Os Lusíadas como critério

 

Um critério interessante para se dintinguir a mundividência do Bloco de Esquerda da do PCP é o dos seus possíveis olhares  sobre Os Lusíadas. Um Poder do Bloco (e de boa parte do PS), com o seu fanatismo característico, censuraria e/ou expurgaria o poema de Camões (não sei se apenas nas escolas) daquelas passagens “imperialistas”, “belicistas”, “racistas”, ou “colonialistas” que aqueles polícias culturais, no seu disparatado anacronismo histórico, achariam “inadmissíveis no séc XXI”, ou coisa que o valha. Tenho muitas (e creio que fundadas) dúvidas que o PCP enveredasse por esses caminhos. O velho Partido, que já viu muito e já viveu muito, tende a não se deixar levar pelas modas de um radicalismo de pieguices.

E a direita liberal?... Bem, a nossa pobre direita liberal não passa de uma puta analfabeta que vai com todos. Como não tem nadinha na cabeça e como o seu critério é meramente o da espórtula, para ela, tanto se lhe dá ter uns Lusíadas incólumes como mutilados. Sendo analfabeta, desconfia dos livros e da cultura em geral (por exemplo, queda-se perplexa, coçando a sua feia cabeça, não compreendendo por que razão um livro com um preço inferior há-de ter um valor superior ou onde estará o mérito estético de uma peça não apreciada por multidões) e, por isso mesmo, pode muito bem, pontual e artificialmente, se imaginar a vantagem disso, alardear  “amor pela cultura” e citar, geralmente em descontextos ridículos, alguns versos, palavras, que julga impressionantes na sua boca, e que exibe como gravatas garridas. Como tem, coitada, uma visão prostibular do mundo, para ela, todos os argumentos são redutíveis a uma espécie de darwinismo social pequeno-burguês e, na sua cabeça estreita e suja, todos os que dela discordarem apenas o fazem por uma disputa da esquina.

 

 

publicado por Carlos Botelho às 13:29 | partilhar