas potenciais é que o pânico pudesse gerar uma fuga generalizada de depósitos dos bancos em Portugal.

 

Felizmente que desde Dezembro de 2011 os bancos da zona do euro têm acesso a grande liquidez por parte do Banco Central Europeu (BCE), por prazos muito mais latos do que o habitual e com exigências muito mais suaves de garantias para aceder a estes fundos.

 

Em muitos países tem-se assistido a uma fuga de depósitos, em particular na Grécia, por razões – obviamente – alheias aos meus escritos. Por singular coincidência, Portugal tem sido uma excepção, tendo havido mesmo um substancial aumento dos depósitos bancários. Poderei ler essa reacção como uma de duas razões: ou os meus textos têm sido completamente desvalorizados, ou têm levado a respostas muito serenas, o que sempre desejei desde o primeiro momento.

 

As famílias e empresas também enfrentam um dilema moral: deverão colocar todo o seu dinheiro a salvo e, com isso, talvez provocar uma catástrofe; ou deverão esperar pacientemente que, apesar de tudo, a catástrofe aconteça? Sugiro uma solução de compromisso: vão transferindo progressivamente o vosso dinheiro para moedas estrangeiras, para bancos de fora da zona do euro. Ao fazerem-no lentamente, dificilmente estarão a desencadear a catástrofe que temem. Se as coisas se precipitarem, logo poderão decidir em consciência o que vos faz mais sentido.

 

Não devem pensar que estão a salvar a vossa pele, colocando em risco o país. Por um lado, as vossas decisões individuais dificilmente poderão ser decisivas mas, sobretudo, o dinheiro dos portugueses que estiver no exterior quando o euro acabar serão divisas preciosas para o país recuperar o crescimento com o novo escudo.

 

Feliz ou infelizmente, neste momento o tempo escasseia. Isto levanta duas questões. Por um lado, sobra cada vez menos tempo para tomar decisões que protejam os portugueses do fim do euro. Por outro lado, como há muito pouco tempo, não há margem para que as decisões das famílias e empresas portuguesas possam criar um quadro grave.

 

Finalizo anunciando que estou a completar um livro, com o título provisório “Fim do euro em Portugal”, que deverá estar disponível no final de Junho, onde estes temas são naturalmente desenvolvidos. Só temo que Grécia saia do euro antes disso, limitando os benefícios que poderão decorrer da sua leitura.

 

[Publicado no jornal “i”]

publicado por Pedro Braz Teixeira às 08:51 | partilhar