Notícias da frente Leste (a Ucrânia)

 

O jornalista Miguel Gaspar tem assinado esta semana no Público uns artigos interessantes sobre a Ucrânia – recomendo a leitura. A Ucrânia é um caso complexo, como explicava um cidadão ucraniano ao jornal de segunda-feira, a Ucrânia é metade Europa, metade Ásia, um país bipolar onde a sua política é um confuso reflexo desta realidade. A União Europeia desejou a inclusão da Ucrânia no seu espaço de influência política e económica, hoje nem tanto, ao contrário, a pretensão da Rússia de a arregimentar para o seu espaço político a leste é continuamente reforçada.

Estou convencido que a União Europeia deu a Ucrânia como um caso perdido, prefere vê-la como aliada da Rússia do que como um factor de instabilidade e perturbação (nomeadamente no fornecimento de gás à Europa). A Ucrânia lê bem estas intenções e acusa a UE, a coberto das boas relações que alguns dos seus Estados Membros mantêm com a Rússia, de a empurrar para os braços do urso. Quem está muito preocupada com tudo isto é a Polónia, preferia não arriscar a ver a Ucrânia ser asfixiada pelo abraço (ao que noticiam, na inauguração do Euro 2012 o indesejado presidente ucraniano passeou-se pelos tapetes vermelhos de Varsóvia).

A verdade é que, a Ucrânia nada fez para confirmar as diversas alianças (económica e energética) que lhe foram oferecidas pela UE – desaproveitou todas as oportunidades e, pior, fazendo uso de manobras simplesmente oportunistas. Agora, se pretendesse voltar atrás provavelmente seria tarde, estou entre os que acreditam que aumentaram, e muito, as probabilidades de a Rússia, após as eleições de Outubro na Ucrânia, fazer uma “tomada hostil” (sem tanques nem violência) à qual a UE vai assistir com uma contida satisfação.

A Ucrânia está falida e o FMI não parece disposto a salvá-la. Actualmente, só o Gazprombank lhe empresta dinheiro e para comprar gás à Rússia, e a Putin já começa a faltar paciência para as fanfarronices de Yanukovych. A conjugação do desespero financeiro da Ucrânia e da dependência energética da Europa vão ditar o salvo-conduto para a Rússia obter, finalmente, o que tanto deseja: o domínio do operador da rede de transporte de gás (o controlo da Naftogaz, o objectivo mais ambicionado); e a participação da Ucrânia numa união económica e aduaneira a leste, juntamente com a Bielorrússia e o Cazaquistão.

Há mais em jogo na Ucrânia do que a partida de hoje e a final do EURO 2012 no próximo fim-de-semana em Kiev.

publicado por Victor Tavares Morais às 13:31 | comentar | partilhar